A Biblioteca de Raquelleitura – A Biblioteca de Raquel http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br Raquel Cozer Mon, 18 Nov 2013 13:27:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 "Best-sellers são perigosos": íntegra da entrevista com Juergen Boos, presidente da Feira de Frankfurt http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/08/12/best-sellers-sao-perigosos/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/08/12/best-sellers-sao-perigosos/#comments Mon, 13 Aug 2012 02:52:35 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=2576 Continue lendo →]]> Abaixo, a íntegra da conversa que tive na última quarta-feira com Juergen Boos, presidente da Feira do Livro de Frankfurt, parte dela publicada no sábado na “Ilustrada”. Marifé Boix García, espanhola que trabalha desde 1994 na feira e hoje é vice-presidente, estava junto e fez comentários interessantes. Mantenho aqui as aspas dela, que não saíram na edição.

Ficou enorme, mas vale a pena ler –especialmente a parte em que ele fala da Amazon, de best-sellers, de índices de leitura, mercado e outros temas relacionados.

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RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA

Tão afeito a polêmicas, o meio literário brasileiro terá o que falar quando a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) anunciar os autores a serem levados para a Feira do Livro de Frankfurt em 2013.

Na ocasião, a maior feira mundial do mercado editorial terá o Brasil como convidado de honra, e cabe à FBN elencar que escritores nos representarão no megaevento.

“A Nova Zelândia, convidada de 2012, elencou agora os autores que vão a Frankfurt. E a lista tem rendido sérias discussões”, diz Juergen Boos, presidente da feira. O fato é que é uma divulgação importante para o país, e Boos explica por que na entrevista a seguir.

Na semana passada, ele esteve em São Paulo, para o lançamento da versão nacional da Contec, conferência alemã sobre educação e tecnologia, e conversou com a Folha sobre a participação brasileira, o impacto da feira, o mercado editorial e índices de leitura na Alemanha.

Juergen Boos, presidente da Feira de Frankfurt, no restaurante do MAM

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Folha – Como o sr. avalia a preparação do Brasil até o momento para a homenagem na Feira de Frankfurt, no ano que vem?
Juergen Boos – As conversas começaram cerca de três anos atrás. Foi uma uma decisão bastante pensada, porque o Brasil já tinha sido convidado de honra antes. E àquela altura a organização enfrentou complicações, era mais difícil viajar, houve várias questões, embora tenha sido uma participação bem-sucedida, especialmente na parte de traduções.

Desta vez, resolvemos começar cedo e conversar com tanta gente quanto possível. Tomou mais de dois anos, mas agora estamos no caminho. Foi definido o comitê de organização, o programa de traduções está em andamento, instituições alemãs que devem fazer exposições sobre o Brasil até a data da feira têm se organizado. Alcançamos o que podíamos alcançar até agora.

Mas agora o verdadeiro trabalho começa. Falta pouco mais de um ano, é pouco tempo. O comitê de organização tem que decidir que autores levará para a feira, e detalhes como esses é que trarão a discussão à tona. Daqui para a frente, um dos maiores desafios será que qualquer decisão que o comitê tomar será questionada por alguém. Isso tornará tudo complicado.

Lidar com questionamentos é um dos maiores desafios?
Boos – É sempre difícil. A Nova Zelândia, a homenageada deste ano, apresentou agora os autores que vão viajar para Frankfurt em outubro. Faltam só dois meses, e soube que há sérias discussões acontecendo por lá, muita gente está magoada porque não foi convidada.

Ouvi rumores de que o Brasil está para anuciar muito em breve os seus nomes, só rumores. Isso significa que vocês terão muito mais tempo para polêmicas [risos].

Pelo que viram da organização de outros países, o Brasil está bem?
Boos – Não se pode comparar um país com o outro, porque cada país tem suas especificidades. O que podemos fazer é comparar com 1994, então é difícil para mim, que não estava na Feira de Frankfurt na época [Boos começou a trabalhar na feira em 2005].

Marifé Boix García – Eu estava no departamento de imprensa na época. Era outro tempo, acho que o governo não estava tão comprometido quanto hoje. Sei que a associação de editores teve de pagar despesas que o governo não cobriu, e por isso editores estão receosos. Com esse grupo creio que vai funcionar, mas até hoje editores nos questionam, esperam que falemos com o governo.

O que ainda falta conversar com o governo?
Boos – É necessário muita conversa entre editores, governo e todo mundo relacionado ao projeto. O trabalho tem de ser feito agora, não em Frankfurt, lá será só o resultado.

A Catalunha [homenageada de 2007] gastou algo como 20 milhões de euros, sendo que dois terços disso foram gastos ainda em Barcelona, com relações públicas, lobbying, exposições. A participação deles como convidados da feira foi muito política, houve essa discussão sobre nacionalismo na Europa, e tudo isso foi definido antes de eles chegarem a Frankfurt.

Marifé – O que eles fizeram foi convidar jornalistas e editores alemães para Barcelona. E é  importante viajar com editores brasileiros para a Alemanha, com grupos que ainda não conhecemos. Tivemos isso agora com um grupo de editores de infantis. Isso abre portas.

