Zambra, Joyce e as lacunas de leitura
19/05/12 16:41O trecho acima é de “Bonsai” (Cosac Naify), livro bem lindo do chileno Alejandro Zambra, 36, que será companheiro de mesa do catalão Enrique Vila-Matas agora na Flip. A vantagem de “Bonsai” é que ninguém precisa inventar que leu; dá para matar em uma hora e meia, se tanto.
É um livreto de 96 páginas, mas naquela diagramação da Cosac que a gente conhece, feita de brancos generosos. Seria um desses “romances de capítulos curtos, de quarenta páginas, que estão na moda”, como ouve a certa altura Julio, o moço que não leu Marcel Proust, mas para mim fica mais naquela zona nebulosa entre uma novela e um embrião de algo maior.
“Bonsai” poderia ser acusado de parecer demais uma certa literatura que se faz hoje, auto-referente, orgulhosa do que é, ou então de partir de uma escolha recorrente entre iniciantes (coisa que Zambra, hoje celebrado no exterior, era quando escreveu), que é contar uma história romântica. É verdade que o livro é tudo isso, e tanto mais por isso impressiona que seja uma leitura tão boa. Se é do tipo que fica na cabeça, bem, alguém me pergunte no mês que vem.
O romance ganhou o prêmio do Conselho Nacional do Livro do Chile em 2006, e foi depois dele que Zambra entrou na lista de 22 melhores jovens autores hispano-americanos da Granta.
O que me intriga é que aquelas modestas 40 páginas (na versão sem diagramação da Cosac) tenham rendido um longa-metragem, exibido em Cannes no ano passado. Ao ver o trailer me lembrei de outro filme (“Cão sem Dono”) que me impressionou por sair de um livro magrinho, “Até o Dia em que o Cão Morreu”, do Daniel Galera –mas pelo menos este tem 104 páginas, e isso na diagramação menos conceitual da Companhia das Letras.
O trailer de “Bonsai”, de Cristián Jimenez:
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Queria voltar ao trecho do livro de Zambra em que Julio diz que leu “Em Busca do Tempo Perdido” aos 17. Porque ele tinha lido muita coisa até então, Kerouac, Nabokov, Capote, mas não Proust. Também não li Proust aos 17 (nem depois), o que me lembrou uma teoria antiga de que há coisas que precisam ser lidas na adolescência, antes que o tempo fique escasso demais.
Meus pais nunca foram de ler romances –meu pai lê até dicionário (verdade), mas nunca ficção; de leitura da minha mãe quase só me lembro de “Confesso que Vivi”, do Neruda, um livro de cabeceira no sentido mais honesto da expressão: nunca esteve em outro lugar.
Mas, como os pais de muita gente que gosta de ler, o meu comprou os clássicos de banca da Abril, e assim conheci Dante, Shakespeare, Cervantes, Pirandello, Zolá, Flaubert, Tolstói, Dostoiévski e deveria ficar listando aqui por linhas e linhas para me redimir da confissão a seguir.
A ela, enfim. Em casa não tinha “Ulysses”, nem “Em Busca do Tempo Perdido”, nem “A Montanha Mágica”, nem outros que prefiro nem listar para não tornar essa confissão ainda mais constrangedora, já que eu poderia muito bem tê-los pegado na biblioteca de Petrópolis antes de usar isso como desculpa, embora não esteja certa de que estariam lá. Meu conhecimento de Joyce se restringe a “Retrato de um Artista Quando Jovem”, que adorei depois de me irritar nas primeiras páginas, o de Mann não vai além de “A Morte em Veneza”, e assim, pelas beiradas, pelo menos eles e outros autores fundamentais não me passaram em branco.
Isso tudo antes de eu desconfiar de que um dia trabalharia com livros e que, portanto, não conseguiria ler mais quase nada por puro interesse pessoal.
Agora me sai essa linda tradução do “Ulysses” (Penguin), pelo Caetano Galindo, e me pego na seguinte situação: se for esperar para ler antes tudo o que tenho de ler a trabalho, nunca começo, porque o trabalho sozinho já exige mais leitura do que consigo dar conta.
Como não ia andar para cima e para baixo com um livro de mil e tantas páginas na bolsa (aquela introdução bem que podia ser menorzinha, vai, para ajudar), a edição linda vai ficar em casa, mas joguei o original em inglês no meu Kindle para as horas livres. Vou ler catando milho, quando der. Se um dia terminar, eu conto. É claro, não atravessaria mil páginas pra guardar segredo.
