Como se escolhe um escritor: a seleção do Sesc para a Bienal
17/07/12 15:53Falando em seleções de escritores (depois da discussão toda que rendeu por aqui, taí a repercussão no post do André Barcinski sobre a Granta), esta que o Sesc prepara para participação na Bienal do Livro de SP superou minhas expectativas.
O mote é interessante, especialmente para quem reclama de panelinhas: atrair para o debate escritores que nunca conseguiram ter um livro publicado.
O método de seleção já achei mais curioso: eles não têm de enviar originais para serem selecionados, e sim preparar um vídeo de até dois minutos “para se apresentar e apresentar sua produção literária, utilizando equipamentos digitais como celulares, tablets, webcams, câmeras fotográficas, filmadoras e laptops”.
Os organizadores dão inclusive uma sugestão de roteiro para quem estiver com bloqueio criativo cinematográfico: “Quem é esse autor, hábitos literários, onde escreve, por que escreve, sobre o que escreve, como escreve, para quem escreve” (nas redes já surgiram sugestões melhores desde que postei isso aqui, mas acho melhor omitir, cof).
Para avaliação dos trabalhos, serão observadas questões como qualidade de som e imagem e originalidade da narrativa na apresentação. Ao autor que só consegue perder a timidez quando escreve, recomenda-se amigos extrovertidos e dedicados, que aceitem apresentá-lo em vídeo. Falo em tom de brincadeira, mas aqui não poderia falar mais a sério: como jornalista de impresso, uma coisa que me desespera é dar a cara a tapa em eventos ou programas de TV. Se dependesse disso para passar numa seleção…
Curioso essa ideia ter partido do Sesc, instituição que tem iniciativas louváveis para abrir portas a novos escritores, como promover concursos de textos inéditos e viabilizar a publicação –o que também dá margem para uns e outros reclamarem de panelinhas, mas aí já entramos na espiral infinita do coro dos descontentes. Se o Sesc quiser falar sobre a iniciativa, a biblioteca aqui está aberta a comentários, é claro.
***
PS.: Via Facebook, Flavia Tebaldi, assessora técnica de literatura no Sesc, comenta: “Então, Raquel, talvez a proposta não tenha ficado muito clara, mas acho a ideia interessante: mostrar que existem –muitos– escritores que têm textos em blogs e pequenas revistas virtuais e que passam absolutamente incólumes pelo mercado literário, que, sabemos bem, nem sempre ou cada vez menos adota como critério de publicação a qualidade da obra. Não é curioso que o Sesc, mesma instituição que mantém há dez anos um prêmio de lançamento de escritores inéditos, apresente essa proposta, seguindo uma política de abrir espaço para os novos?”.
Raquel, não sei se foi só para mim, mas acho que não ficou muito claro a finalidade desse projeto do SESC. Fiquei bem interessada, porque sou escritorinha de caderno meio compulsiva. E já me peguei tentando fazer um roteiro de algo que me enolva envolvendo meus textos.
Ah, e vai haver votação de fora ou a escolha ficará apenas a critério do SESC?
Abs,
Tais
Oi, Tais! Não sei mais do que você a esse respeito, infelizmente, desculpe não poder ajudar. Tudo o que sei está nesse banner que coloquei no post –e nos comentários da Flavia e da Manu.
Absurdo… Digno de pena expor novos autores ao ridículo no youtube. Mais parece seleção para grupo de teatro. Talvez assim fizesse algum sentido. Sabe o que é isso? Preguiça ou falta de tempo de ler. Participei do Prêmio Portugal Telecom, por exemplo, e constatei que os livros são julgados sem serem lido por todos que escolhem os melhores. Impossível haver justiça. Resta o consolo de sabermos que este certame não é compulsório. Submete-se a este vexame quem quer.