Boos – O que repetimos é: o foco não só em 2013, mas no que virá depois. Não é como se trabalhássemos agora só pensando em 2013. É preciso ir adiante, num nível maior, como se a Feira de Frankfurt fosse uma plataforma que lançasse o país a um certo nível no qual ele deve se manter por pelo menos alguns anos. Somos só um ponto de partida.

Essa o sr. deve ouvir com frequência: por que escolher o Brasil neste momento?
Boos – Tudo bem, é minha pergunta favorita [risos]. Isso me dá a chance de falar de tradutores, editores e escritores. Chamo de indústria essa cadeia que vai do autor ao leitor. É claro que é preciso ser cuidadoso ao falar em indústria, porque não é como a de carros ou seguros. Vendemos algo diferente, não produzido só por questões de mercado. É um produto intelectual.

Mesmo um livro de gastronomia é uma história sobre a sociedade. Um romance é uma forma de o escritor definir o mundo, e o leitor pode entender de maneira diferente. Isso é especial.

Com isso em mente, você tem de encontrar um país de identidade forte, com autores muito próprios. Precisamos de uma voz original, isso é a primeira coisa. Levando em conta especialmente a literatura, mas também outros aspectos da cultura, arquitetura, filme, jogos, que hoje estão muito perto da literatura, porque todos os jogos querem contar uma história.

Em segundo lugar, você precisa encontrar interessados nessa voz original, editores que queiram conhecer essa literatura e outros interessados no país. Por isso o programa de tradução. Não podemos esperar que, sem isso, haja interesse na literatura de um país.

O interesse pode existir por questões políticas, econômicas, que são uma oportunidade de tirar a literatura do escuro. Neste momento todo mundo olha para o Brasil, e a literatura ajuda a entendê-lo. É mais fácil discutir questões econômicas, políticas e sociais se há luzes sobre a literatura.

E qual é essa voz original brasileira? A literatura brasileira é conhecida na Alemanha?
Boos – Conheço só os nomes velhos, Jorge Amado. É preciso trazer os novos. Isso não era algo que discutíamos. Antes eu nem poderia poderia nomear brasileiros, porque não eram traduzidos.

Marifé – Há um centro cultural brasileiro em Frankfurt, que organiza leituras de brasileiros. Levam quatro ou cinco por ano. As leituras são bem frequentadas, públicos de 80 ou 100 pessoas. É uma instituição privada, trabalha com a ajuda da Tam. Isso significa que conseguem trazer o autor do Brasil de avião, mas algumas vezes não têm o dinheiro para pagar uma viagem de trem de Frankfurt para dentro da Alemanha, onde há grande comunidade brasileira.

Ainda há muito a fazer. Mas eles trouxeram gente como João Paulo Cuenca, Carola Saavedra, Beatriz Bracher, Santiago Nazarian. Alguns estão traduzidos.

Como vocês identificaram essa voz original brasileira, se ainda é pouco conhecida?
Boos – Conversei como gente como Marifé, que acompanha mais de perto, e acadêmicos de literatura. Há essa organização, a LitCam, que presta atenção na literatura feira na África, na Ásia, na América Latina. Essas pessoas acompanham o que sai nesses países. Ou seja, há interesse permanente no que vem de fora, e posso notar como passa de uma área a outra.

E, sendo um pouco vaidoso, acho que podemos influenciar nisso. Desde que anunciamos o Brasil, editores alemães começaram a fazer contatos. O interesse existe principalmente pela situação econômica, e usamos isso para oferecer em troca um interesse pela cultura.

A que o sr. atribui o anterior desinteresse pela literatura produzida hoje no Brasil? Falta de investimento, falta de boa literatura?
Boos – Você pode sempre culpar o governo, mas não é o suficiente quando se fala de cultura. O que acontece é o que vemos no mundo inteiro, o que é mais perigoso e nunca pensei que fosse acontecer. É uma globalização de um tipo de literatura… Todo mundo fala agora de soft pornô, todo mundo começa a escrever isso, todo mundo no mundo, isso é transparente.

E é mais difícil conseguir traduções da boa literatura, você tem de ter tradutores qualificados. Isso leva ao governo: tradutores precisam de subsídios, treinamento. Têm de viajar, ir aos países. A Islândia, por exemplo, deve ter 20 tradutores no mundo todo, para todos os países. Português deve ser mais fácil, mas não sei quantos deles podem fazer traduções literárias de qualidade para o alemão ou o inglês. Não diria mais que 20.

Marifé – O importante, e isso é o que proponho ao Galeno Amorim [presidente da FBN e coordenador da organização da participação brasileira em Frankfurt] e a editores, é convidar jornalistas, tradutores e editores alemães e deixá-los escolherem os livros que quiserem. O governo tem de pagar, mas não é caro. Isso é dinheiro bem investido. Do nosso lado, o que podemos fazer é abrir as portas. É uma pena se você investe sem ter a certeza de que o público alvo existe. Você faz às cegas e espera que alguém na feira descubra.

