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Raquel Cozer

Perfil Raquel Cozer é jornalista especializada na cobertura de livros

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Zambra, Joyce e as lacunas de leitura

Por Raquel Cozer
19/05/12 16:41

O trecho acima é de “Bonsai” (Cosac Naify), livro bem lindo do chileno Alejandro Zambra, 36, que será companheiro de mesa do catalão Enrique Vila-Matas agora na Flip. A vantagem de “Bonsai” é que ninguém precisa inventar que leu; dá para matar em uma hora e meia, se tanto.

É um livreto de 96 páginas, mas naquela diagramação da Cosac que a gente conhece, feita de brancos generosos. Seria um desses “romances de capítulos curtos, de quarenta páginas, que estão na moda”, como ouve a certa altura Julio, o moço que não leu Marcel Proust, mas para mim fica mais naquela zona nebulosa entre uma novela e um embrião de algo maior.

“Bonsai” poderia ser acusado de parecer demais uma certa literatura que se faz hoje, auto-referente, orgulhosa do que é, ou então de partir de uma escolha recorrente entre iniciantes (coisa que Zambra, hoje celebrado no exterior, era quando escreveu), que é contar uma história romântica. É verdade que o livro é tudo isso, e tanto mais por isso impressiona que seja uma leitura tão boa. Se é do tipo que fica na cabeça, bem, alguém me pergunte no mês que vem.

O romance ganhou o prêmio do Conselho Nacional do Livro do Chile em 2006, e foi depois dele que Zambra entrou na lista de 22 melhores jovens autores hispano-americanos da Granta.

O que me intriga é que aquelas modestas 40 páginas (na versão sem diagramação da Cosac) tenham rendido um longa-metragem, exibido em Cannes no ano passado. Ao ver o trailer me lembrei de outro filme (“Cão sem Dono”) que me impressionou por sair de um livro magrinho, “Até o Dia em que o Cão Morreu”, do Daniel Galera –mas pelo menos este tem 104 páginas, e isso na diagramação menos conceitual da Companhia das Letras.

O trailer de “Bonsai”, de Cristián Jimenez:

 

 ***

Queria voltar ao trecho do livro de Zambra em que Julio diz que leu “Em Busca do Tempo Perdido” aos 17. Porque ele tinha lido muita coisa até então, Kerouac, Nabokov, Capote, mas não Proust. Também não li Proust aos 17 (nem depois), o que me lembrou uma teoria antiga de que há coisas que precisam ser lidas na adolescência, antes que o tempo fique escasso demais.

Meus pais nunca foram de ler romances –meu pai lê até dicionário (verdade), mas nunca ficção; de leitura da minha mãe quase só me lembro de “Confesso que Vivi”, do Neruda, um livro de cabeceira no sentido mais honesto da expressão: nunca esteve em outro lugar.

Mas, como os pais de muita gente que gosta de ler, o meu comprou os clássicos de banca da Abril, e assim conheci Dante, Shakespeare, Cervantes, Pirandello, Zolá, Flaubert, Tolstói, Dostoiévski e deveria ficar listando aqui por linhas e linhas para me redimir da confissão a seguir.

A ela, enfim. Em casa não tinha “Ulysses”, nem “Em Busca do Tempo Perdido”, nem “A Montanha Mágica”, nem outros que prefiro nem listar para não tornar essa confissão ainda mais constrangedora, já que eu poderia muito bem tê-los pegado na biblioteca de Petrópolis antes de usar isso como desculpa, embora não esteja certa de que estariam lá. Meu conhecimento de Joyce se restringe a “Retrato de um Artista Quando Jovem”, que adorei depois de me irritar nas primeiras páginas, o de Mann não vai além de “A Morte em Veneza”, e assim, pelas beiradas, pelo menos eles e outros autores fundamentais não me passaram em branco.

Isso tudo antes de eu desconfiar de que um dia trabalharia com livros e que, portanto, não conseguiria ler mais quase nada por puro interesse pessoal.

O "Ulysses" da Penguin, em foto da @TaIzze, que já leu quase tudo (cof)

Agora me sai essa linda tradução do “Ulysses” (Penguin), pelo Caetano Galindo, e me pego na seguinte situação: se for esperar para ler antes tudo o que tenho de ler a trabalho, nunca começo, porque o trabalho sozinho já exige mais leitura do que consigo dar conta.

Como não ia andar para cima e para baixo com um livro de mil e tantas páginas na bolsa (aquela introdução bem que podia ser menorzinha, vai, para ajudar), a edição linda vai ficar em casa, mas joguei o original em inglês no meu Kindle para as horas livres. Vou ler catando milho, quando der. Se um dia terminar, eu conto. É claro, não atravessaria mil páginas pra guardar segredo.

Não imagino que seja nenhum bicho de sete cabeças, embora tenha largado nas primeiras páginas todas as vezes que tentei. Também não acho que mente quem diz que leu, como tantos pensam, embora desconfie de que boa parte largou pela metade e omite esse detalhe. Aconteceu comigo e “Os Irmãos Karamazov”, que é tão bom: parei faltando um terço; quando fui voltar, meses depois, percebi que teria de voltar tipo do começo, porque já tinha esquecido um monte de coisa; o resto da história você pode imaginar.