Olá, Raquel. Eu sou o moço que você desejou boa sorte. Rs. Li todos os comentários e opiniões. Confesso a todos vocês que nem pensei nisso. É tão difícil ter voz no Brasil quando sua arte é a escrita, que apenas quis fazer o vídeo e colocar no ar. Jamais imaginei que daria essa repercussão toda. E como disse, nem pensei se o critério era justo ou não…Levamos tanta porrada que quando uma oportunidade aparece, tentamos. E é isso que estou fazendo: tentar. Eu escrevo há muito tempo e desejo que as pessoas vejam, mas as editoras nunca abrem as portas. Imagino como foi para os grandes autores de hoje em dia no começo de carreira. Hoje tem muita gente falando e poucas pessoas ouvindo. Gostei da sua matéria, ao mesmo tempo, não crítico o SESC pela iniciativa. Acredito que os novos autores precisam ser incentivados. Isso é um problema no nosso país. Quero muito um dia poder ver novos nomes nas prateleiras…É um sonho.
Oi, Sérgio! Vi que você removeu o vídeo! Foi porque eu linkei aqui? Se sim, desculpe, não quis expor você. =( Linkei como informação, mesmo (ia marcar a busca por “escritores in progress”, mas, como só apareceu o seu, marquei só ele), para as pessoas poderem entender como seriam os vídeos. Vou retirar o link, ok? Sorte pra você, mesmo! beijo.
Depois de ler toda essa discussão acerca da iniciativa do SESC, digo que pouco importa se o autortem de demonstrar seus feitos, suas andanças, suas produções… enfim, se ele é baixo, alto, deficiente, adonis (putz) que bobagem… importa que qualquer autor quer ter a liberdade de falar e se expor… se é uma espécie de BBB literário, pode até ser e daí? Se cada coisa que dê a chance de mais e mais autores aparecerem que mal há? Figurões se metem a escrever e tem um desempenho péssimo. Vendas? Fórmula estúpuda de medir um talento… Não precisa nem explicitar certos autores nacionais que simplesmente fazem enorme sucesso sem muito merecimento, mas o Brasil é sempre rígido demais com os seus…daí
o concurso do sesc é corretíssimo e está de parabéns! ideal para escritores que sonham com entrevistas e palestras (como já há alguns por aí) e que veem no que escrevem o primeiro degrau, o trampolim para o estrelato. os tempos são estes. e, tenho certeza, surgirão coisas brilhantes (nesse ponto, nem eu sei se fui irônico ou não).
Até eu quase perdi a ironia, Pedro 😉
Excelente idéia do SESC que por sinal dá um banho de Cultura a todos que moram em São Paulo, e, no ringue da escrita, com toda certeza, existe uma massa anônima de escritores de excelente calibre, que gostariam de expor um pouco do seu trabalho… adoro ensaios e me aventurei muito pouco na literatura, mas está valendo . Afinal escrever é um ato solitário de grandes extensões…
raquel,
seu blog anda mais animado que a jovem literatura brasileira publicada contemporânea.
(nem sabia que tanta coisa acontecia no facebook e que vc responde também ali! isso porque temos o seu “primo” em comum.)
Haha! É. Mas no Facebook só respondo aos amigos, mesmo quando discordo deles, e me dou o direito de não precisar lidar com os malucos. Embora às vezes eles apareçam de volta, tipo azia, e me acusem de não querer ser amiga virtual deles –a despeito do fato de que eu nem sabia que era amiga virtual deles, haha, preciso selecionar melhor quem me pede amizade no Facebook– só porque eles gostam de armar barracos. Tenho pena, na verdade…
Concordo inteiramente com Gisele Ferreira. Ela não está dizendo que a Flip Poços é melhor do que as outras. Trata-se de um grande e louvável esforço, há sete anos,que dá oportunidade a centenas de crianças, adolescente e interessados em geral, de conhecerem GRATUITAMENTE muitos escritores que jamais conheceriam pessoalmente. A diferença com a Flip Paraty é que lá se paga. A diferença entre os orçamentos é parecida com aquela entre o salário de um executivo e de um trabalhador no Brasil. Coisas nativas típicas…Sim, Paraty traz muitos escritores que igualmente seria dificil conhecermos.Mas infelizmente nao abre as portas para o talento brasileiro. É um evento da indústria cultural, claro, mas há eventos e eventos. O diferencial entre essa feira e muitas outras pelo país- como a de Tocantins, por exemplo, você conhece Raquel? Da qual nunca eu ouviria falar nãoo fosse o ator, dramaturgo e jornalista Oswaldo Mendes, o autor da biografia de Plinio Marcos- Bendito Maldito- contar na rede social.A boa noticia nisso tudo é: “Habemus escritores, e não só consagrados”.
