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Raquel Cozer

Perfil Raquel Cozer é jornalista especializada na cobertura de livros

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Livros a até R$ 10: um balanço do programa da FBN e o anúncio da nova fase

Por Raquel Cozer
10/08/12 22:54

Quem trabalha com políticas públicas costuma dizer que o mais difícil de ações na área cultural é manter a continuidade. Provam isso o programa de traduções de livros brasileiros para o exterior, com altos e baixos desde os anos 90 (atualmente em alta), e os editais das bolsas de criação literária da Funarte, que não circularam em 2011 e voltaram agora com alterações questionáveis.

Acho que mais raro é uma instituição reconhecer falhas de um programa e usar isso para melhorá-lo. Então justiça seja feita à Biblioteca Nacional, que acaba de lançar a segunda fase de seu programa de livros de baixo preço. Algumas mudanças estavam previstas, outras foram pensadas pela percepção de problemas –boa parte noticiada no Painel das Letras.

A maior bandeira de Galeno Amorim quando assumiu a presidência da FBN, no começo do ano passado, soava tão interessante ao consumidor quanto deixava empresários do ramo de cabelo em pé: estimular a produção e comercialização do livro de modo que o preço final fosse R$ 10, isso envolvendo toda a cadeia produtiva, ou seja, editores, distribuidores e livreiros.

Se a ideia fosse viável, livros a R$ 10 já seriam comuns, diziam editores –para eles, não haveria como a conta fechar, pois seria muito trabalho para uma margem de lucro irrisória. Para Amorim, era uma questão de estimular o mercado a acreditar na possibilidade, e a conta fecharia a partir do momento em que o preço mais baixo resultasse no aumento de vendas.

***

No começo deste ano, a FBN lançou a primeira etapa do programa, visando a compra de livros a R$ 10 por bibliotecas, e logo veio a enxurrada de problemas. De cara, a tradutora Denise Bottmann descobriu que a editora Martin Claret havia cadastrado dezenas de livros com traduções suspeitas de plágio (comento a atual situação no Painel das Letras deste sábado: a Claret foi a terceira editora com mais livros pedidos por bibliotecas).

Inúmeras editoras não entenderam que as livrarias fariam o meio de campo. Só depois de cadastradas descobriram que não venderiam livros a R$ 10 para bibliotecas, e sim que teriam de vendê-los a até R$ 7 para livrarias, que revenderiam às instituições. Faltou consenso quanto à parcela de editoras e livrarias na negociação, e algumas destas nunca pagaram. Lojas fizeram pedidos às editoras sem encomenda anterior das bibliotecas, o que era condição do programa.

Após vários adiamentos no prazo para entrega dos livros, até o fim de setembro todas as bibliotecas devem receber seus pedidos, diz a FBN. O processo envolveu compras de 2.114 bibliotecas, intermediação de 384 livrarias e vendas de 274 editoras. Balanço da FBN aponta economia de R$ 66 milhões na aquisição de livros por bibliotecas –o preço médio até 2010, eles dizem, era R$ 44 por unidade, enquanto agora foi de menos de R$ 10.

No total, o governo gastou R$ 17 milhões. Eu me pergunto se livros vendidos a R$ 10 terão a durabilidade necessária para bibliotecas, já que em geral livros para bibliotecas precisam ter acabamento melhor. Me pergunto se esse barato não sairá caro, mas isso é só especulação.

***

Uma novidade positiva do programa é passar a bibliotecários o ônus de escolher os livros de que as bibliotecas precisam, algo inédito no país –em geral, a compra é feita por comissões do governo, enquanto em países como a França cabe a bibliotecários montar seus acervos.

Acontece que muitos bibliotecários não estavam preparados, como percebeu a FBN, que agora promete um programa para formação deles. Um exemplo: entre os 20 autores com títulos mais pedidos estão Gabriel Chalita, que escreve autoajuda, e o autor de best-sellers Nicholas Sparks. A boa notícia é que a maior parte dos autores com mais títulos pedidos são importantes em bibliotecas, como Machado de Assis, José de Alencar e Monteiro Lobato. 

Se na primeira etapa as editoras cadastravam livros que queriam oferecer e só depois os bibliotecários escolhiam, na nova fase haverá uma necessária inversão de papéis: primeiro as bibliotecas listarão, cada uma, 200 títulos que gostariam de ter. Serão elencados os mil títulos mais indicados, e 400 deles serão comprados, espera-se, após negociações com editoras.

Estas se comprometerão a produzir 4.000 exemplares de cada títulos escolhido para distribuição em bibliotecas, que receberão kits, e outros 4.000 exemplares para colocação nas livrarias participantes do programa, para venda direta ao consumidor, a R$ 10. Uma novidade (que pode causar chiadeira entre livreiros) é que esta fase incluirá pontos de vendas que não sejam livrarias. Ou seja, farmácias que quiserem vender livros a R$ 10 ganharão um display para participar.

Se agora vai funcionar? Pode-se prever problemas, mas, ok, vamos dar um voto de confiança. E uma lembrança: editoras, livrarias, distribuidores e bibliotecas interessados em participar de ações futuras podem se cadastrar em www.bn.br. Isso também ajuda em mapeamento do mercado editorial, cujos dados ainda são obscuros.

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Sobre a organização da Bienal do Livro de SP: réplica e tréplica

Por Raquel Cozer
04/08/12 09:53

Hoje saiu no Painel do Leitor a resposta da Câmara Brasileira do Livro às notas sobre o evento publicadas no Painel das Letras do sábado passado, dia 28.

Como a carta deles acusa informações “não verdadeiras” na coluna, seguem abaixo as notas publicadas, a íntegra da resposta deles (que precisou ser resumida para publicação no jornal impresso) e a íntegra da minha tréplica (idem).

***

O dinheiro da Bienal 1 A pergunta que editores vêm se fazendo é: o que houve com o dinheiro da Bienal do Livro de São Paulo, que começa no dia 9? Além de o evento ter recebido autorização para captar R$ 7,9 milhões via Rouanet, com os Correios e a Volkswagen entre os patrocinadores, o preço cobrado das editoras pelo metro quadrado dos estandes teve o maior aumento das últimas três edições. Subiu de R$ 393 em 2010 para R$ 470 em 2012, um aumento de 19,59%, enquanto a inflação no período, medida pelo IPCA, foi de 12,78%.

O dinheiro da Bienal 2 Os autores internacionais vêm quase todos por iniciativa das editoras, tendo sido depois incluídos na programação oficial, o que prejudica o conceito de curadoria. Não foi oferecido cachê nem a mediadores –que, ao contrário dos autores, não estarão lá para divulgar seus livros.

