A Biblioteca de Raqueljabuti – A Biblioteca de Raquel http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br Raquel Cozer Mon, 18 Nov 2013 13:27:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Painel das Letras: Os sem cadastro http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/01/12/painel-das-letras-os-sem-cadastro/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/01/12/painel-das-letras-os-sem-cadastro/#comments Sat, 12 Jan 2013 05:00:31 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3471 Continue lendo →]]> Não à toa 74 títulos da Record inscritos no Prêmio de Literatura da Fundação Biblioteca Nacional, no fim de 2012, foram inabilitados por “insuficiência de ISBN”. Desde 2007, quando a versão brasileira do código internacional que identifica livros passou a ter 13 dígitos, em vez de dez, a editora praticamente não cadastra obras na agência nacional do International Standard Book Number. Assim como as outras cinco primeiras casas a aderir ao sistema no país, em 1978, a Record teve por anos o direito de autoatribuir seus códigos, sem ter de pagar. Com a mudança de 2007, as pioneiras perderam o privilégio. A Record continuou atribuindo seus códigos por conta —cada ISBN inclui um número da editora e outro da publicação—, sem cadastrá-los na agência.

ISBN fecha o cerco
Em anos anteriores, títulos da Record levaram o prêmio da FBN, mas isso porque a instituição, que representa o ISBN no Brasil, ainda não eliminava concorrentes por irregularidades no cadastro. A inabilitação no último prêmio foi um movimento da agência para que editoras se regularizem. Está em estudo o mesmo procedimento para aceitação de livros no depósito legal da Biblioteca Nacional —editoras são obrigadas por lei a enviar à FBN cópias de livros que publicam.

“O cadastro é bom para todos. Ele garante que livros nacionais apareçam na base de dados internacional do ISBN”, diz Andréa Coêlho, chefe da agência nacional, sem comentar o caso da Record. “Essa é uma questão antiga que trabalhamos para resolver junto com a BN”, informou a editora.

Para facilitar Embora inscrever um livro na agência do ISBN custe apenas R$ 12, algumas editoras demoram a se regularizar porque os documentos precisam ser enviados pelo correio. Prometido para 2011, o cadastro pela internet deve entrar no ar, segundo a agência, em março.

Reflexo Em 2012, a agência do ISBN atribuiu 85.360 códigos a livros, um aumento de 126% em cinco anos (foram 37.689 em 2007) e de 14% em relação a 2011 (74.996). O crescimento pode ser visto como reflexo do maior número de títulos editados no país e da chegada de obras digitais.

HQ Os álbuns de Valentina, a sensual personagem de Guido Crepax, voltarão a ser publicados no país pela L± serão sete reedições, além de “A História de O”, que sai em março impresso e como e-book.

Juntos É da Companhia das Letras a HQ “Drawn Together”, com histórias autobiográficas do casal Aline e Robert Crumb. Deve sair em 2014. As obras do cartunista vinham sendo editadas pela Conrad, em reformulação desde a saída do editor Rogério de Campos, em 2012.

Séries Aristóteles e Freud ajudam a explicar estratégias narrativas e personagens de séries como “Mad Men” e “Breaking Bad” no curso que o escritor e jornalista Felipe Pena ministra na Casa do Saber, no Rio. As aulas agora vão virar livro, previsto para este ano pela Nova Fronteira.

Criatividade Recém-saída do selo Gutenberg, da Autêntica, Gabriela Nascimento assume a direção editoral da Reflexiva, que deve estrear neste ano com “livros de várias áreas, sendo a criatividade a linha mestra”.

Economia A jornalista Miriam Leitão, vencedora do Jabuti por “Saga Brasileira”, confirmou presença na Flipoços, de 27 de abril a 5 de maio, em Poços de Caldas (MG).

Acervo A Capivara poderá captar até R$ 604 mil via Rouanet para edição com imagens do acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que faz 175 anos em 2013. O IHGB tem um dos maiores acervos do país, com itens como cartas de Napoleão a d. João 6º e uma primeira edição dos “Lusíadas”, de Camões.