A Feira de Frankfurt não é uma Bienal do Livro, aberta ao público, é uma feira de negócios, e os editores alemães têm outras coisas a pesquisar, não estarão pensando só no Brasil. Eles têm de vender suas coisas também. Então, é preciso acessá-los antes e depois da feira.

Tirando as grandes editoras, muitas não sabem como agir. No Brasil, não é comum existir um editor só para vender direitos e outro para comprar, geralmente a mesma pessoa faz as duas coisas. Mas o editor tem que saber o que quer, comprar ou vender.

Vocês falaram em público alvo. No caso da feira, qual a prioridade? Sempre que falamos da Feira de Frankfurt, de traduções, citamos a chamada alta literatura, mas o fato é que na feira sempre aparecem os grandes best-sellers.
Boos –
 Sim, quando falamos no convidado de honra, pensamos na alta literatura, mas Frankfurt… A feira é de negócios. São os maiores editores nas áreas de educação, científica, técnica, de autoajuda, de negócios, infantis, e lá atrás, mas bem atrás mesmo, está a literatura.

Não queremos ser só negócios, queremos priorizar cultura e política, então colocamos a literatura no centro. Na homenagem à Turquia [em 2008], tivemos Orham Pamuk, que ganhou Nobel, e ele foi crítico ao presidente, fez o discurso de abertura, isso foi importante.

O que tem de estar claro ao convidado é o seu objetivo. Você quer apoiar a indústria editorial, quer ajudar os autores a serem conhecidos, quer estimular o turismo no Brasi? Tem objetivo político, como os catalães, que discutiram a nacionalidade na Espanha? Você tem que saber a resposta. Diria que, no caso do Brasil, as prioridades são os autores, depois os editores e em terceiro lugar a presença do país como um todo no exterior. Mas essa é só minha impressão.

Marifé – Viajei para Bogotá neste ano, onde o Brasil foi homenageado. Nossos amigos, Galeno e os outros, disseram que era um teste para Frankfurt, eles aceitaram esse convite depois de saberem que eram convidados de Frankfurt, e o que apresentaram lá foi baseado na ideia de diversidade. A diversidade do país foi o slogan, o grande mote.

Boos – Não sei ainda o mote da participação brasileira, devemos saber em breve. A Nova Zelândia preparou uma slogan na linha “enquanto você está dormindo”, porque o país fica no meio do nada, eles acordam quando o resto do mundo dorme. É uma ótima ideia.

O Brasil terá de apresentar um autor representativo para receber, neste ano, o bastão da Nova Zelândia. Quem escolhe essa pessoa?
Boos – Essa será outra grande discussão, porque tem que ser um grande nome. Haverá um autor da Nova Zelândia falando e outro do Brasil. O Brasil escolhe, podemos dar sugestões, mas nunca interferimos. Vocês é que têm de saber como querem ser vistos. Vocês podem saber que tal autor não é bom para a forma como querem ser apresentados. E nós podemos dizer, bem, essa pessoa pode não ser boa, já que nunca nem foi traduzida.

Na Nova Zelândia, houve um autor que com quem eu tinha problemas por várias razões. Falei que eles não deveriam trazer porque a pessoa causaria problemas. Enfim, é difícil.

A participação da Argentina, em 2010, foi criticada pela escolha de símbolos nada literários para representar o país, como Maradona e Evita. Nem assim a feira interfere?
Marifé – É delicado, há diplomacia envolvida. É claro que os jornalistas queriam ouvir que o governo estava fazendo tudo errado, mas não diríamos isso. Mas também é claro que focamos na literatura e na sociedade de hoje.

Boos – Importante é olhar para a sociedade de hoje, não para o passado.

Já se pode sentir impacto da escolha do Brasil como convidado em 2013?
Boos – Sim, porque o programa de tradução já começou. Nas últimas semanas, especialmente, muitos editores alemães me perguntaram sobre o Brasil e sobre como entrar em contato com as editoras. Isso é complicado, porque há no Brasil só um ou dois agentes especializados. Na Alemanha, há agentes especializados na America Latina, não especificamente no Brasil.

Por falar nesse programa, uma editora alemã [Königshausen & Neumann] escolheu o romance de um senador e ex-presidente brasileiro, chamado José Sarney, para traduzir. Isso chamou a atenção, porque Sarney não é especialmente conhecido pela obra literária.
Boos – É um livro político?

Não, é um romance, “Saraminda”. Sarney faz uma literatura regionalista.
[Boos pega o Macbook, pergunta como soletra o nome e começa a pesquisar.]

Marifé – Bem, essa é uma decisão da editora. Se eles acham que podem vender, eles decidem. E o Brasil deve estar aberto a oferecer esse apoio.

Boos – [ainda lendo no MacBook] 1987… [data de “Saraminda”]. E ele é um membro da Academia Brasileira de Letras. Bem. E ele tem 80 anos? Tem essas questões políticas, estou vendo [continua lendo ao longo das próximas perguntas].

Como são essas exposições paralelas sobre o Brasil por ocasião da feira?
Marifé – Isso nós não negociamos, mas temos duas pessoas na feira que cuidam do contato entre o convidado de honra e outras instituições. Eles ajudam a organizar encontros, mas não interferimos. Já há planos para exposições nos museus mais importantes de Frankfurt.

