Bienal do Livro em Brasília começa com protesto
15/04/12 13:37Para quem está acostumado a bienais do livro do Rio e/ou de São Paulo, a 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que começou ontem em Brasília, parece sui generis. É claro que falo isso do alto da minha falta de conhecimento de bienais de outros Estados.
Vocês podem me ajudar a ter uma ideia de se elas se parecem com a de Brasília.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi que não encontrei os estandes da maior parte das grandes editoras de livros de interesse geral do país. Do nosso umbigo Rio-São Paulo –tirando o grande estande da Geração Editorial, cujo editor, Luiz Fernando Emediato, é o curador do evento–, encontrei só os das editoras Globo, Companhia das Letras e Record, pelo que entendi sob responsabilidade de distribuidoras.
E eles não chegam a um quinto do tamanho dos estandes de dois andares com playground, piscina, quatro vagas na garagem e vista para o mar que essas editoras mantém nos grandes centros. O da Companhia me lembrou um pouco uma banca de jornal, pelo tamanho.
Talvez isso diga algo sobre a distribuição de livros no país.
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Em compensação, sebos e livrarias brasilienses estão em todos os cantos, com várias promoções de livros (e bugigangas, como fantoches) a R$ 10, característica bem menos comum nas bienais Rio/SP, embora eu tenha ouvido relato sobre livros em geral mais caros nos estandes do que nas próprias livrarias.
Um dos mais concorridos é o do Sebinho, melhor lugar para se comprar livros em Brasília, segundo ouvi. Entre os estandes, chamam a atenção expositores como a TV Brasil, a Câmara dos Deputados e o Governo do Distrito Federal, este em vários espaços, além do Comitê da Copa. É lá que a gente deposita reclamações?
O público estimado para ontem, dia da abertura, foi de 20 mil pessoas. Tendo passado lá boa parte da tarde, eu arriscaria dizer que me pareceu menos, mas, dada a enormidade dos pavilhões montados na Esplanada, pode ser que eu só não tenha tido a dimensão. O público esperado para todos os nove dias do evento é de 500 mil pessoas, então haja visitação escolar, porque no que depender só de público espontâneo teríamos com sorte uns 120 mil, considerando que dias de semana costumam ser mais vazios.
O orçamento divulgado é de R$ 6,8 milhões, um quarto do orçamento da última Bienal do Livro Rio, mas um valor considerável para um evento literário no país. A entrada é gratuita, como deveria ser a de todo evento que se propõe a atrair leitores.
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Houve investimentos das secretarias de Estado da Cultura e da Educação, em parceria com o Instituto Terceiro Setor, dentro do Plano do Distrito Federal de Livro e Leitura. O que não significa que professores locais, em greve há 34 dias, tenham achado a ideia boa.
Trezentos e cinquenta grevistas aproveitaram a cerimônia de abertura para uma manifestação. “A Bienal está sendo feita sem que os professores estejam em sala de aula. Estamos aqui para dizer que o governo [do Distrito Federal] não tem competência para a educação”, disse uma professora ao “Correio Braziliense”.
Pela manhã, os professores só acalmaram durante a fala do Nobel nigeriano Wole Solyinka, homenageado do evento e autor da Geração Editorial, a editora do curador. À noite, numa ótima fala sobre religiões –que comento noutro post–, Solyinka comentou: “O que vimos aqui foi uma demonstração de liberdade de expressão. Não entendi as palavras, mas entendi a paixão dos professores. E não conheço a situação deles aqui, mas posso dizer que é ainda um pouco melhor que a dos professores na Nigéria.”
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As fotos acima são de Carol Matias (as duas primeiras) e Junior Aragão (Wole Soyinka).
A percepção que eu tenho é que
tem melhorado muito o incentivo
à leitura no Brasil. As campanhas de
incentivo à cultura, a cada dia mais
está se modernizando. Isso se dá a
tecnologia digital.
