A Biblioteca de RaquelTecnologia – A Biblioteca de Raquel http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br Raquel Cozer Mon, 18 Nov 2013 13:27:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Desdobramentos digitais: a autopublicação na Saraiva e as 'fan fics' na Amazon americana http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/05/28/desdobramentos-digitais/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2013/05/28/desdobramentos-digitais/#respond Tue, 28 May 2013 23:09:57 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=4091 Continue lendo →]]> Faz quase cem dias que “Mnemônica, Memorização e Aprendizado”, de Miguel Angel Perez Corrêa, oscila entre os mais vendidos da Amazon brasileira, tendo chegado ao topo da lista algumas vezes. O livro saiu pela plataforma de autopublicação Kindle Direct Publishing, que dá ao autor 35% do valor da venda da obra –ou 70%, se escolher vender só pela Amazon. “Mnemônica” sai por R$ 5,99. Títulos em primeiro lugar na Amazon vendiam até outro dia umas 60 cópias por dia; já o quarto ou quinto lugar, uns 30 por dia. Vocês façam suas contas.

Hoje foi a vez de a Saraiva entrar no segmento, como reparou o Revolução Ebook. A livraria estreou em sua loja de livros digitais a ferramenta publique-se, oferecendo ao autor o mesmo percentual de 35% sobre o valor de venda do livro –que ele mesmo pode definir.

O interessado se cadastra e recebe um contrato em minuta já registrada em cartório. Assim que a administração do site recebe de volta o documento assinado pelo autor, ele pode fazer upload dos PDFs de todos os seus livros, que são convertidos para ePub.  “Fazemos o contrato pelas leis brasileiras, o que preserva os direitos dos autores. Se houver alguma pendência, é no Brasil que será resolvido”, diz o diretor-presidente da Saraiva, Marcílio Pousada, ressaltando uma diferença em relação à Amazon e à Apple, que oferecem serviços similares.

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A maior rede de livrarias nacional tem ainda cartas na manga para os próximos meses.

Uma delas vai aproveitar a experiência da empresa na edição de livros, já que a Saraiva tem seu braço editorial. É algo que o Clube dos Autores e algumas editoras que imprimem sob demanda já fazem: o interessado pode pagar à parte por serviços como correção ortográfica, preparação de texto, sinopse, capa mais elaborada que a padrão. Valores ainda não divulgados.

A outra aposta da Saraiva vai ser mais difícil Amazon, Apple, Clube dos Autores e outros sites baterem, e diz respeito àquela que já é a maior moeda de troca da rede nacional em negociações com editoras: as 105 lojas da livraria espalhadas por 17 Estados. Além de imprimir sob demanda, a Saraiva abrirá suas lojas para tardes de autógrafos dos independentes, tal como já faz com editoras. Serviço pago, com toda a estrutura dos lançamentos oficiais, incluindo o vinho branco. Coisa para os próximos três, quatro meses, segundo Pousada.

Somente hoje, sem o anúncio oficial, apenas com o link para a página do publique-se na loja virtual, 150 autores se cadastraram para receber o contrato. Trinta e cinco livros devem subir no ar entre amanhã e depois, segundo Pousada.

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Outra novidade destes dias, sobre a qual comentei no Painel das Letras, foi uma sacada meio de gênio da Amazon americana, o Kindle Worlds. Agora que já fizeram parece até que demorou, mas ninguém tinha pensado em capitalizar as “fan fics”, histórias não autorizadas elaboradas por fãs a partir de universos e personagens criados por romancistas famosos.

O primeiro passo foi o que na teoria seria o mais difícil: conseguir autorização da versão em inglês de três títulos, todos pertencentes à Warner Bros, “Maldosas”, de Sara Shepard;  “Diários do Vampiro”, de L.J. Smith; e “Gossip Girl”, de Cecily von Ziegesar.

Com isso, a partir de junho, quando sair a ferramenta, fãs poderão não apenas criar histórias em cima dessas tramas –e de outras a serem autorizadas– como, mais importante, colocar para vender. O autor da trama paralela vai levar 35% do valor da venda. O detentor dos direitos da história original leva sua parte também, não divulgada. A Amazon, mesmo que as fan fics não vendam nada,  não tem nada a perder. A princípio, vai valer só nos EUA.