Mais cedo, vocês citaram Juca Ferreira. Já encontraram a nova ministra da Cultura?
Marifé – O  contato foi assinado com Juca Ferreira, e agora, infelizmente…

Boos – [para de ler no MacBook por um momento] Ainda ainda não conseguimos encontrar a ministra, mas tomara que seja possível amanhã, na Bienal de São Paulo, se ela for [Ana de Hollanda foi, mas não encontrou Boos e Marifé].

Por que não a encontraram ainda?
Boos – Estivemos no Brasil algumas vezes, encontramos outros membros do governo…

Marifé – Encontramos o secretário executivo [do MinC], Vitor Ortiz, mas não a ministra.

Boos – Não sei a razão. Estava ocupada, talvez. A presidente mandou chamá-la, não sei. Veja: o último livro de Sarney é de 1991 [Boos defende que traduções  priorizem autores na ativa]. Saiu na Alemanha, mas não está mais em catálogo, segundo a Amazon.

A Amazon deve chegar ao Brasil neste ano. Como é a presença da empresa hoje na Alemanha? Aqui a ideia é vista com ressalvas pelo mercado.
Boos – Foi o mesmo quando Gutenberg criou a impressão. De repende, livros estavam disponíveis em todo lugar, e agora estão em todo lugar na internet. Na época de Gutenberg, eles eram caros e ninguém podia ler, demorou dois séculos para a coisa engrenar. O mesmo acontece agora. Os e-books estão em todo lugar, mas pouca gente lê. Não estão acostumados, não querem ler no celular, entao vai demorar um tempo.

A Amazon tem uma fatia grande do mercado alemão, porque é conveniente, as pessoas não precisam ir à livraria, podem encomendar e receber no outro dia. O livro do Sarney, por exemplo, está fora de catálogo, mas tem ali uma edição em segunda mão à venda.

Os e-books não fazem tanto sucesso na Alemanha quanto nos EUA porque ainda temos livrarias em todo lugar, em qualquer esquina. No Brasil, você tem livrarias nas grandes cidades, mas acho que nas menores é mais difícil. Suponho.

A Amazon começou com livros impressos e boa distribuição. Foram espertos, começaram nos países de língua inglesa, daí foram para países de língua alemã, similar na estrutura, e daí para a Espanha. Mas mais interessante agora é a canadense Kobo, que foi comprada pela Rakuten, que está para o Japão como a Amazon para o resto do mundo. Ela estreará em 20 países nos próximos meses, incluindo o Brasil. Isso obrigará a Amazon repensar estratégias.

Em 2008, com a crise, o mercado editorial encolheu em vários países. Como foi isso na Alemanha? Como está esse mercado hoje?
Boos – Nos últimos três anos, o mercado alemão vem se mantendo num certo nível, cresce ou encolhe muito pouco. O mais interessante é que há mais títulos publicados do que nunca, os preços subiram um pouco e o faturamento continua o mesmo. A conclusão: menos exemplares por títulos, as pequenas vendendo menos, e best-sellers como “Cinquenta Tons de Cinza” vendendo mais do que nunca.

Isso é perigoso, porque mostra que as pessoas estão interessadas só naquilo que é muito divulgado. Isso acontece no mundo inteiro. É um problema de educação. Temos de mostrar às crianças que há mais. Meu filho tem 12 anos e tudo o que lê é uma série de James Bond para crianças. Tento fazê-lo ler outras coisas, mas ele sempre quer o próximo número da série.

O que pode ser feito, então, para fomentar a leitura, se mesmo o sr., que trabalha com isso  e na teoria poderia ajudar seu filho, não consegue convencê-lo  a ler outra coisa?
Boos – Na minha casa temos muito livros, mas a verdade é que ele não quer ser influenciado por mim. Recomendar algo é a melhor maneira de fazer ele não querer ler.  Tento outras maneiras, indiretamente. Ele fica no YouTube o tempo todo. Então pego um bom livro e digo: “Veja, fizeram um filme em Hollywood baseado nesse livro”. Essa coisa de conversão de mídias.

Também tento enviá-lo para a livraria, e ele fica circulando. Não faço ele comprar livros específicos, faço ele ir e escolher. Uma vez que ele está lá, ele acaba escolhendo. Compro James Bond para ele, o quanto ele quiser, mas que tenha acesso a outros.

Dizem no Brasil que nosso governo está entre os que mais compram livros para escolas e bibliotecas. Como vê ações governamentais nesse sentido?
Boos – Acho positivo. Dar acesso aos livros é importante. Livreiros também têm de ir onde está o povo. Fazer leituras, iniciativas sociais, porque são organizações pequenas. Estamos com uma iniciativa chamada “o futebol encontra a cultura e a literatura”, para crianças pobres da Alemanha, especialmente descendentes de imigrantes que têm problemas com a leitura.

Falamos com times de futebol, e elas têm permissao para treinar com esses times duas vezes por semana. Depois do treino, têm uma hora de práticas de leitura. Não é como a escola, mas tentamos torná-las interessados na leitura combinando-a com o jogo. As crianças querem treinar, então também leem. Temos uns sete times participando, com patrocinadores.