Não imagino que seja nenhum bicho de sete cabeças, embora tenha largado nas primeiras páginas todas as vezes que tentei. Também não acho que mente quem diz que leu, como tantos pensam, embora desconfie de que boa parte largou pela metade e omite esse detalhe. Aconteceu comigo e “Os Irmãos Karamazov”, que é tão bom: parei faltando um terço; quando fui voltar, meses depois, percebi que teria de voltar tipo do começo, porque já tinha esquecido um monte de coisa; o resto da história você pode imaginar.
Sobre fingir que se leu o que não foi lido, e atire o primeiro “Catatau” quem nunca fez isso (esse, aliás, eu li, de verdade), queria encerrar este post com um último retorno ao “Bonsai”.
Julio mentiu sobre ter lido “Em Busca do Tempo Perdido” para Emilia, e ela, ficamos sabendo na página seguinte, retribuiu a mentira. Um dia eles resolvem “reler” juntos, e então Zambra escreve:
“Antes de começar a ler concordaram, por precaução, que era difícil para um leitor de ‘Em Busca do Tempo Perdido’ recapitular sua experiência de leitura: é um desses livros que mesmo depois de lidos a gente considera pendentes, disse Emilia. É um desses livros que vamos reler sempre, disse Julio.”
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Peço desculpas pelas ausências prolongadas. Sempre tento arrumar tempo entre fechamentos da “Ilustríssima”, apurações para o Painel das Letras, reportagens para o jornal e, bem, a vida lá fora (ó eu fazendo drama), mas às vezes o tempo engole a gente.
Raquel, bom texto!
Comprei o livro assim que li o post pelo interesse que despertou, mas não sei se achei toda essa coca-cola.
Compreendo a ideia de manter um “quase romance”, que mantém os personagens com dois metros de distância, mas não sei se ser um quase romance é algo bom para um romance ou apenas uma proposta curiosa.
Como narrativa, achei ótimo, muito bem carregado.
Tenho tido uma rejeição recentemente a ler textos, comentários, resenhas, etc. sobre livros (com exceção de seu blog, hehe) evitando “contaminar” minha leitura – deixei de ler até mesmo as orelhas e sinopses – e penso se esse é um livro pra quem tem lido sobre livros.
Raquel, li o seu texto na folha hoje, sobre o Zambra…ele parece ser um rapaz muito divertido…com bom senso de humor!
Gostei das respostas dele tb, Indra. Pena que ele não gosta de dar entrevista por telefone, sempre acho que rende mais!
Achei essa nova tradução do “Ulysses” péssima, dá impressão de que foi feita completamente “aos pedaços”, um texto totalmente irregular. De Ulysses a verdade é que só as partes do Leopold Bloom é que são interessantes e profundas, “humanas”. As partes do Stephen Dedalus são pernósticas, artificiais, quase insuportáveis. Já Proust é um deslumbre… Música para os olhos…
Se vocês forem escolher uma obra para ler, escolham “Ulysses” e “Em busca do tempo perdido”, valem uma vida!!!
O “ulysses”, depois que você atravessa os primeiros capitulos da “telemaquia”, que são mais complicados, a cada novo capítulo é uma nova surpresa literária. Quandos vocês chegarem ao capítulos finais, o de perguntas e respostas e o da Molly Bloom, sem pontuação a vontade e que nunca acabe, de tão saboroso.
E Proust, só e possível parar de ler no primeiro volume, porque depois que você chega ao “À sombra das raparigas em flor”, não para e, como a estrutura da obra é circular, teminando quando, através da arte, encontrou a forma de recuperar o tempo, ele então começa a escrever a obra que acabamos de ler. Quem não os leu faça um favor a si mesmo e leia!!!!!
Acabei de ler “Bonsai” e fiquei encantada com a escrita enxuta e acertada de Zambra, que espero ver na Flip 2012.
Me identifiquei muito com suas não leituras de Em busca do tempo perdido e de Ulysses. Também não li e estou namorando elas ultimamente, agora com essa nova edição de Ulysses acho que vou me atrever, vamos ver no que vai dar. De Joyce também só li “Retrato” e este ano. Gostei. Foi um início para chegar a Ulysses.
Só discordo de “Os Irmãos Karmazov”, que li quando tinha 20 anos, acho, e depois reli. É muito bom. Vale a pena.
Gosto de acompanhá-la no twitter e de ler sua coluna. Sou apaixonada por livros e tenho muita vontade de trabalhar nessa área. Parabéns pelo seu trabalho. Bjs.
Mas eu não disse que não gostei dos Karamazov, Cecilia! Pelo contrário, eu adorei, só que depois que parei no meio percebi que teria de começar de novo e acabei deixando para depois… Gracias, beijo!
Raquel
Mas culpa de quem? Do Sr. Harold Bloom!
