A Biblioteca de RaquelEdição – A Biblioteca de Raquel http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br Raquel Cozer Mon, 18 Nov 2013 13:27:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Os percalços da impressão à moda antiga http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/02/17/os-percalcos-da-impressao-a-moda-antiga/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/02/17/os-percalcos-da-impressao-a-moda-antiga/#comments Sun, 17 Feb 2013 13:24:49 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3611 Continue lendo →]]> Saiu dias atrás na “Ilustrada”, durante a ressaca do papa e da festa pagã, uma capa sobre como microeditoras vêm oxigenando o mercado nacional com obras de qualidade.

O repórter especial Cassiano Elek Machado visitou a sede da charmosa Bolha, no Rio, numa fábrica abandonada. E eu conversei com outros quatro editores que têm se dedicado a essa coisa apaixonada que é produzir livros lindos a preços acessíveisreduzindo a margem de lucro o máximo –algo que a indústria no Brasil, infelizmente, não sabe o que significa.

Chamou minha atenção o que ouvi sobre impressoras tipográficas. Elas não são mais fabricadas no Brasil, e as que existem têm sido desmontadas para virar máquinas de corte e vinco de caixas. De pizza, disse o editor Vanderley Mendonça, da Demônio Negro. Ou então vendidas a peso, no Brás. O povo vai lá, compra e derrete para reutilizar o material.

Esse foi um motivo pelo qual os editores da curitibana Arte&Letra, Frederico e Thiago Tizzot, demoraram um ano inteiro para editar e imprimir uma coleção graciosa de livros artesanais, com clássicos, por assim dizer, menos clássicos (leia-se menos editados) da literatura.

Foi um périplo. Só em São Paulo eles foram encontrar quem trabalhasse com impressão tipográfica. Chegaram a José Carlos Gianotti, do ateliê do Instituto Acaia, na Vila Leopoldina.

Mas o tipógrafo estava mais habituado a trabalhar com livros de texto curto, de poesia ou infantis. Não tinha tipos (as peças de metal com letras) o suficiente para os livros de página cheia que a Arte&Letra queria editar –para cada uma delas, são necessárias várias letras A, várias B etc..

Gianotti foi ao Brás procurar uma família de tipos. Uma luta: quase não há mais famílias íntegras entre os tipos. Encontrou uma, por R$ 500, só para descobrir letras defeituosas e faltantes ao tentar montar uma página. Recuperou parte do dinheiro ao revendê-la e, por fim, contratou um profissional com máquina de linotipos, que funde em blocos cada linha de caracteres.

As edições de “Um Coração Singelo”, de Gustave Flaubert, “Os Assassinatos na Rua Morgue”, de Edgar Allan Poe, e “Luzes”, de Anton Tchekhov, saíram no fim do ano passado, com capa de tecido, ilustrações em xilogravura, miolos costurados à mão. Foram 200 exemplares de cada um. De “Luzes” já está sendo produzida uma segunda leva.

Levando em conta todo o processo, o preço final, R$ 59,90, é consideravelmente baixo. Foi possível só porque a Arte&Letra é também livraria, dispensando intermediários. E porque, como falei, os editores não quiseram faturar horrores em cima dos títulos. Sabiam que eles serviram como boa divulgação da editora, que também produz livros não artesanais.

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Por coincidência (ou nem tanto, já que o mercado não está assim esbanjando tipógrafos), José Carlos Gianotti, na foto acima, é um dos personagens que o artista gráfico Gilberto Tomé entrevistou para a exposição “Mestres Tipógrafos: Impressões da Vida”, em cartaz até o dia 23 de março na Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro.

Tomé quis procurar quem trabalhasse “como nos tempos de Gutenberg”. Dos três entrevistados, só um, o Gianotti, já imprimia livros. Os outros, Aryovaldo Cordeiro, que tem uma pequena gráfica na zona norte de São Paulo, e Roberto Rossini, na Lapa de baixo, produziam receituários e notas fiscais, além de volantes e cartões de visita. Em demandas cada vez menores, segundo Tomé.

O artista fez a partir das entrevistas uma publicação, de 200 exemplares, que integra a exposição. É uma metaedição, impressa em tipografia e sobre a impressão em tipografia, com tipógrafos que são tanto personagens quando editores. Aos sábados, Tomé faz demonstrações do uso de máquinas tipográficas, das quais o público pode participar.

Para quem se interessa, a boa notícia é que São Paulo em breve terá uma oficina tipográfica permanente aberta ao público, a de Vanderley Mendonça, personagem singular: editor de artesanais na Demônio Negro e independentes na Edith, diretor numa multinacional de embalagens de alimentos e esgrimista profissional. Mas essa história fica para um próximo texto.