Como são os índices de leitura na Alemanha hoje?
Boos – Há muita gente vinda de Leste Europeu, gente que nem fala alemão. Os índices de leitura estão caindo. Acho que temos 4 milhões de pessoas, de um total de 80 milhões, que foram à escola, aprenderam a ler e não conseguem ler mais, e esse número está crescendo. Essas pessoas têm empregos simples, veem TV, usam celular, mas na prática não conseguem ler.

Tento não ser pessimista. Leio muito, tenho a sorte de que meu filho leia, embora nossos hábitos sejam diferentes. Ele lê e faz outras coisas ao mesmo tempo, lê um impresso e checa o Facebook no smartphone ao mesmo tempo. Os pais são um exemplo, mas estão vivendo em outro mundo. Hoje, até um jogo de videogame pode capturar uma criança para a leitura.

É importante começar cedo, não esperar até a faculdade. E o governo tem que participar, treinar professores –porque eles são da minha idade, não estão acostumados com as novas mídias. Não há problema em se divertir lendo. Aliás, o mais importante é se divertir.

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Zambra, Joyce e as lacunas de leitura http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/05/19/zambra-joyce-e-as-lacunas-de-leitura/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/05/19/zambra-joyce-e-as-lacunas-de-leitura/#comments Sat, 19 May 2012 19:41:28 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=1403 Continue lendo →]]>

O trecho acima é de “Bonsai” (Cosac Naify), livro bem lindo do chileno Alejandro Zambra, 36, que será companheiro de mesa do catalão Enrique Vila-Matas agora na Flip. A vantagem de “Bonsai” é que ninguém precisa inventar que leu; dá para matar em uma hora e meia, se tanto.

É um livreto de 96 páginas, mas naquela diagramação da Cosac que a gente conhece, feita de brancos generosos. Seria um desses “romances de capítulos curtos, de quarenta páginas, que estão na moda”, como ouve a certa altura Julio, o moço que não leu Marcel Proust, mas para mim fica mais naquela zona nebulosa entre uma novela e um embrião de algo maior.

“Bonsai” poderia ser acusado de parecer demais uma certa literatura que se faz hoje, auto-referente, orgulhosa do que é, ou então de partir de uma escolha recorrente entre iniciantes (coisa que Zambra, hoje celebrado no exterior, era quando escreveu), que é contar uma história romântica. É verdade que o livro é tudo isso, e tanto mais por isso impressiona que seja uma leitura tão boa. Se é do tipo que fica na cabeça, bem, alguém me pergunte no mês que vem.

O romance ganhou o prêmio do Conselho Nacional do Livro do Chile em 2006, e foi depois dele que Zambra entrou na lista de 22 melhores jovens autores hispano-americanos da Granta.

O que me intriga é que aquelas modestas 40 páginas (na versão sem diagramação da Cosac) tenham rendido um longa-metragem, exibido em Cannes no ano passado. Ao ver o trailer me lembrei de outro filme (“Cão sem Dono”) que me impressionou por sair de um livro magrinho, “Até o Dia em que o Cão Morreu”, do Daniel Galera –mas pelo menos este tem 104 páginas, e isso na diagramação menos conceitual da Companhia das Letras.

O trailer de “Bonsai”, de Cristián Jimenez:

 [There is a video that cannot be displayed in this feed. Visit the blog entry to see the video.]

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Queria voltar ao trecho do livro de Zambra em que Julio diz que leu “Em Busca do Tempo Perdido” aos 17. Porque ele tinha lido muita coisa até então, Kerouac, Nabokov, Capote, mas não Proust. Também não li Proust aos 17 (nem depois), o que me lembrou uma teoria antiga de que há coisas que precisam ser lidas na adolescência, antes que o tempo fique escasso demais.

Meus pais nunca foram de ler romances –meu pai lê até dicionário (verdade), mas nunca ficção; de leitura da minha mãe quase só me lembro de “Confesso que Vivi”, do Neruda, um livro de cabeceira no sentido mais honesto da expressão: nunca esteve em outro lugar.

Mas, como os pais de muita gente que gosta de ler, o meu comprou os clássicos de banca da Abril, e assim conheci Dante, Shakespeare, Cervantes, Pirandello, Zolá, Flaubert, Tolstói, Dostoiévski e deveria ficar listando aqui por linhas e linhas para me redimir da confissão a seguir.

A ela, enfim. Em casa não tinha “Ulysses”, nem “Em Busca do Tempo Perdido”, nem “A Montanha Mágica”, nem outros que prefiro nem listar para não tornar essa confissão ainda mais constrangedora, já que eu poderia muito bem tê-los pegado na biblioteca de Petrópolis antes de usar isso como desculpa, embora não esteja certa de que estariam lá. Meu conhecimento de Joyce se restringe a “Retrato de um Artista Quando Jovem”, que adorei depois de me irritar nas primeiras páginas, o de Mann não vai além de “A Morte em Veneza”, e assim, pelas beiradas, pelo menos eles e outros autores fundamentais não me passaram em branco.

