A Biblioteca de Raquelpoesia – A Biblioteca de Raquel http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br Raquel Cozer Mon, 18 Nov 2013 13:27:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Painel das Letras: O preço de Frankfurt http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/04/27/painel-das-letras-o-preco-de-frankfurt/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/04/27/painel-das-letras-o-preco-de-frankfurt/#comments Sat, 27 Apr 2013 06:00:27 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3945 Continue lendo →]]> Saiu anteontem, um mês após o anúncio pelo Ministério da Cultura, a nomeação oficial de Renato Lessa para a presidência da Fundação Biblioteca Nacional. E o cientista político já assume sob críticas quanto às cifras que serão gastas pelo governo na Feira de Frankfurt, em outubro —o Brasil será homenageado, e cabe à fundação organizar a participação brasileira.

Questionado pela Folha, o MinC informou que o orçamento será de R$ 18,9 milhões e que, desses, já estão garantidos R$ 15,7 milhões. A Câmara Brasileira do Livro foi autorizada a captar via Lei Rouanet R$ 13 milhões para o evento —um plano B, para o caso de a verba não ser toda liberada pela União. A falta de clareza causou confusão. O MinC diz que “em nenhuma hipótese” o gasto passará de R$ 18,9 mi.

O preço de Frankfurt 2
Questionado sobre quanto desse montante será pago pela Fundação Biblioteca Nacional, o MinC assegura que “nenhum valor é do orçamento direto da FBN”, mas sim do Fundo Nacional de Cultura. Os gastos incluem o pavilhão brasileiro, estande de editoras, programação em museus de Frankfurt, passagens e hospedagens de autores, palestrantes, artistas e equipe de produção, tradução simultânea, tradução de material impresso e mais.

Para explicar o total do investimento brasileiro, a FBN cita gastos de outros homenageados: Argentina (2010), R$ 20 milhões; Catalunha (2007), R$ 39 milhões; Índia (2006), R$ 12 milhões; Coréia (2005), R$ 45 milhões.

O governo da Nova Zelândia, que gastou R$ 11 milhões em 2012, diz que essas cifras não são comparáveis, dadas as especificidades de cada país.

Norma Personagens como a moça Crase e o caçador Singular contam histórias da gramática em “Crônicas da Norma” (Callis/Instituto Antonio Houaiss; imagem acima, por José Carlos Lollo), de Blandina Franco, que chega em breve às livrarias

O leitor comum
O título da estreia de Luciano Trigo na poesia, “Motivo”, tem sua provocação. Leitor atento da atual produção poética, o jornalista e escritor diz ter concluído que pouco do que se edita no gênero é digno de nota. Resolveu reunir em seu livro só o que “se justificasse por algum motivo, alguma fagulha de originalidade”.

Trigo já escreveu ficção, ensaios e infantis. Com “Motivo”, que sai em maio pela 7Letras, quer fazer diferença num cenário que considera voltado ao próprio umbigo. “Parece uma poesia escrita entre amigos, para amigos e que perdeu a capacidade de tocar o leitor comum.”

Poesia A 7Letras, aliás, casa das que mais publicam poesia no país, com média de quatro títulos ao mês, inicia em maio a publicação da obra completa do português Ruy Belo (1933-1978). Começa com “Aquela Grande Rio Eufrates”, “O Problema da Habitação” e “Boca Bilíngue”.

Concurso Foram 900 inscritos em 2012, na estreia do Prêmio Paraná de Literatura. A segunda edição será lançada nesta segunda, selecionando obras inéditas em romance, contos e poesia. Cada vencedor ganha R$ 40 mil e mil cópias editadas pela Biblioteca Pública do Paraná. Edital e informações em bpp.pr.gov.br e seec.pr.gov.br.

Cinema Carlos Augusto Calil já definiu pontos da reorganização da obra de Paulo Emilio Salles Gomes (1916-1977), que passa da Cosac Naify para a Companhia das Letras

Cinema 2 Calil planeja volumes com textos antes só publicados em jornais. Da produção crítica de Salles Gomes, só saíram pela Cosac Naify os livros referentes a Jean Vigo.

Ficção científica  “Fragmento de História Futura”, do francês Gabriel de Tarde (1843-1908), ganha edição em maio pela Cultura & Barbárie, com tradução de Fernando Scheibe. O misto de ficção e ensaio se passa no século 31, 500 anos após os homens migrarem para as entranhas da Terra, com a extinção do Sol.