O dinheiro da Bienal 3 A Câmara Brasileira dos Livros, que organiza o evento, chegou a sugerir a editoras que pagassem pela vinda de jornalistas de outros Estados, que então passariam 40 minutos no estande de cada pagante. A CBL informa que não falta dinheiro, embora tenha dito o contrário a editores.

***

A carta da CBL:

“Em respeito aos leitores do jornal Folha de S. Paulo, importante esclarecer algumas informações não verdadeiras, veiculadas na coluna “Painel das Letras” do último dia 28 de julho, sobre a 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

1. Apesar de autorizada a levantar até R$ 7,9 milhões por meio da Lei Rouanet, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) captou, até o momento, apenas R$ 2,1 milhões com patrocinadores que se interessaram pelo evento. Tais valores serão oficializados ao término da Bienal, por ocasião da prestação de contas. Importante lembrar que esse balanço será analisado pelo Conselho Fiscal da CBL, pela auditoria externa e deverá ser aprovado em Assembleia Geral dos Associados, antes de ser encaminhado às autoridades responsáveis.

2. A 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo coloca como prioritária a satisfação dos mais de 800 mil visitantes previstos para o evento. Com base em pesquisas realizadas com o público na edição passada, constatou-se que, para que este objetivo seja alcançado, seriam necessárias mais opções de transportes e ampliação da infraestrutura. A elevação no valor do m2 cobrado dos expositores reflete melhorias como o aumento do número de estações de Metro com transporte gratuito para o Anhembi (serão dois terminais em 2012, contra um em 2010), a duplicação do número de bilheterias e da área da praça de alimentação, mais horas de programação cultural etc.

3. A coluna se equivoca em relação aos objetivos da Bienal. Ela existe para valorizar e divulgar o trabalho da cadeia produtiva do setor editorial brasileiro, e representa uma grande oportunidade para todos os profissionais envolvidos na produção literária que, em sua esmagadora maioria, não pauta sua participação ou colaboração com o evento por interesses comerciais como o pagamento de cachês.

4. A Bienal do Livro entende que a cobertura do evento deve ser uma iniciativa espontânea, independente e de livre decisão dos veículos de comunicação, conforme os preceitos básicos da liberdade de imprensa. Assim, não haveria qualquer justificativa para custear a vinda de jornalistas de outros estados. Esse tipo de proposta foi rechaçada pela diretoria da CBL nas reuniões preparatórias do evento.

Cabe, ainda, lembrar que essas mesas informações já haviam sido publicadas na mesma coluna e, à época, respondidas pela CBL.

***

Minha resposta à CBL:

“A coluna questionou a CBL, em diferentes ocasiões, sobre possíveis dificuldades na captação de dinheiro e sobre a falta de dinheiro para o evento, recebendo sempre resposta negativa. A nota não informa que a Bienal do Livro captou R$ 7,9 milhões, apenas que foi autorizada a captar esse valor.

A coluna não se equivoca quanto aos objetivos da Bienal, a partir do momento em que nem aborda esses objetivos. Sobre cachê, foram ouvidos profissionais que se sentiram ofendidos com o convite para trabalhar de graça –já que, ao contrário de escritores, os mediadores não vão ao evento para divulgar seus livros.

Sobre o pagamento para a vinda a São Paulo de jornalistas de outros Estados, a coluna em nenhum momento diz que a Bienal deveria pagar por isso, e a CBL não diz a verdade quando afirma que a proposta de custear de algum modo a vinda de jornalistas de outros Estados foi ‘rechaçada pela diretoria’.

A coluna apenas informa que a Bienal sugeriu às editoras que pagassem pela vinda de jornalistas em troca de 40 minutos deles em seus estandes, ideia que vai totalmente contra a liberdade de imprensa.

As informações constantes das notas do dia 28/7 não são as mesmas publicadas anteriormente pela coluna, apenas se somaram a elas. Por fim, não há nenhuma informação não verdadeira nas notas publicadas, ao contrário do que afirma a CBL, que não desmentiu nenhuma delas.”

***

Atualização: neste domingo, a Folha publicou texto de Raul Wassermann, editor da Summus e ex-presidente da CBL, sob o título “Bienal: a conta não fecha”. Diz ele: “Os números continuam sendo manipulados para sensibilizar a mídia. As declarações finais são sempre as mesmas, louvando a superação de todas as metas. Quem sai no prejuízo fica no silêncio, envergonhado. Repito o que já disse há dois anos: por que não assumir que a fórmula está desgastada?”

E, no Veja Meus Livros, a editora Maria Carolina Maia escreve: Mais para feirão do que para inspiração de debates culturais, a Bienal do Livro de São Paulo ganha em 2012 uma de suas edições mais fracas em conteúdo.

Por fim, nesta terça-feira, o especialista em mercado editorial Felipe Lindoso constata sintomas problemáticos no modelo da feira desde o início deste século.

***

Agora vamos falar de coisa boa (a/c Kaz e Furlaneto): no Painel das Letras desta semana, o novo escritório da centenária editora espanhola Gustavo Gili em São Paulo; o novo conselho da Imprensa Oficial; movimentações recentes no mercado; os “blurbs” de Franzen sobre Chico para as edições em língua inglesa de “Leite Derramado” e mais.

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Sexo por sexo, fique com a HQ

Por Raquel Cozer
03/08/12 20:40

De Roland Topor, “Je T’Aime”, via 50Watts.com

Em uma semana, “Cinquenta Tons de Cinza” vendeu 10.316 exemplares, segundo o Publishnews. A contagem feita pelo site engloba as maiores redes do país, cujas vendas equivalem a cerca de 30% do total da comercialização via livrarias brasileiras.

Ou seja, em sete dias, “Cinquenta Tons de Cinza” teve cerca de 30 mil cópias vendidas em território nacional. Isso equivale a dez vezes a tiragem média de uma obra literária por aqui –sendo que esta, em geral, demora mais de um ano para se esgotar, isso quando se esgota.

Nos últimos dias, soube da reportagem em tom ultrapessoal da revista “Época”, vi Xico Sá dizer que o livro não chega aos pés das Sabrinas da vida, li Contardo Calligaris numa defesa entusiástica da leitura ininterrupta das 1.500 páginas dos três volumes da série.

O resumo que mais se aproximou do que penso foi o de Francesca Angiolillo, editora-adjunta da Ilustrada, no sábado passado: “[O livro tem] um vocabulário irritantemente pobre (que faz com que as hiperdescritivas cenas de sexo sejam o menos constrangedor da narrativa)”.