Olha, nem me interessa defender a Flip, que, sim, tem muito dinheiro, embora também dê espaço a autores brasileiros que estão longe de ser best-sellers, como fez nesta edição com gente como André de Leones e Paloma Vidal. Isso para ficar em dois de vários exemplos, e sem considerar a programação paralela, toda gratuita e quase toda de autores nacionais, boa parte nada consagrada.
Mas nem é essa a questão, a Flip tem mesmo muito dinheiro, tanto que com ele fez um trabalho que inspirou até o nome da Flipoços. Só acho curioso vcs falarem como se a Flipoços merecesse mais destaque que todas as outras 200 feiras literárias que correm atrás do mesmo jeito. Sim, já ouvi falar na festa literária de Tocantins, e também na Flica, na Fliporto, na Flipiri, na Flist, na Flimar, na Felit, na Festpoá, na Flupp (uma coisa linda, nas favelas do Rio, vocês precisam ver), na Flap, no Forum das Letras e por aí vai. Como falei, acho admirável o esforço da Flipoços, mas do jeito que vocês falam fica parecendo que ela é mais que todas as outras feiras. Você diz que concorda inteiramente com a Gisele, Elizabeth, sem responder aos pontos que levanto.
A questão é que o mérito não se mede pela cobertura da grande imprensa, que, repito, nunca daria conta de cobrir os mais de 200 festivais literários anuais que existem no Brasil. O mérito se mede pelo bem que faz à população. Isso eu tenho certeza de que vocês sabem. A cobertura que alguns eventos recebem não deveria ser visto com desdém por organizadores de outros eventos, e sim como incentivo para continuar fazendo um bom trabalho. É literatura, sabe, é a divulgação de literatura. O Cristovão Tezza escreveu um belo texto sobre isso na coluna dele em Curitiba. Acho realmente uma pena que entre algum viés de competição nesse tipo de debate, quando a ideia deveria ser celebrar a divulgação da literatura como um todo.
Isso porque ainda não entramos no mérito de quem acha a ideia de festa literária em si, como um todo, uma grande bobagem –porque, acreditem, há quem pense assim.
Em nenhum momento falei que o flipoços, seja melhor que qualquer outro. Que isso? Sei do caminho que estamos percorrendo e humildade para reconhecer nosso lugar. Talvez você não tenha interpretado direito. Não falei mal de nenhum festival, imagina, que isso. O dia que você vier conhecer nosso Festival, você pode ter sua própria opinião. O mérito dela é exatamente o que vc disse: o bem que ela traz para esta população local e regional, que é imensurável. Como boa filha, respeito muito a mãe de todas. E as suas outras filhas também…
Mas, sério, Gisele, você reclama de “pouco enxergados”. Você já tentou se colocar do outro lado? De ser imprensa num país com centenas de eventos literários, vários deles concomitantes? Como dar espaço a tudo? É uma cobrança descabida. É como o aspirante a escritor que diz que a imprensa só dá espaço para quem já foi publicado. Mas é culpa da imprensa que exista tanta gente querendo escrever? Qual seria a solução, fazer sorteios? É claro que tenho vontade de conhecer a Flipoços, como já conheci vários desses eventos que citei no outro comentário, mas é de fato uma acusação descabida a de que a imprensa não quer enxergar. A imprensa não dá conta, ponto!
Raquel, sou jornalista há muito, mas muito mais tempo do que você, passei pelo seu veiculo, o do concorrente e outros, e pela sua resposta, me parece que você não entende os meandros desta profissão ainda. Aqui não se fala de desdém, mas de foco na cobertura. Nunca vi na chamada agrande imprensa qualquer matéria sobre a Feira de Tocantins.Não rende, certo? Mas acima da indústria cultural existe o dever que a imprensa já cumpriu exemplarmente — por exemplo no Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo, de 1956 a 1974, criado por Antonio Candido e editado por Decio de Almeida Prado- de, sim, levar o livro e as Artes ao entendimento do grande público. É literatura, claro, que seja louvada, mas qual literatura? Há eventos e eventos, uns representam grandes interesses econômicos e, por tabela, se refletem na mídia. Esta é uma lição inicial do jornalismo que se preza.Mas a vida, toda ela, incluindo a Cultura, não se resume apenas a compra e venda. Um abraço
Elizabeth, você continua sem responder aos pontos que levanto, mas tudo bem. Talvez você não tenha visto a enorme matéria que a Folha fez neste fim de semana sobre a Flupp, os eventos nas favelas do Rio, porque você prefere usar como exemplo um único evento que ocorreu a você.