Digital Anunciado no início da gestão de Galeno Amorim na Fundação Biblioteca Nacional, em 2011, o projeto de uma biblioteca para empréstimo de livros digitais não saiu do papel. Outro, envolvendo só e-books de obras em domínio público, prometia 4.500 títulos em dois anos. Por ora, foram convertidos dez.

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Painel das Letras: Um teatro para Hilda http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/27/painel-das-letras-um-teatro-para-hilda/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/27/painel-das-letras-um-teatro-para-hilda/#comments Sat, 27 Oct 2012 05:00:03 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3311 Continue lendo →]]> O Instituto Hilda Hilst quer inaugurar no começo de 2013 um teatro de arena, com capacidade para até 200 pessoas, num terraço da Casa do Sol, onde morava a escritora. A meta é que receba principalmente montagens da obra de Hilda, mas que também supra uma lacuna de casas de teatro na região de Campinas.

Em outras ocasiões, para reformulação do site e digitalização do acervo, o instituto recorreu à Lei Rouanet, mas a dificuldade para conseguir patrocinadores o levou desta vez a tentar arrecadar os R$ 62 mil do projeto via crowdfunding, o financiamento coletivo pela web. A partir de 7/11, em site a ser divulgado, serão aceitas cotas de R$ 7 a R$ 5.000.

Dependendo do valor, o investidor levará mimos que vão de pôsteres a estadias de duas semanas na casa onde Hilda viveu.

E uma casa para Mo Yan

A Cosac Naify saiu na frente na disputa pela publicação no Brasil um título de Mo Yan, Nobel de Literatura deste ano. Fechou ontem com a agência Pierre Astier a compra de “Change”, título de em que o autor, inédito por aqui e visto como alinhado ao governo chinês, encarna as mudanças políticas e sociais de seu país nas últimas décadas.

O livro é um dos poucos do chinês a não serem geridos pela agência Wylie, que desde o anúncio do Nobel vem batendo de frente com a agente Sandra Dijkstra –que diz representar Mo Yan “desde o começo”. A Cosac agora busca um tradutor do chinês, o que é sempre um desafio no Brasil. Procurada anos atrás pela Wylie, a Estação Liberdade disse ter desistido de Mo Yan, antes de fechar contrato, por não conseguir tradutor.

Arte Recém-aberta no Instituto Moreira Salles do Rio, a mostra “William Kentridge: Fortuna” (foto acima) terá seu catálogo editado em inglês em parceria com a Thames & Hudson, resultado de conversas iniciadas na Feira de Frankfurt.

Exportação 1 A previsão do Brazilian Publishers, projeto que incentiva editoras brasileiras a venderem direitos autorais e livros impressos para outros países, é de que em um ano chegue a US$ 500 mil o total das negociações iniciadas na última Feira de Frankfurt.

Exportação 2 O valor estimado está muito acima dos US$ 150 mil esperados antes do início da feira, apesar de ser baixo para padrões internacionais —só a trilogia “Cinquenta Tons”, como se sabe, foi comprada pela Intrínseca por US$ 780 mil. O Brazilian Publishers contabiliza números de cerca de 30 editoras.

É ou não é  Com a notícia de que o jurado “C” do Jabuti, Rodrigo Gurgel, se apresenta como “editor associado” da LeYa, vínculo que o impediria de integrar o júri, a editora apressou-se em esclarecer: Gurgel fez só “leituras críticas de originais”, segundo a casa, e “nenhum dos dez originais que leu foi publicado”. Pois é, ninguém pode dizer que Gurgel não seja rigoroso…

A menina Mogli 1 É mirabolante a história real de “The Girl with no Name”, de Marina Chapman e Lynne Barrett-Lee, que a Record acaba de comprar.

A menina Mogli 2 Sequestrada na Colômbia aos cinco anos, em 1954, Marina foi criada por uma família de macacos na floresta até descoberta… não por salvadores, mas por caçadores, que a venderam como escrava a um casal de exploradores sexuais, antes de ela fugir e passar três anos como menina de rua. E isso era só o começo.

