A Biblioteca de Raquelflip – A Biblioteca de Raquel http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br Raquel Cozer Mon, 18 Nov 2013 13:27:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Painel das Letras: Memórias de Malala http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/04/06/painel-das-letras-memorias-de-malala/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/04/06/painel-das-letras-memorias-de-malala/#respond Sat, 06 Apr 2013 06:00:14 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3882 Continue lendo →]]> As memórias da paquistanesa Malala Yousafzai, de 15 anos, que em 2012 virou símbolo da luta pelos direitos das mulheres após ser baleada no peito e na cabeça por talebans, serão publicadas pela Companhia das Letras. Malala ficou conhecida em 2009, aos 11, quando começou a denunciar práticas da milícia fundamentalista islâmica no blog Diário de uma Estudante Paquistanesa, no site da BBC. “I’m Malala”, previsto para o segundo semestre, gerou concorridos leilões internacionais nos últimos dias, mas a editora brasileira garantiu os direitos antes. A jornalista que assina a obra  não teve o nome divulgado por questão de segurança.

Oficina de ensaio
Neste ano, a concorrida oficina literária da Flip será de ensaio, em parceria com a revista “Serrote”, numa das várias investidas da publicação do IMS para promover o gênero. Será coordenada pelo editor Paulo Roberto Pires e terá participação do escritor britânico Geoff Dyer e do brasileiro Francisco Bosco.

As aulas vão de 4 a 6/7, em Paraty, com 15 vagas. As inscrições começam amanhã e se encerram em 8/5.

Interessados devem enviar currículo e ensaio próprio, inédito ou não, com até 30 mil toques, para oficinaliteraria@flip.org.br. Os selecionados serão anunciados nos sites da Flip e da “Serrote” em 27/5 e devem pagar R$ 120. O regulamento está em flip.org.br.

Infantil ‘This Is Not My Hat’, de Jon Klassen, best-seller premiado pela Association for Library Service to Children, foi comprado pela WMF Martins Fontes, que já publicou do autor ‘Quero Meu Chapéu de Volta’

Demissão Continuam as mudanças na Fundação Biblioteca Nacional. Depois de Galeno Amorim ter sido demitido, Maria Antonieta Cunha, da Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB), pediu as contas.

Demissão 2 Ela disse não achar ético ficar no cargo após a saída de Galeno. De qualquer modo, a DLLLB não ficará sob comando do novo presidente da FBN, o cientista político Renato Lessa. A diretoria retornará a Brasília.

Desafios Em São Paulo, quem pediu demissão foi Maria Christina de Almeida, diretora da Biblioteca Mário de Andrade. Seu substituto, o artista plástico Luiz Armando Bagolin, terá desafios como ampliar o sistema de ar condicionado, conseguir recursos para digitalizar o acervo e aumentá-lo em 8.000 títulos.

Desafios 2 Esta última tarefa será árdua. A biblioteca teve R$ 130 mil para comprar livros em 2011, ante R$ 20 mil neste ano. Mas sempre recebe doações de casas como a Companhia das Letras, a Cosac Naify e a Editora Unesp.

Digital Após longa negociação, a Ediouro assinou contrato nesta semana com a Apple, cuja loja é a que mais vende e-books no Brasil.

Digital 2 A editora carioca era, dentre as maiores do país, a única que ainda não vendia pela rival da Amazon.

Cinema Com a estreia de “O Grande Gatsby” no Festival de Cannes, em maio, novas edições da obra de F. Scott Fitzgerald são lançadas. Após a tradução da Companhia das Letras, por Vanessa Barbara, sairão a da LeYa, por Alice Klesck, e a da Geração Editorial, por Clara Averbuck —com direito de uso de imagem do filme na capa, terá apresentação de Ruy Castro.

Cinema 2 Já a estreia, neste mês, de “Meu Pé de Laranja Lima”, dirigido por Marcos Bernstein, levou a Melhoramentos a digitalizar sete títulos de José Mauro de Vasconcelos. O carro-chefe, o clássico que originou o filme, terá três versões digitais diferentes, incluindo uma fac-similar da original de 1968.

Indie O blog Casmurros prepara eventos para o Festival Baixo Centro, que vai até dia 15/4 no entorno do Minhocão. Hoje, às 16h, no Espaço Parlapatões, haverá a leitura colaborativa de “Macunaíma”, de Mário de Andrade. Nos dias 10 e 11, às 19h, na praça Roosevelt, haverá conversas com os escritores Maria José Silveira e Bruno Zeni sobre São Paulo na ficção.

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"Me fascina o passado parecer mais intenso que o presente", diz John Banville http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/02/20/me-fascina-o-passado-parecer-mais-intenso-que-o-presente-diz-john-banville/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/02/20/me-fascina-o-passado-parecer-mais-intenso-que-o-presente-diz-john-banville/#comments Wed, 20 Feb 2013 20:57:03 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3664 Continue lendo →]]> O irlandês John Banville, autor do lindíssimo “O Mar” (Nova Fronteira), vencedor do Man Booker Prize 2005, vem neste ano para Flip, o que levou a Globo a programar seu romance mais recente, “Luz Antiga”, para junho. Minha entrevista com ele para o texto da Ilustrada de hoje foi motivada por outro lançamento, de “O Cisne de Prata” (Rocco), dentro da série de policiais que assina com o pseudônimo Benjamin Black. Falo um pouco do livro no link acima.

Desde 2006, quando começou a lançar policiais como Benjamin Black, inspirado pelos romances do belga Georges Simenon (1903-1989), Banville quase não escreve como Banville. Além de “Luz Antiga”, lançou só “Os Infinitos” (Nova Fronteira), que nem faz jus ao escritor que ele é. No mesmo período, foram sete livros como Black, com mais um previsto para este ano.

Em resumo, ele sofre mais para escrever como Banville, obcecado pela frase perfeita, e não vende tanto assim. Como Black, escreve com facilidade, sem nenhuma ambição de ser artista,  e lidera listas de mais vendidos. É assim que funciona e, ele diz, é absolutamente natural.

Ele fala também sobre as especificidades de seus romances policiais, a “conversão” a Benjamin Black e a Wikipedia, entre outros temas, na entrevista abaixo, concedida por e-mail.

