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Raquel Cozer

Perfil Raquel Cozer é jornalista especializada na cobertura de livros

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Teju Cole: "Não reconheço essa Nova York de 'Seinfeld' e 'Friends'"

Por Raquel Cozer
08/07/12 11:28

O escritor americano filho de nigerianos Teju Cole chegou ontem à Casa Folha com uma camiseta onde se lia “Nem alegre nem triste: poeta” e iniciou sua fala com a leitura de “No Meio do Caminho”, de Drummond –leu os dois primeiros versos em português e depois passou para a tradução de Elizabeth Bishop para o inglês.

Falou de seu romance de estreia, “Cidade Aberta”, comentou sua paixão pela fotografia, deu suas impressões a respeito do Brasil, onde está pela segunda vez –dois anos atrás, passou algum tempo em Cabo Frio e no Rio. E citou dois momentos em que sofreu preconceito no Brasil, como relata o repórter Marco Aurélio Canônico na Folha de hoje:

O primeiro foi ao chegar no aeroporto internacional de São Paulo, “acompanhado de dois outros autores americanos convidados, brancos”, que ele não quis identificar.

“Alguém do aeroporto me apontou um caminho; meus amigos me seguiram, mas ele disse que só eu precisava ir. Minhas malas passaram por uma vistoria extra. Bem-vindo ao Brasil”, contou.

“É claro que essa seleção não foi feita porque alguém olhou meu passaporte.”

O outro incidente aconteceu durante a Flip, quando o escritor entrou em um local no centro histórico de Paraty “onde as pessoas estavam indo e vindo livremente”.

“Fui perseguido pelo segurança, até que apareceu alguém dizendo ‘ele é um dos nossos palestrantes’. Essa é a realidade presente aqui.”

Não falou isso em tom de indignação. Disse que já se acostumou, que passou por situações do gênero em outros países, e elogiou a afetuosidade do povo brasileiro. O que, é claro, não ameniza a vergonha de saber que isso acontece sem que a gente se dê conta.

Teju conquistou com alguma facilidade o público que lotava a Casa Folha, entendendo algumas perguntas em português e dando longas respostas a todas. Ele poderia ter sido uma espécie de valter hugo mãe da Flip 2012 se tivesse lido Drummond ou feito outras graças do gênero na Tenda dos Autores, onde falou na tarde anterior. Não fez nada disso, mas foi uma boa mesa.

***

Teju e Paloma na Tenda dos Autores, em foto de Adriano Vizoni/Folhapress

A certa altura do debate entre ele e a argentina radicada no Brasil Paloma Vidal, o mediador, João Paulo Cuenca, perguntou se escrever era um prazer para eles. Paloma respondeu: “É uma felicidade”. E Teju: “Consigo escrever e sinto felicidade. Daí leio e sinto tristeza: quem foi o idiota que escreveu isso?”.

É curioso saber que a tristeza tenha existido na escrita de “Cidade Aberta”, o romance de estreia que o alçou à fama instantânea nos EUA (até onde “fama” e “literária” não são antônimos). Entre outras coisas, o livro recebeu elogiosa crítica de cinco páginas na “New Yorker”, assinada por James Wood (de “Como Funciona a Ficção”). Aqui foi um daqueles casos de livros atropelados pela Flip. Com tantos títulos saindo ao mesmo tempo, Teju ganhou menos espaço.

Como escrevi no papel, à primeira vista “Cidade Aberta” pode dar impressão de um elogio a Nova York, metrópole onde se passa a maior parte da história. Mas a primeira vez que a expressão aparece na narrativa é em referência a Bruxelas, como lembrança de que é como se chamam, em tempos de guerra, cidades que se rendem para preservar a infraestrutura –essa é só uma contradição que ajuda a entender outras do livro.

Teju nasceu no Estado americano de Michigan, foi criado na Nigéria natal de seus pais e se estabeleceu nos EUA aos 17. O protagonista do romance, Julius, meio nigeriano, meio alemão, também chegou em Nova York aos 17 e hoje (ou melhor, em 2006, quando começa a história) é um jovem psiquiatra que passa as tardes andando sem rumo e prestando atenção nos tipos e cenários que para os outros não passam de pano de fundo.

Ele explica melhor tudo isso na entrevista a seguir, feita na manhã de quinta em Paraty.

***

Teju em foto de Vizoni, também: ele gosta de fotografar, mas detesta ser fotografado

A primeira vez que o termo “Cidade Aberta” aparece no livro é em referência a Bruxelas, e não a Nova York. Como fez essa conexão entre o termo para as duas cidades?
Queria usar “cidade aberta” em dois sentidos. O primeiro é mais óbvio, “aberta” tem conotação positiva, coração aberto, mente aberta, então é isso o que as pessoas pensam, um lugar no qual você pode ir e vir livremente. Mas há esse segundo termo, militar, pelo qual cidade aberta é aquela que, em tempos de guerra, se rende num acordo, levando a uma situação em que tudo parece normal, sem destruição, mas com a convivência dos invasores. Achei o conceito interessante, e é um nome estranho para o conceito.

Escolhi Bruxelas, que passou por isso, porque um interesse meu em literatura são os duplos. Ter uma coisa em comparação com outra, um eco maneira indireto. Julius, o narrador, tem vários duplos no livro, mas o principal é Farouq, esse jovem marroquino que, como ele, é africano, jovem, intelectual, um pouco à esquerda, embora sejam  diferentes.

Nova York é uma espécie de capital de um novo império, e é uma capital insegura, com problemas internos. Os problemas estão lá, mas você não consegue ver. Não é como uma cidade invadida, quando há soldados estrangeiros usando seus recursos, seu oxigênio, mas Nova York tem de lidar com o terrorismo, com o crime, todas essas coisas.

Ao mesmo tempo, é a capital financeira do mundo, é uma capital cultural. E Bruxelas, com toda sua história pós-colonial e seus conflitos internos, é oficialmente a capital da Europa. Achei melhor explorá-la do que a Londres, porque Bruxelas é mais inusitada. Estive lá um mês atrás, e eles estavam felizes de eu ter usado a cidade, mas também surpresos.

Quando Julius está em Nova York, ele tem esse sentimento de não pertencer àquele lugar, mas, quando vai a Bruxelas, parece se sentir mais americano.
É claro que o livro é ficção, mas esse é um fenômeno que acontece comigo. Em outros sentidos também. Quando estou com um grupo de amigos radical, muito à esquerda, eu me vejo mais no meio. Quando estou falando com gente que se considera moderada, tenho vontade de dizer: ‘Ei, venha para a esquerda’.

Estou sempre defendendo o lado que está sendo atacado. Se estiver conversando com algum ateu radical, posso defender a religião. Se encontrar um religioso, vou dizer: ‘Esqueça, não quero saber de nada disso’. É mais ou menos isso o que acontece com Julius. Quando ele vê outros criticando os Estados Unidos, ele se vê defendendo o jeito americano contra quem não consegue entendê-lo.

O tema da migração percorre todo o livro, Julius é um migrante e conversa com outros a todo momento. Como isso ajuda a definir Nova York?
Nem sempre morei em Nova York, mas hoje [quinta] se completam 20 anos que cheguei lá. Só morei em Nova York em 12 desses 20 anos, mas percebi que aquela que aparece no cinema ou na TV não se parece com a que conheço. A de “Friends”, “Seinfeld”, que Nova York é essa? Não reconheço. Quando olho pra Nova York, as pessoas são diferentes. Não é essa em que você só vê seis amigos brancos vivendo em apartamentos legais.

Nova York é uma cidade de imigrantes. Isso é óbvio. Quando você entra no metrô, é como estar na ONU. E por que isso não aparece… Não escrevi o livro com a missão de mostrar como a cidade é. Foi apenas natural. Isso é apenas o tipo de coisa que a gente vê todo dia.