Ainda não A se considerar as primeiras bolsas aprovadas no programa de apoio à publicação de brasileiros em países lusófonos, da Fundação Biblioteca Nacional, autores nacionais na ativa ainda não são o maior foco de editoras portuguesas. Dos dez livros listados no “Diário Oficial” de ontem, só dois são de um autor vivo, Dalton Trevisan. Os outros são de Clarice Lispector, Francisca da Silva, Raimundo Correia, Drummond e João Antônio.

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'O bichinho carrega nas costas mais do que deveria', diz curador do Jabuti http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/23/o-bichinho-carrega-nas-costas-mais-do-que-deveria-diz-curador-do-jabuti/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/23/o-bichinho-carrega-nas-costas-mais-do-que-deveria-diz-curador-do-jabuti/#comments Tue, 23 Oct 2012 20:17:16 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3274 Continue lendo →]]>

Cartum de João Chiodini sobre o jurado C, recebido via Twitter =)

Eu sei, eu sei, são muitos posts seguidos sobre o assunto. Mas fiquei devendo a resposta da organização do Prêmio Jabuti ao comunicado da Objetiva sobre as notas zero que o jurado C atribuiu ao romance “Infâmia”, de Ana Maria Machado. Segue a conversa que tive com José Luiz Goldfarb, curador do prêmio há décadas e um defensor da causa do livro no país.

Update no dia 24: ontem não podia postar aqui, mas o Paulo Werneck, editor da “Ilustríssima”, desvendou a identidade do jurado C: é o crítico e editor paulista Rodrigo Gurgel, que escreve no “Rascunho”. Está na Folha de hoje, acompanhado por um textinho meu revelando o curioso modus operandi de Gurgel, que na segunda fase deu notas zero para livros que três semanas antes, na primeira fase, tinham recebido notas altas dele mesmo.

E mais update no dia 24, porque não aguento mais fazer post sobre Jabuti: questionaram nas redes sociais o fato de o Rodrigo Gurgel se apresentar como editor associado” da LeYa, sendo que as regras impedem que os jurados tenham vínculo com editoras. A LeYa informa que Gurgel fez leituras críticas para a editora entre 2010 e 2011, sem cargo fixo. De todo modo, em 2010 e 2011 Gurgel já era jurado do Jabuti. E será possível arrumar quase cem jurados sem ligação com editoras num prêmio voltado ao mercado editorial?

***

É o terceiro ano seguido com o Jabuti envolvido em polêmicas. Como avalia isso?
Pois é. No ano retrasado, tivemos o Chico Buarque, segundo lugar na categoria romance, eleito o livro do ano. O regulamento permitia, já tinha acontecido outras vezes, mas a polêmica nos fez rever o regulamento. No ano passado houve uma quantidade desagradável de finalistas que, pelas regras, não poderiam ser finalistas. Do ponto de vista de um prêmio é melhor desclassificar do que manter o erro, mas foi ruim terem sido vários casos.

Eu estava extremamente contente neste ano. Instituímos a comissão de curadores, que foi boa para eliminar obras que não deveriam estar participando. Quando saiu o resultado da primeira fase, como não eram mais centenas de livros concorrendo por categoria, fiquei tranquilo. A apuração da segunda etapa estava quase terminando quando pintou o jurado C. Mantive a frieza e a firmeza de que voto é voto e ninguém pode questionar se estiver dentro das regras. A reação de jornalistas e editores, na hora, foi de estranheza. Houve um zunzunzum de que seria anulado. Fiquei chateado com textos dizendo que a votação tinha de ir para o Supremo, coisas do gênero. A força do Jabuti é a contagem dos votos ser toda aberta.