Foto de Beowulf Sheehan

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Em vez de centrar a história no ponto de vista de Quirke, o protagonista, “O Cisne de Prata” alterna capítulos na voz dele com as de outras personagens, incluindo a vítima. O resultado é que os leitores acabam sabendo muito mais do que o personagem que investiga a história. Por que optou por esse formato?
Acho romances policiais fascinantes do ponto de vista técnico. Nesse livro, foi interessante alargar a perspectiva e trazer, embora obliquamente, as vozes, ou ao menos as sensibilidades, de outros personagens. E com isso fazer Quirke desconhecer detalhes que outros personagens, e os leitores, sabem. Mas, enfim, Quirke geralmente progride por meio da ignorância dos fatos. O que admiro nele como protagonista é que ele não é um superdetetive. Se você quer o oposto de Sherlock Holmes ou Hercule Poirot, esse é Quirke. Ele é um pouco estúpido, como o resto de nós –humanos, em outras palavras.

O próprio Quirke é diferente de um protagonista que poderíamos esperar em um policial. Ele é um patologista que, em “O Cisne de Prata”, mente para a Justiça no único momento em que poderia ajudar na investigação. Como pensou esse personagem?
Quirke é movido pela curiosidade. Talvez eu esteja caindo num freudianismo barato, mas acho que o fato de ele mesmo não ter um passado do qual se lembre completamente o compele a mergulhar nas vidas de outras pessoas, a querer descobrir segredos alheios. Quando ele olha para trás, para anos anteriores de sua vida, há apenas um branco, e isso é algo que o atormenta. Então, quando encontra um “branco” que é um crime não resolvido, não resiste a investigar.

Assim como em “O Cisne de Prata”, que retoma o protagonista de “O Pecado de Christine”, em “Luz Antiga”, que também sairá neste ano no Brasil [pela Globo, em junho], você recupera um protagonista de romances anteriores. Esse é um procedimento comum em romances policiais, mas nem tanto fora da ficção de gênero. Por que voltar a personagens interessa ao sr.?
De fato não sei dizer por que retornei à história de Alex Cleave e de sua trágica filha Cass. Depois que leu “Eclipse” [inédito no Brasil], em que esses personagens aparecem, meu amigo Rodrigo Fresan [escritor argentino] me implorou para escrever um “livro de Cass”. “Luz Antiga” não é esse livro, mas revisita Alex e sua mulher, Lydia, dez anos depois da morte da filha. Devo ter achado que havia algo a resolver com Alex, Cass e o mistério da morte de Cass que continuava atormentando seus pais. É claro, Alex desconhece a conexão de Cass com Axel Vander, o crítico literário que Alex, que é ator, está prestes a interpretar num filme. Isso adicionou algum frisson para mim, como também, eu espero, para leitores familiares com “Eclipse”.

Quirke é atormentando pelo passado e pelo senso de perda, assim como Alex em “Luz Antiga”. O quão diferente é escrever sobre esse tema como Banville e como Black?
Bom, Quirke é atormentado de uma maneira diferente. O passado dele é um lugar terrível e escuro, uma espécie de Inferno anterior à morte. Para Alex, o passado é um mundo iluminado, que parece mais vívido para ele do que o mundo presente em que ele vive. Sempre me fascinou a percepção de que o passado sempre nos parece mais intenso que o presente.  Por que deveria ser assim? Afinal, o passado foi presente um dia, e tão normal e chato quanto o presente presente. A resposta, eu suspeito, é que como temos de viver o presente, não conseguimos vê-lo com clareza e, consequentemente, não o valorizamos. Apenas quando ele vira passado vemos como era extraordinário. Essa é uma tragédia de nossas vidas, que nós –a maior parte de nós– não conseguimos valorizar o que temos até que isso se perca.

Como Georges Simenon influenciou sua “conversão” em Black?
Nunca tinha lido Simenon [romancista belga, autor da série do inspetor Maigret] até um amigo, o filósofo inglês John Gray, me encorajar a ler o que Simenon definia como seus “romances psicológicos”. Quando li, fiquei deslumbrado. Esses livros, entre os quais estão “Dirty Snow”, “Monsieur Monde Vanishes” e “The Strangers in the House”, para ficar apenas em três, são para mim tão bons quanto qualquer coisa escrita no século 20, superiores aos trabalhos de Sartre ou Camus, por exemplo –Simenon é o verdadeiro romancista existencialista. Ocorreu a mim que deveria tentar escrever algo similar, usando um estilo simples e direto, um vocabulário restriro, e nenhum dos ornamentos “literários” que Banville usaria. Então Benjamin Black nasceu.

O verbete dedicado ao sr. na Wikipedia informa que o sr. chama romances policiais de “ficção barata”, mas com o aviso de que falta a fonte dessa informação. Essa é mesmo uma opinião sua?
Wikipedia! Sempre informando tudo ligeiramente errado. Escrevi em algum lugar, como ironia, que quando me tornei Benjamin Black descobri em mim uma capacidade para a “ficção barata”. Não era para ser levado a sério. É claro que existe muita ficção policial barata por aí, mas até aí também há muita ficção literária barata. O trabalho de Raymond Chandler, Dashiell Hammett, Richard Stark, James M. Cain –se isso é barato, então me mostre o que é caro.

O sr. costuma dizer que escrever como Banville é muito mais trabalhoso que escrever como Black. Incomoda saber que Black interessa mais aos leitores?
Acho que eu me incomodaria se Banville vendesse mais do que Black. Black trabalha num gênero popular, e, por consequência, suas vendas são melhores. É simples assim.

O sr. tem publicado mais como Black do que como Banville –o placar desde 2006 está em sete a dois. É uma experiência mais satisfatória a de escrever sem se preocupar tanto com a estrutura?
Talvez não mais satisfatório, mas diferente. Eu gosto do trabalho que os livros de Benjamin Black envolvem e tenho orgulho desses livros, como um artesão teria orgulho de um trabalho bem feito. Black não exige tanto de si mesmo como Banville, o que é uma outra maneira de dizer que Black não é um artista nem tem essa ambição.

Como é ver seu trabalho adaptado para a televisão [as histórias de Quirke foram adaptados no Reino Unido]?
Sou muito interessado em cinema e TV. Escrevi alguns roteiros, sempre gostei disso. E o primeiro livro de Benjamin Black, “O Pecado de Christine”, começou como um roteiro de TV. Uns dez anos atrás foi convidado a escrever uma minissérie de TV, ambientada nos anos 50. Escrevi três roteiros de três horas de duração cada um. Quando ficou claro que eles não seriam filmados, tive a ideia de transformá-los em romance. E foi o que eu fiz.