Deve ser assim que é feito o seu bom jornalismo, do qual você entende tanto. Acho uma pena que, mais uma vez, para defender seu ponto de vista, você esteja fazendo uma acusação leviana –deduzir que não entendo dos meandros da profissão e usar a sua idade como argumento para explicar que você entende, bem, isso diz muito mesmo sobre você.
Mas continuarei aceitando seus comentários, como faço com todos os leitores, fique tranquila, só acho que não vale a pena eu continuar respondendo se você prefere partir para acusações levianas a debater argumentos, como a boa jornalista que pensa ser.
Nao fui deselegante com você, não vou replicar. Continue com o bom jornalismo que você imagina exercer.
Senhoritas, sou jornalista há muito, mas muito mais tempo que vocês duas juntas e entendo que a jovem Raquel não foi em nenhum momento deselegante e tampouco que a referida experiência tenha valia de espetacularização em uma discussão tão simplória.
Entendo por este debate um disvirtuamento das questões literárias que apenas visa apenas assegurar uma posição política (e nisto também tenho uma experiência bem maior do que os citados). E, sinceramente, ao se misturar literatura e política, somente o meu caro Machado de Assis teve certo louvor em suas palavras.
Ruy, você não é aquele d’O Maior Brasileiro de Todos os Tempos? 😉
Como assim não foi deselegante?
Deixa pra lá, Marcelo. Ela começou a me criticar no Facebook, é direito dela, e recorri ao meu humilde direito de não precisar ler as agressões, sem ofender ninguém, simplesmente me “retirando da sala”. É aquela velha história: se você entrou numa briga na internet, você já perdeu =)
Raquel, admiro quando as pessoas conseguem debater ideias de forma inteligente, sem utilizarem o anonimato da Internet para atacarem as pessoas de forma pessoal e sem educação. Já discordei de você em um post anterior e nem por isso você me respondeu com falta de educação.
Olha, podem me acusar de tudo neste mundo (e acusam, haha), mas de fato ninguém pode me acusar de não conversar com quem comenta aqui sempre que isso é possível, até porque não sou melhor que ninguém (a Malu, do Sesc, aliás, deu uma boa resposta à questão central deste post, respeitei). Tem um leitor, o Cesar (oi, Cesar), que adora tirar sarro quando uso anglicismos (tipo “pôsteres” em vez de “cartazes”, o que é bem menos grave que o “anyway” que eu tasquei aqui uns posts atrás rs). Nem percebo, nem acho ruim, deve ser um erro meu, mas estou aqui para lidar com isso. Mas há momentos em que é melhor calar para não dar margem a uma discussão que só se pretende agressiva.
Não querendo ser chato, Sra. Lorenzotti, mas o tom da sua resposta (“sou jornalista há muito, mas muito mais tempo do que você”, “me parece que você não entende os meandros desta profissão ainda”) dá a entender que sim, que a senhora foi deselegante e resolveu defender seu argumento apelando pro seu tempo de profissão. A discussão começou por conta dos lamentos da Gisele Ferreira sobre a Flipoços – aliás, um evento muito importante. Contudo, ao mesmo tempo em que ela reclama da falta de exposição sobre a Flipoços há um ataque logo em seguida à exposição enorme que a Flip tem. Digo que isso não é algo que se espera de damas e cavalheiros – noutros tempos teríamos um duelo com floretes. A senhora, como jornalista, não pode jogar em cima dela apenas a falta de visibilidade dada pelo jornal a quaisquer outros eventos e festivais culturais. E a senhora, novamente, como jornalista, sabe que ela tem que defender seus empregadores, do contrário… Ou você acha que um Luiz Schwarcz iria, por exemplo, falar mal dos diagramadores da Cia das Letras? A senhora foi deselegante por dois motivos: 1º) o tom inicial do seu comentário, como demonstrado acima; e 2º) quis colocar a autora do blog numa “sinuca de bico” desnecessária. Um abraço. 😀
Nisso tudo, digo só que entendo e respeito a Gisele defender a Flipoços, e que eu mesma, convidada por ela a ir ao evento, lamentei não poder ir na ocasião =)
é isso aí pessoal, tem espaço para todo mundo. Para uns mais para outros menos e assim caminha a humanidade…vamos dar um rumo bäo pra essa prosa?? que tal todos virem para o Flipoços em 2013?? assim cada um pode falar da experiência que teve aqui. que tal?? garanto que vai ser bão demais da conta, sô.