Guerra A Bertrand Brasil comprou “Masters of the Air”, de Donald L. Miller, livro que Steven Spielberg usa como base para sua próxima série de TV. Na Bienal, a editora lança os que originaram suas séries anteriores, “Band of Brothers” e “The Pacific”.

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Painel das Letras: Festa para a poesia http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/03/23/painel-das-letras-festa-para-a-poesia/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/03/23/painel-das-letras-festa-para-a-poesia/#comments Sat, 23 Mar 2013 06:00:52 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3789 Continue lendo →]]> OBS: Cometi o erro mais idiota na coluna: no texto de abertura, o valor para captação na Rouanet do Festival de Poesia de Curitiba é de R$ 539 mil, não R$ 539 milhões, como escrevi no impresso, um valor que não faz o menor sentido para um evento literário. Sabia que era uma coisa e escrevi outra –nossa senhora dos atos falhos saberá explicar. Já avisei o jornal do erro e corrigi no texto abaixo. Peço desculpas aos organizadores. 

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Um evento anual representativo para a poesia como o Festival de Teatro de Curitiba é para a dramaturgia no país. Eis o plano ambicioso da produtora Abaporu, que teve autorizada a captação de R$ 539 mil via Rouanet. A primeira edição do Festival de Poesia de Curitiba está prevista para outubro, com sete dias de eventos pela cidade.

Planejam-se debates, leituras, shows, performances em faculdades, “saraokês” (mistura de sarau com karaokê) em bares e declamações de poetas populares nas ruas. “A ideia é não fazer um negócio chato”, resume o poeta e curador Sergio Conti. Alice Ruiz cuidará dos debates, para os quais vêm sendo sondados nomes como Arnaldo Antunes, Mário Bortolotto e Chacal. Falta patrocinador, mas está apalavrado o apoio da Fundação Cultural de Curitiba, importante agente cultural da cidade.

Festa para a poesia 2
Poeta maior de Curitiba e marido por 19 anos de Alice Ruiz, Paulo Leminski (1944-1989) não será homenageado no festival neste ano. Se o evento emplacar, ele será lembrado na edição de 2014, quando completaria 70 anos.

Mas a voz do povo já o celebra: primeirão nas recentes listas de mais vendidos da Livraria Cultura e da Martins Fontes, Leminski faz raríssima aparição poética na atual lista de mais vendidos da Folha, em nono lugar em ficção.

Seu “Toda Poesia”, lançado há três semanas pela Companhia das Letras, já teve 15 mil cópias impressas.
E “Arnaldo Antunes Lê Paulo Leminski”, que a produtora Mínimas fez a pedido da editora, teve 18 mil visualizações no YouTube, ante média de 600/mês de outros vídeos da Companhia.

FOTOGRAFIA O Instituto Moreira Salles lança em julho “A Vida em Movimento”, coedição com a Éditions Hazan, com imagens de Jacques Henri Lartigue (1894-1986); elas estarão em mostra no IMS-RJ, em junho

Crônicas A produtora Mínimas já preparou seu segundo “booktrailer” para a Companhia das Letras, baseado em “O Amor Acaba”, de Paulo Mendes Campos. Foi filmado com livreiros de São Paulo como figurantes e deve estrear nos próximos dias.

Repaginada O escritor Antonio Xerxenesky deixou o Instituto Moreira Salles rumo à Cosac Naify, onde assume o cargo de editor do site. Será responsável por levar novos colunistas e colaboradores ao blog da editora.

Cadê? Pedro Cezar (“Só Dez por Cento É Mentira: Manoel de Barros”) teve o projeto do documentário “Tudo Vai Ficar da Cor que Você Quiser” —sobre o escritor Rodrigo de Souza Leão, com roteiro e direção de Letícia Simões e Ramon Mello— selecionado em julho por edital da Secretaria de Estado de Cultura do Rio. Passados oito meses, não veio a verba de R$ 197 mil. A secretaria diz que deve sair nos próximos dias.

Leva Três obras do crítico Luiz Costa Lima devem sair neste ano pela EdUFSC.