Sobre fingir que se leu o que não foi lido, e atire o primeiro “Catatau” quem nunca fez isso (esse, aliás, eu li, de verdade), queria encerrar este post com um último retorno ao “Bonsai”.

Julio mentiu sobre ter lido “Em Busca do Tempo Perdido” para Emilia, e ela, ficamos sabendo na página seguinte, retribuiu a mentira. Um dia eles resolvem “reler” juntos, e então Zambra escreve:

“Antes de começar a ler concordaram, por precaução, que era difícil para um leitor de ‘Em Busca do Tempo Perdido’ recapitular sua experiência de leitura: é um desses livros que mesmo depois de lidos a gente considera pendentes, disse Emilia. É um desses livros que vamos reler sempre, disse Julio.”

***

Peço desculpas pelas ausências prolongadas. Sempre tento arrumar tempo entre fechamentos da “Ilustríssima”, apurações para o Painel das Letras, reportagens para o jornal e, bem, a vida lá fora (ó eu fazendo drama), mas às vezes o tempo engole a gente.

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Amazon quebra silêncio com palestra no Brasil

Por Raquel Cozer
11/05/12 00:56

Huerta, executivo da Amazon na AL, no Congresso do Livro Digital

Em 2011, 5 milhões de e-books em inglês foram vendidos pela Amazon em países onde não se fala língua inglesa, especialmente o Brasil. Só no primeiro trimestre de 2012, já foi metade disso. O que significa que, até o fim deste ano, mais de 10 milhões de e-books em inglês devem ser vendidos fora de EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália etc.

Não tenho parâmetro para falar desses números, mas foi justamente por isso que eles me chamaram a atenção. Em geral, a Amazon divulga porcentagens (“de tantos livros vendidos, tantos foram e-books”), não números totais, o que é sempre um bom truque para usar os números a seu favor sem necessariamente revelar quais eles são.

Dez milhões é pouco mais do que “Ágape”, do Padre Marcelo, vendeu em um ano e meio (quase 8 milhões), e “Ágape” vendeu mais do que quase qualquer livro que você possa imaginar.

***

Os tais 10 milhões apareceram na palestra de Pedro Huerta, o executivo de conteúdo para Kindle na América Latina, que falou ontem no Congresso do Livro Digital. Tendo ido aos dois anteriores, me sinto à vontade para dizer que foi a melhor conferência que acompanhei das três edições.

Em especial porque a Amazon, esse demoninho, nunca dá o ar oficial de sua graça no Brasil –temos uma média de zero entrevista à imprensa desde que resolveu entrar neste mercado, e, tirando conversas com editoras, nunca tinha se manifestado tão abertamente por aqui.

Mas também porque Pedro Huerta, é preciso dizer, é um showman. Na boa, não sei como foram as últimas conversas com editores, mas, se eu fosse um deles, estaria antes do fim da palestra com o contrato assinado, sem prestar atenção nas letras pequenas. O cara é um missionário, como bem definiu Carlo Carrenho, um dos sócios do Publishnews.

Huerta nasceu no Peru (“você voa até Manaus e vira de bicicleta à esquerda”) e estudou engenharia em alemão (“algo tão difícil quanto as negociações com editores brasileiros”). Por nove anos, foi presidente da gigante Random House no México. Isso até  a Amazon bater à sua porta. Digo, telefonar. “Quando a Amazon liga, você atende. Sempre”, ele diz.

***

Essa equação (Amazon ligar e você atender) não tem sido tão simples desde que Huerta se propôs a convencer editores brasileiros de que a varejista americana é uma boa parceira. Editores brasileiros, afinal, não mais difíceis do que estudar engenharia em alemão, e as condições do contrato da Amazon não são nenhuma maravilha, segundo relatos.

Mas o discurso de Huerta no congresso foi inteligente. Ele usou o próprio passado como editor para argumentar: “Como editor, distribuidor, autor, professor, livreiro, o que quer que seja, enfrentar o digital tem uma implicação definitiva na sua vida. Você entra num mundo do qual não há saída e tem de abrir mão de ideias que nunca mais recuperará.”

O mote de convencimento (“em menos  de 60 segundos, qualquer livro em qualquer idioma  disponível para você”) ganha força num mercado como o latino-americano, onde não é tão fácil quanto nos EUA encontrar livrarias físicas –que dirá o livro que você procura nelas.

***

Entre os números que Huerta mostrou, com ênfase no Reino Unido (escolhido como exemplo justamente por não ser tão avançado quanto os EUA no mercado digital), estão os de compras de consumidores antes e depois da aquisição do Kindle: nos 12 meses anteriores à aquisição, um assinante da Amazon compra dez livros; nos 12 meses posteriores, são 30, entre físicos e digitais.

“Se você perguntar o que reinará nesse mercado em 2015, ninguém saberá responder. Nem Amazon, nem Google, nem Apple” (quiçá o Sebo do Messias). O argumento da Amazon: na dúvida, digitalize tudo, resolva as questões de direitos autorais e saia arriscando.

A Simon & Schuster, uma das maiores do mundo, serviu de exemplo. Nos primeiros seis meses de 2011, 16% de seu faturamento correspondeu à venda de e-books. No primeiro trimestre deste ano, o número já chega a 26%. Com um detalhe importante: a venda de fundo de catálogo, ou seja, dos livros lançados anos atrás, é sempre “infinitamente maior” no digital do que em papel, sem que a editora precise gastar mais dinheiro com logística.