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Um país de poetas nos tempos da autopublicação http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/01/23/um-pais-de-poetas-nos-tempos-da-autopublicacao/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/01/23/um-pais-de-poetas-nos-tempos-da-autopublicacao/#comments Wed, 23 Jan 2013 16:08:47 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3492 Continue lendo →]]> Não sei quem comentou ou se a frase sequer tem dono: se todo mundo que escreve poesia comprasse poesia, não ia dar outra coisa nas listas de mais vendidos. Tem seu exagero, mas a lista temática de livros publicados no Clube dos Autores, plataforma brasileira para autopublicação de escritores, corrobora a parte em que somos um país de poetas.

A poesia é o terceiro gênero mais publicado (2.050 títulos) por autores independentes desde a criação do site, em maio de 2009. Ou talvez seja o segundo, não está claro: em primeiro vem literatura, com 2.941 obras. Em segundo, ficção, com 2.435. Esta poderia se referir a algo como ficção científica, mas, para quem cadastra seus livros, pode muito bem significar literatura em geral (há livros cadastrados em ambos, por via das dúvidas).

Isso é uma digressão para ajudar a mensurar a autopublicação no Brasil, tema de reportagem que publiquei no sábado na Ilustrada. Porque é mais simples usar como referência exemplos bem-sucedidos estrangeiros, como E.L. James e Amanda Hocking, do que prestar atenção no tamanho da demanda brasileira por um espaço na prateleira –virtual, que seja.

Ficando ainda no Clube dos Autores, o maior site de autopublicação do país. Em menos de quatro anos, o site teve publicadas pelos escritores (sem necessariamente a interferência de editor, revisor ou diagramador) quase 21 mil obras. Dessas, só no último ano foram 10 mil títulos. Somadas, as dez editoras que mais publicaram livros em 2012 não chegaram a 5.000 títulos, considerando que a casa que mais livros coloca no mercado, a Record, lançou 600 no período.

Outro lado dessa história diz respeito ao leitor. Dos mais vendidos do site, só três chegaram à casa dos quatro dígitos –a grande maioria é impressa, embora também saiam edições em e-book. Apesar de literatura e poesia liderarem em publicações, o “best-seller” é um estudo sobre o transtorno de bordeline, “Sensibilidade à Flor da Pele”, de Helena Polak, com 1.500 cópias em três anos. No geral, as vendas não passam das dezenas de unidades –para familiares e amigos, o que muitas vezes é o que basta para os autores–, segundo os criadores do Clube dos Autores e dos mais recentes PerSe e Buqui.

Fala-se muito do fenômeno da autopublicação, do fim iminente das editoras, mas, no Brasil, escritores autopublicados só ultrapassaram as dezenas de milhares de livros vendidos após serem descobertos por editoras à moda antiga. Pessoalmente –sem nem levar em conta as grandes vendas, algo que a literatura mal conhece–, defendo que todo autor precisa de um editor. Nada melhor para um texto que uma leitura e umas tesouradas de quem entende.

Mas esse formato mais recente, que independe de pagamento do autor, é lindo. Publica quem quer, lê quem quer, ninguém gasta tanto papel. O autor pode publicar sem ajuda de ninguém ou pode contratar serviços de edição e revisão. Aprende (ou não) a divulgar o próprio livro, porque ficar só lamentando não está com nada. Só não custa ter em vista que muito do que se publica no país jamais será lido. Os livros de poesia do começo deste texto que o digam.

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Random House, Penguin, Companhia das Letras: o mercado editorial em mutação http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/29/random-penguin-companhia/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/29/random-penguin-companhia/#comments Mon, 29 Oct 2012 22:37:15 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3316 Continue lendo →]]>

As “Big Six” –nome dado ao conjunto das seis maiores editoras do mundo, Simon & Schuster, HarperCollins, Random House, MacMillan, Penguin e Hachette– agora serão cinco. Foi a maior notícia do mercado editorial em muito tempo: a confirmação, hoje cedo, da joint venture entre a empresa alemã de mídia Bertelsmann, proprietária da Random House, e da editora britânica Pearson, que detém a Penguin.

A Penguin Random House deve começar a atuar no segundo semestre do ano que vem, respondendo, sozinha, por 27% do mercado editorial global. Terá com isso tamanho suficiente para se impor no mercado digital, no qual editoras vêm enfrentando dificuldades nas negociações com gigantes da tecnologia como Google, Apple e Amazon.