Julius é meio alemão, meio nigeriano, seu professor é japonês, seus pacientes são turcos e afro-americanos. Seus vizinhos são brancos, irlandeses ou algo do gênero. Isso é normal. Seria artificial se eu escrevesse essa história com todos brancos, mas vi livros sobre Nova York que fazem isso.

Acho especialmente interessante que o atual presidente dos EUA seja algo que eu chamaria desse novo tipo de americano. É americano, mas tem um pé em outro mundo, pais de fora, é ‘acusado’ de ser muçulmano, viveu na Indonésia. Cada vez mais vamos ver histórias assim. Não uma narrativa sobre imigrantes, mas a essência de ser americano e do mundo.

Você já descreveu Julius como um homem pós-11 de Setembro. O que seria uma pessoa pós-11 de Setembro?
Uma coisa importante é o questionamento quanto ao mito da inocência americana. Antes do 11 de Setembro, éramos esse país inocente e bacana, todas as guerras eram do outro lado do oceano, não precisávamos lidar. Depois disso, a guerra veio para casa, e para quem é esclarecido se tornou a ocasião para perguntar qual é nosso papel na miséria que as pessoas lá fora vivem.

Não é a primeira vez que isso acontece, mas, para a minha geração, o 11 de Setembro abriu os olhos para o mundo. Já houve a Coreia, o Vietnã, e para nós foi o Iraque, que lembra mais uma vez que a história do mundo não é americana. Isso foi o que 11 de Setembro fez.

Chamei de pós-11 de Setembro porque não queria que fosse uma análise do ataque às torres ou da guerra, queria que fosse uma história sobre como digerimos as coisas quando algo maior acontece. E parte da resposta é que digerimos isoladamente, não em público. E que a perda e essa forma de digerir se conectam uma à outra.

A primeira coisa que se precisa entender é que a história não começou ontem. Mas as pessoas que querem usar o 11 de Setembro politicamente, querem insistir que começou com o ataque. Falam como se fosse a pior coisa que aconteceu com Nova York. Mas, se você perguntar a um americano nativo, a pior coisa não foi o 11 de Setembro em si. Para os negros de Nova York o 11 de Setembro é terrível também, mas um quarto da população é descendente de escravos africanos. Foi uma longa história de escravidão, isso é um desastre. E parece que foi esquecido.

Você falou há pouco de Obama. Como avalia o governo dele?
Gosto dele. Acho que é notável e incomum ter nos EUA um presidente como ele. E está no lugar certo. No entanto, também é presidente, e isso vem com uma característica específica de brutalidade. Há uma tensão entre esse homem interessante, de quem gosto, e esse comandante-em-chefe de guerras ilegais. Mais notavelmente essa guerra ilegal no Paquistão, com os EUA assassinando pessoas. Mas acho que internamente ele teve muita oposição aos republicanos e que fez um trabalho incrível considerando o tipo de oposição que teve.

Um  ou outro personagem no livro diz para Julius ‘você é afro-americano como eu’, ressaltando as dificuldades que isso pressupõe. Algo nesse sentido mudou após Obama?
Sim, há grande diferença. Se você é um pequeno garoto ou garota negro nos EUA, todas as mensagens que a sociedade passa é que você não é bom. E, em certo sentido, alguém que parece com você é o chefe. É bom para afro-americanos, um tipo de conforto. Mas também para os brancos, mesmo os que não são racistas, porque deu uma experiência que a maioria nunca teve que é ter uma pessoa negra numa posição de autoridade.

Sou professor, e frequentemente tenho a sensação de que é a primeira vez na vida que aqueles garotos têm um professor que não é branco. Isso imagino que seja estranho para eles. Mesmo interagindo com vários negros, mas pegando o metrô, o motorista do ônibus, o homem da bilheteria. Obama ajudou a criar isso, e espero que os EUA também tenham, como o Brasil, uma presidente mulher, só para a gente passar por isso e seguir em frente.

Você está escrevendo uma não ficção sobre Lagos. Como é passar da maior cidade dos EUA para a maior da África, e da ficção para a não  ficção?
Quando você está escrevendo, fazendo um trabalho criativo, quando é um iniciante como eu, uma coisa curiosa é que você descobre seus interesses. Você não tinha como saber isso antes de começar, não tinha como saber se escreveria sobre amor ou horror ou espiões.

Mas, quando escreve, você desenvolve seus interesses. Descobri que meu maior interesse é escrever sobre cidades. Quando tiro fotos, são de cidades. Nesse sentido, Lagos faz sentido. “Cidade Aberta” é cheia de descrições líricas da vida na cidade a partir de um olhar para as pessoas e para as coisas, nesse sentido não há muita diferença.

As cidades são muito parecidas uma coisa a outra. Alguns milhões de pessoas vivendo juntas num espaço pequeno. E pessoas que ao mesmo tempo são cooperativas e hostis, isso é uma tensão interessante. No entanto, Lagos é diferente para mim porque foi onde cresci. Está conectado a infância, a familiaridade. E é uma cidade complicada, com problemas que em Nova York já foram resolvidos, como infraestrutura, eletricidade. As coisas pequenas que tornam a cidade mais desafiadora para quem vive lá e interessante para mim.

A ficção e a não ficção não são tão diferentes, já que a minha ficção trata de escrever de maneira que pareça real, tanto que muitos acham que é biográfico, com observações que vêm da vida ou parecem vir da vida. É claro, na não ficção tenho que tomar o cuidado de garantir que tudo o que escrevo venha da observação, da pesquisa, mas, como escritor, minha voz é minha voz, então o que escrevo provavelmente vai soar como meu.

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Detalhes sobre a seleção da Granta

Por Raquel Cozer
06/07/12 08:54

 

Detalhe da capa de Michael Salu para a edição com autores brasileiros

Como abordei a “Granta” em dois posts recentes e acabou saindo com poucos detalhes no jornal impresso o texto sobre como os organizadores dizem que foi a seleção (centro na ocasião de looonga discussão na caixa de comentários), vai abaixo o texto na íntegra.

Por ora, tive tempo de ler só a apresentação, para ver se aparecia mais algum critério da seleção lá, mas mais para frente, quando a cobertura da Flip e o fechamento da coluna tiverem passado, depois de ler, comento por aqui. E digo que leitor acertou mais nomes.

Obs.: a looonga discussão nos comentários sobre formação de panelinhas e problemas do mercado editorial levou o leitor Marcos a criar este site, Off Granta, para quem participou do concurso e não teve o texto escolhido enviar o seu.

Obs. 2: em seu blog absolutamente internet 1.0, o escritor Santiago Nazarian fez um honesto e divertido post sobre não ter sido escolhido.

***

Foram anunciados ontem, na Flip, os 20 nomes que integram a edição “Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros” da prestigiosa revista literária britânica “Granta”.

Carol Bensimon, Vanessa Barbara, Laura Erber, Carola Saavedra, Tatiana Salem Levy e Luisa Geisler, a mais jovem do grupo, nascida em 1991, compõem o time feminino. Os outros 14 são Cristhiano Aguiar, Javier Arancibia Contreras, Miguel del Castillo, João Paulo Cuenca, Emilio Fraia, Julián Fuks, Daniel Galera, Vinicius Jatobá, Michel Laub, Ricardo Lísias, Chico Mattoso, Leandro Sarmatz, Antônio Xerxenesky, e Antonio Prata.

Eles foram selecionados entre 247 escritores nascidos a partir de 1972 e que enviaram textos para a Alfaguara, editora que publica a “Granta” no Brasil. Segundo Marcelo Ferroni, editor da Alfaguara e um dos jurados, houve uma pré-seleção. Cada um dos sete membros do júri avaliou todos os 70 textos que passaram nessa triagem.