***

Outra questão, mais polêmica, tem a ver com o preço do e-book. Conhecida por achatá-los a um nível kamikaze para editoras, a Amazon defende que descontos aumentam as vendas –passado um dia deles, disse Huerta, as vendas se mantêm mais altas que antes.

Terminada a palestra, microfones abertos para perguntas, algo raríssimo em qualquer evento envolvendo a Amazon, não houve editor capaz de questionar as condições de negociação da empresa, consideradas predatórias por quase todo o mercado.

Mas não houve quem no mesmo auditório deixasse de aplaudir quando, horas mais cedo, o inglês Jonathan Nowell, executivo da Nielsen Bookscan (que mede vendas de livros na boca do caixa), disse que editores deveriam pensar em saídas digitais e complementou: “O que não podemos fazer é entregar nosso reino a Amazon, Google e Apple.”

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Bolão: quem você acha que estará na Granta?

Por Raquel Cozer
08/05/12 01:06

 

Muito antes de a Granta de autores brasileiros ser anunciada oficialmente, na última Flip, escritores por aqui disseminavam teorias envolvendo a seleção. Um ano antes, em 2010, havia quem desse a lista inteira de escolhidos. Devia valer uma fortuna no eBay.

Então vieram o anúncio, as incrições e meses depois a notícia de que os jurados (Beatriz Bracher, Benjamin Moser, Cristovão Tezza, Italo Moriconi, Manuel da Costa Pinto, Marcelo Ferroni e Samuel Titan Jr.) já tinham definido quais os 20 nomes, dentre os 247 que enviaram textos, a serem anunciados na próxima Flip.

As teorias da conspiração até demoraram a voltar. Uma delas me chegou em março por email anônimo. Dizia que Isa Pessoa tinha deixado o cargo de diretora editorial da Objetiva por conta de irregularidades no processo de seleção da Granta (por via das dúvidas, perguntei; ela disse que isso não teve nada a ver com sua saída). Que um estagiário teria “destruído” e “queimado”, com essa sanha redundante, os contos dos autores que não interessavam. Que nem todos foram lidos, só os que interessavam.

“Não é como um jogo de cartas marcadas, como muito se comenta a título de burburinho maldoso, mas de selecionar as cartas a se jogar, como se faz na manilha nova do jogo de truco paulista”, disse o anônimo, cujo estilo de texto acho até que reconheci (cof, mentira –aliás, se um dia for enviar um email anônimo, preciso me lembrar de eliminar os “cof”).

A questão: uma série de escritores brasileiros, cheios de esperança, teria se iludido à toa.

***

Considerando que a Granta se propõe a selecionar autores representativos de uma geração, e que não é um concurso público, confesso que não acho grave os jurados terem uma noção prévia de nomes que merecem atenção. Se não passaram os olhos em todos, é chato, mas acho que mais grave seria se resumissem decisão a um único texto –no caso de desconhecidos, seria mais que obrigatório investigar o resto da obra deles.

Resolvi seguir a sugestão da escritora Socorro Acioli, que está concorrendo, e abrir a caixa de comentários –e o email raquel.cozer@grupofolha.com.br– a quem quiser fazer apostas dos 20 nomes. Podem ser autores conhecidos ou desconhecidos (lembrando que spam não ganha nada além de encher a paciência), desde que, seguindo as regras da Granta, sejam brasileiros, previamente publicados e nascidos a partir de 1/1/1972.

Os autores mais votados aqui não ganharão nada, mas ao menos o bolão pode dar uma ideia da preferência dos leitores e ver se coincide com a do júri. Quem acertar mais nomes ganha status e pode iniciar carreira como astrólogo literário (nas palavras de Reginaldo Pujol Filho), mas juro que vou pensar em premiação melhor.

Quem estiver concorrendo pode sugerir só 19 nomes, em vez de 20, para não ficar no constrangimento de se incluir na lista, e daí posso deduzir que o nome que falta é o do próprio votante. E quem quiser sugerir menos nomes pode ficar à vontade, só terá menos chances de ganhar. O que não é grave, considerando que não temos uma premiação.

***

Por falar em júri, um dos jurados da Granta, o Cristovão Tezza, por acaso escreveu hoje em sua coluna na “Gazeta do Povo”, em Curitiba, sobre concursos literários, a partir de sua experiência como membro de comissões julgadoras (o que ele chama de “literatura judiciária”, termo que adorei e já adotei). Ele argumenta:

“Todo concurso é falível e comete erros e omissões. Um concurso literário é apenas índice de valor de um momento, de acordo com as cabeças idiossincráticas dos jurados, e não uma decisão transcendente decretada pelas musas.  Bancas de dois ou três jurados costumam ser mais coerentes e objetivas (mas não necessariamente mais justas) do que as que contam com dez julgadores; muitas cabeças, sentenças demais. (…) Se o concurso é de livros publicados, o conjunto da obra do autor pode pesar no resultado.“

***

O link acima me chegou via Carol Bensimon, uma das autoras que enviou texto à Granta (o grifo na frase final é meu). Conversando com outros concorrentes, algumas questões surgiram:

1) É bem provável que, em nome da diversidade, tenha rolado uma espécie de cota informal para mulheres, que proporcionalmente publicam muito menos ficção no Brasil;

2) É provável que tenha rolado alguma cota regional –no sentido de evitar apenas autores do centro-sul, embora eles devam ser a grande maioria, pela proximidade com o mercado;

3) Não parece totalmente bizarra a ideia de que grandes editoras tenham feito algum esforço paralelo por seus autores na lista ou a de que tenha havido o cuidado de não publicar autores demais (nem de menos) das mesmas grandes editoras.

