Pode haver limites para a temática literária?
24/06/12 19:59Depois do último post, recebi mensagens questionando pontos dos editais das Bolsas BN/Funarte de Criação e Circulação Literária. Algumas criticavam a redução no número de bolsas; outras, a definição de que só pode participar quem tenha até dois livros publicados, regra inexistente nas edições anteriores. Mais importantes achei as críticas não relacionadas a interesses pessoais, e sim à literatura em si.
Essa última discussão surgiu do item dos editais que informa:
1.2. Os projetos concorrentes não sofrerão quaisquer restrições quanto à temática abordada, desde que não caracterizem:
a) promoção política de candidatos e/ou partidos;
b) dano à honra, a moral e aos bons costumes de terceiros e da sociedade;
c) pornografia
d) pedofilia
e) discriminação de raças e/ou credos;
f) tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins;
g) terrorismo
h) tráfico de animais
Há uma variedade de detalhes do trecho que suscita discussão. O primeiro e mais óbvio é que a frase “não sofrerão quaisquer restrições quanto à temática abordada, desde que não caracterizem…” é uma contradição em termos, mas isso é que menos interessa aqui.
O item (a) considero mais do que justo. Um programa financiado pelo governo não tem nada que dar dinheiro a quem queira fazer promoção de algum partido ou candidato. Quem quiser que faça isso sem receber dinheiro público, obrigada.
O item (b) já fica meio em cima do muro: a restrição a obras que causem danos à honra e à moral de terceiros, lembrando mais uma vez que estamos falando de dinheiro público, é um critério que pode até ser considerado legítimo; a parte que fala dos bons costumes da sociedade é mais preocupante. Você extirparia o coração das grandes obras literárias da história se eliminasse aquelas que questionam os bons costumes da sociedade. Politicamente correto e literatura não combinam, definitivamente.
O item (c) me parece de um moralismo duvidoso. Lembro que dois anos atrás os jurados do Prêmio Portugal Telecom disseram a quem quisesse ouvir que “Pornopopeia”, de Reinaldo Moraes, tinha dividido o júri por ser “pesado demais”. No ano passado, soube que “Nada a Dizer”, de Elvira Vigna, então um dos dez finalistas, não teve nem chance de ficar entre os três vencedores porque um dos jurados reprovou o uso de palavrões no romance. Triste saber que critérios assim entram na conta de gente que na teoria está mais do que habilitada a avaliar um romance.
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Um erro na redação dos editais fez com que a partir do item (d) a coisa ficasse meio engraçada. Um livro que caracteriza pedofilia é como? Aborda menores com propostas indecentes? Um romance que caracteriza terrorismo deve explodir na página 36. Ou talvez seja só a definição para um romance muito, muito ruim. E o que seriam poemas que caracterizem tráfico de drogas? Feitos em folhas de coca? Não deixa de ter sua poesia.
A resposta a isso era imaginável, e, questionada, a Biblioteca Nacional confirmou a suspeita. A intenção era esclarecer que serão inabilitadas obras que façam apologia à pedofilia, à discriminação, ao tráfico de drogas e aos outros itens listados, e não que apenas abordem esses temas. Aí a discussão entra em outro nível, embora, como escrevi no Painel das Letras de ontem, diferenciar abordagem de apologia não seja tão fácil. “Cidade de Deus” fez a gente achar graça no Dadinho/Zé Pequeno (esqueci o nome do personagem no livro. Miúdo?). Seria apologia ao tráfico?
Pois bem, pensando na apologia como apologia propriamente dita. Foi para não alimentar a discriminação que a Alemanha manteve fora de catálogo por décadas o “Minha Luta”, de Adolf Hitler. O que é uma forma de censura e, ao mesmo tempo, é uma decisão compreensível. Só agora, que o livro está prestes a cair em domínio público, foi que a Baviera decidiu publicar a obra, comentada, de forma a se tornar um objeto de análise, e não pura munição na mão de neonazistas.
Questão parecida suscitou, no ano passado, debate acerca das comemorações em torno dos 50 anos da morte de Louis-Ferdinand Céline, um dos maiores e mais polêmicos escritores que a França já teve (abordei o assunto neste e neste post).