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Livros e revistas gratuitos na web - 2ª edição http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/08/14/livros-e-revistas-gratuitos-na-web-2a-edicao/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/08/14/livros-e-revistas-gratuitos-na-web-2a-edicao/#comments Tue, 14 Aug 2012 19:03:31 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=2677 Continue lendo →]]>

Imagem de Candyland, de Olavo Rocha e Guilherme Caldas. Vamos fazer de conta que não se nota a dobra de página virtual

Um post para pagar a dívida assumida semanas atrás: nova seleção de livros que estão longe de cair em domínio público, mas foram disponibilizados pelos autores, e revistas literárias para baixar de graça, a partir de sugestões de leitores e sob criteriosa curadoria desta biblioteca (cof).

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Livros
Greguerias
, de Ramón Gómez de la Serna
A seleção de aforismos (o autor na não gostava dessa definição, mas, ok, são aforismos) do madrilenho (1888-1963), traduzida por Sérgio Alcides, está disponível no site das edições Quem Mandou?. Na página, o poeta e tradutor oferece também títulos próprios.

A Mulher Gorila e Outros Demônios, de José Rezende Jr.
Esgotado nas livrarias, o primeiro livro do autor, de 2005, pode ser baixado na íntegra. Há também alguns contos de “Eu Perguntei para o Velho se Ele Queria Morrer”, Prêmio Jabuti em 2010.  

Rilke Shake, de Angélica Freitas
Outro indisponível em papel: o ótimo livro de estreia da poeta gaúcha, publicado em 2007 numa parceria entre 7Letras e Cosac Naify, dentro da coleção de Ás de Colete.

Joana Evangelista, de Vange Leonel
Texto da peça encenada em 2006 pelo Satyros. Conta a história de uma ginecologista que, presa ao operar um aborto, tenta convencer o delegado da importância de sua missão.

Candyland, de Olavo Rocha e Guilherme Caldas
Publicada pela Barba Negra em parceria com a Caderno Listrado, especializada em livros de arte, a HQ nasceu em 1993 e virou fanzine, com histórias publicadas até 1999.

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Revistas

Originais Reprovados
Melhor nome impossível. Revista literária anual produzida pelos alunos de editoração da USP, já comprometidos com seu futuro papel de apresentar textos alheios ao leitor. Aqui, as edições anteriores.

Cândido
O jornal da Biblioteca Pública do Paraná, na 13ª edição, tem reportagens sobre livros e leitura, além de prosa e poesia de bons autores brasileiros. O “Cândido” acaba de ganhar ganhar site, que terá material além do oferecido na versão impressa.

Sobrecapa Literal
Está no ar a 18ª edição da revista, que prioriza notícias e análises do mercado editorial. Inclui clipping de colunas de jornais impressos sobre o tema, como o Painel das Letras (cof).

Um Conto
Três alunos de letras da UFJF criaram essa revista mensal, de uma página só, para divulgação de novos autores e ilustradores. O site inclui a edição especial Um Troco — Seu Dinheiro de Volta, para quem não conseguiu entrar revista (afinal, não está fácil para ninguém).

Macondo
A revista trimestral (o editorial avisa: é um projeto paralelo dos criadores, então atrasos fazem parte da rotina) também publica prosa e poesia de novos autores, além de textos em domínio público e resenhas de lançamentos. Edições anteriores aqui

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Aqui, a primeira edição do “Livros e revistas gratuitos na web”.

Por curiosidade, enquanto eu separava links para este post, meu amigo Juliano mandou este link altamente relacionado: 28 livros que já caíram em domínio público para baixar. Em inglês.

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Livros e revistas gratuitos na web http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/07/25/livros-e-revistas-gratuitos-na-web/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/07/25/livros-e-revistas-gratuitos-na-web/#comments Wed, 25 Jul 2012 14:35:35 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=2300 Continue lendo →]]>

Trecho de conto de Ludmila Rodrigues, ilustrado por Mariana Lucio, na Revista Trevo #1, e escolhido para este post por uma leve identificação da autora do blog. Não com os cigarros, por supuesto

O escritor Carlos Henrique Schroeder (que publicou por estes dias este imperdível guia do melhor da web literária) aproveitou o Dia do Escritor para disponibilizar o PDF de seu livro “As Certezas e as Palavras”. Nem gosto muito de datas do gênero (afinal, todo dia é dia), mas pego carona na ideia dele para destacar livros e revistas oferecidos de graça na internet.