Leva 2 “Mímesis: Desafio ao Pensamento”, do crítico, terá nova edição preparada por Sérgio Alcides, que também organiza para a editora da Universidade Federal de Santa Catarina um volume com “Dispersa Demanda: Ensaios sobre Literatura e Teoria” e “Pensando nos Trópicos”.

Matadores A DarkSide Books lança em junho “Serial Killers: Anatomia do Mal”, de Harold Schechter, que analisa matadores e sua ligação com a cultura. Está lá, por exemplo, Ed Gein, inspiração para Norman Bates (“Psicose”) e Hannibal Lecter (“O Silêncio dos Inocentes”).

Fantasia Carolina Munhoz, 24, já teve mais de 20 mil cópias de “A Fada” e “O Inverno das Fadas”, ambos do ano passado, vendidos pelo selo Fantasy, da Casa da Palavra. No próximo semestre, ela lança “Feérica”.

Inéditos A LeYa Brasil quer bombar o 5º Prêmio LeYa, em abril. O concurso, que paga o equivalente a R$ 256 mil, nunca pegou do lado de cá do oceano. Em Portugal, quem ganha vira best-seller.

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Painel das Letras: Por que Drummond http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/12/29/painel-das-letras-por-que-drummond/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/12/29/painel-das-letras-por-que-drummond/#comments Sat, 29 Dec 2012 05:00:42 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=3432 Continue lendo →]]> A poeta Leila Míccolis, integrante do júri que escolheu “Carlos Drummond de Andrade: Poesia 1930-62”, da Cosac Naify, como vencedora do Prêmio Biblioteca Nacional de Literatura, diz que preferia ter premiado um poeta vivo. “Eu tinha outra escolha, mas respeitei a decisão coletiva.” Seu colega de júri Francisco Orban avalia que caberia à organização decidir se o livro estava habilitado ou não —já que, pelo edital, a inscrição só poderia ser feita pelo autor ou pela editora com autorização por escrito do autor. A BN já manifestou que só analisará o caso se houver recurso de algum concorrente.

Estreia 1 O primeiro romance de Cadão Volpato, “Pessoas que Passam pelos Sonhos”, sai em maio pela Cosac Naify. O livro chegou a ser anunciado pela editora portuguesa Babel, mas, com a mudança de rumos da casa, que passou a focar em infantis, Volpato conseguiu desfazer o contrato.

Estreia 2 O livro trata de “um arquiteto distraído num tempo ruim para as distrações: a América do Sul entre 1969 e 1979”, diz o autor.

Best-seller A literatura pop de Raphael Draccon atraiu a Random House Mondadori. A trilogia fantástica “Dragões de Éter” (LeYa) teve os direitos comprados pela gigante, que deve publicá-la em 2013 no México.

Mídia O espanhol Pascual Serrano, do diário “Rebelión”, será editado no Brasil. Com o colega Ignacio Ramonet, diretor do “Le Monde Diplomatique”, e o professor da Universidade Federal Fluminense Dênis de Moraes, lança em 2013 pela Boitempo “Mídia, Hegemonia e Contra-Hegemonia”, uma reflexão sobre o poder da mídia.

Vocação A Eduerj prepara uma série voltada a uma “história cultural de forte inclinação literária, mas que mobiliza múltiplas disciplinas”, segundo o editor Italo Moriconi. O primeiro será “A Vocação Moderna de Barcelona”, de Joan Ramon Resina, que investiga a cidade que abraçou um projeto moderno, mas acabou se tornando “moderna pela metade”.

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Juan Gelman e o poeta português http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/15/812/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/15/812/#comments Sun, 15 Apr 2012 21:15:18 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=812 Continue lendo →]]>

Prestes a completar  82 anos, agora no dia 3, o argentino Juan Gelman (acima, em foto de Bruno de Araujo) encarou 11 horas de viagem desde o México, onde vive há 23 anos, pouco antes de sentar ao lado de Eric Nepomuceno na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília, ontem.

Foi uma mesa de fala informal, intercalada por leituras de poemas e perguntas feitas diretamente pelo público, expediente que organizadores de eventos em geral evitam, pela margem que dá ao surgimento dos loucos de palestra. (Eles estavam lá, é claro. Loucos de palestra são como vendedores de biscoito Globo quando começa congestionamento na estrada para Petrópolis; não importa o tema, eles vão brotar nos primeiros segundos se um microfone for aberto ao público.)

