Um país de poetas nos tempos da autopublicação
23/01/13 14:08Não sei quem comentou ou se a frase sequer tem dono: se todo mundo que escreve poesia comprasse poesia, não ia dar outra coisa nas listas de mais vendidos. Tem seu exagero, mas a lista temática de livros publicados no Clube dos Autores, plataforma brasileira para autopublicação de escritores, corrobora a parte em que somos um país de poetas.
A poesia é o terceiro gênero mais publicado (2.050 títulos) por autores independentes desde a criação do site, em maio de 2009. Ou talvez seja o segundo, não está claro: em primeiro vem literatura, com 2.941 obras. Em segundo, ficção, com 2.435. Esta poderia se referir a algo como ficção científica, mas, para quem cadastra seus livros, pode muito bem significar literatura em geral (há livros cadastrados em ambos, por via das dúvidas).
Isso é uma digressão para ajudar a mensurar a autopublicação no Brasil, tema de reportagem que publiquei no sábado na Ilustrada. Porque é mais simples usar como referência exemplos bem-sucedidos estrangeiros, como E.L. James e Amanda Hocking, do que prestar atenção no tamanho da demanda brasileira por um espaço na prateleira –virtual, que seja.
Ficando ainda no Clube dos Autores, o maior site de autopublicação do país. Em menos de quatro anos, o site teve publicadas pelos escritores (sem necessariamente a interferência de editor, revisor ou diagramador) quase 21 mil obras. Dessas, só no último ano foram 10 mil títulos. Somadas, as dez editoras que mais publicaram livros em 2012 não chegaram a 5.000 títulos, considerando que a casa que mais livros coloca no mercado, a Record, lançou 600 no período.
Outro lado dessa história diz respeito ao leitor. Dos mais vendidos do site, só três chegaram à casa dos quatro dígitos –a grande maioria é impressa, embora também saiam edições em e-book. Apesar de literatura e poesia liderarem em publicações, o “best-seller” é um estudo sobre o transtorno de bordeline, “Sensibilidade à Flor da Pele”, de Helena Polak, com 1.500 cópias em três anos. No geral, as vendas não passam das dezenas de unidades –para familiares e amigos, o que muitas vezes é o que basta para os autores–, segundo os criadores do Clube dos Autores e dos mais recentes PerSe e Buqui.
Fala-se muito do fenômeno da autopublicação, do fim iminente das editoras, mas, no Brasil, escritores autopublicados só ultrapassaram as dezenas de milhares de livros vendidos após serem descobertos por editoras à moda antiga. Pessoalmente –sem nem levar em conta as grandes vendas, algo que a literatura mal conhece–, defendo que todo autor precisa de um editor. Nada melhor para um texto que uma leitura e umas tesouradas de quem entende.
Mas esse formato mais recente, que independe de pagamento do autor, é lindo. Publica quem quer, lê quem quer, ninguém gasta tanto papel. O autor pode publicar sem ajuda de ninguém ou pode contratar serviços de edição e revisão. Aprende (ou não) a divulgar o próprio livro, porque ficar só lamentando não está com nada. Só não custa ter em vista que muito do que se publica no país jamais será lido. Os livros de poesia do começo deste texto que o digam.
Particularmente tenho gostado dessa aqui: http://www.xinxii.com//pt
Não cobram, são novos no Brasil e distribuem para Amazon, Kobo e iBookstore, o que tem me ajudado muito! 😉
Opa, portuguesa! Tem a da LeYa, também, né, que por aqui ainda não chegou…
Sim Raquel!
Pelo que eu percebi, são de lá, mas estão com a maioria dos autores aqui no Brasil. Claro! O Brasi é maior! 😉
Ando muito confuso.
Mas creio que não.
Dentre as várias questões abordadas vou me deter à questão da dificuldade de “arranjar” leitores.
Além dos problemas levantados pela Raquel nesta matéria que enfrentam os autores independentes, tenho a impressão que a maioria dos autores que publicam literatura e poesia pelas editoras também não vendem como poderiam para um país com a população como a nossa.
Minha teoria é baseada em dados do site PublishNews onde se aponta que apenas 2 autores brasileiros estão entre os 20 mais vendidos, cujos dados foram analisados na Ilustrada da FSP do dia 03 de janeiro. Talvez os dados dos 40 mais vendidos possa demonstrar quadro menos desalentador.