Este é um post em progresso, quem tiver sugestões pode mandar também. Valendo apenas livros ou revistas que possam ser baixados e lidos off-line, para não virar a festa da uva. Quando chegar o momento em que eu achar que chega, bem, daí chega.

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Livros

As Certezas e as Palavras (PDF), de Carlos Henrique Schroeder
Volume de contos publicado em 2010 pela Editora da Casa, vencedor do Prêmio Clarice Lispector de Literatura 2010, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional

Sete Anos e Um Dia (TXT), de Elvira Vigna
Primeiro romance adulto da escritora, de 1988

Sexo Anal [Uma Novela Marrom] (PDF), de Luiz Biajoni
Publicada em março de 2010 pela Os Viralatas, teve 10 mil downloads, segundo informa a capa

Dentes Guardados (PDF), de Daniel Galera
Primeiro livro do autor, de contos, publicado em 2001 pela Livros do Mal e atualmente fora de catálogo

Ovelhas que Voam se Perdem no Céu (PDF), de Daniel Pellizzari
Publicado na mesma leva de “Dentes Guardados”, pela Livros do Mal

Nós 1.0 (PDF), de Mario Cau
Oferecida exclusivamente para download, é a primeira versão da HQ “Nós”, lançada pela Balão Editorial

Beggining of a Great Adventure (PDF), de Mário Cesar
Continuação da história em quadrinhos “A Walk on the Wild Side”, presente no volume “Entrequadros”, também da Balão

26 Poetas Hoje (PDF), org. Heloisa Buarque de Holanda
Ana Cristina Cesar, Waly Salomão, Chacal e outros compõem a seleção de 1975, que marcou época

Cigarros na Cama (PDF), de Ricardo Domeneck
Volume de poemas disponibilizado em apoio ao site Livros de Humanas, que está sendo processado pela ABDR. Angélica Freitas, Eduardo Sterzi e outros também ofereceram livros próprios para download gratuito

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Revistas

Trevo #1 (TXT, EPUB, PDF, MOBI)
Publicação digital com textos de novatos e veteranos, recém-lançada pelos jornalistas Thiago Kaczuroski e André Toso e pelo designer gráfico Leandro Borghi.

Publicações da Casa de Rui Barbosa (PDF)
Edições digitais de publicações da Casa de Rui. Inclui inventários, como os de Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava e Vinicius de Moraes, e três edições da Revista Escritos

Casmurros #3 (PDF)
Fanzine editado pelo incrivelmente prolífico Rafael R., que cuida sozinho do blog literário Casmurros. Aqui, as edições 1 e 2.

Sobrecultura #9 (PDF)
Edição de junho do suplemento trimestral de cultura encartado na revista “Ciência Hoje”. As edições anteriores, desde 2010, estão aqui.

Suplemento Literário (PDF)
Edição especial, dedicada ao jornalismo cultural, da publicação atualmente bimestral da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais. Inclui texto de José Castello, entrevista com Sergio Augusto etc. Aqui, as edições desde 2006.

7Faces #4 (PDF)
A edição de dezembro da revista de poesia editada pelo poeta Pedro Fernandes, de Natal, traz poemas de Guilherme Gontijo Flores, Adriano Scandolara e outros

Cadernos de Não Ficção #4 (PDF)
Especial sobre literatura argentina e entrevistas com Bernardo Carvalho e Ricardo Piglia estão no número mais recente da publicação teoricamente (cof) semestral da Não Editora

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Para não se perder em links, este post fica por aqui. Mas sugestões continuam bem-vindas. Serão aproveitadas em mais posts da série, que ainda não é série, mas vai ser. Juro.

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Dê "check-in" em lugares da ficção http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/07/20/de-check-in-em-lugares-da-ficcao/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/07/20/de-check-in-em-lugares-da-ficcao/#comments Fri, 20 Jul 2012 23:49:45 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=2183 Continue lendo →]]>

Taí uma rara foto em que fiquei bem, a do meu perfil no Foursquare

Segundo o Foursquare, a rede social que entrega para os outros em que lugar você está (serviço também conhecido como geolocalização), eu saí de casa apenas cinco vezes desde 5 de fevereiro. Fui vista pela última vez no Così, restaurante próximo à Folha, no último dia 3 de março. Além disso, praticamente só saí de casa para comer.