Graone De Matoz, poeta, escritor e dramaturgo Brasileiro
Olha, não sei, não sei mesmo. Acho que a tecnologia digital ainda está longe de fazer diferença nesse cenário. Se está melhorando… Hm. Não sei. rs
A sociedade está ainda engatinhando quando o assunto é cultura digital. Mas a internet hoje, é uma ferramenta pra quem precisa expor algum trabalho artístico e a tecnologia digital, já é uma grande porta.
pensei q fosse o Don King…
Haha! Parece
Eu sou apenas uma personagem, mas também acho que livro deveria ser mais barato e que as grandes editoras deveriam estar nas grandes feiras. As feiras atraem novos leitores e com mais gente lendo as editoras vendem mais livros e o preço do livro cai. Pelo menos aqui no mundo das bruxinhas virtuais é assim e eu acho que o mundo real seria mais legal se fosse assim tb ai.
Olá, Raquel.
Sou de Fortaleza, mas estou em Brasília para assistir ao show de Dylan e aproveitei o fim de semana para apreciar a Bienal – que, a propósito, não é a Bienal de Brasília, como você se referiu, e sim a 1a. Bienal Brasil de Livro e Leitura.
Fato é que, conversando ontem com um expositor da Companhia das Letras, aproveitei para reclamar dos preços altos. Perguntei se eles pelo menos fariam descontos no último dia da Bienal. Ele respondeu que vai depender dos lucros da editora até lá. A preocupação deles é em conseguir pagar os 13 mil reais que custou o estande chamadoporvocê de banca de revista. Achei caro. Com essa informação, pude entender o porquê dos preços elevados. Creio que poucos sabem disso. Mas a Bienal não parece atender à demanda de algumas editoras, por falta de incentivos financeiros ou qualquer outra razão semelhante. Isso pode explicar a ausência das editoras grandes no evento, de repente.
Oi, Juliana! Escrevi Bienal do Livro e da Leitura (localizada) em Brasília, não chamei de Bienal de Brasília. É comum chamar feiras por parte do nome (mas arrumei, já que vc reclamou). E não há outra bienal na cidade; a outra é a Feira do Livro de Brasília.
Sobre preços, é bem conhecido entre quem trabalha nesse mercado o fato de que bienais não servem para gerar lucro para as editoras, e sim para expor a marca. Pode perguntar a qualquer grande editor que expõe no Rio ou em SP se tem lucro, e a resposta será não.
R$ 13 mil é bem pouco na comparação com o que essas editoras gastam no Rio e em SP (a comparação com banca foi no tamanho; se você já viu uma bienal daqui vai entender do que falo, os estandes daqui são gigantescos).
E o preço alto do livro tem muito menos a ver com estande do que com a cadeia produtiva –eles não podem dar descontos sob o risco de comprar briga com as livrarias. O evento do gênero que mais gera faturamento para as editoras é a Festa do Livro da USP, que oferece livros menos comerciais com cerca de 50% de desconto. As editoras cobram menos, vendem mais e têm lucro.
E não acho que o governo deva investir ainda mais do que investe no mercado editorial, que está isento de impostos e já depende até demais das compras governamentais!
E bom show! Amo Dylan, fui no de 2008 e foi lindo, mas desta vez estou sem grana para investir =(
Obrigada, beijo, Raquel
Raquel querida, permita-me uma observação: sou dono de ditora, mas as editoras não deram palpite na programação, que, no meu entender, está bem rica. Também acho que pouco importa se nesta I Bienal Brasil as grandes editoras não investiram muito. Elas não acreditaram, acho, que seria um eventomtão grande – e com 25% dos recursos da Bienal do Rio. E com entrada franca. Nenhuma editora pagou passagem, hospedagem e cachês dos autores convidados. Acho que na próxima esgarão todas as editoras em Brasilia. De resto, o mais importante na Bienal Brasil nãomé vender livro – é ver os autores e dialogar com eles. Livros nao encontrados nos stands os visitantes podem comprar nas livrarias e nos sites. Vamos refletir sobre isso? E olhe que quem está propondo essa reflexão é um editor… Embora licenciado da gestão de sua empresa.