***

Antes de “Cinquenta Tons” sair por aqui, Luiz Schwarcz escreveu no Blog da Companhia que não conhecia nenhuma mulher que tivesse conseguido parar de ler antes de terminar os três volumes, por mais que torcessem o nariz. Admiro (mentira) a força de vontade delas.

Não me lembro de ter lido algo tão ruim desde que enfrentei “O Vendedor de Sonhos”, de Augusto Cury. A trama é tão óbvia, tão no estilo fantasia romântica adolescente –o primeiro livro, pelo menos, tem muito menos sexo do que os comentários fazem pensar–, que eu preferia uma tortura nada sexual no estilo “Audition”, de Takashi Miike, a ter de ler o segundo.

(Abaixo, o trailer de “Audition”, essa obra de arte. A cena de tortura está aqui, mas é um spoiler para quem não viu o filme, além de não ser NADA indicada a mentes sensíveis.).


A Companhia das Letras já começou a divulgar sua versão de livro erótico, “Toda Sua”, de Sylvia Day, com uma curiosa apresentação na linha “é mais bem escrito que ‘Cinquenta Tons'”. Logo mais chegam o da LeYa, “Luxúria”, e o da Record, “Belo Desastre”.

A onda de genéricos atingiu até outros gêneros. Prestes a lançar a antologia de contos de terror “Mistérios Noturnos”, a Universo dos Livros resolveu mudar o nome para “Tons de Sedução” e substituir a imagem de cemitério da capa pela de uma taça de vinho, bem ao estilo “Cinquenta Tons”. A pressão do leitores fez a casa voltar atrás, com título e capa originais.

O que acho engraçado é o discurso de “capa discreta para não constranger”, já que a esta altura até meu pai sabe que capas com sofisticadas taças de vinho, gravatas e saltos altos são sinônimo de literatura erótica feminina. Tive noção na Flip, quando um editor da Companhia das Letras me deu um livro da Sylvia Day. Antes de parar para deixá-lo na pousada, andei com ele para tudo o que é lado, me acreditando protegida pela discreta capa ilustrada com abotoaduras, até esbarrar em outro editor. Que perguntou, na lata: “Lendo pornografia, Raquel?”.

***

 Atualização em 8/8: segundo o “Guardian”, “Cinquenta Tons” já é o livro mais vendido na história do Reino Unido, tendo passado “O Código da Vinci”.

***

Minha dica: sexo por sexo, fique com o de Chester Brown. “Pagando por Sexo”, HQ recém-lançada pela WMF Martins Fontes, sobre as experiências do autor após decidir nunca mais transar por amor, vale mais que qualquer uma das variações de “Cinquenta Tons”.

Foi mal: só achei no Google cenas da HQ com textos em espanhol ou inglês

Primeiro porque é baseado em fatos reais, sem nada das fantasias juvenis de uma fã nada jovem de “Crepúsculo”. A história se passa nos anos 90, quando o canadense Chester Brown, hoje com 52 anos, se viu na encruzilhada entre a falta de vontade de viver o lado “pesado” dos namoros e a necessidade de continuar fazendo sexo. E passou a só transar com prostitutas.

Segundo porque, por ser baseada em fatos reais, é muito mais convincente. O quadrinista descreve sem pudor suas experiências e seus pensamentos durante o sexo, sem que isso seja constrangedor. Terceiro, enfim, porque, ao contrário de “Cinquenta Tons”, o livro diverte.

Brown, defensor da descriminalização da prostituição no Canadá, mantém há nove anos um relacionamento com a mesma garota de programa. Diz ficar feliz por saber que ela não faria sexo com ele se não ganhasse por isso –mas eu arriscaria ver romantismo nessa monogamia toda.

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Bolsas e prêmios literários: dúvidas nas inscrições, a recorrência de restrições morais e mais

Por Raquel Cozer
31/07/12 00:44

Está próximo o fim do prazo de inscrições para as Bolsas BN/Funarte de Criação e Circulação Literária (foi estendido para 10/8, data de postagem), e a caixa de comentários do meu post sobre o assunto não para de receber dúvidas. Uma delas eu mesma criei (ops): o prazo para elaboração do livro agraciado é de seis meses, não de um ano –que é o prazo de validade do edital.

Como nunca participei desses editais, mandei para a Biblioteca Nacional questões que os próprios leitores não ajudaram a responder. As dúvidas são deles; as respostas, da BN:

Se o autor é iniciante num gênero, mas já publicou em outro, há impedimento?
Podem ser inscrever para o edital de Criação Literária escritores com até dois livros publicados com ISBN. Se a pessoa não tem nenhum livro publicado, ela se encaixa perfeitamente no critério para proponente e pode apresentar projeto. Se a pessoa já tem livro de literatura com autoria principal publicado com ISBN, o número desses títulos não pode ultrapassar dois, independentemente do gênero das publicações.

Textos técnicos, acadêmicos e científicos não serão considerados no cômputo. Também não serão consideradas as obras nas quais o proponente não tem autoria principal.

O que significa “produto final da proposta a ser desenvolvida”?
Nessa parte, o proponente especifica o tipo de obra, o título e o gênero da mesma.

No item “vias encadernadas contendo texto de autoria do proponente, entre 15 e 20 páginas”, mando uma amostra do que pretendo escrever no livro?
O texto de autoria do proponente pode ser preenchido com um texto, vários textos ou partes deles, de qualquer gênero, de autoria do proponente, de acordo com seu interesse, desde que respeitando o limite de páginas. Podem ser textos publicados ou não. Não deve conter trechos da obra para a qual o proponente pede a bolsa, pois esta deverá ser criada durante os seis meses de bolsa. A obra tem que ser inédita. Os textos serão usados para avaliar a qualidade literária do texto do proponente.

Fui me informar sobre a documentação para quem for classificado. Mas a certidão a ser emitida pela Receita (Certidão Negativa de Débitos de Tributos e Contribuições Federais) não pode ser emitida, o site não permite. A única certidão possível para pessoas físicas é a Certidão Conjunta de Débitos Relativos a Tributos Federais e à Dívida Ativa da União.
Quanto à certidão, trata-se do mesmo documento, a saber, Certidão Negativa de Débitos Federais – Pessoa Física. A Certidão Conjunta de Débitos Relativos a Tributos Federais e à Dívida Ativa da União será emitida quando for verificada a regularidade fiscal do sujeito passivo quanto aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil – RFB e quanto à Dívida Ativa da União administrada pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional – PGFN .