Isso equivale a dizer que essa história de geolocalização, de contar para todo mundo via internet o seu paradeiro, por ora não me convenceu. Dizem que há vantagens, que se você for muitas vezes ao mesmo restaurante ou à mesma loja e der o “check-in” via Foursquare, por exemplo, pode ganhar descontos, caso a empresa seja cadastrada no site (“check-in” é como eles chamam, mesmo na versão nacional, o clique que você dá confirmando que chegou a um lugar).

Basicamente, ainda integro o time que acredita que o Foursquare serve só para dar bandeja a “stalkers” (vou ter de recorrer ao parêntese de novo, antes que venham os caçadores da causa antianglicista perdida: não consigo imaginar tradução fiel o suficiente para o termo e que não pareça alienígena, mas aceito sugestões se forem boas).

Tudo isso para falar do Imaginaria, aplicativo gratuito que a Livraria da Vila colocou no iTunes há uma semana. À primeira vista, diria que é uma mistura do Skoob, a rede social “para quem ama ler”, com o Foursquare. Em resumo, você dá “check-in” em cenários onde se passam histórias de livros para, a partir disso, compartilhar o que está lendo, comentar, avaliar.

O aplicativo conecta o usuário automaticamente aos amigos do Facebook e do Twitter também cadastrados. Por ora, tenho um amigo na “Tabacaria” de Fernando Pessoa, um na Macondo de García Márquez e um na Eurásia de “1984”. Entre quem não conheço, os lugares mais visitados são o Castelo de Winterfell  (“A Guerra dos Tronos”, lido 562 vezes), o lago de Hogwarts e a Estação de King’s Cross (“Harry Potter e a Pedra Filosofal”, lido 672 vezes).

Estou lendo “Journalism”, HQ de reportagens curtas do Joe Sacco que saiu faz pouco nos EUA, então fui parar no Iraque, cenário de três histórias e localidade que eu mesma criei no aplicativo. Assim como no Foursquare, a cada “check-in” o usuário ganha pontos, sobe num ranking e… hm, será que ganha descontos na compra dos próximos títulos, Livraria da Vila? (cof)

Confesso que já tentei uma infinidade de redes sociais relacionadas a livros, do nacional Skoob ao americano Visual Bookshelf. Devem ter mais utilidades do que imagino para tanta gente usar. Para mim, a grande vantagem é permitir o registro dos livros lidos, coisa que já tentei fazer em outras épocas e outros blogs. Outra vantagem, válida para quem fica obcecado por temas conforme vai lendo, é que os aplicativos costumam sugerir títulos similares aos já lidos.

O que falta no meu caso é disciplina. Se o Foursquare diz que não saio de casa desde 5 de março, o Visual Bookshelf informa que leio há três anos “Após o Anoitecer”, do Murakami.

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Amazon quebra silêncio com palestra no Brasil http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/05/11/amazon-quebra-o-silencio/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/05/11/amazon-quebra-o-silencio/#comments Fri, 11 May 2012 03:56:05 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=1266 Continue lendo →]]>

Huerta, executivo da Amazon na AL, no Congresso do Livro Digital

Em 2011, 5 milhões de e-books em inglês foram vendidos pela Amazon em países onde não se fala língua inglesa, especialmente o Brasil. Só no primeiro trimestre de 2012, já foi metade disso. O que significa que, até o fim deste ano, mais de 10 milhões de e-books em inglês devem ser vendidos fora de EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália etc.

Não tenho parâmetro para falar desses números, mas foi justamente por isso que eles me chamaram a atenção. Em geral, a Amazon divulga porcentagens (“de tantos livros vendidos, tantos foram e-books”), não números totais, o que é sempre um bom truque para usar os números a seu favor sem necessariamente revelar quais eles são.

Dez milhões é pouco mais do que “Ágape”, do Padre Marcelo, vendeu em um ano e meio (quase 8 milhões), e “Ágape” vendeu mais do que quase qualquer livro que você possa imaginar.