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Estamos cansados de ler em telas

Por Raquel Cozer
28/04/12 16:39
 

Estamos cansados de ler em telas.
Elas ferem nossos olhos e exigem óculos especiais.
Nós sempre as quebramos quando andamos em esteiras rolantes.
É tempo de redesenhar nossos aparelhos de leitura.
Vamos começar tornando-os mais interativos (passar os olhos linha a linha; segurar e virar para ler mais).
Seu peso deve ser proporcional à quantidade de informação dentro.
Vamos usar um texto sem brilho envolto numa camada protetora de polpa de madeira (não precisa de óculos especiais; menos fadiga ocular; biodegradável).
Os novos aparelhos de leitura podem ter uma função secundária: decoração doméstica.
Bem, eles podem tornar difíceis as viagens com máquinas propulsoras.

***

A tira saiu no mês passado no Sunday Book Review, do “New York Times”, assinada por Grant Snider, estudante de ortodontia (!) na Universidade de Colorado-Denver que assina o blog Incidental Comics, atualizado semanalmente, e vez por outra publica em jornais.

(Andar lendo no Kindle na esteira rolante da Linha 3-Amarela: um clássico do século 21.)

Vai na linha de um cartum que postei em 2010, do “USA Today”, assinado por Jeff Stahler (que, hm, soube agora que andou sendo investigado por plágio, devido a casos como este aqui).

***

Para quem é só um pouco nostálgico, o Mashable sugere 10 capas para Kindle com cara de capas de livros. Só tem o problema de fazer parecer que você lê muuuuito devagar, para andar por aí sempre com o mesmo livro, e justo um tão magrinho.

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Propaganda para gostar de ler

Por Raquel Cozer
25/04/12 19:14

Depois dos pôsteres para gostar de ler, anúncios. Montes deles. Na verdade é mais para vender livros do que para gostar de ler, mas o título fica melhor com otimismo.

"Tudo o que você pode querer saber." Da Encyclopaedia Britannica, de um tempo, recente, em que ela ainda era produzida em papel

"Seja outra pessoa. Escolha seu herói na Mint Vinetu." De livraria lituana

"A página não pode ser exibida (livros nunca vão deixar você na mão)." Da livraria Booksplus

"Mais educação para as meninas nos países islâmicos." Da Unicef

"Homens São de Bares, Mulheres São de Vênus." Da cerveja Bavaria (eu pessoalmente deixaria Vênus para eles)

"De um amante dos livros para outro." Da National Book Tokens, empresa de vale-presentes no Reino Unido

"Nós somamos leitores." Da livraria Cosmo, da Jordânia

"Tenha os livros que pertenceram à biblioteca pessoal de P.P. Guinness." Campanha para venda do acervo do jornalista australiano morto em 2008 (mas esse no pôster é o Jô, né)"

"Um sanduíche para especialistas." Do McDonalds

"Alimente a cultura, não alimente as traças." Para finalizar, coisa nossa: campanha de doação de livros da Feira do Livro de Porto Alegre

Há outros aqui, mas diria que minha curadoria destacou o que tinha de melhor (cof). E também não precisa ficar clicando em um por um. Deixei de fora três que já postei antes, esse, esse e esse, porque não aguentava mais olhar para a cara deles.

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Uma loja só para nerds e geeks em São Paulo

Por Raquel Cozer
22/04/12 22:25

Minha primeira coluna Painel das Letras (link para assinantes), em 11 de fevereiro, falava sobre o fechamento iminente da loja exclusiva da Record que a Livraria Cultura mantinha no Conjunto Nacional. Ia acabar sem que ninguém desse notícia, mas também ninguém tinha dado notícia da loja nos dois anos em que ficou aberta.

Ela tinha sido criada numa leva de lojas exclusivas que incluiu também uma da Companhia das Letras e outra do IMS. Não parecia dar muito ibope, e não dava mesmo.

Segundo Pedro Herz, o dono da Cultura, as lojas exclusivas foram pensadas como estratégia da livraria para ocupar todos os espaços que aluga no Conjunto Nacional, mantendo a marca forte no lugar, enquanto as editoras assumem parte das despesas.

***

Em fevereiro, a Cultura pediu o espaço de volta para iniciar nele um projeto “mais rentável”. A Record achou ótimo se livrar daquele pepino também, embora tenha dado essa informação com bem mais de classe do que isso.

A Cultura não falava sobre o projeto, mas acabou vazando, tanto que publiquei na coluna por acaso no mesmo dia em que a Maria Fernanda Rodrigues publicou na dela no Estadão: uma loja de games e HQs, com oferta ainda de DVDs de séries, bonecos colecionáveis e outros itens de interesse para qualquer natural born Sheldon Cooper.