Pretendo ir, sim, Gisele, como já fui a vários outros do gênero pelo país (lembrei agora da Flica, que vi “nascer” na Bahia, no ano passado, feito por uma galera jovem, cheia de vontade de fazer algo diferente para o público local, uma coisa que deu gosto de ver). Quem sabe ano que vem. 😉 Sempre lembrando que bem mais importante que espaço na mídia do eixo Rio-SP é o resultado para quem tem a oportunidade de frequentar!
Raquel, você se diz tímida. Não poderia fazer o vídeo, é verdade. Mas autores como Chacal, Waly Salomão, Bicelli e Piva, entre outros, dão aos seus textos, durante a leitura, um caráter diferencial brilhante. Aberturas no texto que muitas vezes passam despercebidas numa leitura privada.
A proposta do SESC me parece bem vinda porque está antenada com uma tradição vinda lá dos gregos, dadaístas, surrealistas, depois encampada pelos beats: as leituras, a interação entre artista e obra. Agora interagindo com as recentes tecnologias.
Nessa sua toada, a arte teria dispensado o auxílio luxuoso de Duchamp e não teríamos hoje Olafur, Peter Greenaway, entre tantos outros artistas indispensáveis à leitura do nosso vasto mundo contemporâneo.
Tudo bem, Raquel, alguém é tímido e não poderá participar. Por isso deixaremos de ouvir as vozes dos outros?
Aaah, Malu, você está especulando meu conceito de arte a partir da minha opinião sobre a seleção de um escritor, não vale! rs
Mas vamos lá, sem mudar o contexto, ainda dentro da sua argumentação: se eles sugerissem a leitura dos textos como método de seleção, em vez de uma apresentação que leva em conta a qualidade do som e da imagem durante uma apresentação de quem é o escritor, poderia ser uma saída. A poesia nasceu falada, cantada, antes de ser escrita, isso todo mundo sabe. Mas não é de leitura de textos que eles estão falando.
De todo modo, o inovador da geração Chacal, Waly e cia foi justamente dar uma banana para o mercado, e a seleção para falar na Bienal trata justamente só do mercado. Então acho admirável, mesmo, sem ironia, você ver um potencial transgressor aí. Já mostra que a questão vale mesmo debate 😉
Na verdade, Raquel, minha manifestação é em caráter pessoal, porém, não sou uma pessoa neutra neste comentário. Sou editora de conteúdo do Portal SESCSP, o qual está promovendo esta atividade.
Portanto, não tenho dúvida quanto a dimensão transgressora da iniciativa do SESC. Num mundo dominado por ‘panelinhas’, dar oportunidade de expressão a escritores (tímidos e não-tímidos) que estão espalhados por todo Brasil, sem a mais remota chance de ter acesso as alavancas que movimentam a rede literária neste país é, por si só, transgressor.
Você está considerando apenas um critério de avaliação, entre os seis que estão no Regulamento. O que vai legitimar o desejo de reconhecimento dos autores participantes, certamente, será a qualidade de sua produção, que se não estiver explícita no vídeo será avaliada por meio do texto.
Você tem toda razão, quando diz que o assunto vale debate, mas exige também ação, como esta do SESC.
Olha, essa coisa do texto entrar como critério central de avaliação realmente não tinha ficado claro para mim, mas, se você que participa da organização diz que tem, quem sou eu para desdizer 😉
(Senão fica igual uma briga de louco que tive esses dias no Facebook, eu tentando convencer um escritor de que falei tal coisa só de brincadeira, ele tentando me convencer de que não pareceu isso rs).