Querendo me entrosar com os clássicos, encarei O Cânone Ocidental. Pra que o tio foi fazer algo tão hermético? Sapecando Shakespeare VS Freud? As catracas aqui rangeram enquanto lia! Ele podia ser didático e leve ao mesmo tempo, como fez o Tim Blanning no O triunfo da música.
Mas encarei Crime e Castigo. Claro que larguei no meio….
Quelzinha…10 dias sem você aparecer aqui, e “meus olhos cansado de olhar para o além” …
Ai. Tô voltando, juro =(
teremos Bloomsday em SP este ano? abs
Todo ano é ano de Bloomsday! Quem faz são os leitores =)
Estou lendo u
Ulysses e minha edição não é tão pesada. Dá pra levar por ai, mas esse eu leio antes de dormir.
Link do texto que escrevi sobre Bonsai, conforme o prometido: http://cassionei.blogspot.com.br/2012/05/bonsai-de-alejandro-zambra-no-tracando.html
Que txt bacana…pensei q só eu q não tinha lido alguns clássicos!!! Não me sinto mais só no mundo heheheheheehe
Putz…Eu gostei muito do Zambra..Acabei lendo todos dele, inclusive um de crônicas de suas leituras No Leer, muito bom!!!
Agora, foda mesmo é esse aqui, inclusive elogiado pelo próprio:
http://cultura.elpais.com/cultura/2012/05/16/actualidad/1337162501_213342.html
Se forem todos curtinhos que nem Bonsai eu me comprometo a ler tudo antes da Flip (mentira)
“É sobre o Ulisses Guimarães?”. Lembro que a minha irmã ficou falando tanto sobre James Joyce e Ulysses que eu resolvi comprar, encomendei num sebo na Rua Augusta e esperei uns seis meses (já tinha até esquecido) até que me retornaram dizendo que estava à disposição um exemplar em perfeitas condições, capa verde-claro, tradução do Houaiss. Fui retirar e a atendente foi tão cerimoniosa que comecei a ficar preocupado (será o santo graal da literatura?), e pra agravar a situação, quando quando fui pagar no caixa, uma das clientes do sebo ficou hipnotizada com o tal livro que o pegou do balcão tal como um objeto de desejo e começou com uma chuva de elogios, até o próprio “charme” visual do escritor não foi poupado na foto da contra-capa. Sinceramente eu não sabia sobre o tipo de livro que estava comigo, pela biografia que tinha acabado de ler, sabia que Timothy Leary o tinha lido escondido na biblioteca do colégio militar, pois este constava entre os livros proibidos lá, assim como Baudelaire e outros, isso acendeu a curiosidade, mas não dizia muito do que se tratava o livro. Procurei um boteco para folhear algumas páginas, sentei na última mesa atrás da coluna, pois sempre achei pedante ler em butecos. Desisti na primeira página morrendo de vergonha, pedi uma cerveja. Voltando pra casa, no metrô, tirei ele da sacola e voltei a folhear, achei umas anotações a lápis sobre antissemitismo nos diálogos (wow) e reparei no verborrágico último parágrafo (wow2). Fui interrompido por um senhor idoso ao meu lado perguntando: “Ei Jovem! É sobre o Ulisses Guimarães?”. Várias vezes comecei e nunca terminei. Espero um dia um estado de espírito e concentração suficientes para terminá-lo.
Meu, cês tem umas histórias tão boas que daqui a pouco vou abrir o blog para poss de leitores, em vez de só comentários. Gostei do recurso de começar com uma frase que só ia aparecer lá perto do fim: li o comentário todo querendo saber de quem era a frase ;-). Antissemitismo: tem ele aí à mão pra citar algumas passagens?
Parece um episódio dos Simpsons em que o Homer reclama de ter lido “To Kill a Mockinbirg” achando que ia aprender técnicas sobre como matar o referido pássaro, mas no final aprendeu apenas que não devemos julgar as pessoas pela cor – e complementa: “e o que isso me ensinou de bom?” 😀
Hahaha!
Homer é um gênio!!! rsrsrsrs
“Antissemitismo: tem ele aí à mão pra citar algumas passagens?”
Não será aquela cena do “Cíclope”, em que o Bloom, que é judeu, tem uma discussão com um sujeito antissemita?
Rachel, obrigado pelo elogio! Dificilmente comento alguma coisa, mas o seu texto foi irresistível, tive que sacar essa história que aconteceu comigo. Tem muitos parágrafos assinalados, não sei de quem era esse livro antes, mas parece que a pessoa usou pra estudar a sério! Uma das passagens é logo no início (pág. 32 no meu) entre o senhor Deasy e Stephen Dedalus:
“… – Queria apenas acrescentar um coisa – disse. – A Irlanda, diz-se por aí, tem a honra de ser o único país que jamais perseguiu os Judeus. Sabia? Não. E sabe porquê?
