Todorov, Talese, McEwan: quem vem por aí
10/03/12 21:12Os nomes do segundo Fronteiras do Pensamento em São Paulo, de abril a outubro, serão divulgados nesta segunda, mas dois deles pude confirmar no Painel das Letras de hoje.
Um deles é o filósofo e linguista búlgaro Tzvetan Todorov, cuja obra conheci melhor na pós em literatura na PUC. Todorov é referência do estruturalismo francês, mas o ótimo “A Literatura em Perigo”, livro magrinho que a Difel publicou em 2009, é justo uma crítica à conversão da literatura em assunto para iniciados, essa coisa que estruturalistas fazem com tanto gosto.
Ele esteve ano passado no Rio, mas a gente aqui em São Paulo, que é puro umbigo (sou fluminense com umbigo radicado em São Paulo), mal teve notícia do que ele falou por lá (sobre poesia, ao que soube). O livro dele que sai em agosto pela Companhia das Letras não é sobre literatura: “Os Inimigos Íntimos da Democracia”. Então deve ser por aí a palestra.
Para manter o tema, outro confirmado é Mohamed El Baradei. O Nobel da Paz de 2005, autor de “A Era da Ilusão” (Leya, 2010), era favorito na corrida presidencial do Egito até retirar a candidatura, em janeiro, sob o argumento de que o “regime anterior” ainda governa o país –o Egito não tem chefe de Estado desde que Mubarak foi deposto.
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O Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, que acontece no final de maio, a se considerar nomes já confirmados, será imperdível. O Painel das Letras do dia 18 adiantou as presenças do jornalista Gay Talese e do historiador Robert Darnton, dois que já estiveram na Flip.
Também aceitaram convite o quadrinista Art Spiegelman, autor de “Maus”, que cancelou a vinda para a Flip em 2007, e o português Gonçalo M. Tavares, que já anda íntimo da gente por aqui.
E uma infinidade de jornalistas internacionais. Para ficar em dois, Moritz Muller-Wlrth, editor do jornal “Die Zeit”, e David Kessler, editor da revista francesa trava-língua “Les Inrockuptibles”.
Soube que J.M. Coetzee chegou a aceitar uma teleconferência. Mas, convenhamos, uma teleconferência com uma leitura, que é só o que ele faz em público, a gente pode ver no YouTube. Então ele ficou de fora. Até escrevi para a agente dele para assuntar se não viria para a Flip –que, em sua décima edição, está trazendo gente de volta–, mas ela disse que não. Ô dó.
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A Flip, enfim. Gostei de saber da volta do Ian McEwan porque em 2004, quando ele veio, a Flip era tão mais restrita que é como se não tivesse vindo (falo isso porque a minha primeira foi em 2005). E, embora o recente “Solar” tenha me causado constrangimento, só não o elogio mais porque isso hoje põe a gente naquele lugar que a gente chama de, hm, comum.
Outro que volta é o espanhol Enrique Vila-Matas, que terá publicado pela Cosac Naify o romance “Aire de Dylan”. E vem o conterrâneo dele Javier Cercas, com o inédito “Anatomia de um Instante” pela Globo Livros, e de quem, por acaso, ou nem tanto, estou lendo “Soldados de Salamina” (vou esperar terminar para recomendar, mas quase já faço isso). O pacote espanhol terá ainda a cubana Zoé Valdés, cujo premiado “O Todo Cotidiano” saiu pela Benvirá.
De língua inglesa, vêm ainda Jennifer Egan, vencedora do Pulitzer por “A Visita Cruel do Tempo” (que, no fim das contas, não achei bom a ponto de me sentir obrigada a terminar o terço que falta) e Jonathan Franzen, cujo “As Correções” prometo que vou ler só para descobrir se é mesmo, como dizem, tão melhor que “Liberdade”, que não me disse muita coisa.
E haverá dois especialistas em Shakespeare, o americano James Shapiro, autor de “1599: Um Ano na Vida de William Shakespeare” (Planeta) e de “Contested Will: Who Wrote Shakespeare”, em tradução pela Nossa Cultura, e Stephen Greenblatt, de quem a Companhia das Letras publicará “A Virada: Como o Mundo se Tornou Moderno”, vencedor do National Book Award.
Por último, mas não menos importante, para usar essa expressão que em português perde toda a graça, saiu ali perdido entre notas o anúncio do poeta sírio Adonis, eterno candidato ao Nobel de Literatura, que terá enfim publicada neste ano no Brasil uma antologia, também pela Companhia das Letras, com tradução de Michel Sleiman.
Ufa. Não tinha me dado conta de quantos nomes tinham sido anunciados. Esqueci alguém?
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Com a chegada a São Paulo do gaúcho Fronteiras do Pensamento e a afirmação do Congresso Cult como evento com grandes nomes internacionais, no ano passado tive a impressão de que o anúncio de convidados para a Flip não causou o frisson de outros tempos. Talvez nem tenha relação, talvez seja só desgaste da rotina (todo ano ela faz tudo sempre igual e coisa e tal)
Não que seja leve assistir aos eventos. O valor mais baixo para acompanhar o Fronteiras, que só vende pacotes para as oito conferências juntas, é de R$ 980, isso se você se enquadrar numa das categorias de 50% de desconto (estudantes, assinantes da Folha etc). O Congresso Cult sai mais em conta –no ano passado foi R$ 400, com descontos que baixavam a coisa a até R$ 100; neste ano não acho por nada o link para inscrições, alguém me passe se souber onde está.