Isso tudo antes de eu desconfiar de que um dia trabalharia com livros e que, portanto, não conseguiria ler mais quase nada por puro interesse pessoal.

O "Ulysses" da Penguin, em foto da @TaIzze, que já leu quase tudo (cof)

Agora me sai essa linda tradução do “Ulysses” (Penguin), pelo Caetano Galindo, e me pego na seguinte situação: se for esperar para ler antes tudo o que tenho de ler a trabalho, nunca começo, porque o trabalho sozinho já exige mais leitura do que consigo dar conta.

Como não ia andar para cima e para baixo com um livro de mil e tantas páginas na bolsa (aquela introdução bem que podia ser menorzinha, vai, para ajudar), a edição linda vai ficar em casa, mas joguei o original em inglês no meu Kindle para as horas livres. Vou ler catando milho, quando der. Se um dia terminar, eu conto. É claro, não atravessaria mil páginas pra guardar segredo.

Não imagino que seja nenhum bicho de sete cabeças, embora tenha largado nas primeiras páginas todas as vezes que tentei. Também não acho que mente quem diz que leu, como tantos pensam, embora desconfie de que boa parte largou pela metade e omite esse detalhe. Aconteceu comigo e “Os Irmãos Karamazov”, que é tão bom: parei faltando um terço; quando fui voltar, meses depois, percebi que teria de voltar tipo do começo, porque já tinha esquecido um monte de coisa; o resto da história você pode imaginar.

Sobre fingir que se leu o que não foi lido, e atire o primeiro “Catatau” quem nunca fez isso (esse, aliás, eu li, de verdade), queria encerrar este post com um último retorno ao “Bonsai”.

Julio mentiu sobre ter lido “Em Busca do Tempo Perdido” para Emilia, e ela, ficamos sabendo na página seguinte, retribuiu a mentira. Um dia eles resolvem “reler” juntos, e então Zambra escreve:

“Antes de começar a ler concordaram, por precaução, que era difícil para um leitor de ‘Em Busca do Tempo Perdido’ recapitular sua experiência de leitura: é um desses livros que mesmo depois de lidos a gente considera pendentes, disse Emilia. É um desses livros que vamos reler sempre, disse Julio.”

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Peço desculpas pelas ausências prolongadas. Sempre tento arrumar tempo entre fechamentos da “Ilustríssima”, apurações para o Painel das Letras, reportagens para o jornal e, bem, a vida lá fora (ó eu fazendo drama), mas às vezes o tempo engole a gente.

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Propaganda para gostar de ler http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/25/propagand-para-gostar-de-ler/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/25/propagand-para-gostar-de-ler/#comments Wed, 25 Apr 2012 22:14:41 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=1113 Continue lendo →]]> Depois dos pôsteres para gostar de ler, anúncios. Montes deles. Na verdade é mais para vender livros do que para gostar de ler, mas o título fica melhor com otimismo.

"Tudo o que você pode querer saber." Da Encyclopaedia Britannica, de um tempo, recente, em que ela ainda era produzida em papel

"Seja outra pessoa. Escolha seu herói na Mint Vinetu." De livraria lituana

"A página não pode ser exibida (livros nunca vão deixar você na mão)." Da livraria Booksplus

"Mais educação para as meninas nos países islâmicos." Da Unicef

"Homens São de Bares, Mulheres São de Vênus." Da cerveja Bavaria (eu pessoalmente deixaria Vênus para eles)

"De um amante dos livros para outro." Da National Book Tokens, empresa de vale-presentes no Reino Unido

"Nós somamos leitores." Da livraria Cosmo, da Jordânia

"Tenha os livros que pertenceram à biblioteca pessoal de P.P. Guinness." Campanha para venda do acervo do jornalista australiano morto em 2008 (mas esse no pôster é o Jô, né)"

"Um sanduíche para especialistas." Do McDonalds

"Alimente a cultura, não alimente as traças." Para finalizar, coisa nossa: campanha de doação de livros da Feira do Livro de Porto Alegre

outros aqui, mas diria que minha curadoria destacou o que tinha de melhor (cof). E também não precisa ficar clicando em um por um. Deixei de fora três que já postei antes, esse, esse e esse, porque não aguentava mais olhar para a cara deles.

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Bienal do Livro em Brasília começa com protesto http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/15/primeiras-impressoes-da-bienal/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/15/primeiras-impressoes-da-bienal/#comments Sun, 15 Apr 2012 16:37:27 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=790 Continue lendo →]]> Para quem está acostumado a bienais do livro do Rio e/ou de São Paulo, a 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que começou ontem em Brasília, parece sui generis. É claro que falo isso do alto da minha falta de conhecimento de bienais de outros Estados.

Vocês podem me ajudar a ter uma ideia de se elas se parecem com a de Brasília.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi que não encontrei os estandes da maior parte das grandes editoras de livros de interesse geral do país. Do nosso umbigo Rio-São Paulo –tirando o grande estande da Geração Editorial, cujo editor, Luiz Fernando Emediato, é o curador do evento–, encontrei só os das editoras Globo, Companhia das Letras e Record, pelo que entendi sob responsabilidade de distribuidoras.