O sr. já esteve no Brasil?
Sim, passei uma semana ou duas em São Paulo alguns anos atrás e visitei Paraty muito rapidamente no caminho para casa. Estou ansioso por ficar mais tempo desta vez.

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Painel das Letras: Ensaístas na Flip http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/12/22/painel-das-letras-ensaistas-na-flip/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/12/22/painel-das-letras-ensaistas-na-flip/#comments Sat, 22 Dec 2012 05:00:06 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3429 Continue lendo →]]> Dois expoentes do ensaio pessoal –gênero que usa questões autobiográficas como ponto de partida para reflexões– debaterão na Flip em 2013. São eles os americanos Geoff Dyer, autor de “Jeff em Veneza, Morte em Varanasi” (Intrínseca), e John Jeremiah Sullivan, que escreve para revistas como a “Harper’s”. Ambos terão livros pela Companhia das Letras em breve: “But Beautiful”, de Dyer, sobre jazz, sai em abril, e “Pulphead”, de Sullivan, um dos volumes de ensaios mais elogiados nos EUA em 2011, fica pronto em junho.

Clássicos em mangá
“O Grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald, “Manifesto do Partido Comunista”, de Marx e Engels (acima), e “Interpretação dos Sonhos”, de Freud, estão entre os 11 clássicos em mangá que a L&PM lança a partir de fevereiro de 2013.

Publicada originalmente pela East Press, sob edição de Kasuke Maruo, a coleção é mais uma aposta da editora gaúcha num segmento de sucesso no exterior, mas para o qual as grandes casas do país nunca deram muita bola.

Os títulos, organizados por Alexandre Boide, sairão sempre em duplas, começando com “Hamlet”, de Shakespeare, e “Em Busca do Tempo Perdido”, de Proust.

Caso antigo 1 Em 2006, Fernando Gasparian ofereceu sua editora, a Paz e Terra, a Sérgio Machado, dono da Record. “Fico triste por não ver os livros nas lojas”, disse. Ficaram de falar após a Feira de Frankfurt, em outubro. Fernando morreu enquanto Machado estava no evento.

Caso antigo 2 O negócio que Marcus, filho de Fernando, fechou anteontem com Machado ocorreu pelo mesmo motivo. Com a compra de seu 15º selo, a Record soma 8.700 títulos, mais do dobro do que têm editoras como a Companhia das Letras e a Rocco.

Caso antigo 3 Por falar em Frankfurt, na feira deste ano falava-se na compra que a Record estaria realizando. Mas seriam duas editoras, não só uma. “Não há mais nada em vista por ora”, diz Machado.

Estreia Autor de cinco livros de contos e um de aforismos, Marcelino Freire conclui, em Buenos Aires, seu primeiro romance, “Só o Pó”, que sai pela Record em 2013. O tema: “Muitos velhos. Quando  meu parágrafo cansa de um velho, pega outro pelas mãos”.

Exportação 1 Também no ano que vem, “Contos Negreiros”, do pernambucano, sairá na Argentina, pela Santiago Arcos, traduzido com bolsa da FBN por Lucia Tennina.

Exportação 2 O selo Edith, criado pelo autor, também repercute lá fora. Um de seus títulos, “Copacubana”, de Hector Bisi, ganhou quatro páginas na elogiada revista literária colombiana “El Malpensante”. A tradução para o espanhol foi encomendada pelo selo a Cristian de Nápoli e está à venda na Amazon.

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Frases da Flip, para encerrar o assunto http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/07/10/frases-da-flip-para-encerrar-o-assunto/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/07/10/frases-da-flip-para-encerrar-o-assunto/#comments Wed, 11 Jul 2012 00:22:41 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=2102 Continue lendo →]]> Tinha prometido a mim mesma só voltar ao assunto Flip em 2013, mas essa superou qualquer expectativa minha: a Diana Passy, que cuida das mídias sociais da Companhia das Letras, transcreveu 16 debates da programação oficial ou paralela envolvendo autores da editora. É claro que uma coisa ou outra se perdeu, mas o essencial, para quem não viu, está ali.

(Admiro a empreitada: no ano passado resolvi transcrever toda a entrevista do Antonio Candido e quis morrer três vezes antes de completar um terço da gravação.).

Algumas boas frases da Flip, então, cortesia do esforço da Diana. Incluí uma ou outra que recordei, mas este foi um ano em que consegui ver especialmente poucas mesas. Quem lembrar outras pode mandar que incluo aqui. As fotos são de Adriano Vizoni/Folhapress.

***

“Comecei a escrever sobre sexo porque não estava fazendo, era como uma simulação de como seria. Então aos 37 anos finalmente fiz sexo, e foi ainda melhor do que havia imaginado nos dois primeiros livros.”
Gary Shteyngart 

“’The Penis’ é uma história de um pênis que se destaca do corpo, adquire uma vida própria, uma carreira. Quando publiquei, o editor disse: “Por favor, não publique essa história, vão rir de você a vida toda”. Ele estava certo.”

“Comecei a escrever pra parar de enlouquecer. Precisava enlouquecer os outros.”
Hanif Kureishi

“Drummond sempre escreveu pra se explicar a si próprio, escrevia com o próprio fígado. E aquilo se transformava num discurso geral que se aplicava a todos.”
Armando Freitas Filho 

“O bonito do Drummond é que você aprende que precisa estar à altura da queda.”
Carlito Azevedo

“Criei um bandoleiro com Alzheimer que entrava na cidade pra matar alguém, esquecia quem era e tinha que pedir ajuda aos moradores. Recebi cartas de associações, foi algo que me fez pensar. Eles têm razão, mas eu também. É preciso respeitar, mas não podemos sacralizar as coisas também. A sacralização é uma forma de desrespeito”

“A verdade é que a gente não deve acreditar em tudo o que vê nos quadrinhos”
Laerte

“Uma vez fiz uma tira com uma mulher reclamando que há muito tempo o marido não tocava nela. Ele enche ela de porrada e diz “pronto, toquei”. Era uma piada claramente a favor da mulher, mas teve uma jornalista que disse que sou machista. Ela não entendeu a piada.”
Angeli

“O 11 de setembro foi um ataque midiático e político baseado no ataque terrorista.”