A regularidade fiscal, no âmbito da RFB, caracteriza-se pela não existência de pendências cadastrais, de débitos em nome do sujeito passivo e, ainda, de não constar como omisso quanto à entrega: a) da Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (DIRPF); b) da Declaração do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (DITR), se estiver obrigada a sua apresentação; c) da Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF), se estiver obrigada à sua apresentação.” Para acessar a certidão, clique aqui.

 ***

Aqui, dicas de quem já esteve envolvido com os editais:

Fernanda de Aragão, que ganhou a bolsa em 2010 sem ter livros publicados antes –ela concorreu pelo Sudeste, concorrendo com mais de 1.500 candidatos para 30 bolsas.

“Fiz um projeto completo, como se fosse de doutorado, trocando o pensamento de pesquisa para escrita. Meu projeto foi escrito com uma única temática, todos os contos seguindo uma mesma linha, para dar unidade. Em cima do tema norteei as justificativas. Ao final, inclui um conto longo e trechos. Passado um ano da entrega do original à Funarte, ainda estou às voltas com o livro para publicar um bom material. Não fui um dos cinco contemplados para publicação pela Funarte, outras pessoas tinham mais experiência em montar um livro de contos como unidade. O processo de publicação foi feito depois que todos os agraciados enviaram seus trabalhos finalizados, seis meses depois. Escolheram um livro de cada região do país.”

Carlos Henrique Schroeder, também agraciado em 2010:

“As respostas não precisam ser acadêmicas e formais, pode responder de maneira coloquial (só cuide com os erros de português). E use referências, tipo: o romance que estou desenvolvendo se assemelha na pesquisa ao que o Fulano da Antuérpia fez no século passado no romance tal… E cite autores bacanas também, isso é importante. Não confunda objetivo e justificativa: o primeiro é onde você quer chegar, e o segundo por que você acha que deve fazer isto.”

De um ex-membro da comissão julgadora:

“Os projetos, em sua maioria, resultam muito parecidos, impessoais e técnicos, com alguma ou outra coisa que desperta a atenção, o enredo, uma proposta linguística etc. Os avaliadores dão importância ao texto literário que os proponentes mandam como exemplo.”

O leitor Vitor da Silva e Souza deu o caminho das pedras das fichas de inscrições, que muita gente não encontrava, e de documentos sobre a composição dos projetos.

***

Dias depois do post sobre os editais BN/Funarte, repercuti questionamentos de leitores sobre um estranho moralismo decorrente de restrições temáticas. Diziam respeito ao item que informa que os projetos não podem caracterizar apologia ao tráfico de drogas, ao terrorismo, à discriminação e a outros temas non gratos.

Além de a tentativa de diferenciar a simples abordagem de uma apologia numa obra literária dar margem a enormes discussões, desde quando restrições morais fazem bem para a literatura? Desde quando a literatura que não é de autoajuda serve para indicar caminhos?

O escritor Eduardo Sterzi foi quem me fez atentar para outro caso recente do gênero. No regulamento do Prêmio Sesc de Poesia, o item 7 informa: “As poesias devem conter elementos que promovam o bem-estar e os valores morais”.

Como esclareceu a Biblioteca Nacional quando a questionei sobre as restrições, são apenas as regras para quem quer a bolsa, não para quem quer escrever em outras circunstâncias. O Sesc poderia argumentar o mesmo, é claro.

Mas desde quando, e desta vez não é uma pergunta retórica, é mesmo uma dúvida, desde quando critérios morais são eliminatórios para premiações ou bolsas literárias que não sejam, sei lá, de uma ONG em defesa das crianças? Não lembro casos anteriores. Sei que, nas bolsas BN/Funarte, esta foi a primeira vez que eles constaram dos editais.

Abaixo, nos comentários, o Rodrigo Domit, do Concursos Literários, responde à pergunta não retórica: “Os prêmios do Sesc-DF apresentam a restrição desde as primeiras edições. Mas nunca foi grande obstáculo para a abordagem de temas como o machismo, violência doméstica etc. Não cobram que a pessoa promova, num texto meio ‘lição de moral ao final do Capitão Planeta’ ou ‘discurso do He-Man sobre o que aprenderam no episódio’. Só querem evitar material que, com a logomarca e apoio do Sesc, não poderiam publicar”.

Via Renata Lins, cheguei a este post ótimo do O Palco e o Mundo, publicado também hoje, com exemplos de poemas com os quais Carlos Drummond de Andrade, patrono do prêmio, seria rejeitado.

Já o poeta André Vallias, gênio das tiradas poéticas no Twitter, preparou esse versinho.

poema para prêmio

o tema não é nada genial:
o metro de dez sílabas, contudo
atesta que foi feito com estudo
e atento aos bons valores da moral.

De todo modo, dado o número de interessados com dúvidas, não me parece que restrições morais soem assim agressivas para quem busca ajuda para publicar um livro.

***

Por falar em prêmios, falei deles no Painel das Letras deste último sábado: nesta quinta-feira, às 15h, a Secretaria de Estado da Cultura divulga os 20 finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura, abrindo a temporada de grandes prêmios literários nacionais. Na semana passada, o inglês Man Booker Prize deu um exemplo interessante, ao deixar hors concours de fora e arriscar estreantes e autores de pequenas editoras. A bibliodiversidade agradece.

(Intervalo para propaganda: o Painel das Letras tem também a estreia de Hilda Hilst em livros nos EUA,  questionamentos de editores sobre a Bienal do Livro de São Paulo, a estreia do selo de poesia Musa Rara etc.)

Por falar em estreias e estreantes, até o fim de agosto estão abertas as inscrições para a primeira edição do Prêmio Paraná de Literatura, para obras inéditas.

E ainda, para finalizar: saiu ontem no “Diário Oficial da União” a lista de selecionados para o Programa Nacional do Livro Didático 2013. A informação chegou via Carolina Vigna-Maru, que entrou na lista com o infantil “Godô Dança” (Manole), de onde tirei a imagem do cãozinho acima. 

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Livros e revistas gratuitos na web

Por Raquel Cozer
25/07/12 11:35

Trecho de conto de Ludmila Rodrigues, ilustrado por Mariana Lucio, na Revista Trevo #1, e escolhido para este post por uma leve identificação da autora do blog. Não com os cigarros, por supuesto

O escritor Carlos Henrique Schroeder (que publicou por estes dias este imperdível guia do melhor da web literária) aproveitou o Dia do Escritor para disponibilizar o PDF de seu livro “As Certezas e as Palavras”. Nem gosto muito de datas do gênero (afinal, todo dia é dia), mas pego carona na ideia dele para destacar livros e revistas oferecidos de graça na internet.