Enfim: combinei de falar com a Flavia sobre isso. Bem, deixei claro no post, acho polêmico, mas quem sabe não pode vir um debate bom daí.
Mas confesso que essa discussão de panelinhas vem me cansando um pouco. Para você ter noção, andam acusando Prêmio Sesc de fomentar panelinhas por ter escolhido por dois anos livros de uma ex-aluna de um dos jurados. Isso porque, soube só depois, os textos são avaliados sem que se saiba quem é o autor…
A ideia parece interessante, embora eu fique em dúvida com relação a como seria realizada a avaliação dos originais. Pelo menos parece funcionar melhor que a Granta [:D] – tá bom, parei, kkk.
PS: Pego “História do Pranto” na banca pela manhã e encontro quem na contra-capa? Quem? Quem? 😀
putz. não sei sapatear e nem a capacidade da câmera do celular.
e agora?
é bom saber que eles levam em consideração a qualidade do som e da imagem. pense os jurados ouvindo somente ruídos e rabiscos, mesmo que isso tivesse uma intenção poética. seria uma perda de tempo.
Haha, é vero.
Raquel mesmo assim, acho que as inciativas mais “pobrinhas” mas com um “puta”conteúdo ainda são pouco enxergados. Como você deve ter lido e sabido, trabalhamos com um orçamento de 250 mil e fizemos um evento memorável, com 120 convidados (vários com cachês pagáveis, é claro, e alguns, “grandes” sem cachês) e contribuímos com inúmeras pessoas no acesso a livros, autores e muitas atrações culturais que estas pessoas não teriam se não fosse esta oportunidade. Mas isto não tem peso. O que vale são os fashions. Adonis pode ser uma exceção…
Ah, Gisele, acho estranho organizadores de eventos falarem mal uns dos outros, ainda mais do evento cujos formato e nome inspiraram quase todos os outros. Há mais de 200 eventos do gênero hoje no país, muitos muito bons, e alguns inclusive se destacaram sem grandes “estrelas” internacionais, como o Forum das Letras, a Tarrafa Literária e Passo Fundo (que é anterior à Flip e tem um modelo louvável de inserção de estudantes nos debates sobre os livros). O importante é fazer o melhor possível pensando no leitor, não em espaço na grande imprensa, e alguns acabarão conseguindo esse espaço. Basicamente, é isso: há muita gente fazendo muita coisa boa e também com orçamentos apertados, mas o mérito de uns não diminui o dos outros –dos eventos menores que cobri, aliás, todos conseguiram bom destaque na mídia local. Acho lindo o esforço de eventos como a Flipoços, mas você sabe que há mais de 200 eventos do gênero no país, não? Vc acha que a Flipoços é melhor que outros que vc mesma não conhece? E que a grande imprensa daria conta de cobrir todos? Não temos nem repórteres para dar conta disso…
Em vez dessa alternativa midiática, que faz perpetuar a ideia de que a figura do escritor é mais importante que sua obra, eu ficaria contente se, ao participar de um concurso literário grande, feito Prêmio Sesc de Literatura, feito Granta, etc, os críticos fizessem apontamentos técnicos acerca do porquê a obra que eu encaminhei foi recusada. Não seria mais prático? Se eu sei dos erros que cometo e que fazem minha produção não ser engenhosa, procurarei melhorar para um próximo concurso ou mesmo para enxergar a prática do texto literário de uma outra maneira. Agora o órgão faz uma proposta dessa: não há análise da qualidade literária e o que tiver mais desenvoltura defronte às câmeras é o escolhido. Mas não quero aqui ficar como o rabugento da história, como há muitos nessas caixas de comentários do blog da Raquel: parece que somos um bando de ressentidos porque não somos escolhidos por grandes prêmios ou porque medida nenhuma promovida para divulgação da literatura nos é suficiente. Mas confesso que está difícil; primeiro o melhor romance do Prêmio Sesc de Literatura do último ano tem como vencedora uma das alunas de um dos jurados, agora, aos moldes de um Big Brother Literário, sairá vencedor o escritor mais dado às artes cinematográficas: fico imaginando um dos vídeos, em que um aspirante a escritor levanta pesos com o peitoral de fora (a fim de exibir o corpanzil), numa mão eleva o Ulysses, no outro o 2666…