Foi só uma constatação, Emediato. Também constatei os fatos, citados por você, de o orçamento ter sido um quarto do da Bienal do Rio e de a entrada ser gratuita, como sempre deveria ser (e como infelizmente nem sempre é; vide exemplo da Bienal do Amazonas citada nos comentários). Na verdade, a coisa mais forte é perceber como é desigual a distribuição de livros no Brasil, ao ponto de um grande centro como Brasília não interessar a muitas das maiores editoras Rio-SP. Para quem é daqui, é surpreendente, mas por isso mesmo abri os comentários aos leitores: porque desconfiava de que seria assim em outros Estados também. De resto, tomara, sim, que numa próxima as editoras se interessem mais. Feiras literárias são importantíssimas para a divulgação da literatura. Beijo, Raquel
Escritores que não têm acesso às editoras mais importantes não existem.É o que esses eventos confirmam.
Eles têm menos chance de chegar ao país inteiro, isso é verdade
Que quadro desanimador o descrito por vc e pelos comentaristas de outros estados. Já no Rio de Janeiro, a bienal virou uma atração tal, que se tornou impossível percorrer os estandes com calma, sem ser pisoteado ou pisotear pelo menos uma dezena de incautos – a menos que você durma na fila e seja o primeiro a entrar numa segunda-feira de manhã. Ficou pior q praça de alimentação de shopping no sábado à noite. É um fenômeno q não entendo direito. A bienal é feita num lugar longe pra kct. Há boas promoções, sim, inclusive de livros de arte e estrangeiros, mas na maior parte os preços são os normalmente cobrados. Sei lá, talvez isso mostre aquilo que o dono da Cultura disse mesmo: que o mercado do livro no Brasil ainda tem muito o que crescer. Deve haver uma boa demanda reprimida no Rio, que, se está em melhor situação que outras cidades, também não é nenhuma Buenos Aires.
aliás, tá muito longe de ser…
Okokok, vcs venceram, to colocando agora no post acima o link para meu post sobre feiras comerciais de livros!
Chegando de lá, complemento: o assédio para assinar revistas e comprar cursos de idiomas é irritante; existem poucos stands realmente interessantes, a maioria vendendo subliteratura. Mas minha visita foi recompensada pela palestra de Milton Hatoum.
E é uma Feira do Livro de Brasília melhorada? (eu tava lá no Hatoum tb, boa palestra, e a mais cheia! Viu o Abad e o Bellatin?)
Queria muito ter visto o Bellatin, mas não deu. Por tabela, também não vi o Abad. Pero creo que las conferencias fueron ricas 🙂
só conheço a bienal de são paulo. por aqui, há muito debate, muita editora (poucos preços realmente promocionais) e muita gente circulando.
achei interessantes que o curador tenha uma editora, que a sua editora seja a com o maior espaço e que o homenageado da bienal seja da editora do curador. alguma coisa está fora da ordem?
Falta promoção, né? Escrevi sobre isso no outro blog. Tenho um certo problema com o conceito de feiras comerciais de livro… Vou ver se acho o link
manda o link!
Raquel as bienais do Rio e de São Paulo também costumam “ocupar-se” com sebos, saldos, venda de assinaturas de revistas, ursinhos de pelúcia, escola de mágicos, perfumes e cadeiras de massagens. 80% do faturamento do setor acontece nas regiões sudenste (61%) e sul (19%). Abraço. JS.
Saldos no Rio e em SP? Só em fim de feira, não, Scortecci? Mas a proporção é bem diferente, de todo modo…
Que pena saber que quando a Bienal acontece fora do eixo Rio-São Paulo as grandes editoras não comparecem. A partir do dia 27/04 acontece a 1º Bienal do livro do Amazonas e de certo deve acontece o mesmo que em Brasília e o pior, aqui irão cobrar entrada, mesmo que simbólica (R$2,00) como alegam ser, não deveriam, já que o governo do estado e algumas empresas estão patrocinando.
Também não sabia que isso acontecia, Cláudio, mas cada vez mais me impressiono com coisas que fico sabendo sobre o alcance dos livros no país… E quais são os destaques na bienal daí?
O grande nome é o angolano valter hugo mãe (confesso que não o conhecia), também José Castello, Carola Saavedra, Julián Fuks, Leandro Narloch, além dos amazonenses Thiago de Melo e Marcio Souza, dentre outros.