(Se você é um natural born Sheldon Cooper, sabe do que estou falando. Se não faz ideia, bem, esse é o nome do melhor personagem da melhor série no ar hoje em dia, “Big Bang Theory”, sobre os nerds mais nerds que você possa imaginar. Não que eu tenha um conhecimento assim tão amplo de séries, mas gosto de acreditar que é a melhor.)

***

A novidade agora é que a loja abre nesta quarta-feira, às 14h, com o nome Geek.Etc.Br. Como estava acompanhando a coisa desde o início, ou desde antes do início, eles me convidaram a conhecer o espaço, ainda em finalização, nesta última quinta-feira. Escrevi sobre ele na “Ilustrada” de sábado (link para assinantes outra vez, foi mal aí).

O design é do mesmo Fernando Brandão que cuida do visual de todas as livrarias Cultura, mas certamente é algo bem diferente de qualquer outra loja da rede. É bem diferente de qualquer outra loja que exista no Brasil, eu diria.

O lugar mais parecido que já visitei é a Forbidden Planet, loja nerd à décima potência com unidades em Londres  e Nova York, mas nem diria que é a mesma coisa.

O carro-chefe serão os games, tanto jogos quanto consoles (Playstation 3, Wii, Xbox 360 e PC). Ocupam todo o primeiro piso, com totens para experimentação e acervo de 800 títulos, incluindo raridades. Segundo Igor de Paula Oliveira, o coordenador (a equipe é tão nerd que dá vontade de abraçar), a meta é oferecer a maior diversidade possível.

***

No segundo andar entra o “etc” do nome da loja: jogos de tabuleiros e card games, também com mesas para experimentação; trilhas sonoras de jogos, séries e filmes (dizem eles que a trilha do “Final Fantasy”, que eles oferecem, é de uma raridade ímpar. Sei lá eu); DVDs de séries e filmes cult e de animação adulta.

Haverá ainda bonecos colecionáveis (o mestre Yoda é muito amor) e outros itens, como chaveiros de Lego, moleskines do “Star Wars” e camisetas de personagens como o Lanterna Verde, que acende no escuro, e o Sheldon do “Big Bang”.

Dos 10 mil produtos oferecidos, só 4.000 serão livros, dos quais 3.000 serão HQs –todo o acervo que estava na loja de arte da Cultura, em frente à loja principal, será transferido para a Geek.Etc.Br. Outros serão títulos como a série de fantasia “As Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R.R. Martin, e “Jogador Número 1”, de Ernest Cline, ação que mistura games e cultura pop. Ou seja, livros com “potencial nerd”. ”

Geek.etc.br será o endereço do site, que entra no ar também na quarta, embora alguém no Twitter, é claro, já tenha encontrado uma página de teste no ar. E a marca, dizem eles, vai se expandir: a meta é abrir Geeks.Etc.Br dentro de Culturas que já existem e também lojas da marca em praças onde a Cultura ainda não chegou.

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Dois séculos de livros em imagens

Por Raquel Cozer
20/04/12 21:16

No século 19, várias livrarias brasileiras lembravam farmácias, e não só porque os livros ficava protegidos por estantes envidraçadas atrás dos atendentes, como se o Ministério da Cultura proibisse a leitura sem receita, mas também pela oferta de produtos. Elas tinham remédios, perfumes, chás. Tinha rapé também, mas rapé a gente não acha mais nas drogarias.

Soube disso pelo “Pequeno Guia Histórico das Livrarias Brasileiras”, de Ubiratan Machado, que li uns anos atrás. O livro conta histórias de cem livrarias, desde os primórdios delas no Brasil, de uma ou duas páginas, no máximo, com textos acompanhados de ilustrações ou fotos em pequena parte dos casos, o que deve ter dado um trabalho de pesquisa do cão.

(Só um parêntese antes de alcançar o assunto, porque digressão é vida: lembrei que o livro fala da primeira “megastore” brasileira, que não seria megastore hoje, é claro, era só  grande. Ficava em Belo Horizonte e chamava Oscar Nicolai, como o dono. Nos anos 40, quando a guerra dificultava a importação de obras europeias, ele teve a ideia de oferecer títulos latino-americanos, que ninguém oferecia. Hm. Não lembro como termina a história, então o parêntese acaba aqui.)

***

Lembrei desse livro e das fotos cuja pesquisa deve ter dado um trabalho do cão por causa de uma exposição que a editora Unesp abre na terça (24), em celebração de seus 25 anos.

Ela se chama “Impresso no Brasil” e é baseada no livro homônimo, de subtítulo “Dois Séculos de Livros Brasileiros” (2011), com ensaios organizados por Aníbal Bragança e Márcia Abreu. O livro é um apanhado de boas histórias e análises, pena que o assunto tão fartamente imagético tenha saído sem fotos, o que na época lamentei (a gente sempre espera um encarte que seja, embora encartes que sejam encareçam a edição como o diabo). Mas a mostra reúne 90 delas para contar um pouco da trajetória do livro e da leitura no Brasil.

São 30 painéis, com histórias como a da Abril Cultural, que só na década de 1970 vendeu 18 milhões de livros em bancas –incluindo as traduções de “Crime e Castigo”, “Madame Bovary”, “Germinal” etc. que os pais de todo mundo da minha geração (digo, todo mundo que teve sorte de ter pais preocupados com isso) compraram e que, portanto, foram a porta de entrada da literatura adulta para gente a perder de vista.