Acha que problemas do gênero prejudicam a relevância do Jabuti?
Como curador, não gosto de ver isso acontecer. É claro que problemas no Jabuti extrapolam minha carga horária de Jabuti, que é só uma das minhas atribuições. Mas as pessoas entram numa maré de que tudo é melado no país e, na verdade, nos três casos de polêmica, nada foi ilegal, nada foi maracutaia. Nenhuma das polêmicas pôs em questão a lisura do prêmio. Aliás, a polêmica do jurado C só veio à tona porque os votos são abertos.

Por que mudaram a regra que limitava a nota mínima 8 na avaliação dos jurados?
Por muito tempo, a nota foi de 0 a 10. Não lembro como mudou, nunca tinha acontecido algo assim, mas em algum momento ficou resolvido que seria de 8 a 10. Passei a receber de jurados o pedido de que isso fosse ampliado, que 8 a 10 era uma margem pequena para avaliação, e aconteceu de jurados darem notas abaixo de 8 e terem seus votos anulados.

Num momento, talvez, de ingenuidade minha, não lembrando que alguém poderia usar isso para votar de forma muito pesada… Não houve uma reflexão muito detalhada, a gente achou, na confiança, que com uma margem maior dava para votar com mais critério. O que aconteceu foi que a gente abriu a possibilidade para que acontecesse o que de fato aconteceu.

Agora, se houve algum problema de ordem ética no Jabuti 2012, se você vier me perguntar, eu respondo: não, nenhum problema. Não fiquei satisfeito com a atitude, mas o jurado C tinha direito. Quando a gente divulgar quem é, vocês vão ver que é uma pessoa excelente. Vão descobrir que é alguém conhecido, que já publicou, que escreve algumas coisas muito importantes.

Você disse uma vez que evita repetir jurados, mas afirmou que o jurado C já esteve no júri outras vezes. Como funciona isso?
Depende da disponibilidade. Muita gente, por estar envolvida na área, comprometida com alguma editora, não pode estar no júri. Muita gente se oferece, manda currículo, informa que gostariam de ser jurado. O principal ganho não é a remuneração, que é pequena. O que é atrativo é a possibilidade de colocar no currículo. A gente evita repetir jurados, mas não é a regra. Se um jurado aceita e depois recebe um convite para ir ao exterior, justamente por serem pessoas importantes na área, a gente é obrigado a substituir. Então a gente recorre a quem já conhece a dinâmica, alguém que cumpriu os prazos quando participou outra vez, e convida. Essa é uma operação que exige rapidez nas decisões.

Por que os jurados não podem ser revelados ainda, se a votação final não depende só deles, mas principalmente dos votos dos membros da Câmara Brasileira do Livro?
Ate o dia 28, estamos num processo de eleição dos livros do ano. Agora é aquele grande colegio eleitoral, em que recebem a célula tanto os jurados quanto os membros da CBL. Se um jurado for entrevistado, pode influenciar o resultado desse processo.

Por que o mercado vota? Isso não reduz o caráter literário do prêmio?
Quando assumi a curadoria do Jabuti, 20 anos atrás, não havia prêmio em dinheiro. Naquela época, li uma entrevista com o Paulo César de Souza, que tinha ganhado um Jabuti em tradução, em que ele dizia que “um chequinho não iria mal”. Quando me convidaram, falei que aceitava ser curador na condição de que se começasse a remunerar os jurados e os vencedores. A CBL, mas fez uma contrapartida: os jurados escolhem os vencedores, e o mercado faz a votação final. O Jabuti nem cobrava pelas inscrições, ou cobrava um valor simbólico, mas hoje é o mercado que banca quase todo o Jabuti. A questão é que hoje o mercado participa da decisão, mas, antes disso, o júri garante a qualidade das obras que serão votadas na etapa final.

