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A Biblioteca de Raquel

Raquel Cozer

Perfil Raquel Cozer é jornalista especializada na cobertura de livros

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Tag Archives: biblioteca nacional

Painel das Letras: A primeirona

Por Folha
15/12/12 03:00

É a Apple, e não a Amazon, a loja que mais está vendendo e-books no país. E muito mais. O dado surpreendeu o mercado, especialmente porque a Apple chegou na surdina e vendendo livros em dólares, com cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

O Google Play também tem ido bem, embora mostre pouca intimidade com o mercado nacional –em email recente aos usuários, a empresa informou que em breve as compras poderão ser feitas em “pesos brasileiros”.

A Amazon, cujas vendas decepcionaram, vende até menos que a Saraiva em alguns casos. Ambas estão à frente da Kobo, parceira da Livraria Cultura. Entre as pequenas editoras, a KBR, entusiasta da Amazon, informa que tem vendido mais na loja que em qualquer outra. Nenhuma das lojas divulga números de vendas.

Vivaleitura só em 2013

O Prêmio Vivaleitura, que em 2012 passou à alçada da Fundação Biblioteca Nacional, não será entregue neste ano. Os finalistas foram divulgados, mas a entrega ficou para data indefinida de 2013.

Será o primeiro ano desde 2005 sem a entrega do dinheiro aos vencedores da honraria, voltada a instituições que fomentam a leitura.

Até 2011, o Vivaleitura era parceria do MEC e do MinC com a Fundação Santillana e a OEI, organização internacional para educação, ciência e cultura. Ao assumi-lo, a FBN aumentou seu valor, de R$ 90 mil (R$ 30 mil a cada um dos três vencedores) a R$ 540 mil (R$ 30 mil a cada um dos 18 vencedores em três categorias).

Mas o edital condicionava o prêmio “à existência de disponibilidade orçamentária e financeira”. Segundo portaria de 2009, editais devem especificar a fonte dos recursos. Pelo jeito, fez falta assegurar de onde sairia o dinheiro.

Infantil “O Céu, a Terra e a Vírgula” (imagem), de Francisco Marques, o Chico dos Bonecos, traz personagens de Comênio (1592-1670) e Chesterton (1874-1936) ao sul de Minas Gerais hoje. Sai em fevereiro pela Peirópolis

Guia 1 O “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, de Leandro Narloch, pode virar série de TV. A produtora Cinefor comprou os direitos de adaptação, teve  autorizada a captação de R$ 389 mil via Rouanet e apresentará a ideia a canais.

Guia 2 Narloch já comparou o MinC a um “Ministério do Vento” em artigo na Folha, citando que “a imprensa divulgava que empinadores famosos e com extensas rabiolas entravam com projetos milionários para aproveitar o ar canalizado”. Ele diz: “Preferia ficar longe do MinC, mas aceitei por consideração à produtora, que gastou tempo e trabalho na adaptação”.

Prêmio 1 “Ventania”, de Alcione Araújo, “Habitante Irreal”, de Paulo Scott, “Quiçá”, de Luisa Geisler, “O Céu dos Suicidas”, de Ricardo Lísias”, e “K”, de Bernardo Kucinski, estão entre os 24 romances que concorrem ao Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional. O vencedor será conhecido nesta segunda.

Prêmio 2 Também concorrem “Memórias de Antes Cadáver”, de Narjara Medeiros, “Suicidas”, de Raphael Montes, “Sozinho no Deserto Extremo”, de Luiz Bras, “Lotte e Zweig”, de Deonísio da Silva, “A Felicidade É Fácil”, de Edney Silvestre, “Dois Rios”, de Tatiana Salem Levy, “Valentia”, de Deborah Kietzman Goldemberg, “Domingo sem Deus”, de Luiz Ruffato”…

Prêmio 3 …”O Mendigo que Sabia de Cor Erasmo de Rotterdam”, de Evandro Affonso Ferreira, “Procura do Romance”, de Julián Fuks, “Solidão Continental”, de João Gilberto Noll, “O Livro das Horas”, de Nélida Piñon, “A Condessa de Picaçurova”, de Antonio Salvador, “Deus Foi Almoçar”, de Ferréz, “O Manuscrito Secreto de Marx”, de Armando Avena, “Caderno de Ruminações”, de Francisco JC Dantas, “Meninos Perdidos”, de Adriane Sarmento, “Perdição”, de Luiz Vilela, e “O Inventário de Júlio Reis”, de Fernando Molica.