“O que me incomodava [sobre o amigo David Foster Wallace] era que vejo o suicídio como uma pequena fraude, e odeio fraudes. Mas esse é um assunto complicado, eu não deveria falar sobre isso.”
Jonathan Franzen 

“A dificuldade de qualquer escritor contemporâneo é escrever qualquer coisa que seja nova.” (sugestão do Henrique)
Paloma Vidal

“Quando estou num momento em que preciso escrever, é triste. Mas você começa a escrever, é uma alegria. Aí você vai editar e é uma tristeza: quem foi o idiota que escreveu isso? Depois que você edita, é uma alegria de novo.”
Teju Cole

“Quando você pesquisa para um livro, precisa saber dez vezes mais do que vai usar.”

“James Wood me acusou de ser um manipulador. Então, basicamente ele me acusou de ser um romancista.”
Ian McEwan

“Na cidade em que nasci, há um grande número de suicídios. Em vez de me matar, resolvi escrever sobre a morte dos outros. A literatura não salva, mas adia a morte inevitável.”
André de Leones

“Minha mãe morreu em janeiro desse ano. Meu sobrinho outro dia estava brincando com um balão e jogando bem alto: ‘Numa dessas, talvez minha avó pegue’. Acho que ele foi muito escritor nesse momento.”
Carlos de Brito e Mello

“A leitura quebra o monopólio da construção da realidade e as barreiras de estratificação social.” (sugestão do Henrique)
Sylvia Castrillón

“Não existe ocidente e oriente na produção, isso são conceitos políticos. Não há diferença entre poetas de um hemisfério ou outro.”

“Obama é uma máscara negra por cima de um rosto branco.” (sugestão do Marcelo Miranda)

“Para mim não faz sentido uma revolução onde não haja a liberação da mulher e a separação de religião e Estado.” (sugestão do Henrique)
Adonis

“Há livros que são imediatamente reconhecidos e viram clássicos, mas alguns crescem com o tempo. Os leitores que decidem com o tempo.”
Jonathan Galassi

“Montanhas de livros chegam até você e é exasperador, porque você sabe o esforço que foi gasto naquilo. Não quer magoá-los, mas também não quer enganá-los de que aquilo é bom. E de repente chega um livro com uma voz que salta das páginas e te prende. E você sabe que este é um escritor para quem você quer trabalhar.”
Deborah Rogers

“A família deve ser uma casa, não uma prisão.” (sugestão da Rosana Caiado)
Dulce Maria Cardoso

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Teju Cole: "Não reconheço essa Nova York de 'Seinfeld' e 'Friends'" http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/07/08/teju-cole-nao-reconheco-essa-nova-york-de-seinfeld/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/07/08/teju-cole-nao-reconheco-essa-nova-york-de-seinfeld/#comments Sun, 08 Jul 2012 14:28:11 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=2077 Continue lendo →]]> O escritor americano filho de nigerianos Teju Cole chegou ontem à Casa Folha com uma camiseta onde se lia “Nem alegre nem triste: poeta” e iniciou sua fala com a leitura de “No Meio do Caminho”, de Drummond –leu os dois primeiros versos em português e depois passou para a tradução de Elizabeth Bishop para o inglês.

Falou de seu romance de estreia, “Cidade Aberta”, comentou sua paixão pela fotografia, deu suas impressões a respeito do Brasil, onde está pela segunda vez –dois anos atrás, passou algum tempo em Cabo Frio e no Rio. E citou dois momentos em que sofreu preconceito no Brasil, como relata o repórter Marco Aurélio Canônico na Folha de hoje:

O primeiro foi ao chegar no aeroporto internacional de São Paulo, “acompanhado de dois outros autores americanos convidados, brancos”, que ele não quis identificar.

“Alguém do aeroporto me apontou um caminho; meus amigos me seguiram, mas ele disse que só eu precisava ir. Minhas malas passaram por uma vistoria extra. Bem-vindo ao Brasil”, contou.

“É claro que essa seleção não foi feita porque alguém olhou meu passaporte.”

O outro incidente aconteceu durante a Flip, quando o escritor entrou em um local no centro histórico de Paraty “onde as pessoas estavam indo e vindo livremente”.

“Fui perseguido pelo segurança, até que apareceu alguém dizendo ‘ele é um dos nossos palestrantes’. Essa é a realidade presente aqui.”

Não falou isso em tom de indignação. Disse que já se acostumou, que passou por situações do gênero em outros países, e elogiou a afetuosidade do povo brasileiro. O que, é claro, não ameniza a vergonha de saber que isso acontece sem que a gente se dê conta.

Teju conquistou com alguma facilidade o público que lotava a Casa Folha, entendendo algumas perguntas em português e dando longas respostas a todas. Ele poderia ter sido uma espécie de valter hugo mãe da Flip 2012 se tivesse lido Drummond ou feito outras graças do gênero na Tenda dos Autores, onde falou na tarde anterior. Não fez nada disso, mas foi uma boa mesa.

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Teju e Paloma na Tenda dos Autores, em foto de Adriano Vizoni/Folhapress

A certa altura do debate entre ele e a argentina radicada no Brasil Paloma Vidal, o mediador, João Paulo Cuenca, perguntou se escrever era um prazer para eles. Paloma respondeu: “É uma felicidade”. E Teju: “Consigo escrever e sinto felicidade. Daí leio e sinto tristeza: quem foi o idiota que escreveu isso?”.

É curioso saber que a tristeza tenha existido na escrita de “Cidade Aberta”, o romance de estreia que o alçou à fama instantânea nos EUA (até onde “fama” e “literária” não são antônimos). Entre outras coisas, o livro recebeu elogiosa crítica de cinco páginas na “New Yorker”, assinada por James Wood (de “Como Funciona a Ficção”). Aqui foi um daqueles casos de livros atropelados pela Flip. Com tantos títulos saindo ao mesmo tempo, Teju ganhou menos espaço.

Como escrevi no papel, à primeira vista “Cidade Aberta” pode dar impressão de um elogio a Nova York, metrópole onde se passa a maior parte da história. Mas a primeira vez que a expressão aparece na narrativa é em referência a Bruxelas, como lembrança de que é como se chamam, em tempos de guerra, cidades que se rendem para preservar a infraestrutura –essa é só uma contradição que ajuda a entender outras do livro.