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Ainda em resposta aos meus questionamentos, a Biblioteca Nacional informou: “Os editais das Bolsas de Circulação e Criação Literária são incentivos financeiros do Governo Federal a projetos que têm como objetivo fomentar a produção literária e difundir a leitura pelo Brasil. Uma vez que os projetos vencedores terão acesso a recursos públicos, fez-se necessário estabelecer regras quanto às temáticas apresentadas”.
Disse também que “todos os projetos inscritos serão analisados. Nada será descartado, a priori, sem uma avaliação crítica de especialistas em literatura”.
E concluiu: “A FBN e Funarte lembram ainda que a criação destas restrições estão em linha com a diretriz do Governo Federal, capitaneada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, para que todas as entidades trabalhem em bloco na valorização de direitos e combate a temas como pedofilia e discriminação de raças”.
O argumento poderia ser resumido assim: eles dão o dinheiro, eles estipulam as regras. Quem não gostar pode escrever sem pedir esse financiamento.
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À imagem que abre este post, por fim. É de André Ducci e integra o livro “Guia de Ruas sem Saída”, com texto de Joca Reiners Terron. O livro resultou de uma bolsa do gênero que o Joca ganhou não da Funarte, mas da Petrobrás, em 2007, e que saiu no começo deste ano pela Edith, uma dessas editoras pequenas que conseguem espaço a fórceps num mercado dominado pelas grandes (me dá um abraço, Edith).
Algumas questões que têm a ver com a bolsa da Funarte cabem aqui. Uma delas é a temática: o centro do livro do Joca, financiado com dinheiro público, é o tráfico de órgãos. Seria considerado apologia? Não me parece, mas poderia parecer aos jurados. Posso dizer que não tive interesse em vender o fígado do meu marido depois de lê-lo, mas também acho que o fígado do meu marido não deve estar valendo tudo isso no mercado.
Falando com Joca para escrever sobre o livro para a “Ilustrada”, soube algo que pode interessar a quem quiser concorrer às bolsas da BN/Funarte. Ao inscrever o romance no edital da Petrobras, Joca imaginava chamá-lo “A Extinção da Infância”. Ao longo de quatro anos, ele mudou a história. Daí precisou enfrentar seis meses de burocracia do MinC para adequar o título ao romance tal como ficou. Ele até poderia correr o risco de perder a bolsa, imagino, já que o projeto aprovado não existia mais.
O que leva a uma última questão: é mesmo possível elaborar um projeto de obra literária? Admiro quem consiga, porque mal consigo pensar o esqueleto de reportagens…
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Raquel.
Estou tentando concorrer à bolsa mas não sei como fazer o projeto e se o caderno com os textos precisa ser inédito.
Pelo certo não precisa pois não falam nada sobre isso.
Pretenco concorrer com poesias. Nesse caderno coloco um por página?
Me ajude. Está em ciam da hora e o meu tempo é curtíssimo.
Desde já agradeço
Oi, Anna, se vc ler todos os comentários, vai encontrar varias dicas de uma leitora que já participou. Me manda email no raquel.cozer@grupofolha.com.br que te encaminho, se ainda tiver, outros detalhes que um ganhador da bolsa me passou. Mas acho que detalhes mais específicos você só vai conseguir mesmo ligando na Biblioteca Nacional, no Rio. Beijo
Ola Raquel,
Estou me inteirando de seu blog, mais uma inicativa de suma relevânia à literatura, e me deparei com esse edital funambulesco da funarte. Um verdadeir retrocesso à liberdade de expressão. É um tanto medonho pressentirmos essa atmosfera de censura pairando no mundo das letras, que deve usufruir de toda e qualquer liberdade artística. A literatura, como as artes de um modo geral, é o melhor termômetro para se eviscerar o verdadeiro amadurecimento de uma sociedade. Grande abraço, Ricardo Bellissimo (São Paulo – SP)
Gracias pela visita e pelo comentário, Ricardo, e volte sempre. Avise também sempre que souber que algum assunto que mereça debate, as sugestões de vocês, por falar em termômetro, são o que há de melhor para participar de discussões relevantes. Beijo
Será um prazer, Raquel. Adoro discutir literatura e seus desdobramentos psicológicos com pessoas que dão valor às letras.