Oi, Bartolomeu, vc é educado, não se preocupe em parecer ressentido. Acho que perde a razão só quem apela para a grosseria. Sobre o prêmio Sesc, ouvi dizer (via Sergio Leo, esse homem bem informado, num comentário abaixo) que a seleção é feita às cegas, digo, sem que se saiba o nome do autor. Se for verdade, você e outros devem desculpas ao Sesc e à pobre da Luisa, tão atacada. Se não for verdade, ainda assim, custo a acreditar que o Sesc queimaria o bom nome de seu prêmio para beneficiar uma única aluna de um único jurado…
Oi, Raquel. Só para esclarecer, eu fui um dos criadores do Prêmio Sesc de Literatura, que é feito pelo Sesc Nacional, diferente dessa proposta do post, que é do Sesc SP. Os textos são protegidos por pseudônimo e a composição da comissão é divulgada só depois do resultado, para evitar qualquer tipo de influência, sem falar que os originais passam por subcomissões em diferentes estados. A ideia era justamente pegar um autor inédito (em conto ou romance) apenas pela qualidade do texto e publicar numa editora grande. O caso da Luisa foi o fato de a qualidade dela ter passado nessa peneira duas vezes. E até me surpreendeu ela se inscrever de novo, pois a Record costuma publicar os segundos livros dos vencedores. Bem, coordenei o projeto até 2009 e foi bem legal dar esse primeiro empurrão na carreira literária de vários autores, como o André de Leones, a Lucia Bettencourt e o próprio Sergio Leo. Beijão.
Obrigada pelo esclarecimento, Henrique. Quando voltar ao assunto prêmios, deixarei claro esse detalhe dos pseudônimos. Acho realmente triste que escritores não selecionados inventem histórias a respeito do Prêmio Sesc.
Acho a idéia de lançar novos escritores, maravilhosa! É o que temos procurado fazer aqui no Flipoços (Festival Literário de Poços de Caldas). Mas a forma como o Sesc colocou que pode ter sido infeliz. Ocorre que somente alguns festivais literários, por serem muito midiáticos é que são vistos. Infelizmente. Nós trouxemos o Veríssimo e Zuenir aqui em Poços por exemplo, em abril, e não tiveram a mesma repercussão como tiveram agora na Flip. Nada contra, acho a Flip a mãe de todos os festivais que vieram na sequência, temos que respeitá-la. Mas vamos combinar né, existem “Vidas pensantes” fora da Flip. Aqui fora mesmo, fora deste mundinho “fashion flip”, dentro do nosso País, estamos cheios de mentes maravilhosas e escritores sedentes por oportunidades. Queremos mesmo tornar nosso País em terra de leitores, ou queremos apenas flashes, purpurina e convetes?? Louvada a iniciativa do Sesc para a Bienal de SP (só que de outra forma). Louvada a iniciativa nossa no Flipoços (queremos sempre descobrir novos valores sulfurosos e não sulfurosos). Louvada a iniciativa da Flip em trazer escritores estrangeiros (porque alguém tem que manter o lado fashion da literatura, mesmo que fulgáz…)
Gisele, acho louvável mesmo iniciativas como a Flipoços, é claro. E acho importante a Flip apresentar escritores ao Brasil, como aconteceu, só para ficar em alguns exemplos, com valter hugo mãe, José Eduardo Agualusa, e mesmo agora o poeta Adonis, que era totalmente desconhecido por aqui, e não chamaria Adonis de fashion 😉
Acho que eles querem saber se o escritor tem desenvoltura para se sair bem durante o evento, com toda a “pressão” de falar com gente assistindo e filmando. É uma seleção de escritores, mas eles não estão sendo selecionados para escrever, e sim falar em publico. Eu vou participar. Abraços.
Oi, Thiago, boa sorte! Só espero que não comecem a fazer esse tipo de processo seletivo para eventos literários, porque já é difícil para bons escritores falar em público, que dirá se souberem que podem ser eliminados na “competição” com outros mais desinibidos, mesmo que não sejam tão bons! 😉
“serão observadas questões como qualidade de som e imagem e originalidade da narrativa na apresentação”
Putas que os pariu!! Vão se foder!! Isso é uma seleção de escritores ou de candidatos ao Big Brother???