“Os 20 foram escolhidos única e exclusivamente com base na qualidade literária”, disse Roberto Feith, editor da Alfaguara. Segundo ele, não foram levados em conta editora, região, obra nem sexo do inscrito. “São os nomes que vão definir os rumos da literatura brasileira nos próximos anos”, disse.

Feith contou que, antes do anúncio, na última Flip, de que haveria uma “Granta” com brasileiros, a editora preparou um levantamento de nomes de jovens autores interessantes do Brasil. “Comparamos com a lista de inscrições e tivemos a certeza de que tínhamos começado bem. A maioria dos nomes listados como promissores tinha enviado textos.”

Segundo Ferroni, essa lista não interferiu na seleção feita a partir dos textos, embora 17 dos 20 nomes da lista final tenham sido consenso logo no primeiro momento. Além dele, integravam o júri Beatriz Bracher, Benjamin Moser, Cristovão Tezza, Ítalo Moriconi, Samuel Titan Jr. e Manuel da Costa Pinto.

O júri recebeu os textos em duas levas, entre outubro e novembro, e iniciou discussões por e-mail. Em fevereiro, cada um apresentou seus 20 escolhidos. Todos os que levaram de cinco a sete votos entraram na lista. Os que tiveram quatro votos também, a não ser que algum dos jurados quisesse retirar o nome. “Houve discussões acaloradas”, disse Ferroni.

Então veio a “fase do sigilo”, com os textos formatados antes que os autores fossem avisados. Os escolhidos ficaram sabendo entre a última semana de abril e as duas primeiras de maio –eles precisavam ler os textos finais e passar informações biográficas. A edição tem tiragem inicial de 10 mil exemplares no Brasil. Será publicada também nos países de língua inglesa e espanhola e na China.

O inglês John Freeman, editor da “Granta”, lembrou que “basicamente todos os autores que ganharam o Booker Prize nos últimos anos estavam nas listas de melhores autores de língua inglesa da ‘Granta'”. Citou Ian McEwan, Salman Rushdie e Julian Barnes, entre outros.

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Quem quer ler brasileiros em Portugal?

Por Raquel Cozer
04/07/12 14:00

Se Gonçalo M. Tavares, José Luis Peixoto, José Eduardo Agualusa, Inês Pedrosa e Mia Couto se tornaram conhecidos no Brasil, a responsabilidade é do Instituto Camões. Eles são alguns dos autores de países lusófonos que, nas últimas décadas, foram publicados no Brasil graças a incentivo da instituição portuguesa, que também os trouxe para divulgar seus livros.

Por isso é interessante um dos anúncios que a Fundação Biblioteca Nacional faz nesta Flip, um ano depois de divulgar a ampliação em seu programa de tradução de autores brasileiros no exterior. Esta é a ampliação da ampliação, digamos assim: além do apoio à tradução, agora a FBN oferecerá incentivo à publicação (e adaptação, em casos de livros de não ficção ou de quem quer que tenha coragem de adaptar ficção) em outros países de língua portuguesa.

O Camões beneficia autores de países lusófonos além de Portugal (caso do moçambicano Mia e do angolano Agualusa, por exemplo); a FBN focará brasileiros, já que não temos essa culpa histórica. A princípio, em fase experimental, serão 12 bolsas de até R$ 6.000. O edital deve sair no “Diário Oficial da União” nos próximos dias –quem se inscreve, é claro, é a editora lusófona que queira publicar algum livro brasileiro, não o autor interessado em ser publicado por lá.

***

Outros programas anunciados agora foram bolsas de tradução específicas por idioma ou gênero (técnico, científico etc.), bolsas de residência de tradutores estrangeiros no Brasil e patrocínio para viagens de brasileiros que queiram divulgar seus livros no exterior. Esses editais também estão praticamente prontos e devem sair nos próximos dias, segundo a FBN.

Antes que venham chorar as mágoas do dinheiro público para viagens de autores, já digo que sou a favor, se a coisa for feita da maneira certa –foi graças a isso, também, que nomes como Agualusa, Gonçalo e Peixoto vieram ao Brasil, o que certamente ampliou o impacto dos livros deles publicados aqui. E não critico o governo português por ter permitido que eu os conhecesse. Especialmente no que diz respeito a Gonçalo e Peixoto –este último, aliás, de volta à Flip neste ano, lançou um lindo livro pela Companhia das Letras há pouco, chamado “Livro”.

E ter a literatura brasileira publicada lá fora não é apenas capricho de autor, é uma forma reconhecida de divulgar a cultura, à qual recorrem países como a Alemanha, a França e Portugal.

O governo também investirá na presença do Brasil em feiras internacionais. Já foram acertadas, segundo o presidente da Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, homenagens nas feiras de Londres e Nova York e no Salão do Livro de Paris, mas as datas eles ainda não divulgam.

***

Autores brasileiros contemporâneos são bem pouco conhecidos nos países lusófonos. Temos Rubem Fonseca, que esteve há pouco num festival literário em Póvoa de Varzim, Clarice, creio, talvez Bernardo Carvalho. Escrevi uma reportagem em 2010 sobre esse intercâmbio no Estadão e falei com escritores, estudiosos e funcionários dos governos a respeito, mas, confesso, já não lembro detalhes que não entraram no texto (pode linkar? Ups, linkei).

O que sei é que essa presença hoje é incipiente perto do que já foi. Houve um tempo em que todo mundo em Moçambique lia Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Hoje em dia, segundo me disseram moçambicanos, nem isso. Para estudiosos, esse esquecimento resultou justamente da falta de ações para divulgar a literatura brasileira naqueles países, embora os mais maldosos possam dizer que isso decorre do fato de não existir um Guimarães Rosa nos dias de hoje.

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O que traduz Bóris Schnaiderman

Por Raquel Cozer
02/07/12 01:39

Bóris e Candido, em foto que aparece no documentário “O que Traduz Bóris?”

Bóris Schnaiderman e Antonio Candido combinaram comemorar juntos o aniversário de cem anos de cada um deles. O tradutor nasceu em 1917, o crítico literário, em 1918 (Candido completa 94 no próximo dia 24; não sei o mês de nascimento do Bóris, quem souber me ajude, please).

Candido acha graça ao contar isso em “O que Traduz Bóris?”, documentário de Daniel e Jorge Grinspum que será exibido na Biblioteca Mário de Andrade nesta segunda, a partir das 17h30, por ocasião do lançamento da “Revista da Biblioteca Mário de Andrade” n. 67. A edição inclui dossiê sobre Bóris, na qual Antonio Candido assina texto crítico. Ou afetivo, talvez, sem que isso lhe tire o interesse.

Bóris andou doente no ano passado, então é especialmente bom saber que confirmou presença. E, mais que isso, acompanhado por Candido, que tem mais disposição física do que eu. Quem já assistiu a um ou outro falar sabe a coisa impressionante que é. Ver os dois juntos é uma dessas chances únicas, tão únicas que, sinto avisar, só dava para confirmar presença até o último dia 28. Estarei fora de São Paulo, mas agradeço se alguém depois quiser contar como foi.

De todo modo, o documentário terá outras exibições, no mesmo local, nos dias 16, 23 e 30 de julho, e no dia 13 de agosto, sempre às 19h.

Dada a vida de Bóris, poderia ser uma ficção: em poucas linhas, vale citar que nasceu na Ucrânia, assim como Clarice, e assim como ela chegou criança ao Brasil nos anos 20; que ainda na Ucrânia viu na escadaria de Odessa as filmagens da famosa cena de “O Encouraçado Potemkin” (“potchânkin”, como Bóris pronuncia); que foi pracinha na Segunda Guerra e a partir da experiência escreveu seu único romance, “Guerra em Surdina”; que criou o mais importante curso de russo no Brasil, o da USP, e influenciou gerações de estudiosos.