Vários escritores de editora (nossa, que nome horrível) deram sua opinião e a que mais me chamou a atenção foi a do Marçal Aquino que disse que há um problema de INFORMAÇÃO, pois não se consegue divulgar a literatura brasileira. Se isso é válido para quem é publicado por editora imagine para quem se autopublica?
Além dos problemas já conhecidos (baixos índices de leitura, preferência por leitura instrumentalizada e por best-sellers divulgados de forma maciça) junto com a concentração da informação em poucos meios de informação (seja impressa ou digital como os blogs que proliferam) há a falta de um espaço público de divulgação de literatura.
Acredito que é preciso criar com urgência espaços autônomos para divulgação literária!
Os saraus da periferia de SP e em outros locais mais centrais são um exemplo desses espaços.
As livrarias poderiam ser, mas o poderio financeiro das editoras impedem que sejam, e tirando algumas exceções só vejo lançamentos de grandes editoras nelas.
Com isso, sobram os espaços públicos de cultura. Em São Paulo, diferente de outras cidades há muitos espaços onde essa literatura toda poderia ser testada e discutida, mas esses espaços quase não tem literatura.
São mais de 15 casas de cultura, 105 bibliotecas, vários pontos de leitura e agora a Biblioteca de São Paulo e as Fábricas de Cultura.
Por que não explorar esses espaços? Por que não forçar o poder público a não limitar suas compras aos livros de autores canônicos ou mais vendidos? Por que não propor uma política de leitura democrática onde novos autores e outsiders sejam lidos?
Como não há política, e como estamos viciados em indicações de alguém, acabamos por não inserir alguns títulos destes autores nas bibliotecas por falta de conhecimento, mantendo o círculo vicioso do desconhecimento. O problema tanto aflige que aonde trabalho estamos discutindo a criação de uma área para expor os livros de autores nessa situação e disponibilizar alguma ferramenta para os leitores comentarem o que acharam dos livros lidos, e quem sabe, trazer à luz algum bom autor (ou mesmo para execrar alguns autores, afinal, os leitores costumam ser cruéis com textos ruins)? Creio que se essa ação local fosse expandida para todas as bibliotecas qual seria o impacto? E se desse certo, não seria legal expandir a experiência para outras cidades e até Estados?
Claro que essas bibliotecas e casas de cultura precisariam ter uma boa infraestrutura e ao menos um bom mediador para todos os encaminhamentos e hoje eu diria que isso não é possível, mas acredito que a ida de um grupo ligado a autores até o gabinete do Secretário de Cultura para discutir um programa de leitura nesses moldes poderia ser construído em conjunto, não só para beneficiar esse segmento, mas para beneficiar todo o segmento de literatura que sofre tanto na luta desigual contra os mega-lançamentos!
São só algumas sugestões, como já dito acima, cada autor deve se virar nos 30 (péssima citação!) para vender o que produziu, mas o apoio do Estado para estimular a tal bibliodiversidade seria bem vindo!
Desculpe-me, Raquel, mas não resisti e escrevi sem parar aqui!
Pessoalmente o que vc acha Raquel sobre publicar on-line?
Seria interessante falar do caso oposto, os autores que só são “descobertos” pelas grandes editoras depois de venderem dezenas de milhares de exemplares como independentes ou em editoras nanicas (Spohr, Vianco). Como a velha anedota do banco que só empresta dinheiro para quem prova que não precisa de dinheiro emprestado, será que não existe uma cultura de publicar só quem não precisa (ao menos, mercadologicamente) ser editado?
A matéria linkada neste post fala deles, Carlos. É que, na verdade, eles são exceção. E, ainda assim, não chegaram às dezenas de milhares como independentes. Ambos venderam menos de 5.000 exemplares antes de serem descobertos. O que já é um fenômeno para um independente, mas não chamaria a atenção que chamou depois que foram para grandes editoras.
Posso estar errado, mas vender 5 ou 10 mil exemplares em qualquer editora já é um feito, muito mais se for independente.
Lembro-me de ter lido uma reportagem com o Tezza, que após ter ganhado todos os principais prêmios literários com “O Filho Eterno”, tinha vendido em torno de 26 mil livros.