E eles não chegam a um quinto do tamanho dos estandes de dois andares com playground, piscina, quatro vagas na garagem e vista para o mar que essas editoras mantém nos grandes centros. O da Companhia me lembrou um pouco uma banca de jornal, pelo tamanho.

Talvez isso diga algo sobre a distribuição de livros no país.

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Em compensação, sebos e livrarias brasilienses estão em todos os cantos, com várias promoções de livros (e bugigangas, como fantoches) a R$ 10,  característica bem menos comum nas bienais Rio/SP, embora eu tenha ouvido relato sobre livros em geral mais caros nos estandes do que nas próprias livrarias.

Um dos mais concorridos é o do Sebinho, melhor lugar para se comprar livros em Brasília, segundo ouvi. Entre os estandes, chamam a atenção expositores como a TV Brasil, a Câmara dos Deputados e o Governo do Distrito Federal, este em vários espaços, além do Comitê da Copa. É lá que a gente deposita reclamações?

O público estimado para ontem, dia da abertura, foi de 20 mil pessoas. Tendo passado lá boa parte da tarde, eu arriscaria dizer que me pareceu menos, mas, dada a enormidade dos pavilhões montados na Esplanada, pode ser que eu só não tenha tido a dimensão. O público esperado para todos os nove dias do evento é de 500 mil pessoas, então haja visitação escolar, porque no que depender só de público espontâneo teríamos com sorte uns 120 mil, considerando que dias de semana costumam ser mais vazios.

O orçamento divulgado é de R$ 6,8 milhões, um quarto do orçamento da última Bienal do Livro Rio, mas um valor considerável para um evento literário no país. A entrada é gratuita, como deveria ser a de todo evento que se propõe a atrair leitores.

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Houve investimentos das secretarias de Estado da Cultura e da Educação, em parceria com o Instituto Terceiro Setor, dentro do Plano do Distrito Federal de Livro e Leitura. O que não significa que professores locais, em greve há 34 dias, tenham achado a ideia boa.

Trezentos e cinquenta grevistas aproveitaram a cerimônia de abertura para uma manifestação. “A Bienal está sendo feita sem que os professores estejam em sala de aula. Estamos aqui para dizer que o governo [do Distrito Federal] não tem competência para a educação”, disse uma professora ao “Correio Braziliense”.

Pela manhã, os professores só acalmaram durante a fala do Nobel nigeriano Wole Solyinka, homenageado do evento e autor da Geração Editorial, a editora do curador. À noite, numa ótima fala sobre religiões –que comento noutro post–, Solyinka comentou: “O que vimos aqui foi uma demonstração de liberdade de expressão. Não entendi as palavras, mas entendi a paixão dos professores. E não conheço a situação deles aqui, mas posso dizer que é ainda um pouco melhor que a dos professores na Nigéria.”

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As fotos acima são de Carol Matias (as duas primeiras) e Junior Aragão (Wole Soyinka).

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Pôsteres para gostar de ler http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/07/617/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/07/617/#comments Sat, 07 Apr 2012 16:37:55 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=617 Continue lendo →]]> Está difícil achar tempo, mas aproveito uma folga em Bogotá, onde acompanho os últimos dias do Festival Ibero-Americano de Teatro (a gente se vira nos 30), para espanar a poeira daqui.

Ainda quero comentar a adaptação de “1984” dirigida por Tim Robbins, sobre a qual escrevi na Ilustrada de ontem; citar outras adaptações que chamaram a atenção; falar do preço do livro na Colômbia, que citei no Painel das Letras de hoje; falar de colombianos cujos livros voltam na bagagem. No que diz respeito à intenção, a atualização do blog está uma maravilha.

Mas, só para manter as estantes em dia, vai uma do arquivo de links não postados, de que lembrei ao visitar um sebo por aqui (a associação que fiz eu explico depois, ou não).

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Enfim. Quando A Biblioteca de Raquel estava ainda no Estadão, escrevi sobre um projeto do inglês Philip Bradley, que adaptou antigos pôsteres de guerra para a campanha Save Libraries. Se tiver um tempo além do que já está perdendo aqui, vale dar uma olhada.

O post que o Brainpickings fez no mês passado lembra que, no período entreguerras, o próprio governo americano pensou em algo parecido. Era 1935 e, no esforço para tirar a população daquela depressão generalizada decorrente da Grande Depressão, o presidente Roosevelt criou o Works Progress Administration, que usou US$ 7 bilhões para empregar 8 milhões de pessoas em áreas tão variadas quanto artes e construção civil.

Do incentivo às artes, incluído no Federal Arts Program, saíram mais de 17 mil esculturas e 108 mil pinturas. Parte desse trabalho era voltado à criação de pôsteres para promover tudo, de saúde pública a turismo, passando pelo incentivo à leitura. Abaixo, alguns exemplos:

Pôster de 25 de março de 1939, de Iowa, convocando leitores a frequentarem clubes de leitura, hoje tão populares na internet

Pôster de 25 de março de 1941, de Chicago, incitando a leitura no mês que já estava acabando. Acho que perderam o deadline

Pôster de algo entre 1936 e 1940, convocando o leitor a... usar marcador de livros em vez de fazer dobrinhas nas páginas? Hm

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Agora, nem só a moral e os bons costumes alimentavam campanhas pró-leitura. Décadas depois da criação dos pôsteres acima, surgiram outros inspirados na literatura barata, a famosa pulp fiction, para estimular o interesse por livros. Sem incentivo governamental, é claro. Há uma série para quem quiser comprar, mas estes abaixo são imbatíveis.