Este é um post em progresso, quem tiver sugestões pode mandar também. Valendo apenas livros ou revistas que possam ser baixados e lidos off-line, para não virar a festa da uva. Quando chegar o momento em que eu achar que chega, bem, daí chega.

***

Livros

As Certezas e as Palavras (PDF), de Carlos Henrique Schroeder
Volume de contos publicado em 2010 pela Editora da Casa, vencedor do Prêmio Clarice Lispector de Literatura 2010, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional

Sete Anos e Um Dia (TXT), de Elvira Vigna
Primeiro romance adulto da escritora, de 1988

Sexo Anal [Uma Novela Marrom] (PDF), de Luiz Biajoni
Publicada em março de 2010 pela Os Viralatas, teve 10 mil downloads, segundo informa a capa

Dentes Guardados (PDF), de Daniel Galera
Primeiro livro do autor, de contos, publicado em 2001 pela Livros do Mal e atualmente fora de catálogo

Ovelhas que Voam se Perdem no Céu (PDF), de Daniel Pellizzari
Publicado na mesma leva de “Dentes Guardados”, pela Livros do Mal

Nós 1.0 (PDF), de Mario Cau
Oferecida exclusivamente para download, é a primeira versão da HQ “Nós”, lançada pela Balão Editorial

Beggining of a Great Adventure (PDF), de Mário Cesar
Continuação da história em quadrinhos “A Walk on the Wild Side”, presente no volume “Entrequadros”, também da Balão

26 Poetas Hoje (PDF), org. Heloisa Buarque de Holanda
Ana Cristina Cesar, Waly Salomão, Chacal e outros compõem a seleção de 1975, que marcou época

Cigarros na Cama (PDF), de Ricardo Domeneck
Volume de poemas disponibilizado em apoio ao site Livros de Humanas, que está sendo processado pela ABDR. Angélica Freitas, Eduardo Sterzi e outros também ofereceram livros próprios para download gratuito

***

Revistas

Trevo #1 (TXT, EPUB, PDF, MOBI)
Publicação digital com textos de novatos e veteranos, recém-lançada pelos jornalistas Thiago Kaczuroski e André Toso e pelo designer gráfico Leandro Borghi.

Publicações da Casa de Rui Barbosa (PDF)
Edições digitais de publicações da Casa de Rui. Inclui inventários, como os de Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava e Vinicius de Moraes, e três edições da Revista Escritos

Casmurros #3 (PDF)
Fanzine editado pelo incrivelmente prolífico Rafael R., que cuida sozinho do blog literário Casmurros. Aqui, as edições 1 e 2.

Sobrecultura #9 (PDF)
Edição de junho do suplemento trimestral de cultura encartado na revista “Ciência Hoje”. As edições anteriores, desde 2010, estão aqui.

Suplemento Literário (PDF)
Edição especial, dedicada ao jornalismo cultural, da publicação atualmente bimestral da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais. Inclui texto de José Castello, entrevista com Sergio Augusto etc. Aqui, as edições desde 2006.

7Faces #4 (PDF)
A edição de dezembro da revista de poesia editada pelo poeta Pedro Fernandes, de Natal, traz poemas de Guilherme Gontijo Flores, Adriano Scandolara e outros

Cadernos de Não Ficção #4 (PDF)
Especial sobre literatura argentina e entrevistas com Bernardo Carvalho e Ricardo Piglia estão no número mais recente da publicação teoricamente (cof) semestral da Não Editora

***

Para não se perder em links, este post fica por aqui. Mas sugestões continuam bem-vindas. Serão aproveitadas em mais posts da série, que ainda não é série, mas vai ser. Juro.

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Alta literatura vs. literatura de entretenimento

Por Raquel Cozer
23/07/12 00:41

Foto feita em Amsterdã por Struan Teague; o trabalho dele pode ser visto em struanteague.com

Estava conversando por email esses dias com o Felipe Pena, organizador do “Geração Subzero – 20 Autores Congelados pela Crítica e Adorados pelos Leitores”, e comentei que felizes são os escritores que independem de resenhas para ter o trabalho conhecido –caso, entre os autores que ele selecionou, de Thalita Rebouças, com mais de um milhão de exemplares vendidos; André Vianco, que já passou dos 700 mil; Eduardo Spohr e Raphael Draccon.

Os números de vendas desses quatro são muito mais expressivos que os de quaisquer autores brasileiros, jovens, velhos, vivos ou mortos, cujos livros os jornais costumam repassar a críticos para avaliação. Por via das dúvidas, “O Globo” deste final de semana aceitou a provocação e publicou texto de João Cezar de Castro Rocha sobre o “Geração Subzero”.

Pouco depois daquela conversa com Pena, que antecedeu o lançamento do livro, discussão similar veio à tona na mesa de Jonathan Franzen na Flip.

Franzen é um personagem raro no mercado, um best-seller aclamado pela crítica. Figura tanto na capa do austero “New York Times Review of Books” quanto em discussões do clube de leitura de Oprah Winfrey. Acostumado com o gigantesco mercado americano, ficou assustado ao saber que seu “Liberdade” vendeu “só” 20 mil exemplares no Brasil –sem ter noção de que o número equivale a sete vezes a tiragem inicial média de uma obra literária por aqui.

***

Em Paraty, ele comentou: “Estranhamente, [embora venda muito], sinto que culturalmente estou do outro lado. Estou do lado dos que não vendem nada”. O subtexto, levando em conta o tom pouco elogioso que dedicara pouco antes a John Grisham e Stephen King, seria: os maiores vendedores de livros hoje em geral não têm valor literário. Mas ele foi além.

“A literatura está de fato com problemas”, ele disse. “Por dois séculos, o romance foi a forma de arte dominante. Gente como Faulkner, Conrad, podia contar com muitos leitores. Mas hoje o romance não é mais uma forma dominante na cultura. Então, mais do que nunca, é preciso lembrar que ele surgiu como uma forma de entretenimento.”

Aqui ele fez a ressalva de que a palavra entretenimento tem conotação mais negativa em outros idiomas do que em inglês. “Não digo que a meta seja escrever como James Patterson. Mas vivemos num mundo cheio de distrações, então precisamos pensar em como reter a atenção das pessoas. Isso podemos fazer com uma narrativa que atraia. A função do romance sério é usar essa capacidade de suspender as pessoas e ao mesmo tempo ser pertinente.”

Ao mesmo tempo em que admite a mágoa por “não existirem departamento inteiros de estudos sobre Franzen”, ele não quer que a preocupação com a escrita seja central ao ponto de se tornar um empecilho. “Não quero que ninguém pare para pensar na linguagem. Que ninguém diga: ‘Isso é uma metáfora, isso é uma frase formulada com tal objetivo’.”