Prêmio 4 Cada um dos títulos foi citado por pelo menos um dos três jurados na categoria romance: Felipe Pena, Geraldo Moreira Prado e Erick Felinto.

Teste 1 Depende das vendas na Amazon de “Nelson Rodrigues por Ele Mesmo” e “Brasil em Campo”, organizados por Sonia Rodrigues e distribuídos pela KBR, a vinda à tona de até 850 crônicas do autor inéditas em livro.

Teste 2 A herdeira, que obteve no espólio o direito de explorar digitalmente por 18 meses a prosa de Nelson (o contrato com a Nova Fronteira exclui o digital), avaliará o desempenho antes de editar (ou não) outros dois e-books.

Caseira 1 A Cultura e Barbárie, que terceirizava acabamento e impressão de seus livros, agora faz tudo internamente. Espera ampliar o catálogo e ter edições mais personalizadas, como “Delírio de Damasco”, de Veronica Stigger, costurado à mão.

Caseira 2 Para 2013, estão previstos os inéditos “A Psicanálise e o Inconsciente”, de D.H. Lawrence, traduzido por Alexandre Nodari, e “Locus Solus”, de Raymond Roussel, por Fernando Scheibe.

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O mercado editorial a caminho de Frankfurt

Por Raquel Cozer
08/10/12 12:53

Pavilhão da Nova Zelândia, país homenageado deste ano, na Feira de Frankfurt

Peço desculpas: andei sumida nesta véspera da Feira do Livro de Frankfurt, a maior do gênero no mundo, sobre a qual escrevi no sábado na “Ilustrada”. No mercado editorial, tudo gira em torno do evento nestes dias, minha rotina incluída. 

Fala-se muito neste ano sobre a preparação para a participação brasileira, no ano que vem. É importante para o Brasil, não há dúvida: para ficar num exemplo, o programa de apoio a traduções de títulos brasileiros no exterior, da Fundação Biblioteca Nacional, concedeu 141 bolsas no último ano e meio, ante 178 concedidas em uma década inteira, de 1991 a 2010. 

E aí você pode perguntar “e eu com isso?”, mas é inegável a relevância dessas traduções no exterior para o Brasil –talvez menos comercialmente do que culturalmente, como forma de apresentar o país ao mundo, mas o fator comercial entra, sim: em última instância, traduções podem influenciar no turismo (sabendo nós que o número de estrangeiros dispostos a conhecer o Brasil nunca foi palpitante perto do que esse mundão de território tem a oferecer).   

Veremos se as bolsas de tradução continuarão atraindo interessados nos próximos meses. Editores brasileiros com quem falei avaliam que o auge da procura já passou, já que na teoria os estrangeiros estariam traduzindo títulos brasileiros para publicação por ocasião da feira (quando o Brasil será assunto em Frankfurt, com várias mostras em museus e teatros na cidade). Galeno Amorim, presidente da Biblioteca Nacional, acha que ainda haverá crescimento. O ideal, ou a meta, é que o interesse não cesse após a feira, que perdure por pelo menos alguns anos.

Cá entre nós, acho curioso que o país homenageado deste ano, a Nova Zelândia, cuja literatura é pouco conhecida aqui (com lindas exceções, como Katherine Mansfield e Lloyd Jones), não tenha atraído o interesse de quase nenhuma editora no Brasil. Vamos torcer para que os estrangeiros sejam mais generosos conosco do que fomos com os neozelandeses.

Enfim. Embarco hoje à noite, e prometo (mentira) atualizar pelo menos uma vez por dia de lá.

Até!