No comunicado de ontem, a Objetiva fez duas perguntas. Uma dela foi se, ao votar na segunda fase, o jurado C sabia os votos dos demais jurados na etapa anterior.
Uma coisa importante é que os jurados não só não são conhecidos pelo público como não são conhecidos entre si. Em outros prêmios, os jurados se juntam, influenciam os votos uns dos outros. Se o jurado C acompanhou a votação da primeira fase, que é aberta, ele poderia saber as notas dos finalistas. Mas nem todos os livros que foram para a segunda fase foram votados pelos três jurados na primeira etapa, então ele não teria como saber a nota que cada jurado daria a cada livro. Ele foi esperto. Provavelmente elaborou vários cenários para votar. O voto dele foi certeiro. Ele definiu a posição tanto daqueles que ele quis diminuir quanto dos que quis jogar para cima. Agora, é duro acreditar que Ana Maria Machado o desgostou tanto a ponto de merecer um zero, isso me deixa chateado como curador.

A segunda pergunta é se ele também deu notas baixas a ela na primeira fase.
Os jurados não dão nota para todos os 142 livros. Cada um deles escolhe dez que acha que valem a pena e atribui notas apenas a eles. Os dez mais bem pontuados vão para a segunda fase. O jurado C não votou na Ana Maria Machado na primeira fase. O que acontece muitas vezes, e que acho legal, é que um jurado na primeira fase pode não ter prestado atenção num livro, mas os outros dois votaram nele e ele foi para os finalistas. Uma vez tendo o livro entre os finalistas, o jurado que não votou nele antes poderá avaliá-lo com outros olhos.

Você conversou com o jurado C para tentar entender esses votos?
Não falei e não quero falar. Se eu falar com um jurado antes do resultado final, pode parecer pressão. Vamos tirar a curiosidade no dia 28.

Qual você acha que foi a intenção dele?
Acho que foi o que você escreveu no blog, ele quis privilegiar o desconhecido.  Os números levam a crer que ele bombou os consagrados e avaliou muito positivamente as revelações. Mas é preciso tomar cuidado com uma coisa: alguém pode ficar com a impressão de que ele escolheu uns livros chinfrins e usou seu poder para beneficiá-los, mas não foi isso. Os livros que receberam notas altas dele também foram muito bem avaliados pelos outros dois jurados. O “Nihonjin”, se não fossem as notas baixas para Ana Maria Machado, Wilson Bueno e Domingos Pellegrini, ficaria em quarto lugar. Isso numa avaliação que partiu de 142 livros.

Cada jurado na categoria romance recebeu mais de cem livros para avaliar num intervalo de poucos meses. Acha mesmo que eles conseguem ler tudo? [Leia depoimento de um jurado, publicado em 2009, link que me chegou via Silvio Alexandre]
Os jurados têm absoluta liberdade, recebem os livros e têm em torno de dois meses para escolher os dez aos quais atribuirão notas. Não posso dizer se todos leem todos, mas espero que tenham contato com todas as obras. Como você escreveu, é claro que o fato de um escritor ter uma história pode influenciar. Em vários prêmios há uma coincidência de resultados, os júris tendem a votar em quem já conhecem. É um problema universal, o ser humano disponível para ser júri de prêmios literários no planeta Terra tende a ser influenciado pelo nome das pessoas (risos). Nem que seja por dedicar mais tempo à leitura daqueles que conhece.

O que você achou do resultado do prêmio?
Olha, fico triste com a maneira como aconteceu, mas posso dizer que eu, Zé, pessoalmente, fico feliz de ver revelações ganhando prêmios. Para o autor consagrado, como você escreveu, será só mais um na casa ele. É importante olhar para o escritor que ainda não está sob os holofotes e que pode vir a ser influente na literatura brasileira.

Quando houve a polêmica do Chico, veio à tona o fato de o prêmio ter categorias demais. Daí, em vez de diminuí-lo, no ano seguinte vocês criaram mais categorias, elas passaram de 21 para 29. Você não acha que o Jabuti deveria ser mais enxuto?
Olha, acho que o bichinho carrega nas costas mais do que deveria. Minha vontade como curador é, na medida do possível, diminuir. Esse aumento ocorreu quando se decidiu que ia ganhar só o primeiro lugar, então resolvemos aproveitar para cobrir uma demanda de outras áreas que não eram premiadas. Porque há uma pressão das editoras que editam naquela área. Para 2013, é bem provável que a gente reavalie para ver quem está merecendo ser categoria ou não. Agora, é preciso levar em conta que é um prêmio do mercado, tem que contemplar capa, ilustração, fotografia, categorias que um prêmio puramente literário não tem que carregar nas costas.