Pregueava duramente o cenho à luz brilhante.
– Porquê, senhor? – Perguntou Stephen, principiando a sorrir.
– Porque nunca os deixou entrar – disse o senhor Deasy solenemente.
Uma expectoração de riso saltou-lhe da garganta arrastando consigo uma cadeia matracolejante de catarro. Revirou-se rápido, tossindo, gargalhando, os braços levantados ondeando ao ar.
– Não os deixou nunca entrar – clamava de novo por entre o gargalhar no que esmagava com os pés borzeguinados o saibro da aleia. – Eis aí a razão.
Por sobre seus sábios ombros através da marchetaria das folhas o sol arremessava lantejoulas, dançarinas moedas. …”
ufa!
Valew =)
Thomas Mann, Joyce e Guimarães Rosa.. leio, releio e vira e mexe os cheiro…. não sei o por quê?
Cheirar livros aumenta em 57% a absorção da informação do livro, aponta estudo
hahaha
tb tenho mania de cheirar livros. não só os difíceis. todos
Quer saber de uma coisa? “Ulysses” é para os fracos; os forte leem “Finnegans Wake” no original. 😀
=)
Tudo Grego, tudo grego que inveja!!!!
“How to talk about books you haven’t read” é um livro ótimo sobre o assunto. E esse eu li de verdade. Foi escrito pelo Pierre Bayard, que é professor da Universidade de Paris e veio pra Flip em 2008.
Em linhas gerais, o trabalho defende que entre o livro nunca aberto e aquele que lemos capa a capa existem muitos níveis de leitura possíveis que podem ser seriamente levados em consideração. (Com os 18 quadrinhos animados, eu li Ulysses de alguma forma.) Ele questiona a ideia que comumente se faz do ato de ler, como algo sem nuances e unívoco.
No meio do caminho, ele também brinca e propõe maneiras de se mentir melhor sobre um livro que não se leu. E sugere uma classificação – que poria por terra a aura imaculada do mundo acadêmico – para marcar o grau de leitura dos livros (se só folheado, lido parcialmente, lido inteiro etc).
De qualquer forma, tem umas questões interesses. Por exemplo, um livro lido e esquecido pode ser considerado de fato um livro lido? Vale a leitura.
P.S.: Só tenho vergonha de não ter lido (muito) os gregos. O resto é resto.
Olha, Alan, eu nunca tinha tido vontade de ler esse livro, avhava que era perda de tempo (não seria melhor ler um livro importante que ler um livro sobre não ler o livro importante?, essas coisas), mas confesso que a sua descrição me deixou curiosa. Teria sido uma ótima fonte para este post. E o mais importante: para mesas de bar! 😉
http://oleitorcomum.blogspot.com.br/2011/12/depois-de-ler-sobre-como-falar-dos.html
Acho que talvez tenha me exaltado um pouco e o texto acabou não transparecendo tanto o que gostei no livro. Mas, enfim, taí.
gostei desse autor. e concordo com ele em tudo. é questionável mesmo vc computar na lista de lidos um livro do qual vc já se esqueceu completamente.
eu, por exemplo, li “O matador”, da Patricia Melo, duas vezes, tendo inclusive comprado o livro duas vezes, e só na segunda vez me dei conta de que já tinha lido aquele livro e inclusive já tinha em casa. Também li recentemente “Night”, do Elie Wiesel, e só depois encontrei por acaso o mesmo livro em casa, em português.
Curti muito seu texto Raquel. Me fez lembrar os meus primórdios literarios, na minha casa no Panamá, a coleção tinha Mark Twain (Tom Sawyer), Jonathan Swift (Guliver’s Travels) e enciclopédias Quillet, espanholas, lindas! Eu já li Proust, Jean Santeuil, que achei lindo na época, mas que me fez ficar em casa por muito tempo porque também é um livro enorme (da Nova Fronteira)…pensando nisso, deu uma vontade de ler de novo…eu leio livros duas vezes se gostar…Em Busca do Tempo, comecei a ler, mas decidi que o livro tem que ser lido bebendo vinho, comendo pão francês (o de verdade) e deitada na campina. Acho que piro quando leio. Já li a Montanha Mágica em português e em espanhol (gostei mais da tradução ao espanhol), Zen e a arte da Manutenção em português e em inglês…Sou meio freak por ler o livro original…fica mais gostoso. Mas tem tanto autor que ainda não li e não fico com vergonha…Eça de Queiróz é um deles. Li Borges recentemente…sempre tive medo dele, mas quando a gente vai ficando velha, vai ficando meio sem vergonha e sem medos. Sobre o Zambra, obrigada pela dica! Vou procurá-lo, obviamente, em espanhol. Gostei do trechinho postado. E se der para ler “en un dos por tres” como se diz em espanhol, melhor ainda! Abraços!