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"Best-sellers são perigosos": íntegra da entrevista com Juergen Boos, presidente da Feira de Frankfurt

Por Raquel Cozer
12/08/12 23:52

Abaixo, a íntegra da conversa que tive na última quarta-feira com Juergen Boos, presidente da Feira do Livro de Frankfurt, parte dela publicada no sábado na “Ilustrada”. Marifé Boix García, espanhola que trabalha desde 1994 na feira e hoje é vice-presidente, estava junto e fez comentários interessantes. Mantenho aqui as aspas dela, que não saíram na edição.

Ficou enorme, mas vale a pena ler –especialmente a parte em que ele fala da Amazon, de best-sellers, de índices de leitura, mercado e outros temas relacionados.

***

RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA

Tão afeito a polêmicas, o meio literário brasileiro terá o que falar quando a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) anunciar os autores a serem levados para a Feira do Livro de Frankfurt em 2013.

Na ocasião, a maior feira mundial do mercado editorial terá o Brasil como convidado de honra, e cabe à FBN elencar que escritores nos representarão no megaevento.

“A Nova Zelândia, convidada de 2012, elencou agora os autores que vão a Frankfurt. E a lista tem rendido sérias discussões”, diz Juergen Boos, presidente da feira. O fato é que é uma divulgação importante para o país, e Boos explica por que na entrevista a seguir.

Na semana passada, ele esteve em São Paulo, para o lançamento da versão nacional da Contec, conferência alemã sobre educação e tecnologia, e conversou com a Folha sobre a participação brasileira, o impacto da feira, o mercado editorial e índices de leitura na Alemanha.

Juergen Boos, presidente da Feira de Frankfurt, no restaurante do MAM

***

Folha – Como o sr. avalia a preparação do Brasil até o momento para a homenagem na Feira de Frankfurt, no ano que vem?
Juergen Boos – As conversas começaram cerca de três anos atrás. Foi uma uma decisão bastante pensada, porque o Brasil já tinha sido convidado de honra antes. E àquela altura a organização enfrentou complicações, era mais difícil viajar, houve várias questões, embora tenha sido uma participação bem-sucedida, especialmente na parte de traduções.

Desta vez, resolvemos começar cedo e conversar com tanta gente quanto possível. Tomou mais de dois anos, mas agora estamos no caminho. Foi definido o comitê de organização, o programa de traduções está em andamento, instituições alemãs que devem fazer exposições sobre o Brasil até a data da feira têm se organizado. Alcançamos o que podíamos alcançar até agora.

Mas agora o verdadeiro trabalho começa. Falta pouco mais de um ano, é pouco tempo. O comitê de organização tem que decidir que autores levará para a feira, e detalhes como esses é que trarão a discussão à tona. Daqui para a frente, um dos maiores desafios será que qualquer decisão que o comitê tomar será questionada por alguém. Isso tornará tudo complicado.

Lidar com questionamentos é um dos maiores desafios?
Boos – É sempre difícil. A Nova Zelândia, a homenageada deste ano, apresentou agora os autores que vão viajar para Frankfurt em outubro. Faltam só dois meses, e soube que há sérias discussões acontecendo por lá, muita gente está magoada porque não foi convidada.

Ouvi rumores de que o Brasil está para anuciar muito em breve os seus nomes, só rumores. Isso significa que vocês terão muito mais tempo para polêmicas [risos].

Pelo que viram da organização de outros países, o Brasil está bem?
Boos – Não se pode comparar um país com o outro, porque cada país tem suas especificidades. O que podemos fazer é comparar com 1994, então é difícil para mim, que não estava na Feira de Frankfurt na época [Boos começou a trabalhar na feira em 2005].

Marifé Boix García – Eu estava no departamento de imprensa na época. Era outro tempo, acho que o governo não estava tão comprometido quanto hoje. Sei que a associação de editores teve de pagar despesas que o governo não cobriu, e por isso editores estão receosos. Com esse grupo creio que vai funcionar, mas até hoje editores nos questionam, esperam que falemos com o governo.

O que ainda falta conversar com o governo?
Boos – É necessário muita conversa entre editores, governo e todo mundo relacionado ao projeto. O trabalho tem de ser feito agora, não em Frankfurt, lá será só o resultado.