O "Manual da Maga e Min" saiu pela Abril a partir de 1971. Nada a ver com o texto acima, mas é que uma capa com a Madame Min é mais legal que a da "Madame Bovary", monocromática como todas as capas dos clássicos da Abril

Outro deles é dedicado à Civilização Brasileira, selo da Record desde 2000, mas que, antes disso, principalmente entre 1959 e 1970, sob comando de Ênio Silveira, destacou-se por seu catálogo e pela edição sofisticada dos livros. Durante a ditadura, Silveira foi preso sete vezes e a livraria da casa sofreu dois ataques a bomba, entre as pressões para que fechasse as portas.

A capa do livro Campos de Carvalho, de 1964, foi criada por Eugênio Hirsh, artista vienense de renome internacional que foi diretor de arte da CB, a partir de ilustração de Poty

Este poderia ter entrado no post de pôsteres pró-leitura, para mostrar que a gente também sabe fazer ler (ou tentar)

A Companhia Editora Nacional, que hoje publica didáticos e paradidáticos, foi bem importante entre 1925 e 1970. Foi criada por Monteiro Lobato e Octalles Marcondes Ferreira, e tanto seus projetos editoriais quanto seus catálogos viraram referência, como nos dois casos abaixo.

A capa de "Arranha-Céu", de Benjamin Costallat, de 1929, é assinada por ninguém menos que Di Cavalcanti

Ok, isso é uma curadoria sentimental: lançada em 1957 pela CEN, "Aventuras de Xisto", de Lúcia Machado de Almeida, depois integrou a Coleção Vaga-Lume, que dispensa apresentações pelo menos para quem viveu os anos 80

 ***

Esse post tem potencial para se tornar infinito, então parei. E acabei de perceber que o título fala de dois séculos de livros em imagens, mas o post só tem imagens de um deles. Juro que a mostra tem os dois. Fica em cartaz por uma semana só, de terça a sábado, das 9h às 18h (no sábado acaba às 14h), no Instituto de Artes da Unesp (r. Dr. Bento Teobaldo Ferraz, 271, do lado do metrô Barra Funda).

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O inimigo número um de Macondo

Por Raquel Cozer
18/04/12 21:54

Nunca tinha ouvido falar em Andrés Caicedo quando esbarrei na mostra dedicada a ele na Luis Angel Arango, a principal das megabibliotecas de Bogotá, no bairro histórico da Candelária.

Tá, é claro que consultei o oráculo antes de admitir minha ignorância por aqui (vai que ele era tipo um neo-Bolaño e só eu não sabia). Depois de um Google, todo mundo é valente.

Não encontrei nada nos jornais e sites literários nacionais –pra não dizer que não encontrei nada mesmo, teve essa brevíssima citação no Noblat, e logo aparecerão leitores com links, porque a gente nunca deve duvidar do conhecimento dos leitores. Mas, por ora, até o verbete na Wikipedia em português está parcialmente em espanhol e sob o aviso de “fontes duvidosas”.

***

Esse magrelinho é ele mesmo

A história de Caicedo é tão boa que parece de mentira –escrevi sobre ela no  Diário de Bogotá, na “Ilustríssima” (link para assinantes) do domingo passado.

Ele teve só dois livros publicados em vida. O primeiro, “El Atravesado”, saiu em 1975, quando ele tinha 23 anos, em edição paga pela mãe. Do segundo, “¡Que Viva la Música!”, ele recebeu a primeira cópia, editada pela Colcultura, na tarde de 4 de março de 1977. Poucas horas depois ingeriu 60 comprimidos do calmante Seconal. Tinha 25 anos.

A chave para o suicídio estava no romance, no qual a protagonista loira e rica explora o potencial festivo de Cali. “Viver mais de 25 anos é uma vergonha”, diz o texto.

Vinte e cinco anos foram suficientes para que deixasse três romances pela metade, além do concluído (e hoje famosíssimo na Colômbia) “¡Que Viva la Música!”, vários roteiros de cinema (quatro dos quais levou a Hollywood em 1976, com a esperança, fracassada, de vender ao diretor de filmes B Roger Corman), um porção de peças e contos, e ainda cartas a perder de vista.

As cartas ele achava que escrevia tão bem que guardou, em papel carbono, cópias de todas as que enviou a familiares e amigos. Boa parte delas está publicada em coletâneas na Colômbia.

***

Até a Remington foi parar na mostra

Se há algo em comum entre Caicedo e Bolaño, já que falei dele, é o reconhecimento tardio. Sendo que Caicedo demorou ainda mais a cair nas graças internacionais a partir da contagem post-mortem. Só em 2009, quando saiu a autobiografia “Mi Cuerpo Es Una Celda” pela Norma, editora de toda a sua obra, a história do colombiano ficou conhecida no Chile e na Argentina.

Hoje ele está traduzido na Itália e na Alemanha, com edições de seus livros previstas para breve em língua inglesa e francesa. Por aqui, permanece inédito.