Adorei, adorei isso: “Decidi que o livro tem que ser lido bebendo vinho, comendo pão francês (o de verdade) e deitada na campina”. Decidi que só vou ler nessas condições!
..muuuuuito bom seu texto, Raquel..quem não ficou pela metade de um desses ‘clássicos’ que atire a primeira pedra.. O meu foi ‘Ulisses’ que parei por duas vezes antes de tomar coragem pra ir até o fim… Rsrs
😉
Li Ulisses (a versão do Houaiss) quando eu tinha tempo – ali pelos 16 ou 17 anos, quatro capítulos nas férias de julho e o resto nas férias de verão. Mas é como se não tivesse lido: foi uma leitura na base da briga, do “você é grande mas não é dois”, do desafio. Alguma coisa se aproveitou, claro, mas tenho que ler de verdade.
Montanha mágica, não. Proust, só o primeiro – amei, mas fui deixando o resto pra depois e nunca mais.
nunca li “Ulysses”, mas li os 18 quadrinhos de “Ulysses for dummies”. Achei meio hermético…
http://thattherepaul.com/features/uford.html
Hahaha, verdade, é meio hermético mesmo. De repente o livro é mais simples =P
Bah, nem é. Mas, veja só, ler o livro ajuda a achar aqueles quadrinhos nada herméticos e facinhos. =P Quer um motivo melhor pra ler Ulysses?
Arthur, falou tudo. Finalmente um motivo pra encarar o Ulysses.
Agora, Raquel, tava lendo essa coletanea aih do Paulo Francis e ele diz o seguinte: “o fato eh qualquer pessoa com bom conhecimento da Odisseia e da lingua inglesa lê Ulysses num dia de leitura”.
Entao eh o seguinte: vou voltar pros quadrinhos!
E em tempo: otimo post. Adoro ler esses depoimentos sobre como as pessoas se iniciaram na literatura.
t+
Ah, eu li a Odisseia, ajuda, né? Não que eu tenha guardado muita coisa da leitura, mas eu li!
E brigada. Esqueci no post só de contar a parte em que o meu pai teve uma papelaria, que faz as vezes de livraria no interior. E você, tem alguma história bacana? 😉
Acho que não é uma história bacana, mas eu só fui gostar de ler lá pelos 12 anos acho. Eu já tinha lido Monteiro Lobato e outras coisas, mas o click não aconteceu. Até que um dia a professora de português falou sobre “Mar morto”, do Jorge Amado, e alertou: “mas não contem a ninguém que eu recomendei, porque senão vão cassar a minha licença!”. O Jorge, além de subversivo (isso era no tempo da ditadura), era considerado pornográfico.
Aí comecei a ler o Jorge Amado, me apaixonei por ele e tomei o gosto da leitura. Mesmo que “Mar morto” e outras obras dele daquele tempo tenham realmente o defeito de serem construídas dentro daquela mentalidade stalinista, do realismo socialista, acho, olhando assim de longe, que algum valor como romances também tinham. De qq forma, tenho q ser grato ao Jorge, cuja obra, aliás, acredito que conseguiu superar à do mero escritor militante.
Você citou no post o Dostoiévski. Eu gosto de vários russos, mas nunca consegui ler Dostoiévski. Ainda outro dia passei adiante o meu “Crime e castigo” daquela coleção da Abril q vc citou…
Outra coisa q vc citou achei interessante: sobre a teoria de que a gente precisa ler certas coisas (imagino que as de difícil digestão) na adolescência, senão depois não arranja mais tempo. Acho que pode não faltar apenas tempo; pode ser que a capacidade de encantamento se reduza também.
Desde a adolescência, cada vez menos autores me encantaram – estou falando de ficção, é claro. Os últimos que me lembro são o Magnus Mill, o Skovrecki e o Houellebecq. Esta noite, por exemplo, matei “A casa dos náufragos”, do Reinaldo Gonzalez, que dizem ser um marco da literatura latino-americana etc. Gostei, mas ficou longe de me entusiasmar.