A Flip virou aquela guerra; se você não reserva pousada em Paraty meses antes, você fica quase em outra cidade; se não compra os ingressos (R$ 40 por mesa no ano passado) nas primeiras horas, tem que se contentar em ver tudo no telão. Se bem que esta última opção até virou vantagem com a ida do telão para o lado da praia. No ano passado, vi Ubaldo do lado de fora da tenda, com pés na areia e tomando minha cervejinha. Ele aprovaria, acho.
Mas o que acontece é que as editoras acabam embarcando na vinda dos autores para promover eventos gratuitos no Rio e em São Paulo. Para quem gosta, mesmo, basta ficar ligado.
Também não consegui terminar Liberdade, do Franzen, e nem tentei ler As Correções – embora tenha essa mesma vontade (mórbida) que você tem.
Quanto a Solar, do McEwan: “constrangimento” foi um elogio, certo? Se um livro me contrange é porque gostei muito dele. Solar não me causou isso, mas outras impressões que me fizeram vibrar por dentro – aquela sinceridade toda acerca da balela que é a maior parte dos movimentos e grupos ligados a questões ecológicas. Achei super.
Abraço!
Edson, acho que solar me constrangeu como peças de teatro constrangem o Abad, no último post. Sei lá,achei muito inferior a tudo que ja li dele. Literariamente falando, digamos. Beijo!
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Em Poço de Caldas teremos a escritora holandesa Franca Treur, autora de Confetes na Eira, que reclamou dos críticos por fazerem uma leitura superficial do seu primeiro livro.
Você leu esse livro, Gildo? Eu não conheço essa autora, mas li que ela é best-seller. O livro é bom?
Eu li a entrevista de Franca no blog do Luciano Trigo, no momento estou lendo Guia Politicamente Incorreto da América Latina, e ansioso para ler o Guia de Luiz Felipe Pondé sobre filosofia, Minhas Histórias dos Outros de Zuenir Ventura, A Chave de Junichiro Tanizaki (qual será o próximo, Há Quem Prefira Urtigas ou Voragem?), Encontros com 40 Grandes Autores e relendo O Governo Goulart e o Golpe de 64, de Caio Toledo e Crônicas de Fim de Século de Gabeira. Adoro essas escritoras iniciantes da Europa: Lolita Pille, Charlotte Roche e Amélie Nothomb, que não é nem um pouco iniciante e pretendo ler um outro livro sobre Jango (Moniz Bandeira ou Marco Antonio Villa?)
Os dois do Javier Cercas são ótimos. Pode recomendar.
Por ora, ainda no meio, tô adorando o Salamina =)
em tempo: de gay talese já li:”a mulher do proximo” e “honrados mafiosos”. jornalismo/literatura de alto nivel.
o bourne foi herdado de robert ludlum. lustbader editou excelentes livros de espionagem, entre outros: ninja,miko e outros. ele aborda o periodo pos IIguerra com muita propiedade. o mesmo acontece com trevanian, que alias já faleceu.
abraços.
A literatura virou pura fofoca. Isso sim é literatura em perigo.
cara raquel: existe um certo preconceito contra a literatura, digamos, digestivel, em especial dos autores seguintes: trevanian,van lustbader, etc,etc?
abraços
Olha, do Lustbader só conheço o Bourne (é dele, né?) por causa dos filmes. E tb nunca li Trevanian. E nunca ouvi nada nem bom nem mau a respeito da obra deles. Você gosta?
O “Bourne” (Identidade, Supremacia e Ultimato) é do Ludlum. Lustbader (A Traição de Bourne) é caroneiro, assim como Gayle Lynds (Fator Hades).
Raquel,
Quando vai ser o Congresso Internacional de Jornalismo Cultural? Tiro férias em maio, quem sabe eu consiga me programar pra ir.
Um abraço,
Aline Viana
Oi, Aline, é de 28 a 31. Consegue? =)
Opa, acho que sim. Mas terei que voltar mais cedo da praia, rsrsrs
Obrigada 😉
Mais um ano os eventos de Cultura, Literatura e Comunicação do Brasil vem dando orgulho. A volta de Talese e Vila-Matas, Todorov no fronteiras do Pensamento, …
Outro que eu gostei muito é chegada do ainda pouco conhecido Javier Cercas. Sua novela “Soldados de Salamina” é imprescíndivel para jornalista, dado o seu aspecto metaficcional e metajornalístico. Além de ser por sí só, um livro empolgante e profunda afetação literária.
Verdade, Lázaro, a coisa do Salamina para jornalistas. Talvez isso explique por que estou gostando tanto!
Já chegou na parte que o Bolaño aparece? Aí que fica sensacional!
Mentira que tem isso! Haha! Agora vou terminar hoje
Por que “Solar” te causou constrangimento, Raquel?
Ah, e só um comentário: Me impressiona como as pessoas não conseguem admitir que Shakespeare era sim um “homem comum”. Parece que pessoal que fica remoendo essas teorias não conseguem aceitar que o “inventor do humano” [hehe] não possa ser um nobre aristocrata. Ai, ai
Abraços!
Ai, achei ruim perto do que já li dele. Você não?
Ainda não o li. Mas, infelizmente, não se acerta sempre, não é?
Abraços
raquel,
será que todorov não gostaria de ser apresentado como “búlgaro com o umbigo (e muito mais?) radicado na frança”? 😛
poxa, até gostaria de ver o vila-matas! mas é o que vc escreveu.
recebeu meu email?
inté!
Haha, sim, o umbigo dele é totalmente francês! E recebi, tks!