Super-recomendo o valter hugo mãe. O meu preferido é “o remorso de baltazar serapião”, embora a maior parte prefira “a máquina de fazer espanhóis”. Se tiver tempo de ler, depois me conta! E, olha, ele é um espetáculo falando, acho que até melhor do que escrevendo, ele seduziu a Flip inteira. Não perca a mesa dele por nada!
Tal como o Ádamo, digo: a bienal de Salvador anda no mesmo passo.
Os estandes ficam desorganizados, livros amontoados, pouquíssimas editoras de porte. Este ano, ano passado aliás, teve até protesto dos vendedores, que, inconformados que os valores de ingresso e estacionamento estavam afastando os visitantes, fecharam as lojas mais cedo.
Não ouvi uma palavrinha sequer sobre livros digitais e me cansei de fugir dos vendedores de assinaturas de revista. Das palestras, não posso falar porque não tive a oportunidade de ver.
O modelo, na minha opinião, precisa ser repensado com urgência.
Escrevi sobre isso no ano passado, Davi! Sobre o modelo precisar ser reformulado. Vou colocar o link no pé do post quando parar na frente de um computador decente!
O cenário descrito é bem parecido com a Bienal do livro em Fortaleza. Os livros mais interessantes [e baratos] estão nos sebos.
Vou dar uma olhada com calma nos sebos depois, pra ver o que tem de bom
Raquel, a sua descrição não surpreende quem já frequentou a Feira do Livro de Brasília. É isso o que me parece a Bienal daqui, uma feira de livro: mais frequentada por livrarias pequenas do que por grandes editoras. Pelo histórico da feira, a perspectiva de visitantes não é das melhores, pois o público desse evento tem sido cada vez menor. De todo modo, pretendo conferir a Bienal.
Acho que de todo modo vale visitar, sim. Mas o orçamento da feira é menor que o da Bienal, não?
Certamente, Raquel. Mas penso que a Bienal de Brasília é uma feira do livro melhorada. É bem possível que outras pessoas aqui em Brasília também pensem assim.
Pelo público esperado, tenho a impressão que um dos objetivos da Bienal deveria ser vender livros, pois estou certo que muita gente está indo ao evento com essa intenção. Sinceramente, acho improvável que haja tanto público para acompanhar os diálogos com autores (e constatei isso nas duas mesas que assisti). Não temos tantos literatos assim. Sobre esta segunda, gostei da mesa com o Mempo e a Samanta. Pena que não pude ver o Senel Paz falar…
É claro que um objetivo é vender livros, até pra não saírem num prejuízo total, mas daí a dizer que esperam lucrar pra começar a dar desconto… Eles gastam dinheiro pra promover a marca (não para promover a literatura, estou falando de duas coisas diferentes!), o que faturarem com vendas obviamente será bem-vindo…
Brasólha é isso aí…Se tivesse feito na época da seca então, você poderia falar do barro vermelho cobrindo os estandes. deprê total!!!
Enquanto os professores do DF estão em greve por aumento salarial os do resto do país só querem chegar perto do salário atual da capital…
Ah, é? Quanto é o salário aqui?
Três mil e uns quebrados…Não é grande coisa, mas é o maior do país…
Isso é um dado importante. Não sabia. Digo, de fato é um salário baixo, mas não se pode dizer que o governo no DF não esteja investindo na área. Agora, o DF tem a maior renda per capta do país e um dos maiores custos de vida, né? Isso talvez também deva entrar na conta… O custo de vida em geral muda essa conta toda (aliás, reza a lenda que jornalista ganha mais em Brasília, tb)
para um professor de bsb, esse salário deve quase corresponder aos 700 reais que o professor do rio ganha, por ex; embora o custo de vida do rio também não fique atrás.
Queridos, devemos levar em conta que todos os salários de Brasília são os maiores do país, não apenas os nossos. Comparativamente com nossa formação, ganhamos pouco. Aos 25 anos de efetivo exercício do magistério público nesta capital, ganho 3 vezes menos que colegas com a mesma formação em outras áreas. Fora nossa responsabilidade e desgaste profissional.
Foi o que especulei com o Gabriel, Clara, sobre o custo de vida… Entendo. E será uma bienal sem visitação de escolas públicas, então? Estão todos os professores parados?