Mas a gente continua procurando, né?
bjs
Pô, sua história é ótima! Foi só não poder ler que você quis! rs. Isso deveria ser usado como método nas escolas públicas. Eu gostei bem bem de Crime e Castigo, e acho Memórias do Subsolo uma coisa fora de série de tão boa. Sobre ler na adolescência, acho que isso é uma coisa, sim, e outra é que depois de um tempo os clássicos (tudo bem, Ulysses é contemporâneo, mas você entendeu a ideia, ou não) vão criando ranço, a gente tende a querer cada vez mais a literatura que foi escrita hoje, pela curiosidade do que ainda pode ser feito na litertura. Digo, a gente não, eu. Mas ler um clássico, um continho que seja, um Machado que seja, sempre é bom.
raquel,
acabei de ler o “bonsai”, nesse fds. fiquei meio constrangido, pois apesar de ser um bom livro, mesmo, tenho certeza que se fosse eu a tentar publicá-lo (pois nossas temáticas são muito parecidas), teria recebido não atrás de não, num discurso de o livro é muito curto, cita outros autores, vc tem que encontrar seu próprio caminho etc. (recalque, eu sei, mas e daí, né? ahah).
ou seja, quando há interesse ou se é bem relacionado, a história é bem diferente. saiu uma crítica no estadão que só faltou canonizar (ops) o zambra. se constrói até um projeto gráfico (ok, só poderia sair na cosac mesmo, mas a conta dela não fecha, certo?) específico para valorizar um livro curto como esse (aliás, para mim, é uma novela e não um romance, pra levantar velhas polêmicas).
em suma, a novela “bonsai” que júlio escreve me parece mais interessante que a “bonsai” do zambra |P
lembro que o alan pauls parou um ano de ler qq coisa para ler somente o proust. ou foi mazomenos isso que ele disse aqui.
essa nova edição de “ulisses” é uma tentação mesmo.
Mas, olha, foi o primeiro livro dele. Não sei o quão bem relacionado ele poderia ser, mas ser premiado por isso já é mérito dele. Agora, numa coisa vc tem razão: se eu não soubesse que o romance (novela, como também digo no post) tinha sido premiado, eu não tinha passado do primeiro parágrafo. Lindamente escrito, mas só por ser uma história de amor já me daria preguiça…
por isso que vc ainda não leu o que te enviei? ahahahaahah
Ai, pare, é pelo outro motivo: eu não consigo ler o suficiente nem a trabalho =(
eu sei! tava pilhando.
assisti ao trailer que vc postou do filme. me parece que a história que julio escreve tem bem mais destaque, não? porém, como uma simples história de amor, para garantir jovens pagantes (ou, no caso dos brasileiros, baixantes, já que o filme dificilmente sairá por aqui).
É, como eles fazem essa divisão deve ser interessante. Vou tentar baixar, digo, esperar chegar aos cinemas =P
Estou escrevendo sobre Bonsai. Belíssimo livro.
Quando terminar manda o link, Cassionei
tambpem quero ler. linke-nos.
Sai na quarta-feira, na minha coluna de jornal e no blog. Dou notícia por aqui.
Gente, impossível não apaixonar com um texto desses. Não estivesse tão cansado, postaria um daqueles meus comentários gigantescos, tão característicos no Blog da Cia.
Lembre-me amanhã de passar aqui pra comentar com gosto. Teu texto fez minha cuca pipocar de ideias.
Abraço!
<3
Beleza, voltei. (Pra facilitar o comentário e não ter que ficar rolando pra cima e pra baixo o texto, abri-o em uma nova guia.) Vamos por partes.
1. Eu sei que afirmei em algum momento no meu blog uma paixão inaudita por romances que param em pé (acho que foi quando falei do “Não matem os passarinhos”, de Jonathan Franzen), mas ultimamente, por razões que aparecerão em algum tópico abaixo, tenho preferido os curtos. Dia desses tinha que esperar dar o horário de um amigo sair do trabalho pra encontrá-lo e tentar contar 2% do que foi visitar Paris (no final, falamos só sobre livros) e resolvi encarar um volume de contos da Não Editora, na Livraria Cultura. Escolhi um café dos que vinham mais ml por menos preço, adocei-o a gosto (acho que precisei de 4 ou 5 pacotinhos) e li o livro em uma horinha, no máximo. Isso tudo é pra dizer: os preços da Cosac + a finura desse livro (valeu pela informação) indicam que repetirei a experiência.
2. Resolvi que vou pra FLIP e saber que esse cara vai estar ao lado do Enrique “Muitoamornocoração” Vila-Matas só aponta a urgência de que eu cumpra o que prometi no tópico 1.