***

Bóris, criança, não desgrudava do livro, conta Tatiana Belinky

Sua história de vida é conhecida, talvez porque ele goste de contá-la, ou talvez porque nós, jornalistas, nunca o deixemos em paz e ele seja educado demais para reclamar (tive minha chance de importuná-lo quando trabalhava no Estadão e ainda ganhei chá e bolachas com geleia de pimenta). O documentário a refaz com a ajuda de depoimentos, como os do editor e tradutor Jacó Guinsburg, amigo de juventude; da escritora Tatiana Belinky, que o conheceu na infância; e da professora de literatura Jerusa Pires, com quem é casado há 26 anos.

Entre as curiosidades, há o relato do filho de que Bóris teve neurose de guerra por anos a fio depois de voltar da Itália: “Ele acordava à noite, ficava de pé na cama e dizia: ‘Enterrem os mortos'”. Quem, como eu, não teve a oportunidade de ouvi-lo dar aulas é capaz se emocionar com a reprodução de uma linda fala dele ao programa “Aula Maior”, da TV Cultura, em 1975, analisando Dostoiévski a partir dos conceitos de dialogia e polifonia de Mikhail Bakhtin.

Ainda sobre Dostoiévski, a certa altura o tradutor Bruno Gomide conta que o único lugar no mundo onde Dostoiévski, Gógol, Tolstói e outros nomes russos são acentuados é no Brasil. Foi uma ideia de Bóris para facilitar a leitura e que acabou adotada pela academia e pelo mercado.

Talvez esse detalhe de nada ajude a esclarecer por que Bóris, assim como Candido, é essa unanimidade toda mesmo entre quem não é da academia. Entre os maiores nomes da intelectualidade brasileira, tanto um quanto o outro têm o raro talento de tornar acessíveis assuntos que teriam tudo para ficar encastelados na universidade.

***

(Vocês vejam que consegui terminar o post sem usar “fofo” para definir Bóris nenhuma vez. Ops, usei.)

***

Update: Acabo de ser informada de que Bóris não pôde ir à homenagem. =( Mas Antonio Candido foi, e Paulo Bezerra, e todo mundo relevante que sabe a importância de homenagear Bóris. Que ele fique melhor.

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Pode haver limites para a temática literária?

Por Raquel Cozer
24/06/12 19:59

Imagem do "Guia de Ruas sem Saída", de Joca Reiners Terron, que não ganhou bolsa da Funarte. Já explico por que a imagem aqui

Depois do último post, recebi mensagens questionando pontos dos editais das Bolsas BN/Funarte de Criação e Circulação Literária. Algumas criticavam a redução no número de bolsas; outras, a definição de que só pode participar quem tenha até dois livros publicados, regra inexistente nas edições anteriores. Mais importantes achei as críticas não relacionadas a interesses pessoais, e sim à literatura em si.

Essa última discussão surgiu do item dos editais que informa:

1.2. Os projetos concorrentes não sofrerão quaisquer restrições quanto à temática abordada, desde que não caracterizem:
a) promoção política de candidatos e/ou partidos; 
b) dano à honra, a moral e aos bons costumes de terceiros e da sociedade;
c) pornografia
d) pedofilia
e) discriminação de raças e/ou credos;
f) tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins;
g) terrorismo
h) tráfico de animais

Há uma variedade de detalhes do trecho que suscita discussão. O primeiro e mais óbvio é que a frase “não sofrerão quaisquer restrições quanto à temática abordada, desde que não caracterizem…” é uma contradição em termos, mas isso é que menos interessa aqui.

O item (a) considero mais do que justo. Um programa financiado pelo governo não tem nada que dar dinheiro a quem queira fazer promoção de algum partido ou candidato. Quem quiser que faça isso sem receber dinheiro público, obrigada.

O item (b) já fica meio em cima do muro: a restrição a obras que causem danos à honra e à moral de terceiros, lembrando mais uma vez que estamos falando de dinheiro público, é um critério que pode até ser considerado legítimo; a parte que fala dos bons costumes da sociedade é mais preocupante. Você extirparia o coração das grandes obras literárias da história se eliminasse aquelas que questionam os bons costumes da sociedade. Politicamente correto e literatura não combinam, definitivamente.

O item (c) me parece de um moralismo duvidoso. Lembro que dois anos atrás os jurados do Prêmio Portugal Telecom disseram a quem quisesse ouvir que “Pornopopeia”, de Reinaldo Moraes, tinha dividido o júri por ser “pesado demais”.  No ano passado, soube que “Nada a Dizer”, de Elvira Vigna, então um dos dez finalistas, não teve nem chance de ficar entre os três vencedores porque um dos jurados reprovou o uso de palavrões no romance. Triste saber que critérios assim entram na conta de gente que na teoria está mais do que habilitada a avaliar um romance.

***

Um erro na redação dos editais fez com que a partir do item (d) a coisa ficasse meio engraçada. Um livro que caracteriza pedofilia é como? Aborda menores com propostas indecentes? Um romance que caracteriza terrorismo deve explodir na página 36. Ou talvez seja só a definição para um romance muito, muito ruim. E o que seriam poemas que caracterizem tráfico de drogas? Feitos em folhas de coca? Não deixa de ter sua poesia.

A resposta a isso era imaginável, e, questionada, a Biblioteca Nacional confirmou a suspeita. A intenção era esclarecer que serão inabilitadas obras que façam apologia à pedofilia, à discriminação, ao tráfico de drogas e aos outros itens listados, e não que apenas abordem esses temas. Aí a discussão entra em outro nível, embora, como escrevi no Painel das Letras de ontem, diferenciar abordagem de apologia não seja tão fácil. “Cidade de Deus” fez a gente achar graça no Dadinho/Zé Pequeno  (esqueci o nome do personagem no livro. Miúdo?). Seria apologia ao tráfico?

Pois bem, pensando na apologia como apologia propriamente dita. Foi para não alimentar a discriminação que a Alemanha manteve fora de catálogo por décadas o “Minha Luta”, de Adolf Hitler. O que é uma forma de censura e, ao mesmo tempo, é uma decisão compreensível. Só agora, que o livro está prestes a cair em domínio público, foi que a Baviera decidiu publicar a obra, comentada, de forma a se tornar um objeto de análise, e não pura  munição na mão de neonazistas.

Questão parecida suscitou, no ano passado, debate acerca das comemorações em torno dos 50 anos da morte de Louis-Ferdinand Céline, um dos maiores e mais polêmicos escritores que a França já teve (abordei o assunto neste e neste post).

***

Ainda em resposta aos meus questionamentos, a Biblioteca Nacional informou: “Os editais das Bolsas de Circulação e Criação Literária são incentivos financeiros do Governo Federal a projetos que têm como objetivo fomentar a produção literária e difundir a leitura pelo Brasil. Uma vez que os projetos vencedores terão acesso a recursos públicos, fez-se necessário estabelecer regras quanto às temáticas apresentadas”.

Disse também que “todos os projetos inscritos serão analisados. Nada será descartado, a priori, sem uma avaliação crítica de especialistas em literatura”.

E concluiu: “A FBN e Funarte lembram ainda que a criação destas restrições estão em linha com a diretriz do Governo Federal, capitaneada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, para que todas as entidades trabalhem em bloco na valorização de direitos e combate a temas como pedofilia e discriminação de raças”.

O argumento poderia ser resumido assim: eles dão o dinheiro, eles estipulam as regras. Quem não gostar pode escrever sem pedir esse financiamento.