A propósito, vou ver se encontro uma notícia que ha muito li sobre a literatura como a melhor forma de psicanálise que uma pessoa pode fazer consigo mesma, ao diluir seu ego enquanto vivencia, passo a passo, a vida de uma personagem, então criada pelo autor num intenso labor psicológico. Grande beijo, e legal corresponder-me contigo. Estava mais do que na hora de eu abandonar o meio jeito um tanto neanderthal de ser em matéria de redes sociais.
Enfim, Raquel, a literatura permite mais essa bênção: o profundo amadurecimento do leitor ao lhe proporcionar uma atenção visceralmente compassiva para com outras vidas. Bjs
Opa, se achar essa notícia me mande! beijo
Olá Raquel, tudo ok? Como prometido, tentei procurar o artigo sobre a literatura como a melhor forma de análise psicológica que uma pessoa pode fazer por si mesma, sem o auxílio de um terapeuta, deixando apenas o seu ego se desestruturar para, em seguida, se plasmar ao psicologismo das personagens literárias. Como se trata de um texto muito antigo, debatido num congresso em Viena (não à toa, o berço por excelência da psicanálise), não o encontrei digitalizado na Internet, e a revista que eu tinha este artigo infelizmente se extraviou com as mudanças da vida.
Possuo, porém, anotações e teorias próprias que depois, se você tiver tempo, posso te passar por email. Só preciso organizá-las, já que estão escritas à mão. Mas uma delas é o meu norte, e se refere ao fato de que nunca esquecemos um grande amor, mas superamos a sua perda, e a literatura ajuda muitíssimo nesse processo ao acompanharmos as mazelas de um protagonista e suas confabulações psicológicas na tentativa de superar essa dor. Obviamente, é preciso que seja uma literatura de qualidade (não vou entrar agora no mérito desta questão), muito além desses estranhos livros de autoajuda.
Dei o exemplo do caso amoroso de certo por estar envolvido com uma trilogia sobre o amor que estou escrevendo, sendo que o primeiro deles já está publicado, o Negro Amor. É um assunto que muito me interessa, e creio estar profunda e intimamente ligado ao nosso eu mais interior, escuro, misterioso, às vezes desconhecido de nós mesmos, mas esse embate sincero com a catarse de uma personagem literária pode nos iluminar muito para sabermos o que de fato buscamos nos outros, em nós mesmos, e na vida de uma forma geral. É preciso um coração aberto para receber e desfrutar a arte, por isso me indignei com o edital da Funarte impondo limites à criação literária.
Aliás, Raques, como toquei no assunto amoroso, se você também tiver algum tempo e quiser saber um pouco o que penso sobre o amor, talvez você possa procurar o meu nome no Google e ver a entrevista que eu dei para a Livraria Cultura e que está no site da livraria, o cultura news.
A vida e a arte afinal só podem ter sentido se feitas e vividas com intenso amor. Sem breguices, o amor significa estar aberto, saber ouvir, aprender com o outro; o caminho inverso a quem trilha uma vida embasada em preconceitos e afins, q simplesmente fecham as portas para almas alheias, cegando-os e recrudescendo-os.
Grande beijo, e foi realmente um prazer conhecê-la, ainda que virtualmente.
Peguei o exemplar de hoje (“Soldados de Salamina”) da coleção de literatura ibero-americana e adivinhem quem é que escreveu a resenha? 😀
Ai que vergonha
Raquel, creio que o maior problema do edital não é um preconceito contra determinada temática literária. Sou servidor público e sei da dificuldade em se redigir de forma clara e concisa quaisquer normas públicas, inclusive as infralegais, como é o caso do edital. Acredito que o termo “caracterizem”, constante da norma não reflita a vontade real do órgão que a edital. Talvez a real intenção fosse excluir do certame obras que estimulem certos temas contrários ao interesse público. Nesse sentido, creio que o órgão agiu de forma correta, pois não há como justificar a subvenção pública quando há estímulo, ainda sob a forma de arte, a certas condutas, como é o caso da pedofilia.