Convenhamos que centenas de milhares de livros vendidos são façanhas para poucos no Brasil, geralmente para best-sellers estrangeiros.
Qualquer autor brasileiro que consiga esgotar a tiragem inicial já pode ser considerado um sucessão.
Apesar de eu ter conseguido publicar por uma editora grande e vender perto de 7.000 exemplares como eu disse antes no outro comentário, nem assim me abriu portas nas grandes editoras, tenho outros dois livros e só publiquei por demanda.
Interessante estes dados, Raquel. Li também o artigo da Ilustrada e, realmente, acredito que o “fiasco” inicial da amazon no Brasil pegou muita gente de surpresa. Eu mesmo estou vendendo um par de ebooks por lá que constam como mais vendido em certas categorias…
Não sei quanto tempo demorará para surgir mais casos de sucessos de autores autopublicados, mas se pensarmos que 2013 é o ano zero do livro digital no Brasil, ainda teremos chão pela frente.
Eu invisto neste formato há alguns anos e, ao contrário do que o Ricardo insinuou, não tenho a menor intençaõ de publicar comercialmente o meu livro mais bem sucedido. Estamos chegando à casa de 10 mil exemplares e, em termos financeiros, eu teria de vender 100 mil livros por uma editora comercial, números reservados aos grandes best-sellers no mercado brasileiro. Tudo bem que se trata de um guia de viagens, pois o buraco da ficção é bem mais embaixo, enquanto o da poesia é quase inexistente.
No entanto, ao contrário do Waldon, este meu livro autopublicado apareceu em praticamente todos os jornais brasileiros (inclusive na Folha), na TV e na Rádio, tudo graças ao boca a boca.
O problema da poesia (e dos gêneros breves em geral, como conto ou crônica) é a ilusão da facilidade, quando, no fundo, a brevidade é o que há de mais sofisticado e trabalhoso.
Penso ser muito mais fácil escrever um romance bom do que um bom poema, pois a narrativa longa dá margem a excessos. Talvez esta seja o ponto fraco da poesia: muitos poetas, poucos leitores, e quase nenhuma qualidade literária real.
“O buraco da poesia é quase inexistente” é uma frase pra se guardar 😉
Muito lindo esse negócio de ser escritor independente, soa bem e tudo, mas aposto que ao menos uns 99% daria tudo pra ter um contrato com uma grande editora. E, opinião minha, o Brasil não é um país de muitos poetas. É um país onde um grande número de pessoas se julga poeta. Ser escritor é bem estiloso. Desculpem-me, mas é a verdade. Um Drummond, um Bandeira ou um Augusto dos Anjos não aparece cada vez que se dá um chute numa pedra. E já agora, Raquel, quantos livros de escritores independentes você já leu e recomendou?
Oi, Ricardo, pois é. Se vc leu o post, percebeu que digo que independentes serem vendidos (ou, ainda mais, lidos) é uma raridade. Considerando a quantidade de livros que chega à Redação, saber que passou pelo crivo de um editor faz diferença. Mas até já recomendei alguns no blog.
Minha cara Raquel, a respeito de poesia: já em 1728, Nuno Marques Pereira, em seu livro O Peregrino da América, com ironia escrevia que “no Brasil são tantos os poetas, que bem pudera eu dizer que nele estava aquele decantado monte Parnaso, onde disseram os antigos existir as Musas.” (op. cit., ABL, 1939) Este autor é citado por Brito Broca (Românticos, Pré-Românticos, Ultra-Românticos) e Ubiratan Machado (A Vida Literária no Brasil Durnte o Romantismo).
1728! Haha. E de lá pra cá foi na base da progressão geométrica.
É verdade Raquel, não podemos reclamar.
Perdão: Bom dia!
Como eu ia dizendo, o escritor tem hoje um espaço para publicar, mas não adianta colocar na PerSe e ficar aguardando. Tem que divulgar, tem que fazer sarau, tem que palestrar, tem narrar histórias sobre o livro. Quem tem a escrita como ofício, tem que garantir o pão com a escrita.
Meu segundo livro, “O Casamento do Saci-Pererê”, colorido, foi publicado pela PerSe e não sei se foi sorte, mas tive um apoio muito grande da editora, o que não aconteceu com o primeiro livro, publicado por uma editora de tijolos.