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Editora de Ana Maria Machado pede ao Jabuti esclarecimentos sobre jurado C http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/22/editor-pede-ao-jabuti-esclarecimentos-sobre-jurado-c/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/22/editor-pede-ao-jabuti-esclarecimentos-sobre-jurado-c/#comments Mon, 22 Oct 2012 13:31:13 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3262 Continue lendo →]]> A Objetiva, editora de “Infâmia”, livro de Ana Maria Machado que recebeu nota zero do jurado C no Prêmio Jabuti, acaba de enviar este comunicado à imprensa:

 

“A Editora Objetiva vem expressar sua perplexidade diante das informações divulgadas pela Câmara Brasileira do Livro a respeito da apuração do resultado do Prêmio Jabuti de 2012, categoria literatura.

Ao se confirmarem estas informações, fica evidente uma manipulação do resultado por parte de um dos jurados. Seu voto, em vez de refletir uma avaliação qualificada de cada uma das obras finalistas, pode evidenciar a determinação de eleger uma obra vencedora a qualquer custo, ainda que para isto fosse necessário apelar a uma série de notas zero para os demais finalistas.

Como editores do romance INFÂMIA de Ana Maria Machado, não podemos deixar de expressar nosso desconforto diante da informação de que no escrutínio final para a escolha do romance vencedor, INFÂMIA recebeu uma nota dez, uma nota nove e meio, e do jurado em questão, um zero.

Diante deste fato sem precedente nos 54 anos de existência do Jabuti, nos parece necessário esclarecer dois pontos:

1. quando o jurado em questão definiu o seu voto no último escrutínio, ele tinha conhecimento dos votos dos demais jurados para cada finalista nos escrutínios anteriores?

2. o jurado em questão atribuiu nota zero ao romance INFÂMIA em todas as rodadas de votação, ou apenas na última, para alcançar uma improvável e distorcida média matemática?

Esperamos que, no espírito de transparência que deve nortear o Prêmio, os organizadores esclareçam estas questões, o que permitiria um melhor entendimento sobre o resultado final.

E uma vez que o próprio curador do Prêmio afirmou que o jurado em questão “não era adequado ao prêmio”, esperamos também que doravante a seleção de jurados seja mais criteriosa, reduzindo o risco de posturas oportunistas.

Roberto Feith
Diretor
Editora Objetiva”

 

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O que podemos aprender com o jurado C http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/19/o-que-podemos-aprender-com-o-jurado-c/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/10/19/o-que-podemos-aprender-com-o-jurado-c/#comments Fri, 19 Oct 2012 21:30:14 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3195 Continue lendo →]]> Na noite de 28 de novembro, quando o Prêmio Jabuti estiver prestes a anunciar seus vencedores nas categorias livro do ano de ficção e de não ficção, todas as atenções estarão voltadas para outro nome: o do jurado C, que poderá então, junto com o resto do júri, ser conhecido. A não ser, como atentou o jornalista Carlos André Moreira, que a notícia vaze antes, já que o caso do jurado C ganhou ares de fim de novela nesse nosso pouco palpitante mundinho literário.

O jurado C, se é que alguém ainda não sabe, foi a pessoa que bagunçou a divulgação dos resultados da segunda fase do Prêmio Jabuti, ontem à tarde. Ele e os jurados A e B eram responsáveis por dar notas de zero a dez para os dez livros finalistas na categoria romance. Resolveu dar notas entre 0 e 1,5 a cinco dos finalistas, o que tornou impossível para qualquer um deles vencer, já que era preciso ter a nota mais alta na média dos votos de cada jurado.