Oi, Marcelo, mas eu falei no post isso o que vc falou =). A BN explicou que a ideia era mesmo evitar a apologia e que o texto estava errado. De todo modo, acho que isso cria uma situação estranha, como o exemplo que eu dei: Cidade de Deus seria apologia ao tráfico? Achei graça de várias cenas, inclusive uma do marido que mata a mulher ao encontrá-la com o amante. E foi o livro cuja adaptação cinematográfica mais divulgou o cinema brasileiro no exterior. Seria o caso de não dar um prêmio de incentivo para ele quando estava sendo feito, considerando inclusive que o autor não tinha nenhuma grana na época?
Oi, Raquel, na verdade, eu quis complementar o que você havia escrito no post. Entendo o que você quis dizer quando citou o Cidade de Deus e concordo com você plenamente. Acho que o administrador público acaba numa “sinuca de bico” difícil de resolver, até porque questões políticas: uma parte razoável do Congresso é formada por parlamentares “moralistas”, digamos assim, que podem usar e de fato usam, politicamente, o apoio do Governo a determinada obra supostamente “imoral”. Enfim, é uma looonga discussão…Bukowski, se brasileiro, jamais conseguiria uma bolsa dessas, né? rss
Haha, não! Nem ele nem quase mais ninguém legal que vc possa imaginar…
O problema é que as cabeças que pensam esses editais e premiações estão cada vez mais preocupadas em evitar possíveis problemas com a arte que financiam do que realmente preocupados em promover obras pungentes. De um modo geral não se relacionam com a literatura como um modo de representação autônomo. Enquanto isso proliferam livros que retratam violência urbana de um modo ingênuo e pseudolibertário pseudotransgressor mas no fundo muito reacionário e previsivel. Esses conseguirão uma infinidade de prêmios e bolsas, e mesmo que façam uma crítica das mazelas sociais fazem dentro dos moldes e dos valores que a sociedade quer preservar, são aquela exceção já prevista, que é preciso acalentar. Romances contra o sistema? se nesse “contra” entrasse também um questionamento da própria linguagem do romance, dos sistemas legitimadores do “bom romance”. não estamos tratando toda literatura como jornalismo literário (nada contra mas é diferente ) preocupados sobretudo com problemas de alinhamento ideológico?
Romances contra o sistema era uma piada com o Netflix, que oferece no cardápio “filmes de luta contra o sistema” 😉
acho que podemos resumir o que a liliana f disse em: quem tem dinheiro pra bancar a bolsa quer saber apenas de literatura que parece sentir saudades da escola realista.
não?
(confirmei o zambra. falta somente descobrir a hora. valeu!)
É isso? Não acho que faria essa leitura. Pelo contrário: quanto menos realista, maior a chance de não esbarrar ostensivamente num desses critérios!
me baseei principalmente neste trecho: “Enquanto isso proliferam livros que retratam violência urbana de um modo ingênuo e pseudolibertário pseudotransgressor mas no fundo muito reacionário e previsivel. Esses conseguirão uma infinidade de prêmios e bolsas, e mesmo que façam uma crítica das mazelas sociais fazem dentro dos moldes e dos valores que a sociedade quer preservar, são aquela exceção já prevista, que é preciso acalentar”.
Simsim, eu tinha perguntado se era isso o que ela tinha dito e argumentado que eu não faria essa leitura dos editais. Se não pode ferir os bons costumes, um livro realista sobre violência teria menos chance que uma metaficção sobre amor, por exemplo. Não acha?
oi!
acho que não necessariamente, pelo justamente o que ela disse, pela exceção “que é preciso acalentar”. acho que as duas histórias ganhariam, pra contrabalançar (embora uma metaficção sobre amor bacana me interessasse bem mais que mais um livro-favela).
não vi o edital também para saber se eles analisam o autor em conjunto com o projeto. por que isso conta bastante, não?
mas queria perguntar mesmo como anda a sua leitura ullysseana. me sinto como um turista, na minha leitura.
Será que vão acalentar exceção, considerando que são restrições definidas nas regras? Sei não. Acho até que muita gente vai evitar o tema pra não correr o risco de perder a chance. Tudo conjecturas, enfim. Sobre Ulysses, empaquei nos 21%: tive de parar para ler os livros ainda não lidos dos autores que estarão na Flip
No deste ano ainda não puseram, mas no último edital, o guia de elaboração do projeto tinha itens como “mensuração dos resultados” Querem que o bolsista contrate um instituto de pesquisa? Pus que submeteria o livro à apreciação de pessoas de notório saber, que é o critério que eles usam para dar a bolsa, afinal. Não ganhei.