Não vou comentar sobre todo apoio que tive pois este não é o espaço.
Beijos e parabéns pelo texto!
Silvio T Corrêa
“Editora de tijolos”, gostei da imagem =).
Ser escritor no Brasil não é fácil. O correto seria nos preocuparmos apenas em escrever bem, surpreender, emocionar. Mas o que as Editoras tradicionais querem são garantias de sucesso. Ou, como muitas atualmente, querem que paguemos um valor exorbitante para ter seu selo de “aprovação”.
Quando o autor não tem o capital ou não se atrai pela proposta de pagar para ser publicado, ele precisa procurar outros meios de publicação para expor seu trabalho. Aí entram esses canais de autopublicação que você citou, Raquel.
Quando eles são comprometidos com o autor e com o leitor, sempre preocupados com a boa qualidade e divulgação eficaz, a parceria é extremamente válida.
Eu já publiquei meus livros com algumas Editoras e até outros canais de autopublicação e acredito que o importante para se criar oportunidades no meio Editorial é levar o conteúdo do nosso trabalho, ou seja as histórias, de uma forma simples e de qualidade aos leitores dispostos a arriscar conhecer novos autores. São esses leitores que vão gerar chamarizes sobre nosso talento. Particularmente, até hoje a PerSe foi a melhor opção que encontrei para um autor iniciante construir a história da sua própria vida.
Parabéns pela matéria.
Abraço
Já temos vários votos para a PerSe! 😉
é aqui a seção de marketing de grátis? braziu é um país de bucaneiros analfabetos. não sabem ler, não sabem escrever, tudo que sabem é baixar torrents de A menina que vendia livros. pra ler? não, pra fazer uso de todo aquele espaço livre no HD… é preciso preencher aquele vazio na alma do PC… abs
Não vejo diferença entre a autopublicação nos tempos em que não existia internet e com o advento da Web. Aliás, ainda hoje, mesmo com internet, a autopublicação naõ se resume a publicar em sites e editoras virtuais. Eu já publiquei vários livros por conta própria e continuo fazendo, tanto em editoras/gráficas como em sites a exemplo da PerSe. Já lancei livros nas bienais de São Paulo e Rio de Janeiro desde 2006, através de editoras convencionais. Em 2012 lancei pela PerSe e a repercussão cresceu. Fui citado por agências internacionais, inclusive porque o livro foi em homenagem a Jorge Amado, cujo centenário de nascimento originou a obra que publiquei pela PerSe. A sorte de se tornar um best-seller não depende de “qualidade” da obra somente, mas de uma série de fatores como o tema, o investimento maciço em publicidade, escoar a obra para livrarias de grandes redes, participar de bienais, Flip, Flica, Felisquié etc, dentre outros. O apoio que a PerSe proporciona ao autor independente é muito importante e infinitametne mais barato, pois o escritor escolhe imprimir poucos exemplares, não empata dinheiro, tem divulgação na mídia e ainda lança numa bienal.
A diferença está justamente em poder imprimir poucos exemplares e não empatar dinheiro, Valdeck.
Eu uso como sistema de autopublicação a PerSe. Gostei mais do serviço grafico deles e da forma como as coisas foram agilizadas com respeito ao meu livro. Recomendo a PerSe para varios amigos e muitos deles publicaram livros lá e não tiveram nenhum tipo de inconveniente o que para mim é muito bom.. pois todo mundo a quem indico o portal http://www.perse.com.br não tem do que reclamar. Tive experiências não muito boas com outros sistemas de autopublicação!
Grato!
😉
Raquel, sabe que teria um bocadinho a falar sobre tal assunto. Mas ja conversamos bastante sobre isso aqui mesmo no blog. Eh aquilo: se o autor nao tem um “legitimador”, nunca serah lido. Fim. Quando acontece algo que vai de encontro a isso, eh a exceçao que se manifesta. Porem, como ja me tacaram pedras no blog qdo falei isso. Fico sempre feliz quando voce volta ao assunto e participa. Esse eh um dos maiores diferenciais do blog e que o torna tao legal, mesmo nao conseguindo abordar literatura em si (o que pode ser bom tb, pq se correria o risco de cair numa batalha de gostos (talvez esse venha a ser o titulo de um dos mais vendidos de nao ficçao! Haah)). Acho que a cultura e a amazon que tem categoria de “literatura e ficçao” (sic). Vai entender.