A exposição na Luis Angel Arango, “Morir y Dejar Obra”, mostra outras facetas dele, como os textos sobre cinema que escreveu para a revista “Ojo al Cine”, que ele também criou, e  cartazes que desenhou nos tempos do Cineclube de Cali, que fundou em sua cidade natal.

***

Cartaz da mostra conta que, depois que Andrés morreu, o pai encontrou romances, peças, críticas e cartas, das quais ele fazia cópias em papel carbono

Fiquei curiosíssima ao sair da mostra. Passei na Luvina, livraria fofa numa esquina tranquila da badalada Macarena (confesso que não achei a Macarena tão badalada quanto dizem os guias, mas o fato de tê-la conhecida na Páscoa numa cidade onde a população leva o catolicismo a sério pode ter influenciado). Descobri que a Norma não distribui para pequenas livrarias.

Acabei comprando num sebo, pouco antes de vir embora. Achei a edição simplinha para uma grande editora e depois vi que era um livro pirata (eles fazem muito isso na América Latina hispânica; até fiz um post sobre livros piratas em Lima nos primórdios do blog). Um livro bem acabadinho, até, com ficha catalográfica e tudo, informando que “é proibida a reprodução total ou parcial sem permissão por escrito da editora”.

Estou lendo, gostando. Entendendo por que Caicedo, na definição do escritor chileno Alberto Fuguet, é o inimigo número um de Macondo –o texto dele, urbano, moderno, não tem um resquício do realismo fantástico que tornou famoso seu conterrâneo Gabriel García Márques.

***

Um dos amigos de Caicedo dos temos de “Ojos al Cine”, Luis Ospina –o curador da mostra–, fez um documentário sobre ele, do qual se encontra trechos no YouTube.


E disponibilizou também a única entrevista em vídeo que se conhece do autor.


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Juan Gelman e o poeta português

Por Raquel Cozer
15/04/12 18:15

Prestes a completar  82 anos, agora no dia 3, o argentino Juan Gelman (acima, em foto de Bruno de Araujo) encarou 11 horas de viagem desde o México, onde vive há 23 anos, pouco antes de sentar ao lado de Eric Nepomuceno na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília, ontem.

Foi uma mesa de fala informal, intercalada por leituras de poemas e perguntas feitas diretamente pelo público, expediente que organizadores de eventos em geral evitam, pela margem que dá ao surgimento dos loucos de palestra. (Eles estavam lá, é claro. Loucos de palestra são como vendedores de biscoito Globo quando começa congestionamento na estrada para Petrópolis; não importa o tema, eles vão brotar nos primeiros segundos se um microfone for aberto ao público.)

Gelman está prestes a descobrir se pertencem à sua nora, desaparecida da ditadura na Argentina, os restos mortais encontrados num batalhão no Uruguai. Os resultado do exame de DNA deve sair por estes dias. O corpo do filho ele localizou e enterrou em 1990, dez anos antes de encontrar viva, aos 23 anos, a neta –o bebê que a nora esperava quando desapareceu.

***

A história de vida dramática somada ao fato de ele ser um dos grandes nomes da poesia latino-americana não foram suficientes para encher nem metade da tenda em que Gelman falava, mas ele mesmo reconheceu a existência de barreiras para interessados no tema.

“Devo dizer que se lê pouco da poesia brasileira na Argentina. Não se pode dizer que seja uma barreira da língua, porque lá se traduzem poetas ingleses, franceses. Mas creio que festivais como esse vêm ajudando a romper esse desconhecimento mútuo.”

A editora Record tinha em seu estande na bienal apenas 20 exemplares de “Amor que Serena, Termina?”, edição bilíngue de poemas de Gelman que Eric Nepomuceno traduziu em 2001 e da qual foram lidos versos durante a mesa. Até onde vi não foram vendidos todos para a seção de autógrafos, mas houve quem comprasse livros dele num estande com títulos em espanhol.

Sobre a tradução, Nepomuceno contou: “Nunca tinha traduzido poesia, porque achava que esse era o tipo de coisa que tinha de ser feita por outro poeta, mas resolvi tentar. E, ao terminar, senti que faltava alguma coisa. Então mandei para um amigo meu, poeta, músico, revisar. Era o Chico Buarque. Ele aceitou revisar só porque eram poemas de Gelman.”

Fica aí então um deles, lido na mesa. Lindo, lindo, sobre Fernando Pessoa (o verso “uma vez esqueci um olho na metade de uma mulher” faz mal de tão bonito que é). Fique à vontade para fazer uma boa revisão e me contar se houver erros de digitação, porque escrever do iPad é uó.

***

eu também escrevo contos

havia uma vez um poeta português/
tinha quatro poetas dentro dele e vivia muito preocupado/
trabalhava na administração pública e onde é que já
se viu um funcionário público de portugal ganhando o suficiente para alimentar quatro bocas/

toda noite fazia a chamada de seus poetas incluindo-se a si mesmo/
um esticava a mão pela janela e os astros caíam-lhe ali/
outro escrevia cartas ao sul/
o que estão fazendo do sul?/ dizia/
de meu uruguai?/ dizia/ o outro
converteu-se num barco que amou os marinheiros/
isto é belo porque nem todos os barcos agem assim/
há barcos que preferem olhar pela escotilha/

há barcos que afundam/
Deus caminha aflito por esse fenômeno/
é que nem todos os barcos se parecem aos poetas do português/
saíam do mar e secavam seus ossinhos ao sol/

