Sobre a organização da Bienal do Livro de SP: réplica e tréplica
04/08/12 09:53Hoje saiu no Painel do Leitor a resposta da Câmara Brasileira do Livro às notas sobre o evento publicadas no Painel das Letras do sábado passado, dia 28.
Como a carta deles acusa informações “não verdadeiras” na coluna, seguem abaixo as notas publicadas, a íntegra da resposta deles (que precisou ser resumida para publicação no jornal impresso) e a íntegra da minha tréplica (idem).
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O dinheiro da Bienal 1 A pergunta que editores vêm se fazendo é: o que houve com o dinheiro da Bienal do Livro de São Paulo, que começa no dia 9? Além de o evento ter recebido autorização para captar R$ 7,9 milhões via Rouanet, com os Correios e a Volkswagen entre os patrocinadores, o preço cobrado das editoras pelo metro quadrado dos estandes teve o maior aumento das últimas três edições. Subiu de R$ 393 em 2010 para R$ 470 em 2012, um aumento de 19,59%, enquanto a inflação no período, medida pelo IPCA, foi de 12,78%.
O dinheiro da Bienal 2 Os autores internacionais vêm quase todos por iniciativa das editoras, tendo sido depois incluídos na programação oficial, o que prejudica o conceito de curadoria. Não foi oferecido cachê nem a mediadores –que, ao contrário dos autores, não estarão lá para divulgar seus livros.
O dinheiro da Bienal 3 A Câmara Brasileira dos Livros, que organiza o evento, chegou a sugerir a editoras que pagassem pela vinda de jornalistas de outros Estados, que então passariam 40 minutos no estande de cada pagante. A CBL informa que não falta dinheiro, embora tenha dito o contrário a editores.
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A carta da CBL:
“Em respeito aos leitores do jornal Folha de S. Paulo, importante esclarecer algumas informações não verdadeiras, veiculadas na coluna “Painel das Letras” do último dia 28 de julho, sobre a 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
1. Apesar de autorizada a levantar até R$ 7,9 milhões por meio da Lei Rouanet, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) captou, até o momento, apenas R$ 2,1 milhões com patrocinadores que se interessaram pelo evento. Tais valores serão oficializados ao término da Bienal, por ocasião da prestação de contas. Importante lembrar que esse balanço será analisado pelo Conselho Fiscal da CBL, pela auditoria externa e deverá ser aprovado em Assembleia Geral dos Associados, antes de ser encaminhado às autoridades responsáveis.
2. A 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo coloca como prioritária a satisfação dos mais de 800 mil visitantes previstos para o evento. Com base em pesquisas realizadas com o público na edição passada, constatou-se que, para que este objetivo seja alcançado, seriam necessárias mais opções de transportes e ampliação da infraestrutura. A elevação no valor do m2 cobrado dos expositores reflete melhorias como o aumento do número de estações de Metro com transporte gratuito para o Anhembi (serão dois terminais em 2012, contra um em 2010), a duplicação do número de bilheterias e da área da praça de alimentação, mais horas de programação cultural etc.
3. A coluna se equivoca em relação aos objetivos da Bienal. Ela existe para valorizar e divulgar o trabalho da cadeia produtiva do setor editorial brasileiro, e representa uma grande oportunidade para todos os profissionais envolvidos na produção literária que, em sua esmagadora maioria, não pauta sua participação ou colaboração com o evento por interesses comerciais como o pagamento de cachês.
4. A Bienal do Livro entende que a cobertura do evento deve ser uma iniciativa espontânea, independente e de livre decisão dos veículos de comunicação, conforme os preceitos básicos da liberdade de imprensa. Assim, não haveria qualquer justificativa para custear a vinda de jornalistas de outros estados. Esse tipo de proposta foi rechaçada pela diretoria da CBL nas reuniões preparatórias do evento.
Cabe, ainda, lembrar que essas mesas informações já haviam sido publicadas na mesma coluna e, à época, respondidas pela CBL.
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Minha resposta à CBL:
“A coluna questionou a CBL, em diferentes ocasiões, sobre possíveis dificuldades na captação de dinheiro e sobre a falta de dinheiro para o evento, recebendo sempre resposta negativa. A nota não informa que a Bienal do Livro captou R$ 7,9 milhões, apenas que foi autorizada a captar esse valor.
A coluna não se equivoca quanto aos objetivos da Bienal, a partir do momento em que nem aborda esses objetivos. Sobre cachê, foram ouvidos profissionais que se sentiram ofendidos com o convite para trabalhar de graça –já que, ao contrário de escritores, os mediadores não vão ao evento para divulgar seus livros.
Sobre o pagamento para a vinda a São Paulo de jornalistas de outros Estados, a coluna em nenhum momento diz que a Bienal deveria pagar por isso, e a CBL não diz a verdade quando afirma que a proposta de custear de algum modo a vinda de jornalistas de outros Estados foi ‘rechaçada pela diretoria’.
A coluna apenas informa que a Bienal sugeriu às editoras que pagassem pela vinda de jornalistas em troca de 40 minutos deles em seus estandes, ideia que vai totalmente contra a liberdade de imprensa.