T., juro que vou tentar. Fico meio tímida de comentar livros tb justamente por não ser crítica literária, apenas repórter. Mas enfim. Lendo um bonzão agora (estrangeiro, desculpe =P), A Questão Finkler, do Howard Jacobson, que sai logo mais pela Bertrand.
raquel,
fui ao site aqui lincado, o da perse. realmente, não compreendi porque alguém publicaria um livro eletrônico por lá, (livro físico já é outra coisa), por exemplo, salvo a questão da legitimação.
1) registro de editor-autor está em torno de 200 reais. e paga-se somente uma vez.
2) registro de obra está 12 reais.
3) há muitos revisores que fazem freela. dependendo da negociação, um livro de cem páginas (de word) poderia sair… a 500 e poucos reais?
4) vamos combinar que um designer não é difícil de se encontrar. dependendo da camaradagem, talvez até se consiga de graça etc., para a concepção da capa.
5) o leitor digital mais vendido deve ser o kindle, não? (você tem essa informação?) o autor mesmo pode colocá-lo à venda no site da amazon br, sendo que esta nem exige o isbn, ao que parece.
6) a formatação do miolo do livro pode ser feita pelo próprio autor em word!
7) um autor independente que disponibiliza seu livro eletrônico por mais de 1,99 no site é como se cometesse suicídio antes mesmo de nascer. isso, com intermediários, raramente aconteceria, e ainda se pagaria mais caro por todo processo. a não ser que se publique pela editora da noga, que parece ser alguém que entendeu muito bem como funciona a cultura “internética” por aqui.
(raquel, quer editar meus livros? são curtinhos, prometo! ahahah)
Hahahaha! Um dia, num futuro distante, se os livros ainda existirem (rs), talvez eu queira editá-los. Daí te aviso 😉
O diretor da PerSe diz que a maior parte das pessoas quer ter a opção de vender o livro físico, mesmo. Que, aliás, correspondem a tipo 95% das vendas deles (e dos outros sites do gênero). Seu item 7 é bem, bem relevante. Um amigo ontem me falou algo parecido, mas envolvendo grandes editoras: se elas percebessem o quanto pode ser bom vender temporariamente um livro a 1,99 ou coisa do gênero, já tinham angariado muito mais leitores digitais fiéis mesmo para livros mais caros.
respondo apenas uma coisa: achava que nunca compraria um livro virtual, e já comprei mais de um. todos, óbvio, ao preço em que acredito que devam custar.
acho que foi você mesma que já me disse aqui que as grandes editoras entendem, mas preferem continuar com esse esquema (falido) em relação aos virtuais, não?
compreendo mesmo todo glamour que existe em torno do livro físico, mas penso que ele, possivelmente, se esvai rapidamente ao precisar esconder a caixa cheia de exemplares atrás do sofá, após o lançamento.
Raquel, se você me permite e a Folha permite a você, faço uma sugestão: intercalar postagens sobre mercado literário e autores do cânone ou do mercado com postagens sobre autores iniciantes ou não-inseridos.
Eu permito, a Folha permite ;-). Obrigada pela sugestão. Fácil não é, considerando a quantidade de material que chega na Redação e o tanto que há para ler a trabalho. Se prestar atenção, acabo falando pouco de literatura propriamente dita no blog, menos do que gostaria, já que em geral não posso comentar minhas leituras até as matérias saírem no jornal impresso, e o que sai no jornal impresso, tirando a coluna Painel das Letras, eu não posto aqui. Mas tentar não custa. Até fiz uns posts dando sugestões de e-books gratuitos de autores nacionais contemporâneos. Agora, um lugar onde você pode sempre ler resenhas de livros de iniciantes é o Guia de Livros da Folha, que sai na última sexta-feira de cada mês.
Compreendo, Raquel. É por isso que não me atrevo a pedir a você autorização para mandar mais um livro (o meu) para você! Rsrsrs… E grato pela dica. Abraços!