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Os tais 10 milhões apareceram na palestra de Pedro Huerta, o executivo de conteúdo para Kindle na América Latina, que falou ontem no Congresso do Livro Digital. Tendo ido aos dois anteriores, me sinto à vontade para dizer que foi a melhor conferência que acompanhei das três edições.

Em especial porque a Amazon, esse demoninho, nunca dá o ar oficial de sua graça no Brasil –temos uma média de zero entrevista à imprensa desde que resolveu entrar neste mercado, e, tirando conversas com editoras, nunca tinha se manifestado tão abertamente por aqui.

Mas também porque Pedro Huerta, é preciso dizer, é um showman. Na boa, não sei como foram as últimas conversas com editores, mas, se eu fosse um deles, estaria antes do fim da palestra com o contrato assinado, sem prestar atenção nas letras pequenas. O cara é um missionário, como bem definiu Carlo Carrenho, um dos sócios do Publishnews.

Huerta nasceu no Peru (“você voa até Manaus e vira de bicicleta à esquerda”) e estudou engenharia em alemão (“algo tão difícil quanto as negociações com editores brasileiros”). Por nove anos, foi presidente da gigante Random House no México. Isso até  a Amazon bater à sua porta. Digo, telefonar. “Quando a Amazon liga, você atende. Sempre”, ele diz.

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Essa equação (Amazon ligar e você atender) não tem sido tão simples desde que Huerta se propôs a convencer editores brasileiros de que a varejista americana é uma boa parceira. Editores brasileiros, afinal, não mais difíceis do que estudar engenharia em alemão, e as condições do contrato da Amazon não são nenhuma maravilha, segundo relatos.

Mas o discurso de Huerta no congresso foi inteligente. Ele usou o próprio passado como editor para argumentar: “Como editor, distribuidor, autor, professor, livreiro, o que quer que seja, enfrentar o digital tem uma implicação definitiva na sua vida. Você entra num mundo do qual não há saída e tem de abrir mão de ideias que nunca mais recuperará.”

O mote de convencimento (“em menos  de 60 segundos, qualquer livro em qualquer idioma  disponível para você”) ganha força num mercado como o latino-americano, onde não é tão fácil quanto nos EUA encontrar livrarias físicas –que dirá o livro que você procura nelas.

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Entre os números que Huerta mostrou, com ênfase no Reino Unido (escolhido como exemplo justamente por não ser tão avançado quanto os EUA no mercado digital), estão os de compras de consumidores antes e depois da aquisição do Kindle: nos 12 meses anteriores à aquisição, um assinante da Amazon compra dez livros; nos 12 meses posteriores, são 30, entre físicos e digitais.

“Se você perguntar o que reinará nesse mercado em 2015, ninguém saberá responder. Nem Amazon, nem Google, nem Apple” (quiçá o Sebo do Messias). O argumento da Amazon: na dúvida, digitalize tudo, resolva as questões de direitos autorais e saia arriscando.

A Simon & Schuster, uma das maiores do mundo, serviu de exemplo. Nos primeiros seis meses de 2011, 16% de seu faturamento correspondeu à venda de e-books. No primeiro trimestre deste ano, o número já chega a 26%. Com um detalhe importante: a venda de fundo de catálogo, ou seja, dos livros lançados anos atrás, é sempre “infinitamente maior” no digital do que em papel, sem que a editora precise gastar mais dinheiro com logística.

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Outra questão, mais polêmica, tem a ver com o preço do e-book. Conhecida por achatá-los a um nível kamikaze para editoras, a Amazon defende que descontos aumentam as vendas –passado um dia deles, disse Huerta, as vendas se mantêm mais altas que antes.

Terminada a palestra, microfones abertos para perguntas, algo raríssimo em qualquer evento envolvendo a Amazon, não houve editor capaz de questionar as condições de negociação da empresa, consideradas predatórias por quase todo o mercado.

Mas não houve quem no mesmo auditório deixasse de aplaudir quando, horas mais cedo, o inglês Jonathan Nowell, executivo da Nielsen Bookscan (que mede vendas de livros na boca do caixa), disse que editores deveriam pensar em saídas digitais e complementou: “O que não podemos fazer é entregar nosso reino a Amazon, Google e Apple.”