A Catalunha [homenageada de 2007] gastou algo como 20 milhões de euros, sendo que dois terços disso foram gastos ainda em Barcelona, com relações públicas, lobbying, exposições. A participação deles como convidados da feira foi muito política, houve essa discussão sobre nacionalismo na Europa, e tudo isso foi definido antes de eles chegarem a Frankfurt.

Marifé – O que eles fizeram foi convidar jornalistas e editores alemães para Barcelona. E é  importante viajar com editores brasileiros para a Alemanha, com grupos que ainda não conhecemos. Tivemos isso agora com um grupo de editores de infantis. Isso abre portas.

Boos – O que repetimos é: o foco não só em 2013, mas no que virá depois. Não é como se trabalhássemos agora só pensando em 2013. É preciso ir adiante, num nível maior, como se a Feira de Frankfurt fosse uma plataforma que lançasse o país a um certo nível no qual ele deve se manter por pelo menos alguns anos. Somos só um ponto de partida.

Essa o sr. deve ouvir com frequência: por que escolher o Brasil neste momento?
Boos – Tudo bem, é minha pergunta favorita [risos]. Isso me dá a chance de falar de tradutores, editores e escritores. Chamo de indústria essa cadeia que vai do autor ao leitor. É claro que é preciso ser cuidadoso ao falar em indústria, porque não é como a de carros ou seguros. Vendemos algo diferente, não produzido só por questões de mercado. É um produto intelectual.

Mesmo um livro de gastronomia é uma história sobre a sociedade. Um romance é uma forma de o escritor definir o mundo, e o leitor pode entender de maneira diferente. Isso é especial.

Com isso em mente, você tem de encontrar um país de identidade forte, com autores muito próprios. Precisamos de uma voz original, isso é a primeira coisa. Levando em conta especialmente a literatura, mas também outros aspectos da cultura, arquitetura, filme, jogos, que hoje estão muito perto da literatura, porque todos os jogos querem contar uma história.

Em segundo lugar, você precisa encontrar interessados nessa voz original, editores que queiram conhecer essa literatura e outros interessados no país. Por isso o programa de tradução. Não podemos esperar que, sem isso, haja interesse na literatura de um país.

O interesse pode existir por questões políticas, econômicas, que são uma oportunidade de tirar a literatura do escuro. Neste momento todo mundo olha para o Brasil, e a literatura ajuda a entendê-lo. É mais fácil discutir questões econômicas, políticas e sociais se há luzes sobre a literatura.

E qual é essa voz original brasileira? A literatura brasileira é conhecida na Alemanha?
Boos – Conheço só os nomes velhos, Jorge Amado. É preciso trazer os novos. Isso não era algo que discutíamos. Antes eu nem poderia poderia nomear brasileiros, porque não eram traduzidos.

Marifé – Há um centro cultural brasileiro em Frankfurt, que organiza leituras de brasileiros. Levam quatro ou cinco por ano. As leituras são bem frequentadas, públicos de 80 ou 100 pessoas. É uma instituição privada, trabalha com a ajuda da Tam. Isso significa que conseguem trazer o autor do Brasil de avião, mas algumas vezes não têm o dinheiro para pagar uma viagem de trem de Frankfurt para dentro da Alemanha, onde há grande comunidade brasileira.

Ainda há muito a fazer. Mas eles trouxeram gente como João Paulo Cuenca, Carola Saavedra, Beatriz Bracher, Santiago Nazarian. Alguns estão traduzidos.

Como vocês identificaram essa voz original brasileira, se ainda é pouco conhecida?
Boos – Conversei como gente como Marifé, que acompanha mais de perto, e acadêmicos de literatura. Há essa organização, a LitCam, que presta atenção na literatura feira na África, na Ásia, na América Latina. Essas pessoas acompanham o que sai nesses países. Ou seja, há interesse permanente no que vem de fora, e posso notar como passa de uma área a outra.

E, sendo um pouco vaidoso, acho que podemos influenciar nisso. Desde que anunciamos o Brasil, editores alemães começaram a fazer contatos. O interesse existe principalmente pela situação econômica, e usamos isso para oferecer em troca um interesse pela cultura.