***

Nesse ponto o discurso de Franzen lembra a defesa que Pena faz no “Geração Subzero”. Com a diferença de que Franzen fala sobre a literatura que ele gosta de fazer, sem criticar as que não aspiram a tal transparência. Na resenha sobre “Geração Subzero”, João Cezar questiona justamente esse ponto: “Como definir o prazer da leitura? No juízo de Paul Valéry, por exemplo, ele se encontra na própria dificuldade. Já no critério de Pena, ele reside na fluência da narrativa.”

Também no “Globo”, mas por outro motivo (achando graça na cobertura em busca de entretenimento que a imprensa, Folha incluída, fez da Flip), Hermano Vianna defendeu o direito “ao morno, ao pálido, e –radicalizando– ao chato” na “alta cultura”.

“Alguns dos espetáculos mais marcantes da minha vida, ou alguns livros que mais amei, foram de uma chatice avassaladora — e só atravessando vastos desertos de tédio (pois sou muito disciplinado) consegui perceber suas belezas. Se a chamada alta cultura perder essa permissão de nos entediar, muitas obras-primas da humanidade deixarão de ser criadas.”

***

De volta às resenhas, por fim. Dias desses, minha amiga Diana Passy me mandou esse texto do Publishers Weekly sobre o impacto de uma resenha na capa do “New York Times Review of Books”, o suplemento literário que mais repercute no mundo.

O PW escolheu seis títulos resenhados e bateu com os números da Nielsen Bookscan, sistema de contagem que mede até 80% das vendas de livros nos EUA. Para evitar interferências, selecionou livros “low profile”, lançados sem campanhas de marketing, sem divulgação extra da editora, como aconteceu com os mais recentes de Toni Morrison e Richard Ford.

Alguns resultados: “Making Babies”, de Anne Enright, teve 234 cópias vendidas na semana anterior à capa do suplemento, na edição de 13 de maio, e 417 cópias na semana seguinte. Resenhado no mesmo dia, mas negativamente, “The Conflict”, de Elisabeth Badinter, vendeu 140 cópias na semana anterior, e 121 na semana da resenha. Na edição de 27 de maio, três livros de economia elogiados tiveram aumento expressivo de vendas. Um deles, “Land of Promise”, de Michael Lind, chegou a vender três vezes mais –subiu de 150 para 636.

A conclusão: o suplemento tem influência sobre os leitores, embora não numa escala grande o suficiente para alterar o destino de um livro –em todos os casos, duas semanas depois da publicação as vendas voltaram a diminuir. Mais curioso do que isso é um detalhe percebido por um dos leitores que comentaram a reportagem no site: é impressionante o quão pouco vendem, em qualquer situação, os livros escolhidos para as resenhas.

No Brasil, as empresas que medem vendas Nielsen Bookscan e GfK estão só chegando ao mercado, então ainda não é possível uma análise do gênero. Já perguntei a editores se resenha em jornal ajuda a vender livro, e a resposta (não me lembro de quem) que mais me marcou foi: faz alguma diferença, pequena, mas não se pode dizer que seja um impacto diretamente no leitor. A questão é que livreiros tendem a deixar mais bem posicionados nas lojas os títulos assim que aparecem na imprensa. Na semana seguinte, muda tudo de novo.

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Dê "check-in" em lugares da ficção

Por Raquel Cozer
20/07/12 20:49

Taí uma rara foto em que fiquei bem, a do meu perfil no Foursquare

Segundo o Foursquare, a rede social que entrega para os outros em que lugar você está (serviço também conhecido como geolocalização), eu saí de casa apenas cinco vezes desde 5 de fevereiro. Fui vista pela última vez no Così, restaurante próximo à Folha, no último dia 3 de março. Além disso, praticamente só saí de casa para comer.

Isso equivale a dizer que essa história de geolocalização, de contar para todo mundo via internet o seu paradeiro, por ora não me convenceu. Dizem que há vantagens, que se você for muitas vezes ao mesmo restaurante ou à mesma loja e der o “check-in” via Foursquare, por exemplo, pode ganhar descontos, caso a empresa seja cadastrada no site (“check-in” é como eles chamam, mesmo na versão nacional, o clique que você dá confirmando que chegou a um lugar).

Basicamente, ainda integro o time que acredita que o Foursquare serve só para dar bandeja a “stalkers” (vou ter de recorrer ao parêntese de novo, antes que venham os caçadores da causa antianglicista perdida: não consigo imaginar tradução fiel o suficiente para o termo e que não pareça alienígena, mas aceito sugestões se forem boas).

Tudo isso para falar do Imaginaria, aplicativo gratuito que a Livraria da Vila colocou no iTunes há uma semana. À primeira vista, diria que é uma mistura do Skoob, a rede social “para quem ama ler”, com o Foursquare. Em resumo, você dá “check-in” em cenários onde se passam histórias de livros para, a partir disso, compartilhar o que está lendo, comentar, avaliar.

O aplicativo conecta o usuário automaticamente aos amigos do Facebook e do Twitter também cadastrados. Por ora, tenho um amigo na “Tabacaria” de Fernando Pessoa, um na Macondo de García Márquez e um na Eurásia de “1984”. Entre quem não conheço, os lugares mais visitados são o Castelo de Winterfell  (“A Guerra dos Tronos”, lido 562 vezes), o lago de Hogwarts e a Estação de King’s Cross (“Harry Potter e a Pedra Filosofal”, lido 672 vezes).

Estou lendo “Journalism”, HQ de reportagens curtas do Joe Sacco que saiu faz pouco nos EUA, então fui parar no Iraque, cenário de três histórias e localidade que eu mesma criei no aplicativo. Assim como no Foursquare, a cada “check-in” o usuário ganha pontos, sobe num ranking e… hm, será que ganha descontos na compra dos próximos títulos, Livraria da Vila? (cof)

Confesso que já tentei uma infinidade de redes sociais relacionadas a livros, do nacional Skoob ao americano Visual Bookshelf. Devem ter mais utilidades do que imagino para tanta gente usar. Para mim, a grande vantagem é permitir o registro dos livros lidos, coisa que já tentei fazer em outras épocas e outros blogs. Outra vantagem, válida para quem fica obcecado por temas conforme vai lendo, é que os aplicativos costumam sugerir títulos similares aos já lidos.

O que falta no meu caso é disciplina. Se o Foursquare diz que não saio de casa desde 5 de março, o Visual Bookshelf informa que leio há três anos “Após o Anoitecer”, do Murakami.