As informações constantes das notas do dia 28/7 não são as mesmas publicadas anteriormente pela coluna, apenas se somaram a elas. Por fim, não há nenhuma informação não verdadeira nas notas publicadas, ao contrário do que afirma a CBL, que não desmentiu nenhuma delas.”
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Atualização: neste domingo, a Folha publicou texto de Raul Wassermann, editor da Summus e ex-presidente da CBL, sob o título “Bienal: a conta não fecha”. Diz ele: “Os números continuam sendo manipulados para sensibilizar a mídia. As declarações finais são sempre as mesmas, louvando a superação de todas as metas. Quem sai no prejuízo fica no silêncio, envergonhado. Repito o que já disse há dois anos: por que não assumir que a fórmula está desgastada?”
E, no Veja Meus Livros, a editora Maria Carolina Maia escreve: Mais para feirão do que para inspiração de debates culturais, a Bienal do Livro de São Paulo ganha em 2012 uma de suas edições mais fracas em conteúdo.
Por fim, nesta terça-feira, o especialista em mercado editorial Felipe Lindoso constata sintomas problemáticos no modelo da feira desde o início deste século.
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Agora vamos falar de coisa boa (a/c Kaz e Furlaneto): no Painel das Letras desta semana, o novo escritório da centenária editora espanhola Gustavo Gili em São Paulo; o novo conselho da Imprensa Oficial; movimentações recentes no mercado; os “blurbs” de Franzen sobre Chico para as edições em língua inglesa de “Leite Derramado” e mais.
Eu acho que depois das livrarias na Internet, só mesmo descontos significativos justificariam ir a Bienal. Nunca fui na de SP, mas na do Rio, eu fui em várias edições e nunca vi livro barato. E até para quem gosta de folhear, uma visita aquela Livraria Cultura não é muito melhor?
Dizem que a do Rio é charmosa, mas as lembranças maiores que tenho dela são as horas no busão…
Essa daí só briga…
Essa daí sou eu? Devo só afagar, então? Xi.
agora vamos falar de coisa boa: cof.
raquel!
resolvi me inscrever no concurso do sesc, o do vídeo!
vou deixar aqui o link da votação: http://www.sescsp.org.br/sescnabienaldolivro/
link direto:
http://www.mostrasescdeartes.org.br/bienaldolivro/index.php?area=escritores&id=49
O meu interesse nas Bienais de Rio Preto, por não serem muito estimulantes intelectualmente, sempre foi em conseguir uns livros mais baratos, o que nem sempre é possível. Sou amigo dos donos do principal sebo da cidade, que participou de uma das Bienais. Disseram que o preço do estande é absurdo e nunca mais participaram. A minha impressão, sem prova nenhuma, é a de que alguma coisa estranho ocorre sim. Os autores sempre são obscuros, os estandes desinteressantes, parecendo que os sujeitos conseguiram os livros em alguma ponta de estoque e resolveram lucrar durante um final de semana (vários livros esgotados em estado de novo). A Prefeitura costuma oferecer umas excursões para as escolas de Ciclo I e um vale-livro-infantil ou coisa parecida. Os escritores mesmo ficam às moscas – lembro de uma palestra do Daniel Piza em que dava para perceber o coitado se perguntando o que diabos estava fazendo ali. Tirando a matação de aula institucionalizada, o negócio só engrena com as estrelas-escritoras. Não sei como funciona os lucros para todos os envolvidos. Os meus amigos do sebo perderam dinheiro. Lógico que a imprensa local faz aquelas matérias bem lugar comum sobre a importância da leitura, mas nada além. Entendo, mas muito pouco, dessas questões financeiras. Sou professor coordenador em uma Diretoria de Ensino e vejo as inúmeras normas que temos que respeitar, até para comprar lanches quando vamos capacitar professores. E você está certa, a CBL não desmentiu nada do que você publicou; resposta estranha.
Mais que estranha, é mentirosa. A CBL mente ao falar em informações “não verdadeiras”. Eles apenas tentam justificar informações que preferiam não ver publicadas.
Posso descobrir, pois creio que ocorrerá nesse ano.
Vou dar uma olhada tb e te digo. Poucas empresas agregam as grandes bienais, caso da Fagga (Rio, BH, Salvador, Manaus) e da Reed (São Paulo, não tenho certeza de outros, sei que fazem muitos eventos em outras áreas). Acompanho isso pq eles sempre aparecem no Diário Oficial, tem autorização para captar via Lei Rouanet etc. Isso merece atenção, embora, pela forma como a CBL me deu respostas desde que comecei a questioná-los, eu fique com a impressão de que estou mexendo em terreno que eles preferiam que continuasse sem chamar a atenção.
Vocês precisavam conhecer a Bienal de São José do Rio Preto, cidade em que moro. O último escritor de renome que pintou por aqui foi o Moacyr Scliar, se não me engano. Como a grana toda vai para estrelas-escritores, como Gabriel, o Pensador, não sobra espaço para convidar um Hatoum, um Mutarelli ou Laub. Internacionais então…
Que triste. Não conheço a bienal daí, você sabe qual empresa organiza?
Impressão minha ou a Bienal tá desestimulante este ano?
Ô!