A que o sr. atribui o anterior desinteresse pela literatura produzida hoje no Brasil? Falta de investimento, falta de boa literatura?
Boos – Você pode sempre culpar o governo, mas não é o suficiente quando se fala de cultura. O que acontece é o que vemos no mundo inteiro, o que é mais perigoso e nunca pensei que fosse acontecer. É uma globalização de um tipo de literatura… Todo mundo fala agora de soft pornô, todo mundo começa a escrever isso, todo mundo no mundo, isso é transparente.

E é mais difícil conseguir traduções da boa literatura, você tem de ter tradutores qualificados. Isso leva ao governo: tradutores precisam de subsídios, treinamento. Têm de viajar, ir aos países. A Islândia, por exemplo, deve ter 20 tradutores no mundo todo, para todos os países. Português deve ser mais fácil, mas não sei quantos deles podem fazer traduções literárias de qualidade para o alemão ou o inglês. Não diria mais que 20.

Marifé – O importante, e isso é o que proponho ao Galeno Amorim [presidente da FBN e coordenador da organização da participação brasileira em Frankfurt] e a editores, é convidar jornalistas, tradutores e editores alemães e deixá-los escolherem os livros que quiserem. O governo tem de pagar, mas não é caro. Isso é dinheiro bem investido. Do nosso lado, o que podemos fazer é abrir as portas. É uma pena se você investe sem ter a certeza de que o público alvo existe. Você faz às cegas e espera que alguém na feira descubra.

A Feira de Frankfurt não é uma Bienal do Livro, aberta ao público, é uma feira de negócios, e os editores alemães têm outras coisas a pesquisar, não estarão pensando só no Brasil. Eles têm de vender suas coisas também. Então, é preciso acessá-los antes e depois da feira.

Tirando as grandes editoras, muitas não sabem como agir. No Brasil, não é comum existir um editor só para vender direitos e outro para comprar, geralmente a mesma pessoa faz as duas coisas. Mas o editor tem que saber o que quer, comprar ou vender.

Vocês falaram em público alvo. No caso da feira, qual a prioridade? Sempre que falamos da Feira de Frankfurt, de traduções, citamos a chamada alta literatura, mas o fato é que na feira sempre aparecem os grandes best-sellers.
Boos –
 Sim, quando falamos no convidado de honra, pensamos na alta literatura, mas Frankfurt… A feira é de negócios. São os maiores editores nas áreas de educação, científica, técnica, de autoajuda, de negócios, infantis, e lá atrás, mas bem atrás mesmo, está a literatura.

Não queremos ser só negócios, queremos priorizar cultura e política, então colocamos a literatura no centro. Na homenagem à Turquia [em 2008], tivemos Orham Pamuk, que ganhou Nobel, e ele foi crítico ao presidente, fez o discurso de abertura, isso foi importante.

O que tem de estar claro ao convidado é o seu objetivo. Você quer apoiar a indústria editorial, quer ajudar os autores a serem conhecidos, quer estimular o turismo no Brasi? Tem objetivo político, como os catalães, que discutiram a nacionalidade na Espanha? Você tem que saber a resposta. Diria que, no caso do Brasil, as prioridades são os autores, depois os editores e em terceiro lugar a presença do país como um todo no exterior. Mas essa é só minha impressão.

Marifé – Viajei para Bogotá neste ano, onde o Brasil foi homenageado. Nossos amigos, Galeno e os outros, disseram que era um teste para Frankfurt, eles aceitaram esse convite depois de saberem que eram convidados de Frankfurt, e o que apresentaram lá foi baseado na ideia de diversidade. A diversidade do país foi o slogan, o grande mote.

Boos – Não sei ainda o mote da participação brasileira, devemos saber em breve. A Nova Zelândia preparou uma slogan na linha “enquanto você está dormindo”, porque o país fica no meio do nada, eles acordam quando o resto do mundo dorme. É uma ótima ideia.

O Brasil terá de apresentar um autor representativo para receber, neste ano, o bastão da Nova Zelândia. Quem escolhe essa pessoa?
Boos – Essa será outra grande discussão, porque tem que ser um grande nome. Haverá um autor da Nova Zelândia falando e outro do Brasil. O Brasil escolhe, podemos dar sugestões, mas nunca interferimos. Vocês é que têm de saber como querem ser vistos. Vocês podem saber que tal autor não é bom para a forma como querem ser apresentados. E nós podemos dizer, bem, essa pessoa pode não ser boa, já que nunca nem foi traduzida.