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Como se escolhe um escritor: a seleção do Sesc para a Bienal

Por Raquel Cozer
17/07/12 15:53

Falando em seleções de escritores (depois da discussão toda que rendeu por aqui, taí a repercussão no post do André Barcinski sobre a Granta), esta que o Sesc prepara para participação na Bienal do Livro de SP superou minhas expectativas.

O mote é interessante, especialmente para quem reclama de panelinhas: atrair para o debate escritores que nunca conseguiram ter um livro publicado.

O método de seleção já achei mais curioso: eles não têm de enviar originais para serem selecionados, e sim preparar um vídeo de até dois minutos “para se apresentar e apresentar sua produção literária, utilizando equipamentos digitais como celulares, tablets, webcams, câmeras fotográficas, filmadoras e laptops”.

Os organizadores dão inclusive uma sugestão de roteiro para quem estiver com bloqueio criativo cinematográfico: “Quem é esse autor, hábitos literários, onde escreve, por que escreve, sobre o que escreve, como escreve, para quem escreve” (nas redes já surgiram sugestões melhores desde que postei isso aqui, mas acho melhor omitir, cof).

Para avaliação dos trabalhos, serão observadas questões como qualidade de som e imagem e originalidade da narrativa na apresentação. Ao autor que só consegue perder a timidez quando escreve, recomenda-se amigos extrovertidos e dedicados, que aceitem apresentá-lo em vídeo. Falo em tom de brincadeira, mas aqui não poderia falar mais a sério: como jornalista de impresso, uma coisa que me desespera é dar a cara a tapa em eventos ou programas de TV. Se dependesse disso para passar numa seleção…

Curioso essa ideia ter partido do Sesc, instituição que tem iniciativas louváveis para abrir portas a novos escritores, como promover concursos de textos inéditos e viabilizar a publicação –o que também dá margem para uns e outros reclamarem de panelinhas, mas aí já entramos na espiral infinita do coro dos descontentes. Se o Sesc quiser falar sobre a iniciativa, a biblioteca aqui está aberta a comentários, é claro.

***

PS.: Via Facebook, Flavia Tebaldi, assessora técnica de literatura no Sesc, comenta: “Então, Raquel, talvez a proposta não tenha ficado muito clara, mas acho a ideia interessante: mostrar que existem –muitos– escritores que têm textos em blogs e pequenas revistas virtuais e que passam absolutamente incólumes pelo mercado literário, que, sabemos bem, nem sempre ou cada vez menos adota como critério de publicação a qualidade da obra. Não é curioso que o Sesc, mesma instituição que mantém há dez anos um prêmio de lançamento de escritores inéditos, apresente essa proposta, seguindo uma política de abrir espaço para os novos?”.

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Cresce número de títulos, caem tiragens de livros no Brasil. E outras curiosidades...

Por Raquel Cozer
11/07/12 13:41

Foram anunciados hoje os resultados da Pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada anualmente pela Fipe/USP, sob encomenda do carioca sindicado dos editores (Snel) e da paulistana Câmara Brasileira do Livro (CBL). Refere-se a 2011.

Coloco aqui os principais destaques, como fiz com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, mas não sem antes fazer as ressalvas também feitas naquele caso. A principal: o Fipe é um instituto da maior credibilidade, mas há que se levar em conta que os números em cima dos quais eles trabalham são merecedores de alguma desconfiança.

Como só há uma editora com capital aberto no país, a Saraiva, as outras casas não são obrigadas a disponibilizar seus números e não gostam de fazer isso. O desafio anual dos responsáveis pela pesquisa é convencer as editoras de que os números que elas passam não serão repassados para o mercado, apenas a somatória de todos os números.

Outra ressalva é que só uma parcela das editoras do país, estas estimadas em algo em torno de 500, participa. Neste ano, responderam ao questionário 178 editoras, das quais 128 podem ser “emparelhadas”,  ou seja, podem entrar na comparação do ano a ano porque também responderam no ano passado. Mas, como todas as grandes editoras entram nessa conta, as participantes correspondem a 57% do faturamento do setor.

Escrevi a respeito no caderno “Mercado” desta quinta, com destaque para como o mercado editorial hoje depende das compras feitas pelo governo para não encolher.

***

Aos números que mais me chamaram a atenção, então:

— Em 2011, foram editados 58,2 mil títulos, entre novos e reedições, ante 54,8 mil em 2010, um aumento de 6,28%.

— O crescimento do número de exemplares produzidos foi menor, de 1,47% (passou de 492 milhões para 499 milhões). O que significa, na comparação com o número de títulos, que o mercado está trabalhando com tiragens menores. É um movimento curioso. Num mercado em crescimento, o natural seria que as tiragens também crescessem (como lembraram nos comentários, isso tem a ver também o fato de a reimpressão hoje ser bem mais barata, e a estocagem, cada vez mais cara).

–O crescimento de faturamento no setor foi de 7,36%. Descontada a variação de 6,5% do IPCA, foi um crescimento apertado, de apenas 0,81%. Em 2010, descontada a inflação, o crescimento de faturamento com vendas para o governo e para o mercado tinha sido de 2,63%.

— Considerando só vendas ao mercado, houve decréscimo de 3,27% no faturamento. Em 2010 já tinha havido decréscimo, de 2,24%.

— O número de exemplares de livros vendidos ao mercado cresceu 9,8%. Você pode entender que o brasileiro está comprando mais livros, quiçá lendo mais. 

— O preço médio do livro caiu 6,11%, se considerado só o mercado (isso explica o faturamento cair, apesar de a venda de exemplares crescer). Não é nada que você possa perceber: o preço médio da venda das editoras para as livrarias (que fica em torno de 50% do valor final do livro) passou de R$ 12,94 para R$ 12,15.

— A maior queda de exemplares produzidos foi no subsetor de obras gerais, ou seja, a ficção e a não ficção que entram nas listas de mais vendidos. Nesse caso, houve queda de 26,5% no número de exemplares e um crescimento de 8,74% no número de títulos. Outra vez as tiragens: para se manterem nas livrarias, que privilegiam lançamentos, as editoras preferem lançar mais títulos em levas menores.

— Se o preço médio do livro para o mercado caiu, o preço nas vendas para o governo teve um aumento de 6,55%, chegando a uma média de R$ 7,48. Snel e CBL dizem que o valor para o governo varia ano a ano, porque há ano em que o governo compra livros para crianças pequenas, que podem ser mais caros, em outros compra livros para adolescentes. O fato é que em 2010 esse preço médio também tinha crescido.