***

À imagem que abre este post, por fim. É de André Ducci e integra o livro “Guia de Ruas sem Saída”, com texto de Joca Reiners Terron. O livro resultou de uma bolsa do gênero que o Joca ganhou não da Funarte, mas da Petrobrás, em 2007, e que saiu no começo deste ano pela Edith, uma dessas editoras pequenas que conseguem espaço a fórceps num mercado dominado pelas grandes (me dá um abraço, Edith).

Algumas questões que têm a ver com a bolsa da Funarte cabem aqui. Uma delas é a temática: o centro do livro do Joca, financiado com dinheiro público, é o tráfico de órgãos. Seria considerado apologia? Não me parece, mas poderia parecer aos jurados. Posso dizer que não tive interesse em vender o fígado do meu marido depois de lê-lo, mas também acho que o fígado do meu marido não deve estar valendo tudo isso no mercado.

Falando com Joca para escrever sobre o livro para a “Ilustrada”, soube algo que pode interessar a quem quiser concorrer às bolsas da BN/Funarte. Ao inscrever o romance no edital da Petrobras, Joca imaginava chamá-lo “A Extinção da Infância”. Ao longo de quatro anos, ele mudou a história. Daí precisou enfrentar seis meses de burocracia do MinC para adequar o título ao romance tal como ficou. Ele até poderia correr o risco de perder a bolsa, imagino, já que o projeto aprovado não existia mais.

O que leva a uma última questão: é mesmo possível elaborar um projeto de obra literária? Admiro quem consiga, porque mal consigo pensar o esqueleto de reportagens…

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Saem, enfim, os editais das bolsas BN/Funarte de criação e circulação literária

Por Raquel Cozer
19/06/12 15:33

Saíram hoje no “Diário Oficial da União” os editais referentes às Bolsas de Criação e Circulação Literária, que no ano passado, no centro de uma interminável discussão entre Biblioteca Nacional e Funarte, não foram publicados –e que agora agregam as siglas das duas instituições no nome. O prazo para inscrições é de 45 dias a partir de hoje (até 2/8).

Para as Bolsas BN/Funarte de Criação Literária foram destinados R$ 450 mil. São 30 bolsas, no valor de R$ 15 mil cada uma, a princípio cinco para o Norte, sete para o Nordeste, cinco para o Sul, oito para o Sudeste e cinco para o Centro-Oeste. Podem concorrer brasileiros maiores de 18 anos natos ou naturalizados e estrangeiros no país há mais de três anos.

As bolsas são para iniciantes, considerados aí escritores com até dois títulos de autoria principal publicados com ISBN (ou seja, nome em antologia não elimina ninguém), interessados na produção inédita de poesia, romance, contos, crônicas e novelas. Os critérios são criatividade, contribuição artística e o mais comum para escritores (mentira): organização. A partir da divulgação do resultado, no segundo semestre, os selecionados terão um ano para entregar o livro, com possibilidade de prorrogação por mais um ano.

Já as Bolsas BN/Funarte de Circulação Literária, a serem usadas para a criação de oficinas, cursos, palestras e afins, ficaram com R$ 800 mil. São 20 bolsas, quatro por região, cada uma no valor de R$ 40 mil. As inscrições também ficam abertas pelos próximos 45 dias. Os critérios para habilitação são relevância cultural, impacto social e originalidade.

Aqui, o link para os editais.

***

Trago o assunto para cá porque foi abordado algumas vezes no Painel das Letras desde que assumi a coluna, em fevereiro. A discussão citada no primeiro parágrafo teve a ver com a recente transferência das políticas de livro, leitura e literatura do país para a Fundação Biblioteca Nacional. Oferecidas anualmente de 2007 a 2010 pela Funarte e apontadas em pesquisa do MinC como os mais importantes programas federais de fomento à criação literária, as bolsas não tiveram edital no ano passado porque não se chegava a um consenso.

Em fevereiro, o presidente da Funarte, Antonio Grassi, disse a dúvida era sobre que instituição cuidaria dos editais: a Funarte, que ainda cuida de outros editais de bolsas na área cultural, ou a FBN, por agregar as políticas de livro, leitura e literatura. Optou-se por um político meio-termo, embora, pelos editais, a Biblioteca Nacional pareça ficar com as rédeas da coisa toda.

O valor total, de cerca de R$ 1,5 milhão incluindo despesas administrativas, é bem menor que o de 2010, quando R$ 4 milhões foram destinados aos editais. Só as bolsas de criação, por exemplo, que eram 60, com R$ 30 mil para cada uma, caíram pela metade.

Soube de reclamações quando surgiram os primeiros comentários sobre redução nos valores (no Facebook, Ademir Assunção, membro do colegiado setorial da área de 2010 a 2011 e vencedor de uma bolsa de criação da Funarte em 2010, escreveu a respeito), mas não duvido que ela seja vista com bons olhos inclusive por gente da área, porque essa é uma questão que não alcança consenso. Há quem ache um absurdo o governo pagar pela “inspiração” de escritores, há quem ache um absurdo o governo não estimular a criação literária.

A entrada da FBN na história obviamente causou descontentamentos entre quem lidava com o modelo anterior, mas, muito antes disso, já existiam questionamentos quanto à forma como as bolsas eram distribuídas pela Funarte.  Sobre a participação da FBN não posso opinar antes de saber como ela se sairá, mas acho o formato de bolsas para criação literária, e especialmente o de formulação de eventos, importante, se bem realizado. Instituições públicas e privadas de países como França e EUA oferecem bolsas do gênero, inclusive para estrangeiros.

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"As Crônicas de Gelo e Fogo", um mea-culpa

Por Raquel Cozer
17/06/12 22:28

Tyrion Lannister (Peter Dinklage, de "O Agente da Estação"), o tipo de personagem pensado para ser o preferido de todo mundo

Devo desculpas, acho. Meses atrás, fiz bagunça ao escrever sobre séries de livros, esse fenômeno que tem tornado ainda mais monotemáticas as listas de mais vendidos. Disse que, depois de “Harry Potter”, todas as sequências de livros pareciam para mim, que não acompanho o ritmo, uma coisa só, alguma coisa dos tronos, crônicas de alguma coisa, guerra, fogo, luz, raio, estrela, luar, sei lá. No meio de tantas, fui citar justo “As Crônicas de Gelo e Fogo”.

Três ou quatro leitores comentaram que eu deveria ler George R.R. Martin, mas àquela altura eu não saberia dizer a diferença entre “As Crônicas de Gelo e Fogo” e “Jogos Vorazes” além do fato de um ocupar mais posições que o outro nas listas.

A coisa mudou quando fiquei órfã de “Sopranos”, dois meses atrás, e comecei a buscar uma série que me fizesse esquecer James Gandolfini. Contra todas as expectativas, “Breaking Bad” não tinha funcionado; e “Mad Men”, como algumas pistas sugeriam, era novelão demais para mim. Juntei votos confiáveis e, dias atrás, comecei a ver “Game of Thrones”, a adaptação da série de R.R. Martin que, na TV, ganhou o nome do primeiro livro.

Recomeço: dias atrás, comecei a ver “Game of Thrones”, o que reduziu em 89% minha vida social, e estou a um episódio de terminar a segunda temporada (isso explica também por que não avancei mais no “Ulysses”, mas vamos continuar culpando o trabalho). Tendo isso em conta: por favor, devolvam os dragões da khaleesi, digo, pelamordedeus, como se faz pra parar? Que história mais absolutamente viciante.

***

Por falar nela, a khaleesi. Ela me irrita um pouco, mas acho que isso não era intencional. Anyway, devolvam os dragões dela

Quando a primeira temporada acabou, baixei no Kindle o primeiro livro, em inglês. Pela série de TV, que é muito bem dirigida e produzida, você nota que boa parte dos personagens é muito linear (no sentido oposto, ótimos exemplos são os conselheiros do rei e o Tyrion Lannister), o que de certa forma é herança de um livro com personagens demais. Junte isso com o fato de ser uma fantasia épica e, para fins televisivos, você poderia pensar numa história adolescente.