Gelman está prestes a descobrir se pertencem à sua nora, desaparecida da ditadura na Argentina, os restos mortais encontrados num batalhão no Uruguai. Os resultado do exame de DNA deve sair por estes dias. O corpo do filho ele localizou e enterrou em 1990, dez anos antes de encontrar viva, aos 23 anos, a neta –o bebê que a nora esperava quando desapareceu.

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A história de vida dramática somada ao fato de ele ser um dos grandes nomes da poesia latino-americana não foram suficientes para encher nem metade da tenda em que Gelman falava, mas ele mesmo reconheceu a existência de barreiras para interessados no tema.

“Devo dizer que se lê pouco da poesia brasileira na Argentina. Não se pode dizer que seja uma barreira da língua, porque lá se traduzem poetas ingleses, franceses. Mas creio que festivais como esse vêm ajudando a romper esse desconhecimento mútuo.”

A editora Record tinha em seu estande na bienal apenas 20 exemplares de “Amor que Serena, Termina?”, edição bilíngue de poemas de Gelman que Eric Nepomuceno traduziu em 2001 e da qual foram lidos versos durante a mesa. Até onde vi não foram vendidos todos para a seção de autógrafos, mas houve quem comprasse livros dele num estande com títulos em espanhol.

Sobre a tradução, Nepomuceno contou: “Nunca tinha traduzido poesia, porque achava que esse era o tipo de coisa que tinha de ser feita por outro poeta, mas resolvi tentar. E, ao terminar, senti que faltava alguma coisa. Então mandei para um amigo meu, poeta, músico, revisar. Era o Chico Buarque. Ele aceitou revisar só porque eram poemas de Gelman.”

Fica aí então um deles, lido na mesa. Lindo, lindo, sobre Fernando Pessoa (o verso “uma vez esqueci um olho na metade de uma mulher” faz mal de tão bonito que é). Fique à vontade para fazer uma boa revisão e me contar se houver erros de digitação, porque escrever do iPad é uó.

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eu também escrevo contos

havia uma vez um poeta português/
tinha quatro poetas dentro dele e vivia muito preocupado/
trabalhava na administração pública e onde é que já
se viu um funcionário público de portugal ganhando o suficiente para alimentar quatro bocas/

toda noite fazia a chamada de seus poetas incluindo-se a si mesmo/
um esticava a mão pela janela e os astros caíam-lhe ali/
outro escrevia cartas ao sul/
o que estão fazendo do sul?/ dizia/
de meu uruguai?/ dizia/ o outro
converteu-se num barco que amou os marinheiros/
isto é belo porque nem todos os barcos agem assim/
há barcos que preferem olhar pela escotilha/

há barcos que afundam/
Deus caminha aflito por esse fenômeno/
é que nem todos os barcos se parecem aos poetas do português/
saíam do mar e secavam seus ossinhos ao sol/

cantando a canção de teus peitos/ amada/
cantavam que teus peitos chegaram certa tarde com uma escolta de horizontes/
isso cantavam os poetas do português para dizer que te amo/
antes de separar-se/ estender a mão ao céu/ escrever cartas ao uruguai
que chegarão amanhã/
amanhã chegarão as cartas do português e varrerão a tristeza/
amanhã vai chegar o barco do português ao porto de montevidéu/
sempre soube que entrava nesse porto e se fazia mais belo/

como os quatro poetas do português/
quando se preocupavam todos juntos pelo homem da tabacaria de frente/
o animal de sonhos do homem da tabacaria de frente/
galopando como dom josé gervásio artigas pela fome mundial/

o português tinha quatro poetas olhando para o sul/ para o norte/ para o muro/ para o céu/
dava de comer a todos com o salário de sua alma/
ele ganhava o salário na administração do país público/
e também olhando o mar que vai de lisboa ao uruguai/

eu sempre estou esquecendo coisas/
uma vez esqueci um olho na metade de uma mulher/
outra vez esqueci uma mulher na metade do português/
esqueci o nome do poeta português/
do que não me esqueço é de seu barco navegando rumo ao sul
de sua mãozinha cheia de astros/
golpeando contra a fúria do mundo/ com
o homem da frente na mão

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E eu não conhecia, mas o Átila Marques Ferreira, aqui nos comentários, citou a versão musicada do Gotan Project para “confianzas”, traduzido no mesmo livro do poema acima.

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