E se o cara for um escritor solitário. tá ferrado.
Alguém no Facebook deu a sugestão de um vídeo com o texto correndo na tela. Só precisa saber fazer vídeo 😉
Caraca…a explicação da tal assessora técnica só piorou…
Concordo com a parte sobre que o Sesc incentiva jovens escritores de outras maneiras, como já tinha citado no post. Eles em geral são bons nisso. Sobre o resto, conversarei com ela =)
Que coisa estranha essa forma de avaliação. Salinger, Rubem Fonseca, Veríssimo, etc. teriam alguma chance de serem escolhidos? A seleção é para a Bienal do Livro ou para o Big Brother?
Eu não vi foi vantagem. Quem realmente gosta de escrever não quer aparecer, quer ser lido. Se eu publicar e for lida por cem pessoas que amem meu trabalho, já seria uma pessoa realizada. Agora, se vou ser eterna ou aparecer num video da bienal, na flip ou no programa do jô, ou numa lista idiota – sorry, esta história da granta é uma bobagem – FODA-SE! Acho que esse edital aí é uma armadilha pra pegar pseudos. Eu não escolho meus escritores por círculos nem publicidade. Porque não escolho escritores, os livros que me acham! Se pelo menos pagassem passagem, estadia e alimentação, até valia a pena. rsrsrsrsrs. Era passeio de graça pelo menos.
Esta foi a ideia mais estúpida que eu já vi até hoje. Que tal fazer um concurso de banda e pedir para que os integrantes mandem desenhos?
Olá, Raquel,
Penso que a recepção a esta ideia foi muito dura: dura demais, quero dizer.
Claro que o que importa num evento literário é a qualidade do texto, etc etc etc. Autores, editoras, vendagem e afins (deveriam ir) vão ao segundo plano.
Portanto, justificar presenças de, por exemplo, Michel Laub e Daniel Galera, é muito fácil: dois textos excelentes, prêmios milhares, grande editora. É claro que esses caras merecem estar na Bienal de SP, nos Escritores na Biblioteca em Curitiba, na FLIP, em Bogotá, em Buenos Aires, em Frankfurt se for o caso.
Agora, por que descabelar uma ideia (que pode não ter sido a melhor, ué) que deve render vozes diferentes das estabelecidas no meio literário?
Ao invés disso, podemos melhorar a ideia do SESC, como (obviamente) pedir aos inscritos textos, e com um mínimo de boa vontade, incluir esses textos no processo de seleção.
Todo mundo falou que a Granta (ou qualquer outra antologia, vai) obedecia a vários critérios pré estabelecidos, com muita razão. Por que, agora, quando uma instituição resolve mudar os critérios pré estabelecidos, há toda uma chiadeira do “lado contrário”?
Um grande abraço.
Aliás, ali no item 8, letra d, já está prevista a análise de originais.
Melhor ainda.
Guilherme, lá diz que “poderá vir a ser”, não que isso é critério obrigatório…
Basicamente porque não são textos o que entra em consideração para a seleção. Sou sempre a favor de uma opinião dissonante como a sua, Guilherme =). Mas o que vc sugere não é “melhorar” a ideia do Sesc, é mudar a ideia do Sesc! O mote, como falei, é interessante, especialmente para quem reclama das panelinhas. Acho ótimo abrir portas como o Sesc costuma fazer, inclusive promovendo concursos (aliás, vou acrescentar isso no post), mas não vejo mesmo como elogiar um concurso que leva em consideração videos para selecionar escritores…
Haha. Imagino como seria se o Dalton Trevisan e o Rubem Fonseca estivessem começando hoje.
O Rubem ainda é safo, fico imaginando o Rubens Figueiredo, aquele autor incrível, escondendo o rosto nas mãos.
Gente, o Rubens Figueiredo é um fofo, não é? Ontem deu show aqui na biblioteca pública, num papo que rolou…
Acho que ele é um fofo involuntário =)
Pior é que tem que fazer o vídeo e ainda postar aberto no YouTube. Nunca vi um concurso com potencial de trollagem tão grande embutido no regulamento.
rere.
Haha, só não pode ser tímido (a Malu, do Sesc, explica nos comentários que o texto entra em consideração também)