Uma das soluções que encontraram para afirmá-la como série adulta foi pôr em cena o maior número de mulheres peladas por minuto, expediente com o qual “True Blood”, aquela série adolescente, não conseguiu me enganar. Os livros de Charlaine Harris também foram escritos para adultos, com um erotismo que não se vê entre os vampiros de Stephenie Meyer, mas, se as cenas de sexo fossem cortadas, o resultado na TV seria um programa adolescente.

“Game of Thrones” é diferente. Ainda que seja literatura para entretenimento, há uma sofisticação que repercute na tela. E que, acima de tudo, você não poderia imaginar em séries mais antigas. Aqui recorro a argumentos de Steven Johnson no ótimo “Tudo o que É Ruim É Bom pra Você”, que saiu pela Zahar. Johnson não trata de “Game of Thrones” em sua defesa da cultura pop, nem poderia –a versão televisiva não existia quando ele a escreveu, na segunda metade da década passada. Ele usa entre os exemplos “Seinfeld”, “Sopranos” e “West Wing”, e no posfácio lamenta ter terminado antes de “Lost” virar o que virou.

A ideia dele é basicamente que boa parte (a parte boa, digamos assim) das séries televisivas de hoje não faz concessões ao espectador, inclusive porque o espectador de hoje, ao contrário daquele de décadas passadas, pode rever os episódios quantas vezes quiser e ainda buscas pistas na internet. No caso de “Game of Thrones”, ao enredo já inspirado de Martin juntou-se a roteirização afiadíssima de David Benioff (autor de “Cidade dos Ladrões” e roteirista de “X-Men Origens”) e D.B. Weiss (que, desculpem, eu não conhecia).

***

O patriarca dos Stark, Ned (tenho quase certeza de que é o Beto Silva fazendo um frila), e mais atrás uma das filhas, Arya

Bem, “Guerra dos Tronos” trata de um território disputado por sete famílias, ou casas, e os personagens são jogados na história de uma forma que, se você dispersa por três minutos, você perdeu. A rainha Cersei de fato é má demais, má estilo bruxa com verruga no nariz (só que linda), mas na amarração ganha motivações até bastante críveis. Os Stark de Winterfell são bonzinhos demais, bonzinhos do gênero mocinha virgem de novela, mas o patriarca, Ned Stark, decapita um homem logo na primeira aparição.

A adaptação é de uma fidelidade admirável, tendo apenas enxugado personagens por absoluta falta de alternativa –até o quarto livro, mais de mil personagens são pelo menos citados, segundo perfil do autor publicado na New Yorker no ano passado. Não fossem tão grandes a diferenças entre a construção de um romance e um roteiro, daria para imaginar os atores decorando diálogos do livro antes das gravações.

A trama é tão igual, mas tão igual, na descrição dos detalhes, dos personagens, nas falas, que daqui para a frente acho melhor guardar o vício só para a série (update: nos comentários, abaixo, leitores dizem que a partir da segunda temporada a coisa muda, droga). Mas deixo aqui o mea culpa: a história é muito mais que crônicas de alguma coisa, guerra, fogo, luz, raio, estrela, luar, sei lá. Se não tivesse a versão televisiva para me poupar tempo, leria todos os livros e intimaria o R.R. Martin a terminar logo os que faltam –o primeiro saiu em 1996, o quarto foi lançado em 2005, e o quinto está em pré-venda, enfim.

***

Para finalizar, uma colaboração da escritora (e leitora de “Crônicas”) Nina Oliver, que pôs lado a lado o “Vade Mecum” e “A Tormenta de Espadas” (884 págs.), terceiro volume da série.

 

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Pílulas joyceanas para o Bloomsday

Por Raquel Cozer
16/06/12 13:40

“–Ele sabia o que era o dinheiro, o senhor Deasy disse. Ganhou dinheiro. Poeta, sim, mas inglês também. O senhor sabe qual é o orgulho dos ingleses? O senhor sabe qual a palavra mais orgulhosa que jamais se ouvirá da boca de um inglês?

O dono do mar. Seus olhos marefrios por sobre a baía vazia: parece que a história vai levar a culpa: por sobre mim e minhas palavras, indetestante.

— Que em seu império, Stephen disse, o sol nunca se põe.

— Bah! o senhor Deasy gritou. Isso não é inglês. Foi um celta francês que disse isso. Batia o cofrinho contra a unha do polegar.

–Eu vou lhe dizer, ele disse solene. ‘Não devo nada a ninguém’.

Bom menino, bom menino.

— ‘Não devo nada a ninguém. Nunca pedi um xelim emprestado na vida’. O senhor consegue sentir isso? ‘Não devo um tostão’. Consegue?

Mulligan, nove libras, três pares de meias, um par de berguezins, gravatas. Curran, dez guinéus. McCann, um guinéu. Fred Ryan, dois xelins. Temple, dois almoços. Russell, um guinéu, Cousins, dez xelins, Bob Reynolds, meio guinéu, Kohler, três guinéus, senhora McKernan, cinco semanas de estadia. O calombo que eu tenho é inútil.

— Por ora, não, Stephen respondeu.

***

O Kindle informa que só cumpri 21% da meta de ler todo o “Ulysses” até hoje, Bloomsday, o dia em que se passa toda a ação do livro. Mas o delicioso trecho acima, na tradução de Caetano Galindo, ajuda a ilustrar como meu fracasso até o momento decorre apenas do fato de os meus dias não serem intermináveis como o de Leopold Bloom.

Deve ser mais fácil para quem tem horas ociosas avançar no livro em pouco tempo, difícil é achar quem tenha muitas horas ociosas e interesse nisso ao mesmo tempo. Em um sentido “Ulysses” é mesmo parecido com “Grande Sertão: Veredas” –vencido o estranhamento com o estilo nas primeiras páginas, a coisa funciona que é uma maravilha.

***

Via Mental Floss, fico sabendo que Marcel Proust (1871-1922) morreu sem ler James Joyce (1882-1941), que por sua vez aos 40 anos ainda não tinha lido o francês.

Eles se encontraram no ano da publicação de “Ulysses”, por acaso também o ano da morte de Proust, num jantar, e a perspectiva de acompanhar uma conversa daqueles dois gênios da literatura deixou os outros convidados em polvorosa. Para decepção dos curiosos, antes de admitirem que não conheciam o trabalho um do outro, eles passaram a noite reclamando das infelicidades da existência –Joyce tinha dores de cabeça e problemas de vista crônicos; Proust era vítima de recorrentes dores de barriga.

Ao final, dividiram um táxi, e o autor de “Em Busca do Tempo Perdido” desceu antes sem pagar sua parte.

P.S. da pílula: nos comentários, o leitor César Jacques disse que a descrição dessa noite aparece meio diferente no livro “Uma Noite no Majestic”, do Richard Davenport-Hines, que a Record lançou faz um tempo. Tem uma descrição da descrição aqui.

***

Uma turma de estudantes de literatura em Boston criou e colocou no ar hoje, na loja da Apple, um aplicativo para um passeio virtual por Dublin pelos olhos dos personagens de James Joyce. Chama-se “Joyce Way” e custa U$ 3,99, que gastei para ver qual era.

Lembra um pouco os audioguias de museus, com direito a uma bússola para o usuário saber em que direção ficam os endereços citados, o que significa que é legal mesmo para quem está em Dublin, e não para quem, como eu, está no sofá com o laptop ao colo. Eles o definem como uma espécie de janela para os gostos, cheiros (cheiros?) e sons da Dublin de 1904, cenário do romance, tendo como  ponto alto, é claro, um roteiro com 15 os pubs citados na história, que continuam praticamente como eram um século atrás.