Na Nova Zelândia, houve um autor que com quem eu tinha problemas por várias razões. Falei que eles não deveriam trazer porque a pessoa causaria problemas. Enfim, é difícil.

A participação da Argentina, em 2010, foi criticada pela escolha de símbolos nada literários para representar o país, como Maradona e Evita. Nem assim a feira interfere?
Marifé – É delicado, há diplomacia envolvida. É claro que os jornalistas queriam ouvir que o governo estava fazendo tudo errado, mas não diríamos isso. Mas também é claro que focamos na literatura e na sociedade de hoje.

Boos – Importante é olhar para a sociedade de hoje, não para o passado.

Já se pode sentir impacto da escolha do Brasil como convidado em 2013?
Boos – Sim, porque o programa de tradução já começou. Nas últimas semanas, especialmente, muitos editores alemães me perguntaram sobre o Brasil e sobre como entrar em contato com as editoras. Isso é complicado, porque há no Brasil só um ou dois agentes especializados. Na Alemanha, há agentes especializados na America Latina, não especificamente no Brasil.

Por falar nesse programa, uma editora alemã [Königshausen & Neumann] escolheu o romance de um senador e ex-presidente brasileiro, chamado José Sarney, para traduzir. Isso chamou a atenção, porque Sarney não é especialmente conhecido pela obra literária.
Boos – É um livro político?

Não, é um romance, “Saraminda”. Sarney faz uma literatura regionalista.
[Boos pega o Macbook, pergunta como soletra o nome e começa a pesquisar.]

Marifé – Bem, essa é uma decisão da editora. Se eles acham que podem vender, eles decidem. E o Brasil deve estar aberto a oferecer esse apoio.

Boos – [ainda lendo no MacBook] 1987… [data de “Saraminda”]. E ele é um membro da Academia Brasileira de Letras. Bem. E ele tem 80 anos? Tem essas questões políticas, estou vendo [continua lendo ao longo das próximas perguntas].

Como são essas exposições paralelas sobre o Brasil por ocasião da feira?
Marifé – Isso nós não negociamos, mas temos duas pessoas na feira que cuidam do contato entre o convidado de honra e outras instituições. Eles ajudam a organizar encontros, mas não interferimos. Já há planos para exposições nos museus mais importantes de Frankfurt.

Mais cedo, vocês citaram Juca Ferreira. Já encontraram a nova ministra da Cultura?
Marifé – O  contato foi assinado com Juca Ferreira, e agora, infelizmente…

Boos – [para de ler no MacBook por um momento] Ainda ainda não conseguimos encontrar a ministra, mas tomara que seja possível amanhã, na Bienal de São Paulo, se ela for [Ana de Hollanda foi, mas não encontrou Boos e Marifé].

Por que não a encontraram ainda?
Boos – Estivemos no Brasil algumas vezes, encontramos outros membros do governo…

Marifé – Encontramos o secretário executivo [do MinC], Vitor Ortiz, mas não a ministra.

Boos – Não sei a razão. Estava ocupada, talvez. A presidente mandou chamá-la, não sei. Veja: o último livro de Sarney é de 1991 [Boos defende que traduções  priorizem autores na ativa]. Saiu na Alemanha, mas não está mais em catálogo, segundo a Amazon.

A Amazon deve chegar ao Brasil neste ano. Como é a presença da empresa hoje na Alemanha? Aqui a ideia é vista com ressalvas pelo mercado.
Boos – Foi o mesmo quando Gutenberg criou a impressão. De repende, livros estavam disponíveis em todo lugar, e agora estão em todo lugar na internet. Na época de Gutenberg, eles eram caros e ninguém podia ler, demorou dois séculos para a coisa engrenar. O mesmo acontece agora. Os e-books estão em todo lugar, mas pouca gente lê. Não estão acostumados, não querem ler no celular, entao vai demorar um tempo.