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Amazon ou Apple: qual a maior vilã da novela? http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/13/amazon-e-apple-qual-a-vila-esta-novela/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/04/13/amazon-e-apple-qual-a-vila-esta-novela/#comments Fri, 13 Apr 2012 17:06:31 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=741 Continue lendo →]]>

 

A Amazon parece ser o melhor tipo de vilã de novela que existe. Ela arruma briga com qualquer um que atravesse seu caminho, não está nem aí para regras ancestrais do mercado e tem motivações que podem ser vistas com ressalvas por quase todo mundo, mas sabe como ninguém ganhar torcedores, e, se não fosse ela, a história toda não teria audiência nenhuma.

A reviravolta desses últimos dias foi digna de Aguinaldo Silva.

Mas vamos começar do começo.

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Um dos primeiros posts d’A Biblioteca de Raquel, em janeiro de 2010, trazia cenas de alguns dos primeiros capítulos dessa novela. Ainda longe de se empenhar em seduzir editoras brasileiras, a Amazon levava ao extremo as consequências de uma crise enorme com editoras gringas.

Na época, ela tinha retirado de seu site todos os livros físicos e digitais da Macmillan Books, uma das maiores editoras dos EUA, por conta de uma briga sobre o preço dos e-books.

Em resumo, a Amazon queria fazer o que todas as livrarias fazem hoje no Brasil: ter o direito de estipular o preço de venda dos livros, dando-se à liberdade de cortar ou até tornar negativa a margem de lucro em nome do aumento das vendas.

Em tempos de popularização do Kindle, valia a pena comprar livros a, sei lá, US$ 15 e vendê-los a US$ 9,99, porque o importante era ter acervo para estimular a venda do e-reader.

Mas era uma atitude agressiva demais. No Brasil, quase nenhuma livraria vende por menos do que compra –isso só faz sentido quando há um plano de ação maior por trás. O Submarino é um dos poucos varejistas que recorre ao procedimento. Também é conhecido por não prestar contas das vendas com a assiduidade prevista, mas isso é um outro núcleo narrativo desta história.

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Entre as livrarias cujas prestações de contas são mais assíduas, a Fnac pratica um desconto padrão de 20% nos grandes lançamentos, reduzindo a própria margem de lucro, mas ganhando com isso movimentação na loja –que vive também da venda de eletrônicos.

A Amazon fazia isso de forma tão agressiva que as editoras começaram a querer usar o modelo de agenciamento, pelo qual cabe a elas definir o preço final de venda e às livrarias não mais que intermediar um negócio pré-definido. A Macmillan, mais incisiva na briga àquela altura, foi a que acabou com todos os livros eliminados da Amazon, que depois voltou atrás.

Ultimamente, após anos de negociações, e-books de grande lançamentos não saem na Amazon por menos que US$ 14,99, quando a ideia da empresa era vender tudo a no máximo US$ 9,99.

Não dá para definir o vilão nesse caso: a Amazon defende seu modelo de negócio, não o bem estar dos compradores, enquanto as editoras percebem que o modelo de negócio da Amazon, que por acaso beneficia os compradores, sufoca o negócio delas.

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A novela já estava uns bons capítulos avançada quando apareceu a Apple, travestida de mocinha num mercado monopolizado pela Amazon, e disse às editoras que caberia a elas definir o preço final dos livros –modelo que eles chamam nos EUA de agenciamento.

As grandes editoras todas fecharam com ela, ao ponto de, no Brasil, a loja dela estar prevista para estrear ainda neste mês, antes da loja da Amazon (que começou a negociar muito antes), com a aprovação de muitas das principais casas por aqui.

Até que nesta semana a mocinha Apple ganhou ares de maçã podre em manchetes de todo o mundo, ao lado daquela palavra que a gente não ouve tanto desde os tempos de Pablo Escobar, o que decerto não é boa referência: formação de cartel.

Os EUA acusou a Apple e as cinco maiores editoras do mundo (HarperCollins, Hachette, Simon&Schuster, Macmillan e Penguin) de terem atuado em conjunto para chegar a um modelo de vendas. Quem explica bem essa história é a Roberta Campassi, aqui e aqui, no Publishnews.

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O problema não é o modelo de agenciamento, mas o conluio feito para evitar a venda da Amazon a preços reduzidos. As editoras envolvidas podem vir a ter de pagar milhões de dólares  em ressarcimento aos consumidores, o que transparece como clara vitória da Amazon.