Como existe maluco para tudo neste mundo, inclui até um mapa para quem  se interessar pelo desafio proposto em “Ulysses” de atravessar Dublin sem esbarrar num pub. Taí, abaixo. Não dá para enxergar o nome das ruas, mas, como é um passeio que não se recomenda a ninguém, isso não chega a ser um problema.

***

“A história, Stephen disse, é um pesadelo do qual estou tentando acordar.”

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A universidade e os direitos autorais

Por Raquel Cozer
06/06/12 13:55

Capa de álbum da The Copyrights, que não tem nada a ver com o post, a não ser o nome debochado para uma banda do século 21

Semanas atrás, numa daquelas arrumações semestrais de armários que desafiam a física, quando a gente se livra de toneladas de papéis sem liberar nenhum centímetro das prateleiras, encontrei as caixas de xerox reunidas durante o breve período em que consegui conciliar a rotina de repórter de literatura com uma especialização na área, de 2008 a 2009.

Cheguei na época a comprar títulos que me interessavam mais (todo o amor deste mundo para Bakhtin), mas no geral fazia o que recomendavam os professores: xerocava o material deixados em suas pastas para as aulas seguintes. Eram R$ 20, R$ 30, a cada sábado. Uns R$ 400 por semestre ou, somando os três que cursei, R$ 1.200, enviados para reciclagem semanas atrás.

Isso foi só parte dos problemas relativos a textos durante aquele ano e meio.

Por semanas procurei o romance “Catatau” para minha monografia. O livro de 1975 teve segunda edição, revisada pelo próprio Leminski, em 1989, pela Sulina, numa tiragem tão pequena que ninguém viu. A terceira, pela Travessa dos Editores, saiu em 2005. Caprichada à beça, informava Cassiano Elek Machado na Folha, mas em 2008 não estava à  venda em lugar nenhum.

Fui encontrá-lo somente no site Viciados em Livros, em link que hoje aparece quebrado, retirado do ar a pedido da ABDR. Como Murphy é onisciente, onipresente e onipotente, a quarta edição saiu pela Iluminuras um ano depois de eu trancar a pós.

A monografia empacou, mas a empreitada me levou a escrever uma capa da “Ilustrada”, ouvindo editores, autores, administradores e usuários de sites de download. Perdoem o ar novidadoso do texto: era 2009, a Idade Média dos e-books no Brasil, uma época em que a Folha precisava explicar: “Lê-se ‘kíndou”. Ninguém falava da “chamada pirataria digital de livros”, e o site Livros de Humanas, hoje tão centro das notícias, estava só nascendo.

***

O  tema voltou na semana passada, no Congresso Cult, quando mediei a mesa “Descaminhos da Literatura”, sobre o destino da criação literária em tempos digitais. Numa discussão com alto potencial para  futurologia, os direitos autorais entraram como rara questão pragmática.

A antropóloga Mariza Werneck lembrou que esse é um conceito relativamente recente, oficializado no final do século 19, na Convenção de Berna, e que, portanto, a ideia de que possa vir a sofrer alterações não deve ser vista com estranhamento. O escritor Joca Reiners Terron seguiu mais ou menos o mesmo caminho, questionando, antes do conceito de direitos autorais, o de autoria numa época em que o artista combina referências pré-existentes.

Antes da resposta do jornalista francês Fréderic Martel, achei importante lembrar que a França é um dos países que mais defendem os direitos autorais. Desde 2003, autores recebem por livros emprestados em bibliotecas. O governo paga uma taxa em razão do número de usuários das bibliotecas (de 1 a 1,5 euro por inscrito), e a associação de autores Sofia distribui os recursos entre autores, editores e um plano de aposentadoria dos autores.

A resposta, portanto, era imaginada: Martel defendeu a necessidade de se estimular a cadeia criativa e produtiva do livro por meio do pagamento de direitos autorais e citou exemplos que considera bem sucedidos nesse sentido, como o da associação de roteiristas norte-americanos.

***

No artigo “Em defesa da obra”, publicado meses atrás na “piauí”, Bernardo Carvalho levanta pontos interessantes, embora eu discorde de alguns deles, como a espécie de defesa que faz dos herdeiros. Nesse ponto, fico com Robert Darnton, para quem é um absurdo que direitos autorais perdurem por 70 anos após a morte dos autores.

O argumento mais revelante de Carvalho, para mim, tem a ver com o fato de que em geral a defesa pela circulação de informação atinge só “o lado mais frágil do direito de propriedade, aquele que diz respeito ao trabalho intelectual individual”. O ponto central:

“Nenhuma empresa abrirá mão de suas patentes científicas ou industriais em nome da visibilidade, do bem comum ou do direito à informação. A começar pelas próprias corporações de mídia eletrônica – elas estão interessadas, isto sim, na adoção de um modelo flexível de licenciamento e difusão de conteúdo.

O Google, por exemplo, não pretende tornar disponível a usuários e competidores o saber por trás de seus serviços – e não é por acaso que mantém sigilo desse saber, a ponto de nenhuma informação sobre a empresa aparecer no próprio Google, que em princípio deveria ter acesso a tudo. Ninguém, a começar pelos fundadores do Creative Commons, pensa em pôr em questão o direito de herança e de propriedade sobre bens materiais e corporativos.”

***

Quando cito as caixas com xerox, a jornada em busca do “Catatau” e o quanto me ajudou o site Viciados em Livros, é para mostrar que o debate não é tão preto no branco. Eu compraria o livro se a Iluminuras já o tivesse publicado, mas não teria condições de (nem quereria) comprar todos os títulos pedidos pelos professores.

Foi por isso que no mês passado, depois de escrever no Painel das Letras sobre a ação da ABDR, esbocei uma reportagem ouvindo vários lados sobre a questão.

Uma dos entrevistados foi Ivana Jinkings, editora da acadêmica Boitempo, que, por email, disse que a casa “considerou violenta e não está de acordo com a ação da ABDR –entidade à qual não é filiada– que provocou a retirada do ar do blog Livros de Humanas.”

Mas ela ressaltou: “O retorno que a editora recebe é o que a mantém funcionando e o que permite publicar novos livros, alimentando assim o público leitor. É uma cadeia produtiva de subsistência”. Argumentou que “responsabilizar o leitor, a parte mais frágil e também a mais importante da cadeia editorial, é uma covardia. Assim como é um equívoco os leitores culparem as editoras, especialmente as pequenas, pelos preços dos livros no Brasil.”

A solução que propõe passa pelo governo, por incentivos para editoras acadêmicas (que não vendem para instituições públicas tanto quanto as infantis, didáticas e de interesse geral). E que é uma solução similar à imaginada pelo historiador Marco Antonio Villa –que tem, em geral, um posicionamento ideológico bem distinto do de Ivana.

Professor da Universidade Federal de São Carlos, Villa diz não ver alternativa à ampliação de acervos das bibliotecas e questiona, com razão, o fato de essa não ser uma demanda do movimento estudantil. Sua argumentação sobre direitos autorais tem pontos de semelhança com a de Bernardo Carvalho. Como o autor que também é, Villa critica o fato de a defesa de seus direitos ter se tornado algo “pejorativo” nos dias de hoje.

A resposta de Villa que resume o nó que temos pela frente foi a relativa ao uso de fotocópias nas universidades. Indignado, Villa disse que “há um descumprimento”, que “xerocar livros inteiros, conjuntos de capítulos, virou prática disseminada”. Reclamou que o professor transfere ao aluno um custo que deveria ser da universidade. Então perguntei a ele como faz em suas aulas. Ele riu, sem graça, e arrematou: “O mesmo que os outros professores.”