O curioso foi que o jurado C, voluntariamente ou não, impôs um posicionamento político ao prêmio. Grandes nomes como Ana Maria Machado (“Infâmia”) e Wilson Bueno (“Mano, a Noite Está Velha”) levaram notas mais baixas, assim como outros já premiados ou considerados favoritos, como Menalton Braff (“Tapete de Silêncio”) e Paulo Scott (“Habitante Irreal”).

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O primeiro lugar acabou ficando para o estreante Oscar Nakasato, cujo “Nihonjin” foi publicado pela Benvirá após vencer um concurso de originais. O segundo e o terceiro lugares ficaram para “Naqueles Morros, Depois da Chuva”, de Edival Lourenço, e “O Estranho no Corredor”, de Chico Lopes, talvez os nomes menos conhecidos da lista de dez finalistas.

José Luiz Goldfarb, curador do prêmio, disse ao UOL que o jurado C já participara de edições anteriores, mas que desta vez se aproveitou do fato de as notas poderem ser de 0 a 10, e não apenas de 8 a 10, como foi até 2011. Vi listas de jurados de outras edições e posso dizer são nomes não necessariamente conhecidos no meio literário. Considerando que todo ano eles precisam de três nomes que aceitem se comprometer a avaliar mais de cem títulos, e que o Jabuti não repete jurados em anos seguidos, não é de se espantar que seja assim.

O que não ficou claro para mim foi se o jurado C desclassificou favoritos para dar vez aos que na teoria tinham menos chance, se achou os livros umas porcarias indignas de serem chamadas de romances ou se foi espírito de porco mesmo. A primeira opção me parece mais simpática, embora eu tema que na verdade tenha sido a alternativa três.

***

Independentemente disso, a despeito de ter pesado a mão ao fazer valer seu direito de voto, sendo inclusive injusto, o jurado C ajudou a espanar uma poeira que costuma assentar sobre prêmios literários. Importante ressaltar, porque dei margem a leituras erradas: não defendo o que ele fez, só acho que sua atitude radical trouxe questões pertinentes à tona.

Entre os méritos de um prêmio, está o de levantar debate, dar voz ao autor, apontar o diferente. Enfim, tirar as coisas do lugar (algo diferente de criar cotas para iniciantes, por favor). Por isso não posso dizer que tenha achado bom, por exemplo, o Prêmio São Paulo de Literatura agraciar “in memoriam” “Vermelho Amargo”, de Bartolomeu Campos de Queirós. Não entro no critério de se o romance era melhor ou pior que os outros, o que é passível de discordância mesmo entre jurados, mas o prêmio teria rendido mais debate se um autor na ativa fosse o escolhido.

Ninguém tem dúvida de que Ana Maria Machado é uma excelente escritora. Ou tem? Eu não tenho. Não fosse o jurado C, ela acrescentaria à sua prateleira mais um merecido Jabuti. Querendo ou não, o jurado C pôs no topo um estreante, alguém que não teve destaque ao ser publicado e que no entanto foi merecedor de figurar entre os finalistas, tendo concorrido com mais de cem títulos. Em última instância, é melhor que estejamos sendo apresentados a Oscar Nakasato do que que venham nos repetir que Ana Maria Machado é uma excelente escritora.

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P.S.: a história serve a ilustrar vícios de premiações, mas não é bom um prêmio ser frágil ao ponto de um único jurado interferir assim. No Facebook, lembraram que até escolas de samba sabem evitar isso, mas, enfim, no Rio elas só corrigiram o método de votação nos anos 80, depois que uma louca deu nota 6 para todas, menos para a Mocidade, e fez a escola ganhar. O Jabuti já se comprometeu a corrigir isso para 2013. Essa molecagem é mais uma prova de que precisa rever mais, precisa rever todo o seu conceito. Ou alguém acha que todos os jurados leram todas as dezenas (às vezes mais de cem) de livros inscritos nas categorias que julgaram?

P.S. 2: a Fernanda de Aragão, escritora, fez um bom post destacando também o aspecto político do posicionamento do jurado.

P.S. 3: as duas últimas notas do post acima poderiam entrar nesta discussão: será que o poço criativo da literatura está seco?

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