3. Alguém falou que uma das melhores adaptações cinematográficas de um livro foi feita a partir de um conto de Joyce, justamente porque o cara se deu liberdade de fazer um longa sobre poucas páginas de literatura. Acho que isso faz o Galera e o Zambra “ganharem” em suas adaptações (ainda não vi a adaptação do livro deste, mas, putz, que trailer bom!)
4. Acho que o embate novela de Julio X romanvela de Zambra tem muito do platonismo mundo real X mundo ideal. Interessante que nós tenhamos a oportunidade de pensar nele.
(Nesse momento, faço um pequeno parêntese: mexi sem querer no notebook e desconectei-o da tomada. Ele estava sem bateria. A parte ruim dos comentários grandes é, se isso ocorre e você não está usando o Google Chrome, que recupera TUDO, a única coisa a fazer é gritar http://www.nooooooooooooooo.com/ e dar o dia por encerrado.)
5. Eu queria TANTO ter clássicos da Abril em casa. Tive muito incentivo para a leitura quando estava aprendendo a ler, mas minha defasagem só começou a ser diminuída com a autonomia da adolescência e com empréstimos na biblioteca municipal de Porto Velho — que, imagino, deva ser NADA em comparação com a de Petrópolis. Ah, se eu tivesse a biblioteca pública daqui de Curitiba naquela época…
6. Sério que você curtiu o “Retrato”? Eu me prometi relê-lo (até porque Joyce exige um tipo de leitura meio diferente, muitas vezes meio biográfica, coisa que não costumo curtir), mas por enquanto ainda estou com um grande “Que m…!” ao lado do tópico “Retrato do artista…” na minha cabeça.
E aqui eu pulo totalmente o assunto Ulysses porque provavelmente ainda escreverei um monte, seja n’o leitor comum, seja no Meia Palavra, para me encaminhar ao último tópico, com meu número favorito.
7. “Antes de começar a ler concordaram, por precaução, que era difícil para um leitor de ‘Em Busca do Tempo Perdido’ recapitular sua experiência de leitura: é um desses livros que mesmo depois de lidos a gente considera pendentes, disse Emilia. É um desses livros que vamos reler sempre, disse Julio.” Isso é GENIAL. É dialogar com e subverter e atualizar totalmente a introdução de Calvino para “Por que ler os clássicos”. Se eu estava em dúvida, depois disso não tem como não dizer “super vou ler esse livro”. E, se curtir mesmo, vou bancar o sujeito rico e vou comprar pro cara autografar lá na FLIP.
Tá, as “razões que aparecerão em algum tópico abaixo” eram basicamente: estou lendo e relendo Ulysses e lendo um monte de aparatos teóricos. Ficou faltando isso.
Hahah, nossa, isso não é um comentário, é um post! ;-). Meu, cê é de Porto Velho, onde a biblioteca não era essas coisas, não tinha clássicos em casa e virou um superblogueiro de (boa) literatura? Nossa, parabéns. Eu me apaixonei por leitura porque meus pais me levavam muito na biblioteca (todo Monteiro Lobato, Pedro Bandeira etc), depois meu pai teve uma papelaria, que no interior corresponde a livraria, e lá tb pude ler muitos infanto-juvenis, depois os clássicos em casa. Vc tá de parabéns mesmo! E vai pra Flip, verdade, ou conversa de caixa de comentários? Vamos nos conhecer? 😉
Na real sou de Recife (pai militar), mas meus últimos anos de escola foram lá. No entanto, tive um professor de Literatura EXCELENTE que fez, por exemplo, lermos Romeu e Julieta EM SALA (justo nos três anos que o povo parece esquecer de ensino e passa a ministrar apenas decoreba). Depois das aulas dele é que fui capacitado a perceber o quão pouco a biblioteca da cidade tinha — o que não significa que eu não a tenha aproveitado ao máximo: li todas as joias que encontrei no meio dos livros empoeirados.
Antes de ir pra essa cidade já tinha lido, também, tudo do Pedro Bandeira (até encontrei uma antiga carta minha, nunca enviada, no meio dumas tralhas, em que me dirigia ao Pedro, agradecia por tudo e dizia que ele tinha sido o maior incentivador para eu ser escritor). Mas era muito jovem e ainda não tinha autonomia pra ir em outras bibliotecas que não a da escola, nem muita grana pra ficar comprando livros (ainda bem que o colégio indicava 2 livros por bimestre, o que tornava o mês de fevereiro um dos mais legais: eu tinha 8 livros novos pra devorar antes das aulas começarem). Li “Droga de americana!” inteiro na livraria, enquanto minha mãe passeava pelo shopping (se fosse esperar pela biblioteca do colégio que completasse a coleção pfffff).