cantando a canção de teus peitos/ amada/
cantavam que teus peitos chegaram certa tarde com uma escolta de horizontes/
isso cantavam os poetas do português para dizer que te amo/
antes de separar-se/ estender a mão ao céu/ escrever cartas ao uruguai
que chegarão amanhã/
amanhã chegarão as cartas do português e varrerão a tristeza/
amanhã vai chegar o barco do português ao porto de montevidéu/
sempre soube que entrava nesse porto e se fazia mais belo/

como os quatro poetas do português/
quando se preocupavam todos juntos pelo homem da tabacaria de frente/
o animal de sonhos do homem da tabacaria de frente/
galopando como dom josé gervásio artigas pela fome mundial/

o português tinha quatro poetas olhando para o sul/ para o norte/ para o muro/ para o céu/
dava de comer a todos com o salário de sua alma/
ele ganhava o salário na administração do país público/
e também olhando o mar que vai de lisboa ao uruguai/

eu sempre estou esquecendo coisas/
uma vez esqueci um olho na metade de uma mulher/
outra vez esqueci uma mulher na metade do português/
esqueci o nome do poeta português/
do que não me esqueço é de seu barco navegando rumo ao sul
de sua mãozinha cheia de astros/
golpeando contra a fúria do mundo/ com
o homem da frente na mão

***

E eu não conhecia, mas o Átila Marques Ferreira, aqui nos comentários, citou a versão musicada do Gotan Project para “confianzas”, traduzido no mesmo livro do poema acima.


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Bienal do Livro em Brasília começa com protesto

Por Raquel Cozer
15/04/12 13:37

Para quem está acostumado a bienais do livro do Rio e/ou de São Paulo, a 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que começou ontem em Brasília, parece sui generis. É claro que falo isso do alto da minha falta de conhecimento de bienais de outros Estados.

Vocês podem me ajudar a ter uma ideia de se elas se parecem com a de Brasília.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi que não encontrei os estandes da maior parte das grandes editoras de livros de interesse geral do país. Do nosso umbigo Rio-São Paulo –tirando o grande estande da Geração Editorial, cujo editor, Luiz Fernando Emediato, é o curador do evento–, encontrei só os das editoras Globo, Companhia das Letras e Record, pelo que entendi sob responsabilidade de distribuidoras.

E eles não chegam a um quinto do tamanho dos estandes de dois andares com playground, piscina, quatro vagas na garagem e vista para o mar que essas editoras mantém nos grandes centros. O da Companhia me lembrou um pouco uma banca de jornal, pelo tamanho.

Talvez isso diga algo sobre a distribuição de livros no país.

***

Em compensação, sebos e livrarias brasilienses estão em todos os cantos, com várias promoções de livros (e bugigangas, como fantoches) a R$ 10,  característica bem menos comum nas bienais Rio/SP, embora eu tenha ouvido relato sobre livros em geral mais caros nos estandes do que nas próprias livrarias.

Um dos mais concorridos é o do Sebinho, melhor lugar para se comprar livros em Brasília, segundo ouvi. Entre os estandes, chamam a atenção expositores como a TV Brasil, a Câmara dos Deputados e o Governo do Distrito Federal, este em vários espaços, além do Comitê da Copa. É lá que a gente deposita reclamações?

O público estimado para ontem, dia da abertura, foi de 20 mil pessoas. Tendo passado lá boa parte da tarde, eu arriscaria dizer que me pareceu menos, mas, dada a enormidade dos pavilhões montados na Esplanada, pode ser que eu só não tenha tido a dimensão. O público esperado para todos os nove dias do evento é de 500 mil pessoas, então haja visitação escolar, porque no que depender só de público espontâneo teríamos com sorte uns 120 mil, considerando que dias de semana costumam ser mais vazios.

O orçamento divulgado é de R$ 6,8 milhões, um quarto do orçamento da última Bienal do Livro Rio, mas um valor considerável para um evento literário no país. A entrada é gratuita, como deveria ser a de todo evento que se propõe a atrair leitores.

***

Houve investimentos das secretarias de Estado da Cultura e da Educação, em parceria com o Instituto Terceiro Setor, dentro do Plano do Distrito Federal de Livro e Leitura. O que não significa que professores locais, em greve há 34 dias, tenham achado a ideia boa.

Trezentos e cinquenta grevistas aproveitaram a cerimônia de abertura para uma manifestação. “A Bienal está sendo feita sem que os professores estejam em sala de aula. Estamos aqui para dizer que o governo [do Distrito Federal] não tem competência para a educação”, disse uma professora ao “Correio Braziliense”.

Pela manhã, os professores só acalmaram durante a fala do Nobel nigeriano Wole Solyinka, homenageado do evento e autor da Geração Editorial, a editora do curador. À noite, numa ótima fala sobre religiões –que comento noutro post–, Solyinka comentou: “O que vimos aqui foi uma demonstração de liberdade de expressão. Não entendi as palavras, mas entendi a paixão dos professores. E não conheço a situação deles aqui, mas posso dizer que é ainda um pouco melhor que a dos professores na Nigéria.”

***

As fotos acima são de Carol Matias (as duas primeiras) e Junior Aragão (Wole Soyinka).

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