Teju nasceu no Estado americano de Michigan, foi criado na Nigéria natal de seus pais e se estabeleceu nos EUA aos 17. O protagonista do romance, Julius, meio nigeriano, meio alemão, também chegou em Nova York aos 17 e hoje (ou melhor, em 2006, quando começa a história) é um jovem psiquiatra que passa as tardes andando sem rumo e prestando atenção nos tipos e cenários que para os outros não passam de pano de fundo.

Ele explica melhor tudo isso na entrevista a seguir, feita na manhã de quinta em Paraty.

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Teju em foto de Vizoni, também: ele gosta de fotografar, mas detesta ser fotografado

A primeira vez que o termo “Cidade Aberta” aparece no livro é em referência a Bruxelas, e não a Nova York. Como fez essa conexão entre o termo para as duas cidades?
Queria usar “cidade aberta” em dois sentidos. O primeiro é mais óbvio, “aberta” tem conotação positiva, coração aberto, mente aberta, então é isso o que as pessoas pensam, um lugar no qual você pode ir e vir livremente. Mas há esse segundo termo, militar, pelo qual cidade aberta é aquela que, em tempos de guerra, se rende num acordo, levando a uma situação em que tudo parece normal, sem destruição, mas com a convivência dos invasores. Achei o conceito interessante, e é um nome estranho para o conceito.

Escolhi Bruxelas, que passou por isso, porque um interesse meu em literatura são os duplos. Ter uma coisa em comparação com outra, um eco maneira indireto. Julius, o narrador, tem vários duplos no livro, mas o principal é Farouq, esse jovem marroquino que, como ele, é africano, jovem, intelectual, um pouco à esquerda, embora sejam  diferentes.

Nova York é uma espécie de capital de um novo império, e é uma capital insegura, com problemas internos. Os problemas estão lá, mas você não consegue ver. Não é como uma cidade invadida, quando há soldados estrangeiros usando seus recursos, seu oxigênio, mas Nova York tem de lidar com o terrorismo, com o crime, todas essas coisas.

Ao mesmo tempo, é a capital financeira do mundo, é uma capital cultural. E Bruxelas, com toda sua história pós-colonial e seus conflitos internos, é oficialmente a capital da Europa. Achei melhor explorá-la do que a Londres, porque Bruxelas é mais inusitada. Estive lá um mês atrás, e eles estavam felizes de eu ter usado a cidade, mas também surpresos.

Quando Julius está em Nova York, ele tem esse sentimento de não pertencer àquele lugar, mas, quando vai a Bruxelas, parece se sentir mais americano.
É claro que o livro é ficção, mas esse é um fenômeno que acontece comigo. Em outros sentidos também. Quando estou com um grupo de amigos radical, muito à esquerda, eu me vejo mais no meio. Quando estou falando com gente que se considera moderada, tenho vontade de dizer: ‘Ei, venha para a esquerda’.

Estou sempre defendendo o lado que está sendo atacado. Se estiver conversando com algum ateu radical, posso defender a religião. Se encontrar um religioso, vou dizer: ‘Esqueça, não quero saber de nada disso’. É mais ou menos isso o que acontece com Julius. Quando ele vê outros criticando os Estados Unidos, ele se vê defendendo o jeito americano contra quem não consegue entendê-lo.

O tema da migração percorre todo o livro, Julius é um migrante e conversa com outros a todo momento. Como isso ajuda a definir Nova York?
Nem sempre morei em Nova York, mas hoje [quinta] se completam 20 anos que cheguei lá. Só morei em Nova York em 12 desses 20 anos, mas percebi que aquela que aparece no cinema ou na TV não se parece com a que conheço. A de “Friends”, “Seinfeld”, que Nova York é essa? Não reconheço. Quando olho pra Nova York, as pessoas são diferentes. Não é essa em que você só vê seis amigos brancos vivendo em apartamentos legais.

Nova York é uma cidade de imigrantes. Isso é óbvio. Quando você entra no metrô, é como estar na ONU. E por que isso não aparece… Não escrevi o livro com a missão de mostrar como a cidade é. Foi apenas natural. Isso é apenas o tipo de coisa que a gente vê todo dia.

Julius é meio alemão, meio nigeriano, seu professor é japonês, seus pacientes são turcos e afro-americanos. Seus vizinhos são brancos, irlandeses ou algo do gênero. Isso é normal. Seria artificial se eu escrevesse essa história com todos brancos, mas vi livros sobre Nova York que fazem isso.

Acho especialmente interessante que o atual presidente dos EUA seja algo que eu chamaria desse novo tipo de americano. É americano, mas tem um pé em outro mundo, pais de fora, é ‘acusado’ de ser muçulmano, viveu na Indonésia. Cada vez mais vamos ver histórias assim. Não uma narrativa sobre imigrantes, mas a essência de ser americano e do mundo.

Você já descreveu Julius como um homem pós-11 de Setembro. O que seria uma pessoa pós-11 de Setembro?
Uma coisa importante é o questionamento quanto ao mito da inocência americana. Antes do 11 de Setembro, éramos esse país inocente e bacana, todas as guerras eram do outro lado do oceano, não precisávamos lidar. Depois disso, a guerra veio para casa, e para quem é esclarecido se tornou a ocasião para perguntar qual é nosso papel na miséria que as pessoas lá fora vivem.

Não é a primeira vez que isso acontece, mas, para a minha geração, o 11 de Setembro abriu os olhos para o mundo. Já houve a Coreia, o Vietnã, e para nós foi o Iraque, que lembra mais uma vez que a história do mundo não é americana. Isso foi o que 11 de Setembro fez.

Chamei de pós-11 de Setembro porque não queria que fosse uma análise do ataque às torres ou da guerra, queria que fosse uma história sobre como digerimos as coisas quando algo maior acontece. E parte da resposta é que digerimos isoladamente, não em público. E que a perda e essa forma de digerir se conectam uma à outra.