Não é papo de caixa de comentários. Já garanti uma vaga na Mansão Meia Palavra ao entrar pra equipe e amanhã deposito minha parte do aluguel. Algo tem que dar MUITO errado para eu não ir e, como fui a Paris recentemente (algo muito mais impossível para os meu padrões), algo me diz que não dará zica alguma. Se a greve de professores atingir o mestrado, aí eu terei problemas com o resto da viagem: visitar um amigo no Rio logo depois e passar um mês em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, onde ficam minhas famílias biológica e do coração.
Sim, vamos! Lá eu vou querer conhecer todo mundo que só vi pelo computador: o povo do Meia, você, Diana Passy. Gente, isso vai ser massa. =)
Todos estaremos na Flip!!! \o/
um cara que escrevia para jornal, que não escreve mais, falava sobre uma imensidão de livros, muitos lançamentos, que, com certeza, não foram lidos em sua totalidade. também falava de cinema, arquitetura, artes plásticas, economia, futebol, televisão, ciência, tecnologia, turismo, e tudo com tanta autoridade, que na minha opinião só podia mesmo ser um picareta. essa percepção fez a minha angústia reduzir bastante.
Acho que sei quem é… Flavio Pinheiro escreveu sobre (ops)
sabidinha…
Vocês estão se referindo ao jornalista Daniel Piza, falecido no final do ano passado?
Eu realmente tinha (ainda tenho) a impressão que ele lia todos os livros que comentava.
Não posso falar do que ele lia ou não, mas achei pertinente o texto que o Flavio Pinheiro, nome respeitável, escreveu a respeito: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,na-fome-de-leitura-o-apreco-a-ciencia,819529,0.htm (a questão do “tratei” ser mais correto do que “li”)
tenho uma lista enorme de autores fundamentias que nunca li, de livros essenciais que não passaram pela minha mão. carlos fuentes, um aturo recém-falecido, é um; pedro páramo, livro de autor mexicano também celebrado, é outro, dostoiévski, nada, toltóis, comprei dois livrinhos da l&pm e ainda não comecei a ler. paro por aqui para não parecer um semianalfabeto literário.
às vezes eu ficava impressionado com a quantidade de leituras de um antonio candido, de um alfredo bosi, por exemplo. hoje em dia não me impressiono mais, nem com eles nem com os meus professores da faculdade; candido não conviveu com a internet, com o rock ou com os quadrinhos, não teve a relação cm o futebol e com as novelas, seriados e outras coisas da televisão. e eu não sou de uma família de pessoas que leem (na verdade, a minha geração é praticamente a primeira da família a ter muita gente passando pela faculdade, embora meu pai nunca tenha se negado a me comprar um livro).
tenho dúvidas sobre ulisses, e sobre o finnegans. mas antes dele, vou ao grande sertão (que ainda não li inteiro) e ao dostoiévski, quando der…
Finnegans eu Acho que não encaro. Analfabeto literário com certeza você não é, só mais honesto que a média 😉
Bah, Irmãos Karamazov só li metade, e se quisesse voltar a ler, teria que ser desde o começo também. O mesmo para Madame Bovary, quer por falta de tempo deve estar há pelo menos um ano com a leitura pausada hahaha
Sempre faço questão de dizer “não li não, vi um comentário na internet, li numa resenha” whatever. Mas isso prova que é possível falar de livros que não leu. Uhul!
E amei Ulysses *cof a capa cof*
Pois é, eu já tenho opiniões muito fundamentadas sobre Ulysses, o curioso é que elas não tem nada a ver umas com as outras. Cada resenha fala uma coisa.=P
Mas acho mesmo que nesse mundinho tem muita gente que diz que leu o que não leu e que comenta sem pudor os livros, mesmo assim. Eu tenho pudor de comentar até os que eu li, pq não levo o menor jeito para crítica literária
Já menti sobre o Catatau. hahaha
Do Ulysses eu não gosto nem de saber detalhes porque não li, não lerei e não quero cair na tentação da mentira…
Abs
Hahaha “já menti sobre o Catatau” é uma das minhas respostas preferidas em toda a história do blog. Putz, esse eu não só li como pensei em usar como base da minha especialização em literatura, mas resisti a essa ideia. Na verdade, não consegui terminar a especialização, mas essa é uma verdade que eu às vezes omito, citando só que “quando eu estava na especialização…” =P
Vai sair ebook da tradução do “Ulysses” semana que vem *cof*
AI QUANTO AMOR ME DÁ É MEU (ai, desculpe, me excedi). Aliás, você leu?
Quero muito ler, mas ainda nem comecei =/
Depois da Flip a gente mata em uma semana (cof)
quando sair pocket book eu leio.
Mas é um pocket, o pior é isso, haha