"Bibliobimbo: corrompido por um desejo desenfreado por livros raros (todo livreiro da cidade esteve na biblioteca dela)"

"Uma conspiração diabólica revelada: Eles fizeram de mim um colecionador de livros -- vendedores de livros raros e sua trama diabólica para doutrinar os compulsivos"

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O brasileiro lê ainda menos do que se pensava. E algumas curiosidades... http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/03/28/o-brasileiro-esta-lendo-menos/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/03/28/o-brasileiro-esta-lendo-menos/#comments Wed, 28 Mar 2012 21:23:36 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=563 Continue lendo →]]> Queria escrever sobre o Millôr. Digo, o Millôr na minha vida. Só uma história envolvendo “A Verdadeira História do Paraíso” e aulas de teatro no colégio. Nada, assim espero, documentado em vídeo para a posteridade. Mas texto com emoção demanda tempo. Precisa escrever, deixar descansar e, depois que assentar, reler e tirar tudo o que for piegas, o que em geral reduz o texto a um terço do que era inicialmente (às vezes também não sobra nada).

E, enfim, hoje é dia de fechamento da “Ilustríssima”, um momento da semana em que as horas duram no máximo 30 minutos, então achei melhor ficar num pragmático post sem emoção.

É que hoje foram divulgados os números da terceira Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada com 5.012 pessoas de 315 municípios no ano passado. A anterior, com o mesmo número de pesquisados, é de 2007.

Uma das informações principais da pesquisa, o fato de o brasileiro ler menos livros por ano do que informou a última pesquisa, saiu no meu primeiro Painel das Letras, de 11/2.

Tem uma coisa: talvez o problema esteja na forma como a pesquisa foi feita ou lida em 2007. É provável que os números estivessem errados antes, e não que a situação tenha piorado.

Mas seguem dados dignos de nota:

– O Instituto Pró-Livro destaca que os brasileiros leem quatro livros por ano. Primeiro, é importante ressaltar aqui, já que eles não fizeram isso na divulgação deles, que o número era 4,7 na pesquisa de 2007. A segunda coisa é que esse dado inclui livros lidos na escola. Tirando livros lidos na escola, o número era de 1,3 em 2007, que é o número mais real. E esse caiu neste ano também (não encontrei na pesquisa que eles mandaram agora, mas cobrei e atualizo aqui)

– A pesquisa considera como leitor aqueles que leram ao menos um livro nos últimos três meses. Por esse critério, 43% dos leitores são homens, ante 57% de mulheres.

– Os homens leem mais que as mulheres dos cinco aos 17 anos. Ou seja, na escola. Dos 18 aos 39, a diferença fica dentro da margem de erro. Dos 40 a perder de vista (ou a perder a vista. Desculpem, não me controlei), as mulheres leem mais.

– 48% dos leitores são estudantes, e 52% não são. Entre os não leitores, 16% estão na escola (gente…) e 84% não estão.

– Entre os escritores brasileiros mais admirados, Monteiro Lobato continua em primeiro, mas agora seguido de Machado de Assis, que tomou um fôlego e passou Paulo Coelho (que caiu do segundo para o terceiro lugar) e Jorge Amado (que caiu do terceiro para o quarto).

– Confesso que acho temerário Augusto Cury ter subido da 17ª para a 10ª posição, e isso é uma crítica com conhecimento de causa. Foi uma das piores coisas que li a trabalho. Padre Marcelo, nosso maior best-seller de 2010 e 2011, que não li, estreia na lista em 14º lugar, à frente de Manuel Bandeira (16º) e Clarice Lispector (19º).

– Fernando Pessoa aparece em 18º lugar entre os escritores brasileiros mais admirados. Não contem isso para os portugueses.

– Silas Malafaia, ele mesmo, aparece em 24º, à frente de Pedro Bandeira.

– A Bíblia foi o livro mais marcante na vida dos leitores que participaram da pesquisa, seguido de “A Cabana” e “Ágape”, que empurraram o antigo segundo colocado, “O Sítio do Picapau Amarelo” (que não é exatamente um livro, mas dá para entender o conceito) para a quarta posição. “Pequeno Príncipe” segue firme e forte em quinto lugar. “Dom Casmurro”, em sexto, fica imediatamente à frente de “Crepúsculo”.

– Sobre e-books, 17% já leu livros digitais no computador, 1% leu no celular e 82% nunca leu. Aliás, 70% nunca nem ouviu falar em livros digitais.

– Entre quem leu livros digitais, 38% lê livros piratas. Eu arriscaria dizer que muita gente que lê livros digitais piratas ficou com vergonha de dizer isso.

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