A primeira coisa que se precisa entender é que a história não começou ontem. Mas as pessoas que querem usar o 11 de Setembro politicamente, querem insistir que começou com o ataque. Falam como se fosse a pior coisa que aconteceu com Nova York. Mas, se você perguntar a um americano nativo, a pior coisa não foi o 11 de Setembro em si. Para os negros de Nova York o 11 de Setembro é terrível também, mas um quarto da população é descendente de escravos africanos. Foi uma longa história de escravidão, isso é um desastre. E parece que foi esquecido.

Você falou há pouco de Obama. Como avalia o governo dele?
Gosto dele. Acho que é notável e incomum ter nos EUA um presidente como ele. E está no lugar certo. No entanto, também é presidente, e isso vem com uma característica específica de brutalidade. Há uma tensão entre esse homem interessante, de quem gosto, e esse comandante-em-chefe de guerras ilegais. Mais notavelmente essa guerra ilegal no Paquistão, com os EUA assassinando pessoas. Mas acho que internamente ele teve muita oposição aos republicanos e que fez um trabalho incrível considerando o tipo de oposição que teve.

Um  ou outro personagem no livro diz para Julius ‘você é afro-americano como eu’, ressaltando as dificuldades que isso pressupõe. Algo nesse sentido mudou após Obama?
Sim, há grande diferença. Se você é um pequeno garoto ou garota negro nos EUA, todas as mensagens que a sociedade passa é que você não é bom. E, em certo sentido, alguém que parece com você é o chefe. É bom para afro-americanos, um tipo de conforto. Mas também para os brancos, mesmo os que não são racistas, porque deu uma experiência que a maioria nunca teve que é ter uma pessoa negra numa posição de autoridade.

Sou professor, e frequentemente tenho a sensação de que é a primeira vez na vida que aqueles garotos têm um professor que não é branco. Isso imagino que seja estranho para eles. Mesmo interagindo com vários negros, mas pegando o metrô, o motorista do ônibus, o homem da bilheteria. Obama ajudou a criar isso, e espero que os EUA também tenham, como o Brasil, uma presidente mulher, só para a gente passar por isso e seguir em frente.

Você está escrevendo uma não ficção sobre Lagos. Como é passar da maior cidade dos EUA para a maior da África, e da ficção para a não  ficção?
Quando você está escrevendo, fazendo um trabalho criativo, quando é um iniciante como eu, uma coisa curiosa é que você descobre seus interesses. Você não tinha como saber isso antes de começar, não tinha como saber se escreveria sobre amor ou horror ou espiões.

Mas, quando escreve, você desenvolve seus interesses. Descobri que meu maior interesse é escrever sobre cidades. Quando tiro fotos, são de cidades. Nesse sentido, Lagos faz sentido. “Cidade Aberta” é cheia de descrições líricas da vida na cidade a partir de um olhar para as pessoas e para as coisas, nesse sentido não há muita diferença.

As cidades são muito parecidas uma coisa a outra. Alguns milhões de pessoas vivendo juntas num espaço pequeno. E pessoas que ao mesmo tempo são cooperativas e hostis, isso é uma tensão interessante. No entanto, Lagos é diferente para mim porque foi onde cresci. Está conectado a infância, a familiaridade. E é uma cidade complicada, com problemas que em Nova York já foram resolvidos, como infraestrutura, eletricidade. As coisas pequenas que tornam a cidade mais desafiadora para quem vive lá e interessante para mim.

A ficção e a não ficção não são tão diferentes, já que a minha ficção trata de escrever de maneira que pareça real, tanto que muitos acham que é biográfico, com observações que vêm da vida ou parecem vir da vida. É claro, na não ficção tenho que tomar o cuidado de garantir que tudo o que escrevo venha da observação, da pesquisa, mas, como escritor, minha voz é minha voz, então o que escrevo provavelmente vai soar como meu.

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Zambra, Joyce e as lacunas de leitura http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/05/19/zambra-joyce-e-as-lacunas-de-leitura/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/05/19/zambra-joyce-e-as-lacunas-de-leitura/#comments Sat, 19 May 2012 19:41:28 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=1403 Continue lendo →]]>

O trecho acima é de “Bonsai” (Cosac Naify), livro bem lindo do chileno Alejandro Zambra, 36, que será companheiro de mesa do catalão Enrique Vila-Matas agora na Flip. A vantagem de “Bonsai” é que ninguém precisa inventar que leu; dá para matar em uma hora e meia, se tanto.

É um livreto de 96 páginas, mas naquela diagramação da Cosac que a gente conhece, feita de brancos generosos. Seria um desses “romances de capítulos curtos, de quarenta páginas, que estão na moda”, como ouve a certa altura Julio, o moço que não leu Marcel Proust, mas para mim fica mais naquela zona nebulosa entre uma novela e um embrião de algo maior.

“Bonsai” poderia ser acusado de parecer demais uma certa literatura que se faz hoje, auto-referente, orgulhosa do que é, ou então de partir de uma escolha recorrente entre iniciantes (coisa que Zambra, hoje celebrado no exterior, era quando escreveu), que é contar uma história romântica. É verdade que o livro é tudo isso, e tanto mais por isso impressiona que seja uma leitura tão boa. Se é do tipo que fica na cabeça, bem, alguém me pergunte no mês que vem.

O romance ganhou o prêmio do Conselho Nacional do Livro do Chile em 2006, e foi depois dele que Zambra entrou na lista de 22 melhores jovens autores hispano-americanos da Granta.

O que me intriga é que aquelas modestas 40 páginas (na versão sem diagramação da Cosac) tenham rendido um longa-metragem, exibido em Cannes no ano passado. Ao ver o trailer me lembrei de outro filme (“Cão sem Dono”) que me impressionou por sair de um livro magrinho, “Até o Dia em que o Cão Morreu”, do Daniel Galera –mas pelo menos este tem 104 páginas, e isso na diagramação menos conceitual da Companhia das Letras.

O trailer de “Bonsai”, de Cristián Jimenez:

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Queria voltar ao trecho do livro de Zambra em que Julio diz que leu “Em Busca do Tempo Perdido” aos 17. Porque ele tinha lido muita coisa até então, Kerouac, Nabokov, Capote, mas não Proust. Também não li Proust aos 17 (nem depois), o que me lembrou uma teoria antiga de que há coisas que precisam ser lidas na adolescência, antes que o tempo fique escasso demais.