— Um dado curioso diz respeito ao subsetor religioso, no qual as vendas para o governo tiveram um aumento de 487,2% (porque a base inicial era muito baixa). Antes que alguém questionasse por que um Estado laico estaria comprando livros religiosos, a CBL esclareceu que esse número diz respeito a editoras que se identificam como religiosas, mas que não necessariamente os livros vendidos são religiosos. Hm.

— Depois de três anos de crescimento expressivo na participação do total de vendas ao mercado, o porta-a-porta teve uma queda brusca. Em 2010, representava 21,66% das vendas. Agora, representa 9,07%. Crise na Avon, maior vendedora do porta-a-porta? Crescimento de outros meios, como vendas em igrejas e templos (que passou de 1,26% para 4,03%)?

— O faturamento com e-books foi de R$ 869 mil, sendo a maior parte, quase R$ 400 mil, em obras gerais, cuja oferta nesse formato é mais variada que a de livros didáticos, religiosos ou técnicos. Anyway, não chega a 0,02% do faturamento total do setor editorial. 

***

As imagens acima são da Jane Mount, que criou um projeto, o Ideal Bookshelf, pelo qual ilustra fotos de livros em prateleiras. Eu já o tinha linkado aqui na biblioteca em 2010, mas agora tem novidade: em novembro sai o livro inspirado no blog. (Em jornalismo, isso que fiz, de colocar imagens que não trazem informação sobre o texto, chama-se “pôr um calhau” =P.)

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Frases da Flip, para encerrar o assunto

Por Raquel Cozer
10/07/12 21:22

Tinha prometido a mim mesma só voltar ao assunto Flip em 2013, mas essa superou qualquer expectativa minha: a Diana Passy, que cuida das mídias sociais da Companhia das Letras, transcreveu 16 debates da programação oficial ou paralela envolvendo autores da editora. É claro que uma coisa ou outra se perdeu, mas o essencial, para quem não viu, está ali.

(Admiro a empreitada: no ano passado resolvi transcrever toda a entrevista do Antonio Candido e quis morrer três vezes antes de completar um terço da gravação.).

Algumas boas frases da Flip, então, cortesia do esforço da Diana. Incluí uma ou outra que recordei, mas este foi um ano em que consegui ver especialmente poucas mesas. Quem lembrar outras pode mandar que incluo aqui. As fotos são de Adriano Vizoni/Folhapress.

***

“Comecei a escrever sobre sexo porque não estava fazendo, era como uma simulação de como seria. Então aos 37 anos finalmente fiz sexo, e foi ainda melhor do que havia imaginado nos dois primeiros livros.”
Gary Shteyngart 

“’The Penis’ é uma história de um pênis que se destaca do corpo, adquire uma vida própria, uma carreira. Quando publiquei, o editor disse: “Por favor, não publique essa história, vão rir de você a vida toda”. Ele estava certo.”

“Comecei a escrever pra parar de enlouquecer. Precisava enlouquecer os outros.”
Hanif Kureishi

“Drummond sempre escreveu pra se explicar a si próprio, escrevia com o próprio fígado. E aquilo se transformava num discurso geral que se aplicava a todos.”
Armando Freitas Filho 

“O bonito do Drummond é que você aprende que precisa estar à altura da queda.”
Carlito Azevedo

“Criei um bandoleiro com Alzheimer que entrava na cidade pra matar alguém, esquecia quem era e tinha que pedir ajuda aos moradores. Recebi cartas de associações, foi algo que me fez pensar. Eles têm razão, mas eu também. É preciso respeitar, mas não podemos sacralizar as coisas também. A sacralização é uma forma de desrespeito”

“A verdade é que a gente não deve acreditar em tudo o que vê nos quadrinhos”
Laerte

“Uma vez fiz uma tira com uma mulher reclamando que há muito tempo o marido não tocava nela. Ele enche ela de porrada e diz “pronto, toquei”. Era uma piada claramente a favor da mulher, mas teve uma jornalista que disse que sou machista. Ela não entendeu a piada.”
Angeli

“O 11 de setembro foi um ataque midiático e político baseado no ataque terrorista.”

“O que me incomodava [sobre o amigo David Foster Wallace] era que vejo o suicídio como uma pequena fraude, e odeio fraudes. Mas esse é um assunto complicado, eu não deveria falar sobre isso.”
Jonathan Franzen 

“A dificuldade de qualquer escritor contemporâneo é escrever qualquer coisa que seja nova.” (sugestão do Henrique)
Paloma Vidal

“Quando estou num momento em que preciso escrever, é triste. Mas você começa a escrever, é uma alegria. Aí você vai editar e é uma tristeza: quem foi o idiota que escreveu isso? Depois que você edita, é uma alegria de novo.”
Teju Cole

“Quando você pesquisa para um livro, precisa saber dez vezes mais do que vai usar.”

“James Wood me acusou de ser um manipulador. Então, basicamente ele me acusou de ser um romancista.”
Ian McEwan

“Na cidade em que nasci, há um grande número de suicídios. Em vez de me matar, resolvi escrever sobre a morte dos outros. A literatura não salva, mas adia a morte inevitável.”
André de Leones

“Minha mãe morreu em janeiro desse ano. Meu sobrinho outro dia estava brincando com um balão e jogando bem alto: ‘Numa dessas, talvez minha avó pegue’. Acho que ele foi muito escritor nesse momento.”
Carlos de Brito e Mello

“A leitura quebra o monopólio da construção da realidade e as barreiras de estratificação social.” (sugestão do Henrique)
Sylvia Castrillón

“Não existe ocidente e oriente na produção, isso são conceitos políticos. Não há diferença entre poetas de um hemisfério ou outro.”

“Obama é uma máscara negra por cima de um rosto branco.” (sugestão do Marcelo Miranda)

“Para mim não faz sentido uma revolução onde não haja a liberação da mulher e a separação de religião e Estado.” (sugestão do Henrique)
Adonis

“Há livros que são imediatamente reconhecidos e viram clássicos, mas alguns crescem com o tempo. Os leitores que decidem com o tempo.”
Jonathan Galassi

“Montanhas de livros chegam até você e é exasperador, porque você sabe o esforço que foi gasto naquilo. Não quer magoá-los, mas também não quer enganá-los de que aquilo é bom. E de repente chega um livro com uma voz que salta das páginas e te prende. E você sabe que este é um escritor para quem você quer trabalhar.”
Deborah Rogers

“A família deve ser uma casa, não uma prisão.” (sugestão da Rosana Caiado)
Dulce Maria Cardoso

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