Das envolvidas no processo, só Penguin, Macmillan e Apple ainda não fizeram acordos judiciais, dispostas a enfrentar a ação na justiça para provar que há distorções no processo.

Hoje foi dia de a Amazon voltar a assumir ares de mocinha.

A varejista, que antes do lançamento dos iBooks detinha 90% do mercado de e-books, aproveitou a deixa para anunciar que está “ansiosa” para voltar a abaixar os preços de seus livros eletrônicos, notícia obviamente recebida com vivas entre os consumidores.

Mas é notório que boas vilãs sabem o discurso exato para seduzir o público.

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Estou cheia de febre, fora da Redação, então neste final de semana não haverá Painel das Letras. Mas neste finde volto ao blog, com posts da Bienal de Brasília, que começa amanhã.

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O Kindle antes e depois das taxas http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/02/28/o-kindle-antes-e-depois-das-taxas/ http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/02/28/o-kindle-antes-e-depois-das-taxas/#comments Tue, 28 Feb 2012 21:12:17 +0000 http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/?p=265 Continue lendo →]]>  

O Kindle enquanto peça de museu: o primeiro modelo, de novembro de 2007. Atente para a largura do bichinho...

Num dos blogs que abandonei pelo caminho desde que, dez anos atrás, comecei a deixar rastros pela blogosfera (isso muito antes de sair peregrinando com A Biblioteca de Raquel por aí), fiz a conta entre o intervalo do lançamento do iPod e a chegada do meu: 2.125 dias.

Exatos dois meses depois daquele meu post comemorativo do iPod (esse aparelho cujos conceito e nome parecem pré-históricos em tempos de iPhone e iPad), a Amazon lançava o Kindle. O primeiro modelo começou a ser vendido nos EUA em 19 de novembro de 2007.

Faço todo esse retrospecto tecno-nostálgico apenas para chegar a um novo cálculo: entre o lançamento do Kindle e a chegada do meu, 1.513 dias ficaram para a história. Sempre tive esse delay tecnológico, muito mais por pobreza de espírito (digo, de bolso) que por apego ao passado. 

A questão é que o Kindle em si nem é caro. Tanto que várias vezes cheguei a entrar na Amazon, selecionar o modelo, colocar meus dados e desistir ao constatar que as taxas de importação mais que dobravam o valor. A alternativa menos dolorosa era encomendar a um amigo que fosse aos EUA. E, assim, por módicos R$ 237, chegou o meu Kindle Touch. Com taxas de importação, a versão bem mais barata sairia por R$ 438. 

Meu Kindle Touch, lindão, com a capinha com lâmpada que me custou os olhos da cara e pesa mais que o aparelho

Semanas atrás, a Roberta Campassi, do Publishnews, descobriu que a Amazon planeja vender o Kindle a R$ 199 em menos de seis meses. O que ouvi ao repercutir com editores foi que a meta seria inviável, já que, dadas as taxas de importação, a Amazon só alcançaria esse preço se produzisse no Brasil (especulação deles), e não teria como fazê-lo em tão pouco tempo.

A Amazon não fala com a imprensa (quer dizer, até fala, uma comunicação feita de esperas infinitas e respostas evasivas), mas precisa falar com muita gente para conseguir entrar no Brasil. O que pude entender via rádio-peão foi que a meta não é produzir aqui, e sim esperar a aprovação pelo governo de um projeto que desonera a importação dos e-readers.

Publiquei minha apuração na coluna Painel das Letras do dia 18. A história é assim: em 2010, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO) apresentou o projeto de lei nº 114, defendendo a extensão a e-books e e-readers da isenção fiscal que beneficia livros desde 2003. Atualmente, livros eletrônicos são isentos apenas quando destinados a deficientes visuais.

O PL estava prestes a receber parecer na Comissão de Educação do Senado em agosto último, quando a liderança do governo pediu sua retirada de pauta. Naquele momento, o governo priorizava a medida provisória para desonerar a produção de tablets no Brasil –era a condição para a taiwanesa Foxxconn instalar no país sua linha de produção de iPads e iPhones.

A desoneração da produção de tablets foi sancionada em outubro, mas não trata da importação. O PL 114/10 acabou ficando na gaveta. Procurado pela coluna, o gabinete do senador informou que a meta é apresentar o projeto novamente em breve.

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