Haha, mensuração de resultados é bom
Bem, me parece que livros de terror são vetados nesse edital…
Livros de terror podem, desde que não causem medo
Eu achei vergonhoso. Nem a ABL, que quase por definição é a instituição cultural mais conservadora do país, teria coragem de impor esse tipo de restrição.
Até mesmo o item “a” é despropositado. Já vi essa discussão a respeito de fomento de obras audiovisuais, com críticas a um projeto de documentário financiado com recursos públicos e que seria favorável a um político. Mas e se o cineasta quisesse fazer um filme *contra* aquele mesmo político, mostrando como ele comanda há décadas uma oligarquia? Aí pode? Mesmo considerando que passa a ser uma propaganda para os adversários? Ou simplesmente não pode fazer cinema político? Ou literatura politizada?
Essas regras todas me parecem resultado do medo. Medo de críticas ao resultado, de acusações de favorecimento, ou de uso de dinheiro público para fins políticos ou promover “pornografia”. Na raiz desse medo, sem sombra de dúvida, está a insegurança, típica de um programa que nasce no meio de tanta disputa.
O pior é que provavelmente isso vai resultar no uso de dinheiro público para fins anódinos. Isso é pior do que qualquer pornografia.
PS. Já dá para criar a categoria Romances Sobre Tráfico de Órgãos? Tem o “Alegres e irresponsáveis abacaxis americanos” (1987), do Herbert Daniel, que com certeza não seria aprovado no editarl da Funarte/BN.
É, mesmo a questão da promoção a um candidato ou partido (eles não falam só de política em si) pode causar dúvidas, mas entendo colocarem ali, pq a própria BN viu a revista que leva seu nome entrar numa enorme crise por conta de um texto que criticava abertamente um partido. Daí seria justo eles recusarem um romance que se apresentasse, sei lá, como uma “analogia com a trajetória vitoriosa de Lula”. Sobre a nova categoria de romances, gostei. A gente podia fazer tipo Netflix para catalogar os livros : “Romances contra o sistema”.
“Um romance que caracteriza terrorismo deve explodir na página 36.”
Ou então vir com o nome de Paulo Coelho. 😀
Olha, Bruce, se você visse a quantidade de bomba que é publicada você pedria desculpas a Paulo Coelho 😉
Ih, Raquel, eu também acompanho o mercado, não tão de perto quanto você, mas vou dando minhas olhadelas. Tem uns autores que eu mesmo olho e falo: “cara, deixaram ele escrever mais um? Quem é que lê isso? Gente masoquista?” 😀
Haha, isso =)
oi, raquel!
acho que qualquer literatura, hoje, que não se pretenda somente entretenimento, pode ser considerada terrorista.
penso na passagem em que brás cubas relembra montar no escravo e depois este, alforriado, compra um escravo para açoitá-lo, ou coisa parecida etc. machado de assis nunca conseguiria uma bolsa literária do governo.
dependendo de como se trabalha, tem gente que consegue escrever o que projetou, embora também me parece algo incrível.
(em off: vc lembra quando mesmo o zambra vai naquela livraria em botafogo, pós-flip? esqueci ~)
Agora, nuances como essa do Brás Cubas não estariam no projeto, né? Eu, pessoalmente, gosto de insights que surgem durante o processo criativo, então não ficaria feliz por seguir um projeto pré-estipulado. Isso vale mesmo para reportagens. Até faço um rascunho, mas enquanto vou escrevendo eu lembro inúmeras outras coisas a questionar, apurar e incluir.
Sobre o Zambra, to no cel agora, não consigo checar, sorry, mas, se vc colocar no Google “conteúdo livre” e “depois da flup” acho que vc acha a nota. Era entre terça e quinta pós-Flip
Machado de Assis não teria espaço nesse edital da mesma forma que Jesus não tem espaço na Igreja desde “O Grande Inquisidor”. 😛