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Os mais votados no bolão da "Granta" e os escolhidos da Lettrétage

Por Raquel Cozer
03/06/12 22:06

Ilustração de Yoko Tanji, que tem várias outras fofas assim neste tumblr

***

Ok, desta vez extrapolei o tempo sem atualizar. Desculpem, sempre vai sobrar para o blog em tempos de vício em Song Pop, digo, de muito trabalho.

Enfim. Comentei no Painel das Letras de ontem (assinantes) que os selecionados para a “Granta” de melhores jovens autores brasileiros já foram avisados de que estão na lista. O anúncio oficial será na Flip, mas eles precisavam saber com semanas de antecedência para conversar com os editores sobre os textos e resolver questões burocráticas.

A Objetiva não fala a respeito, a “Granta” não fala a respeito, os autores menos ainda, porque nenhum deles quer correr o risco de ser eliminado. Apurei por meias palavras três bons nomes que estão lá e um bom nome que não está, mas não cito pra não prejudicar.

(Fui avisada de que um valentinho virtual questionou no Twitter a falta dos nomes oficiais aqui, então vou desenhar: publicar nomes agora pode resultar na desclassificação dos selecionados. Se continuar difícil de entender, a gente soletra.)

O vencedor do bolão lançado aqui no mês passado, portanto, só saberemos na Flip, quando pudermos bater com a lista oficial. O prêmio vai ser só a minha “Granta”, mesmo, desculpem =P. E, ok, posso pagar uma cerveja, se o vencedor estiver em Paraty.

Por ora, o que dá para fazer é listar os autores mais lembrados aqui no blog ou por e-mail. O que não quer dizer que sejam os preferidos, já que muitos votaram naqueles que acham que vão ganhar, e não naqueles que gostariam que ganhassem.

Como definiu um votante, pode-se entender como uma lista que “trafega entre o merecimento e o reconhecimento”. Nenhum dos votados apareceu em todas as listas, e boa parte delas também não chegava a ter 20 nomes. A eles, então:

  1. Andrea del Fuego (20 votos)
  2. Carola Saavedra (19)
  3. Joao Paulo Cuenca (19)
  4. Daniel Galera (18)
  5. Michel Laub (18)
  6. Tatiana Salem Levy (16)
  7. Antônio Xerxenesky (16)
  8. Carol Bensimon (15)
  9. Ricardo Lísias (15)
  10. Antônio Prata (14)
  11. André de Leones  (14)
  12. Santiago Nazarian (14)
  13. Ana Paula Maia (12)
  14. Veronica Stigger (11*)
  15. Daniel Pellizzari (9)
  16. Fabrício Carpinejar (8)
  17. Marcelo Moutinho (8)
  18. Cecilia Giannetti (7)
  19. Vanessa Barbara (7)
  20. Carlos de Brito e Mello (7)

* Ela avisou que não enviou texto para a “Granta”. Não sei se todos os outros mandaram, só listei os mais votados.

Outros lembrados pelos leitores: Carlos Henrique Schroeder (6 votos); Simone Campos (5), Tony Monti, Chico Mattoso e Ferrez (4); Manoela Sawitzki, Leandro Sarmartz, Julian Fuks e Emilio Fraia (3); Luisa Gesler, Angelica de Freitas, Brisa Paim, Clara Averbuck, Ana Cristina Melo, Letícia Wierzchowski, Socorro Acioli, MarceloBackes, Altair Martins, Fabricio Corsaletti, Reni Adriano e Leonardo Brasiliense (2); Claudia Nina, Claudia Lage, Leonardo Vila-Forte, Mariel Reis, Rodrigo Schwarcz, Ana Ferreira, Paloma Vidal, Bruna Beber, Alessandro Garcia, Eduardo Sterzi, Pedro Drummond, André Vianco, Thalita Rebouças, Eduardo Spohr, Luiz Eduardo Matta, Sergio Pereira Couto, Estevao Ribeiro, Raphael Draccon, Ana Cristina Rodrigues, Julio Rocha, Carolina Munhoz, Delfin, Janda Montenegro, Eric Novello, Cristiane Lisboa, Tatiana Maciel, Daniela Langer, Anderson Fonseca, Rafael Bán Jacobsen, Reginaldo Pujol Filho, Diana de Hollanda, Leandro Jardim, Rafael Sperling, Ramon Mello, Alexandre Soares Silva, Luis Eduardo Matta, Mayra Dias Gomes, Pedro Sussekind, Adriana Lunardi, Adriana Lisboa, Bruno Bandido, Tercia Montenegro, Whisner Fraga, Indigo, Paulo Scott e Sonia Sant’Anna (1).

Por motivos de eu preciso terminar este post hoje, não chequei as grafias de todos os nomes, por favor corrijam se encontrarem erros. Também incluí votos em gente que não poderia estar na lista, como Paulo Scott, Adriana Lisboa e Adriana Lunardi, que têm mais de 40, e Fabrício Corsaletti, que não mandou texto para a “Granta”.

***

A nota no Painel das Letras de ontem citava também outra lista que circulou nesta semana: a dos autores selecionados para antologia de literatura contemporânea brasileira a ser publicada pela editora da fundação alemã Lettrétage em 2013, ano em que o Brasil será homenageado na Feira de Frankfurt.

A fundação busca promover a literatura alemã no exterior, mas também faz o caminho inverso –em 2010, por exemplo, quando a Argentina foi o país homenageado na Feira de Frankfurt, publicou uma coletânea de escritores argentinos, uruguaios e paraguaios.

Falei com a Marlen Eckl, a organizadora da antologia de brasileiros, na semana passada. Ela é  brasilianista, historiadora e tradutora, com tese de mestrado envolvendo Moacyr Scliar, e passou a infância em São Paulo e Porto Alegre. Fala português melhor do que eu me aventurando em outros idiomas (não tem uma vez que eu vá escrever “idioma” que não digite “idiota”. Da série atos falhos, taí um que ainda não tive impresso no jornal).

Marlen contou que quase todo ano vem ao Brasil e que, nessas visitas, busca se inteirar do que está acontecendo de interessante na literatura. Disse que fez a seleção sozinha, considerando autores “jovens e conhecidos no Brasil, mas cuja obra ainda não foi publicada na Alemanha”. Ou seja, Carola Saavedra e João Paulo Cuenca, por exemplo, no alto da lista acima, nem poderiam estar nesta, porque já foram traduzidos lá.

Ela me disse que seriam 25 nomes, mas a lista tem 27, o que dá ideia da informalidade da seleção. Marlen escolheu autores que considera interessantes, como, afinal, fez o júri da “Granta”. Como resumiu Cristovão Tezza em texto que citei no post do bolão: “Um concurso literário é apenas índice de valor de um momento, de acordo com as cabeças idiossincráticas dos jurados, e não uma decisão transcendente decretada pelas musas”.

Aos nomes, enfim, com os devidos parabéns:

  1. Állex Leilla
  2. Ana Paula Maia
  3. André de Leones
  4. Antonia Pellegrino
  5. Antonio Prata
  6. Antônio Xerxenesky
  7. Carlos de Brito e Mello
  8. Carlos Henrique Schroeder
  9. Carol Bensimon
  10. Cecilia Giannetti
  11. Chico Mattoso
  12. Flavio Izhaki
  13. Helder Caldeira
  14. Julián Fuks
  15. Luis Henrique Pellanda
  16. Marcelo Benini
  17. Marcio Renato dos Santos
  18. Mariel Reis
  19. Olavo Amaral
  20. Paloma Vidal
  21. Rafael Bán Jacobsen
  22. R.D. Oliveira Lima Taufick
  23. Ricardo Lísias
  24. Tércia Montenegro
  25. Tom Correia
  26. Walther Moreira Santos
  27. Whisner Fraga
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