Meus pais nunca foram de ler romances –meu pai lê até dicionário (verdade), mas nunca ficção; de leitura da minha mãe quase só me lembro de “Confesso que Vivi”, do Neruda, um livro de cabeceira no sentido mais honesto da expressão: nunca esteve em outro lugar.

Mas, como os pais de muita gente que gosta de ler, o meu comprou os clássicos de banca da Abril, e assim conheci Dante, Shakespeare, Cervantes, Pirandello, Zolá, Flaubert, Tolstói, Dostoiévski e deveria ficar listando aqui por linhas e linhas para me redimir da confissão a seguir.

A ela, enfim. Em casa não tinha “Ulysses”, nem “Em Busca do Tempo Perdido”, nem “A Montanha Mágica”, nem outros que prefiro nem listar para não tornar essa confissão ainda mais constrangedora, já que eu poderia muito bem tê-los pegado na biblioteca de Petrópolis antes de usar isso como desculpa, embora não esteja certa de que estariam lá. Meu conhecimento de Joyce se restringe a “Retrato de um Artista Quando Jovem”, que adorei depois de me irritar nas primeiras páginas, o de Mann não vai além de “A Morte em Veneza”, e assim, pelas beiradas, pelo menos eles e outros autores fundamentais não me passaram em branco.

Isso tudo antes de eu desconfiar de que um dia trabalharia com livros e que, portanto, não conseguiria ler mais quase nada por puro interesse pessoal.

O "Ulysses" da Penguin, em foto da @TaIzze, que já leu quase tudo (cof)

Agora me sai essa linda tradução do “Ulysses” (Penguin), pelo Caetano Galindo, e me pego na seguinte situação: se for esperar para ler antes tudo o que tenho de ler a trabalho, nunca começo, porque o trabalho sozinho já exige mais leitura do que consigo dar conta.

Como não ia andar para cima e para baixo com um livro de mil e tantas páginas na bolsa (aquela introdução bem que podia ser menorzinha, vai, para ajudar), a edição linda vai ficar em casa, mas joguei o original em inglês no meu Kindle para as horas livres. Vou ler catando milho, quando der. Se um dia terminar, eu conto. É claro, não atravessaria mil páginas pra guardar segredo.

Não imagino que seja nenhum bicho de sete cabeças, embora tenha largado nas primeiras páginas todas as vezes que tentei. Também não acho que mente quem diz que leu, como tantos pensam, embora desconfie de que boa parte largou pela metade e omite esse detalhe. Aconteceu comigo e “Os Irmãos Karamazov”, que é tão bom: parei faltando um terço; quando fui voltar, meses depois, percebi que teria de voltar tipo do começo, porque já tinha esquecido um monte de coisa; o resto da história você pode imaginar.

Sobre fingir que se leu o que não foi lido, e atire o primeiro “Catatau” quem nunca fez isso (esse, aliás, eu li, de verdade), queria encerrar este post com um último retorno ao “Bonsai”.

Julio mentiu sobre ter lido “Em Busca do Tempo Perdido” para Emilia, e ela, ficamos sabendo na página seguinte, retribuiu a mentira. Um dia eles resolvem “reler” juntos, e então Zambra escreve:

“Antes de começar a ler concordaram, por precaução, que era difícil para um leitor de ‘Em Busca do Tempo Perdido’ recapitular sua experiência de leitura: é um desses livros que mesmo depois de lidos a gente considera pendentes, disse Emilia. É um desses livros que vamos reler sempre, disse Julio.”

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Peço desculpas pelas ausências prolongadas. Sempre tento arrumar tempo entre fechamentos da “Ilustríssima”, apurações para o Painel das Letras, reportagens para o jornal e, bem, a vida lá fora (ó eu fazendo drama), mas às vezes o tempo engole a gente.

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Na Flip, o chileno-sensação Alejandro Zambra http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/03/24/chileno-sensacao-alejandro-zambra-vem-para-flip/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/03/24/chileno-sensacao-alejandro-zambra-vem-para-flip/#comments Sat, 24 Mar 2012 20:16:38 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=538 Continue lendo →]]>

Tô eu aqui curtindo uma sauninha, digo, o meu plantão na Ilustrada, e me chega um email do Alvaro Costa e Silva, a.k.a. Marechal –o autor do último (e ótimo) Diário do Rio, com roteiro de bares no centro, e da reportagem sobre a “Manchete” de Carnaval, ambos na “Ilustríssima”.

Ele me manda uma materinha sobre como Alejandro Zambra, autor chileno-sensação, escolhido em 2007 como um dos melhores 39 escritores de língua espanhola com até 39 anos, teve um upgrade na produtividade depois de parar de fumar. Ou algo do gênero.

Não que a gente desmereça a luta dele contra o cigarro, mas a notícia pra gente está no pé: ele vem para a Flip para lançar “Bonsái” (2006), seu primeiro romance, pela Cosac Naify. Só digo que: 1) Semanas atrás, perturbei todo mundo para descobrir se ele vinha; 2) Eu fracassei. =(

Mas, pelo menos, na semana passada, o Painel das Letras (link para assinantes Folha/UOL) antecipou (cof) a vinda de outros dois.

Um foi o Teju Cole, americano criado na Nigéria e estreante mais badalado de 2011 nos EUA. Por aqui lançará pela Companhia das Letras o romance que o badalou, “Cidade Aberta”, sobre, bem, um nigeriano vagando pelas ruas de Nova York.

O outro, Richard Sennet, historiador e sociólogo, terá publicado por aqui “Juntos” e “Declínio do Homem Público”, que saiu nos anos 90 pela Companhia das Letras e andava esgotadíssimo.

Outros escritores gringos que vêm ao Brasil neste ano você vê aqui.

E, aliás, apareceu o segundo brasileiro na Flip 2012 (o primeiro foi Luis Fernando Verissimo): Rubens Figueiredo, autor de “O Passageiro do Fim do Dia” (Companhia das Letras), vencedor do Prêmio SP de Literatura e do Prêmio Portugal Telecom, e tradutor do “Guerra e Paz” (Cosac Naify). Diz a coluna No Prelo, do “Globo”.

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Todorov, Talese, McEwan: quem vem por aí http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/03/10/todorov-talese-mcewan-quem-vem-por-ai/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/03/10/todorov-talese-mcewan-quem-vem-por-ai/#comments Sun, 11 Mar 2012 00:12:36 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=369 Continue lendo →]]>

Buscar fotos do Todorov me fez lembrar: nunca é fácil ilustrar seções literárias

Os nomes do segundo Fronteiras do Pensamento em São Paulo, de abril a outubro, serão divulgados nesta segunda, mas dois deles pude confirmar no Painel das Letras de hoje.

