"Fifty Shades", o livro pornô da mamãe
17/03/12 01:21Em algum momento depois que séries de livros ganharam status de arroz de festa nas listas de mais vendidos, parei de discernir umas das outras. No começo eu conseguia. No começo mesmo, e o começo desta onda de séries nas listas é bem marcado pela chegada de “Harry Potter”, eu inclusive aprendi a admirar a coisa toda (sou defensora de “Harry Potter” enquanto fenômeno, ainda que dizer isso vá abalar minha credibilidade de repórter de literatura entre os menos tolerantes. Mas isso é assunto para um outro post, que um dia, talvez, quem sabe).
Depois vieram os sub-“Harry Potter”, e em seguida chegaram os vampiros, acompanhados dos vampiros para adultos, e um dia me disseram como eram bons os livros da Charlaine Harris, então resolvi dar uma chance para “True Blood” para constatar que a história era uma bela de uma porcaria –ninguém pode me acusar de não dar chance, até Augusto Cury eu já li a trabalho. Depois baixaram os anjos, foi isso? Ai, daí já é a parte que eu não entendo. Alguma coisa dos tronos, crônicas de alguma coisa, guerra, fogo, luz, raio, estrela, luar, sei lá.
E então veio “Fifty Shades of Grey”, cinquenta tonalidades de cinza. “Fifty Shades” me parece um capítulo tão sui generis dessa série de livros em série que consegui até guardar o nome.
Para começo de conversa, o livro surgiu antes na internet, em episódios, como uma fan fiction inspirada em “Crepúsculo”, assinada por uma tal E.L. James, ex-executiva de TV londrina. Os protagonistas são um bilionário e sua namorada universitária, que, dizem, lembram muito os da série da Stephanie Meyer (juro que não vou me voluntariar para confirmar essa informação) e passam o tempo encontrando alternativas não exatamente saudáveis para esquentar a relação.
Um dia, uma pequena editora na Austrália encontrou a história na rede e se ofereceu para publicá-la. De lá para cá, sendo “lá” algo como o fim do ano passado, no boca a boca, o livro teve mais de 250 mil cópias vendidas. Não vendeu mais porque ninguém imaginava a procura e a editora não deu conta das reimpressões, o que por sua vez estimulou as vendas digitais.
Acontece que “Fifty Shades” é uma trilogia de fantasia escapista erótica que ficou conhecida como “mummy porn”, o pornô da mamãe. Ao ponto de, segundo o “Good Morning America”, da ABC, surgirem relatos de leitoras sobre como o livro deu um upgrade naquela vidinha sexual mansa que elas andavam levando, porque as pessoas adoram dividir intimidades em entrevistas.
A coisa ficou tão grande, sem conotação erótica aqui, que nos EUA agora as pessoas chamam “Fifty Shades” de “O Livro”, acompanhando a palavra com aquelas abomináveis aspinhas de dedos no ar. Nesta semana, a Random House pagou US$ 1 milhão pelos direitos dos três livros. Por aqui, também nesta semana um leilão acirradíssimo entre editoras respeitáveis culminou com a ida da obra para a Intrínseca, que promete publicar o primeiro volume ainda neste ano.
Como é “O Livro”? Bem, se você lê em inglês, há umas frases aqui.
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O livro tarado na imagem acima integra “Bent Object of My Affection”, em que Terry Border coloca objetos em situações amorosas ou sexuais. No Google Images há outras da sequência.
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Ai meu olhos! Por que fui ler os trechos no GoodReads?? Hahahaha…
Gente! Tá louco! Passarei longe!
Fico surpresa em saber que a Intrínseca arrematou a série. Ela é tão… Universo dos Livros!
(Mas né? Pior que é capaz de vender que nem água – sem mais comentários, hehehe)
Acho que vc ficaria mais surresa em saber de outras editoras que participaram do páreo. Quer dizer, a Intrínseca tem qualidade, mas aposta em best-sellers. Outras nada focadas em mega-sellers também tentaram…
Os livros d’As Crônicas de Gelo e Fogo são bons, leitura adulta e inteligente. Eu diria que se fosse pra comparar, seria com O Senhor dos Anéis, só que muito melhor e realista.
Cês tão me convencendo…
Raquel, espero que você se convença e dê uma chance para As Crônicas de Gelo e Fogo. É a melhor série de fantasia que já li! Posso falar pois sou fã de Tolkien ! Li também Harry Potter, Crepúsculo, Anne Rice. Não tem comparação!
Ai, ai. Uma série? Vai ter que entrar na fila! 😉
séries podem ser legais ou chatas, mas o que é chato mesmo é levá-las demasiadamente a sério, pois a maioria delas está no jogo do mercado, apenas. sabendo disso, beleza.
Estou de volta, após vários dias de molho…
Esse “soft porn” para mulheres sempre existiu, nestes livros baratos, vendidos em banca. Existe até um episódio do Friends que faz piada sobre isso.
Achei estranha sua citação do Crônicas de Gelo e Fogo como uma “modinha” pós-Harry Potter, como algo que você nem se daria ao trabalho de conhecer. Tudo bem que é uma literatura bem de nicho, já que envolve guerra, povos, política e todo um universo fantástico criado em torno de um reino imaginário, coisa que costuma atrair mais aos nerds, mas os livros são para adulto e nem têm uma leitura tão fácil assim.
Ah, e o primeiro livro é anterior ao primeiro Harry Potter, de 1996. Aqui no Brasil que chegou só há dois ou três anos.
Pois é, e fan fiction tb sempre existiu (entendendo sempre como “faz tempo”, mas curiosamente só agora virou best-seller em livraria. Sobre o Crônicas, não falei que virou modinha, só que perdi a capacidade de aconpanhar as séries que saem aqui desde os vampiros!
Ah sim.
Relendo o meu comentário, achei que parecia meio “agressivo”. Sorry, não foi a intenção. =D
Estava reparando, na sessão para livros infantis e infanto-juvenis, como existem dezenas de publicações em séries para adolescentes (séries para meninos e séries para meninas), e parece meio óbvio que isso serve muito mais para se aproveitar do impulso consumista da molecada do que pela vontade de se contar uma boa história.
Cada livro com uma cor diferente, bem chamativa, e títulos todos muito parecidos.
Assim como vc (sem conotação sexual!) também odeio quem faz aspinhas com os dedos! Argh.
Hahaha, adorei o “assim como vc (sem conotação sexual!)”
Foi o seu primeiro post que li e adorei. Concordo, também, com o comentário de Luiz sobre as patrulhas ideológicas. Sem mais, obrigado e boa tarde.
Obrigada, Alexandre. Vou ver se me inspiro pro post do Harry Potter. Ou não, quem sabe =P
Prezada Raquel
Não li (sic) o livro deste post, pois não leio ingles. Como também não li ‘Bruna Surfistinha’, que, por aqui, também vendeu que nem banana. Reich dizia que quanto mais se fala de sexo, menos se pratica.
Quanto aos censores, por você citar Harry Potter, penso que o tempo, das tais patrulhas ideológicas, já passou.
Bato palmas para você por ter assumido o comentário sobre o livro Harry Portter.
Parabéns e bravo!
Cordialmente
Luiz
Falei hoje com uma pessoa que leu o livro. Uma pessoa culta, que leu por curiosidade, mas prefere não se identificar (haha). Disse que é “viciante”, no sentido de ser uma leitura fácil e rápida, mas que visivelmente é um texto de internet que não passou por nenhuma edição, meio desleixado. Dito isso, acho que podemos confiar e passar a vez para outro livro
isso, sim, eh q eh tara de respeito, se excitar com esse tipo de texto…
Haha!