Quando terminei de escrever meu primeiro livro, entrei na Via Crucis de procurar uma editora. Tentei publicá-lo por diversas. A maioria nem respondeu, mas consegui publicar o livro por uma editora grande intitulado Espiritismo de A a Z. Foi pela Universo dos Livros. Enviei o original por e-mail e dois meses depois me responderam demonstrando interesse. O livro foi publicado com uma tiragem de 7.000 exemplares que, em quase dois anos, praticamente esgotou. Em termos relativos, o livro foi até um sucesso, mas aposto que ninguém por aqui me viu no Jô (lógico, eu não fui!) ou em uma resenha num jornal de grande distribuição. É isso aí, autor iniciante sofre.
Ok, iniciantes sofrem, mas espiritismo é um tema que vende! 7.000 é um bom número =)
Pois é, mas apesar do tema, nenhuma grande editora quis, só essa e foi difícil. Se eu tive dificuldade em achar uma grande editora que publicasse esse livro imagina quem escreve poesia.
Tenho um livro publicado no Clube dos Autores. E posso dizer, por experiência própria, que se você não fizer seu próprio marketing, é muito difícil alguém comprar. Isso se dá também porque as pessoas ainda não cortaram o cordão umbilical com as editoras.
Ah, aproveito para deixar o link.
http://www.clubedeautores.com.br/book/126444–Os_Donos_da_Rua
Haha
Haha, boa!
Oi, Letícia! Talvez seja difícil menos por causa das editoras e mais porque o Clube dos Autores tem outros 21 mil títulos concorrendo por atenção, né?
Olá,
achei a reportagem bem interessante, porém, acredito no crescente mercado de publicações independentes no Brasil em forma de e-books. Existem diversos motivos pelos quais os e-books publicados de forma independente, entre eles o fato de ser de graça em diversas pataformas. Eu recomendo! Vejam:
http://pressreleasesbrasil.com/10-razoes-para-se-publicar-um-e-book-de-maneira-independente/
No texto me refiro também aos digitais, Veronica. Obrigada pelo link!
E esse é o cenário (o cenário com o qual você termina seu texto) que me impede, ainda, de me autopublicar. Sigo fazendo o “circuito dos concursos literários”, coisa à qual já dei até nome: “circuito dos concursos literários”.
Neste ano relançaram o Cidade de Belo Horizonte, e ainda espero o resultado de alguns. Fechado o ciclo, parto para a apresentação de originais às editoras. Só então, caso tudo dê errado, dou uma de Gutemberg. Mas, tendo em vista o fato de não falar sobre vampiros nem sobre fantasia, em geral, tampouco sobre coisas apimentadas (como os tons das cores de um sexo qualquer mal feito), e sim sobre o velho e bom existencialismo (recuperado para refletir sobre os atuais tempos, claro), sinto que, se precisar mesmo apelar para a autopublicação, não vou chegar não às quatro dezenas, mas provavelmente nem às três.
Para o meu caso, distribuição e marketing de ponta me parecem imprescindíveis. Primariamente essenciais. Acho que para muita gente que se propõe a fazer uma literatura legal, também.
Sigo portanto, ainda, como o escritor sem livro.
Mas daqui a uns anos – espero – a gente conversa. 😉
Distribuição é uma coisa que os sites de autopublicação resolvem. Marketing de ponta não (embora tenha muita gente boa nisso, como o Spohr, que vendeu lá seus 4.000 antes de ir para a Verus). O circuito de concursos literários (rs) ajuda!
Hehe, isso mesmo. Minha esperança é o circuito. Uma ode ao circuito! Rs. Ainda tenho mais ou menos um ano de tentativas até chegar ao “Prêmio Literário de Juatuba do Norte”. Aí eu paro, porque aí já é demais.
No caso do Spohr (como exemplo), até concordo, mas penso na linha do que foi argumentado nas matérias sobre o assunto (acho que inclusive na sua na Ilustrada): acho que pega muito, no caso dele, a especificidade: a coisa de ser um livro mais de nerd e de fantasia, mais propício a essa coisa de divulgação on-line, de boca-a-boca virtual etc (além da provável, qualidade da obra, claro). Uma especificidade talvez parecida com a que faz com que esses livros mais “comerciais” (ai, esses rótulos…) tipo 50 tons consigam transitar do self-published ao best-seller…
Mas já fiquei feliz de ler sua opinião, de que a autopublicação está evoluída quanto à distribuição. Achava que não. Bem, as prateleiras das grandes livrarias vivem a me indicar o contrário. Mas eu talvez não esteja as lendo direito.