Um deles é o filósofo e linguista búlgaro Tzvetan Todorov, cuja obra conheci melhor na pós em literatura na PUC. Todorov é referência do estruturalismo francês, mas o ótimo “A Literatura em Perigo”, livro magrinho que a Difel publicou em 2009, é justo uma crítica à conversão da literatura em assunto para iniciados, essa coisa que estruturalistas fazem com tanto gosto.

Ele esteve ano passado no Rio, mas a gente aqui em São Paulo, que é puro umbigo (sou fluminense com umbigo radicado em São Paulo), mal teve notícia do que ele falou por lá (sobre poesia, ao que soube). O livro dele que sai em agosto pela Companhia das Letras não é sobre literatura: “Os Inimigos Íntimos da Democracia”. Então deve ser por aí a palestra.

Para manter o tema, outro confirmado é Mohamed El Baradei. O Nobel da Paz de 2005, autor de “A Era da Ilusão” (Leya, 2010), era favorito na corrida presidencial do Egito até retirar a candidatura, em janeiro, sob o argumento de que o “regime anterior” ainda governa o país –o Egito não tem chefe de Estado desde que Mubarak foi deposto.

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Se todos os autores fossem fotogênicos como Gay Talese, seria mais fácil

O Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, que acontece no final de maio, a se considerar nomes já confirmados, será imperdível. O Painel das Letras do dia 18 adiantou as presenças do jornalista Gay Talese e do historiador Robert Darnton, dois que já estiveram na Flip.

Também aceitaram convite o quadrinista Art Spiegelman, autor de “Maus”, que cancelou a vinda para a Flip em 2007, e o português Gonçalo M. Tavares, que já anda íntimo da gente por aqui.

E uma infinidade de jornalistas internacionais. Para ficar em dois, Moritz Muller-Wlrth, editor do jornal “Die Zeit”, e David Kessler, editor da revista francesa trava-língua “Les Inrockuptibles”.

Soube que J.M. Coetzee chegou a aceitar uma teleconferência. Mas, convenhamos, uma teleconferência com uma leitura, que é só o que ele faz em público, a gente pode ver no YouTube. Então ele ficou de fora. Até escrevi para a agente dele para assuntar se não viria para a Flip –que, em sua décima edição, está trazendo gente de volta–, mas ela disse que não. Ô dó.

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O McEwan pelo jeito não tem nenhuma foto que você não tenha visto antes

A Flip, enfim. Gostei de saber da volta do Ian McEwan porque em 2004, quando ele veio, a Flip era tão mais restrita que é como se não tivesse vindo (falo isso porque a minha primeira foi em 2005). E, embora o recente “Solar” tenha me causado constrangimento, só não o elogio mais porque isso hoje põe a gente naquele lugar que a gente chama de, hm, comum.

Outro que volta é o espanhol Enrique Vila-Matas, que terá publicado pela Cosac Naify o romance “Aire de Dylan”. E vem o conterrâneo dele Javier Cercas, com o inédito “Anatomia de um Instante” pela Globo Livros, e de quem, por acaso, ou nem tanto, estou lendo “Soldados de Salamina” (vou esperar terminar para recomendar, mas quase já faço isso). O pacote espanhol terá ainda a cubana Zoé Valdés, cujo premiado “O Todo Cotidiano” saiu pela Benvirá.

De língua inglesa, vêm ainda Jennifer Egan, vencedora do Pulitzer por “A Visita Cruel do Tempo” (que, no fim das contas, não achei bom a ponto de me sentir obrigada a terminar o terço que falta) e Jonathan Franzen, cujo “As Correções” prometo que vou ler só para descobrir se é mesmo, como dizem, tão melhor que “Liberdade”, que não me disse muita coisa.

E haverá dois especialistas em Shakespeare, o americano James Shapiro, autor de “1599: Um Ano na Vida de William Shakespeare” (Planeta) e de “Contested Will: Who Wrote Shakespeare”, em tradução pela Nossa Cultura, e Stephen Greenblatt, de quem a Companhia das Letras publicará “A Virada: Como o Mundo se Tornou Moderno”, vencedor do National Book Award.

Por último, mas não menos importante, para usar essa expressão que em português perde toda a graça, saiu ali perdido entre notas o anúncio do poeta sírio  Adonis, eterno candidato ao Nobel de Literatura, que terá enfim publicada neste ano no Brasil uma antologia, também pela Companhia das Letras, com tradução de Michel Sleiman.

Ufa. Não tinha me dado conta de quantos nomes tinham sido anunciados. Esqueci alguém?

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Com a chegada a São Paulo do gaúcho Fronteiras do Pensamento e a afirmação do Congresso Cult como evento com grandes nomes internacionais, no ano passado tive a impressão de que o anúncio de convidados para a Flip não causou o frisson de outros tempos. Talvez nem tenha relação, talvez seja só desgaste da rotina (todo ano ela faz tudo sempre igual e coisa e tal)

Não que seja leve assistir aos eventos. O valor mais baixo para acompanhar o Fronteiras, que só vende pacotes para as oito conferências juntas, é de R$ 980, isso se você se enquadrar numa das categorias de 50% de desconto (estudantes, assinantes da Folha etc). O Congresso Cult sai mais em conta –no ano passado foi R$ 400, com descontos que baixavam a coisa a até R$ 100; neste ano não acho por nada o link para inscrições, alguém me passe se souber onde está.

A Flip virou aquela guerra; se você não reserva pousada em Paraty meses antes, você fica quase em outra cidade; se não compra os ingressos (R$ 40 por mesa no ano passado) nas primeiras horas, tem que se contentar em ver tudo no telão. Se bem que esta última opção até virou vantagem com a ida do telão para o lado da praia. No ano passado, vi Ubaldo do lado de fora da tenda, com pés na areia e tomando minha cervejinha. Ele aprovaria, acho.

Mas o que acontece é que as editoras acabam embarcando na vinda dos autores para promover eventos gratuitos no Rio e em São Paulo. Para quem gosta, mesmo, basta ficar ligado.

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