(Update para contextualização feita no Twitter: valor de mercado da Apple, US$ 567 bilhões; do Google, US$ 221 bilhões; da Amazon, US$ 108 bilhões; e da Random Penguin, US$ 3 bilhões)

Outras das “Big Six” já foram compradas anos atrás por empresas de mídia, caso da HarperCollins, pela News Corp, da Simon & Schuster, pela CBS, e da própria Random House, mas analistas acham provável que também estejam conversando entre elas para outras fusões do gênero –a HarperCollins mesmo andou falando com a Pearson depois que surgiram, na semana passada, as primeiras informações da fusão de hoje.

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Onde o Brasil entra nesta história? Bem, para começo de conversa, em email para os funcionários do grupo Penguin, o presidente John Makinson –que comandará o conselho da nova empresa– destacou que a Penguin Random House levará em conta todos os interesses das duas atuais editoras “nas línguas inglesa, espanhola e portuguesa”.

A Penguin já marca presença aqui desde a aquisição de 45% da Companhia das Letras, no ano passado. Tempos atrás, o grupo Bertelsmann inaugurou um escritório em São Paulo, e representantes da Random House andaram conversando com editores brasileiros para avaliar opções de compra. Não saberia dizer se a fusão com a Penguin interromperia essas conversas, considerando que a nova empresa já detém parte de uma editora no Brasil, ou se outras negociações continuam. Editores brasileiros com quem conversei creem que, após  a situação se regularizar, a Penguin Random continuará com outras conversas.

É digno de nota, de todo modo, Makinson destacar a língua portuguesa entre os grandes interesses do novo grupo. E mudanças expressivas ocorridas no último ano na Companhia das Letras permitem desconfiar que resultados esses interesses trarão na prática.

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A Companhia das Letras resolveu anunciar também hoje alterações internas que parecem ter tudo a ver com a compra, em 2011, de parte da editora brasileira pela Penguin: a saída de duas veteranas na casa, a diretora editorial Maria Emília Bender e a editora Marta Garcia; e a reestruturação do departamento editorial, com o editor Otávio Marques da Costa assumindo a função de publisher do selo Companhia das Letras, e a editora Júlia Moritz Schwarcz a de publisher dos selos Companhia das Letrinhas, Boa Companhia, Claro Enigma e Seguinte.

Maria Emília, elogiada por todo mundo pelo talento para treinar novos editores, e Marta, editora de texto em que o mercado inteiro já deve estar de olho, saem –Maria em abril, Marta no final deste ano– por decisão própria, tomada semanas atrás, depois de mais de 20 anos na Companhia. O fato é que a estrutura da editora vem sofrendo transformações significativas, com os editores assumindo, além da edição de texto, um papel importante na parte de negócios.

Certamente não foi por acaso que, no começo deste mês, o editor Luiz Schwarcz destacou em post no Blog da Companhia justamente Maria Emília e Marta como formadoras de “uma escola de exímios editores de texto”, e Otávio e Júlia como representantes de uma nova geração, cujos aprendizados terão “efeitos sensíveis na estrutura e desempenho da editora no futuro”.

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Por ora, o efeito mais perceptível foi o investimento da Companhia das Letras em selos comerciais, caso da Paralela (que publicou o erótico “Toda Sua” na esteira do sucesso do “Cinquenta Tons”) e do juvenil Seguinte, e ainda do Boa Companhia, com grande potencial para venda em escolas. Ótimo para a editora, embora nada imprescindível para o leitor –vamos combinar que editoras de best-sellers comerciais não são algo que esteja em falta no Brasil.

A longo prazo, creio que veremos acontecer no Brasil situações como essa que testemunhei semanas atrás, quando Pedro Almeida, diretor editorial da Lafonte, comentou que tinha adquirido os direitos de “Release Me”, de J. Kenner, anunciado como a resposta da Random House ao “Cinquenta Tons”. Estranhei: mas o “Cinquenta Tons” não é da Random House? Ele explicou:

“Na verdade, o ‘Cinquenta Tons” é da Knopf, do selo Vintage, que pertence à holding alemã Random House, mas cada uma das empresas funciona de forma independente. A Knopf foi uma das agregadas ao grupo. A Random é a editora original, principal. A Bantam, que vai publicar ‘Release Me’, é uma editora americana da Random House, que adquiriu a Knopf. Não são concorrentes como seria uma Harper, mas são concorrentes entre si.”

Ficou claro?

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Por falar em ficar claro, aparentemente há algo muito engraçado na opção alternativa de nome Random Penguin (em vez da oficial, Penguin Random), algo além da ideia de um “pinguim qualquer” ou “aleatório” e que escapa à minha compreensão (digo, além da ideia da adjetivação ao pinguim), porque muita, muita gente lamentou no Twitter que o nome não fosse esse. Se alguém souber explicar, agradeço, porque já atormentei meio mundo com isso.

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