***
Em tempo, uma pergunta: tem opinião formada sobre o selo da Novo Século “Novos Talentos da Literatura Brasileira”? Uma amiga da faculdade de jornalismo, Laura Conrado (“Freud, me tira dessa!”), se deu muito bem por lá. Mas é edição coparticipativa, o autor tem de entrar com recurso. Tem opinião formada (e que possa ser pública, claro) sobre o formato? Acha válido para livros mais, digamos, “densos”?
Ah, Ewerton, eu quis dizer em relação à distribuição virtual, nas lojas on-line. As livrarias físicas infelizmente sempre terão pouco espaço, e sempre darão preferência ao que elas acham que tem mais chance de vender –livros de editoras conhecidas, autores conhecidos etc.
Sobre o selo, conheço pouco. Cheguei a conversar com o editor para aquela matéria. Eles fazem o que também faz a Manole, a 7Letras e outras. Eles não publicam qualquer coisa que chega, há uma seleção prévia. Segundo o editor, eles recebem cem formulários por dia (!), enquanto o selo publica dez livros por mês. Se eles acharem que tem qualidade, oferecem ao autor essa edição coparticipativa, como você diz.
Há outros casos bem-sucedidos que começaram assim, sendo o mais conhecido o da Ana Paula Maia, pela 7Letras. Para livros mais, digamos, “densos” (rs), eu sugeriria a 7Letras mesmo.
Obrigado, Raquel! Vou investigar isso. Valeu!
Policial bandido, político corrupto, empresário falido, amigo desleal. Assim como esses, escritor Independente se transformou numa espécie de forma “politicamente correta”, de fazer referência – ao mesmo tempo em que menospreza, tornando-o menor, menos importante – àqueles que, movidos por um indescritível prazer e na maioria dos casos muito talento, escrevem suas próprias estórias e contam o mundo como seus olhos o enxergam e seu coração o sente.
Ironicamente, e talvez a dor maior esteja justamente nesse pequeno detalhe, a palavra que o desqualifica – Independente –remete de imediato à lembrança de conquistas, lutas e libertação.
Desqualifica, não porque escancara que o autor foi obrigado a arcar com todas as providências para que seu livro fosse publicado. Inferioriza-o por conta do juízo que fazem quase todos a sua volta, suspeitando que a qualidade de seu trabalho seja inferior daqueles pelos quais as editoras decidiram-se publicar, zelando por seus interesses.
Intitular-se escritor Independente às pessoas de seu convívio, quase sempre completamente estranhas aos meandros do mercado editorial, é desalentador, quase vergonhoso. Poucos são aqueles que sabem que nem as editoras, muito menos as livrarias, possuem algum tipo de mecanismo ou esforço que as permitam identificar um livro com potencial de sucesso. Para aquelas editoras que na esmagadora maioria das vezes sequer analisam o esboço de um livro enviado pelo futuro escritor independente, os parcos e raros sucessos decorrem, invariavelmente, da compra e reimpressão de obras que estouraram de vender no exterior, da compra de espaços nobres nas prateleiras das decadentes redes de livrarias ou, ainda, na carona da publicação de padres, pastores, bispos e apóstolos, dentre outros incontáveis níveis nas hierarquias religiosas, mirando seu rebanho de fiéis para escoar seus livros.
Triste realidade para os escritores a quem sobra apenas a alternativa de vender seus livros um a um, implorando ao publico, muitas vezes abordado por ele nas ruas, na tentativa desesperada de conseguir a sobrevivência. É o que resta fazer, constatada a cruel realidade da proibição de vender seus livros nos escritórios de empresas, pátios das fabricas, ou em lojas do comércio, sem se esquecer de mencionar as repartições e órgãos públicos de todas as esferas – locais onde, além dos amplamente conhecidos balcões da corrupção, somente são permitidas as vendas de Avons, Naturas e Jequitis da vida.
Não diria que o termo “independente” reduz ninguém. Pelo contrário.
Acho legal que ideias de milhares de pessoas estejam sendo impressas em papel. Será útil para que os aliens possam reconstruir nosso planeta em 2076.
Haha. Bem, melhor publicar com impressão sob demanda (o livro só sendo impresso quando alguém o compra) do que acumular tiragens… De resto, quem vai proibir o povo de publicar?