A Amazon tem uma fatia grande do mercado alemão, porque é conveniente, as pessoas não precisam ir à livraria, podem encomendar e receber no outro dia. O livro do Sarney, por exemplo, está fora de catálogo, mas tem ali uma edição em segunda mão à venda.

Os e-books não fazem tanto sucesso na Alemanha quanto nos EUA porque ainda temos livrarias em todo lugar, em qualquer esquina. No Brasil, você tem livrarias nas grandes cidades, mas acho que nas menores é mais difícil. Suponho.

A Amazon começou com livros impressos e boa distribuição. Foram espertos, começaram nos países de língua inglesa, daí foram para países de língua alemã, similar na estrutura, e daí para a Espanha. Mas mais interessante agora é a canadense Kobo, que foi comprada pela Rakuten, que está para o Japão como a Amazon para o resto do mundo. Ela estreará em 20 países nos próximos meses, incluindo o Brasil. Isso obrigará a Amazon repensar estratégias.

Em 2008, com a crise, o mercado editorial encolheu em vários países. Como foi isso na Alemanha? Como está esse mercado hoje?
Boos – Nos últimos três anos, o mercado alemão vem se mantendo num certo nível, cresce ou encolhe muito pouco. O mais interessante é que há mais títulos publicados do que nunca, os preços subiram um pouco e o faturamento continua o mesmo. A conclusão: menos exemplares por títulos, as pequenas vendendo menos, e best-sellers como “Cinquenta Tons de Cinza” vendendo mais do que nunca.

Isso é perigoso, porque mostra que as pessoas estão interessadas só naquilo que é muito divulgado. Isso acontece no mundo inteiro. É um problema de educação. Temos de mostrar às crianças que há mais. Meu filho tem 12 anos e tudo o que lê é uma série de James Bond para crianças. Tento fazê-lo ler outras coisas, mas ele sempre quer o próximo número da série.

O que pode ser feito, então, para fomentar a leitura, se mesmo o sr., que trabalha com isso  e na teoria poderia ajudar seu filho, não consegue convencê-lo  a ler outra coisa?
Boos – Na minha casa temos muito livros, mas a verdade é que ele não quer ser influenciado por mim. Recomendar algo é a melhor maneira de fazer ele não querer ler.  Tento outras maneiras, indiretamente. Ele fica no YouTube o tempo todo. Então pego um bom livro e digo: “Veja, fizeram um filme em Hollywood baseado nesse livro”. Essa coisa de conversão de mídias.

Também tento enviá-lo para a livraria, e ele fica circulando. Não faço ele comprar livros específicos, faço ele ir e escolher. Uma vez que ele está lá, ele acaba escolhendo. Compro James Bond para ele, o quanto ele quiser, mas que tenha acesso a outros.

Dizem no Brasil que nosso governo está entre os que mais compram livros para escolas e bibliotecas. Como vê ações governamentais nesse sentido?
Boos – Acho positivo. Dar acesso aos livros é importante. Livreiros também têm de ir onde está o povo. Fazer leituras, iniciativas sociais, porque são organizações pequenas. Estamos com uma iniciativa chamada “o futebol encontra a cultura e a literatura”, para crianças pobres da Alemanha, especialmente descendentes de imigrantes que têm problemas com a leitura.

Falamos com times de futebol, e elas têm permissao para treinar com esses times duas vezes por semana. Depois do treino, têm uma hora de práticas de leitura. Não é como a escola, mas tentamos torná-las interessados na leitura combinando-a com o jogo. As crianças querem treinar, então também leem. Temos uns sete times participando, com patrocinadores.

Como são os índices de leitura na Alemanha hoje?
Boos – Há muita gente vinda de Leste Europeu, gente que nem fala alemão. Os índices de leitura estão caindo. Acho que temos 4 milhões de pessoas, de um total de 80 milhões, que foram à escola, aprenderam a ler e não conseguem ler mais, e esse número está crescendo. Essas pessoas têm empregos simples, veem TV, usam celular, mas na prática não conseguem ler.

Tento não ser pessimista. Leio muito, tenho a sorte de que meu filho leia, embora nossos hábitos sejam diferentes. Ele lê e faz outras coisas ao mesmo tempo, lê um impresso e checa o Facebook no smartphone ao mesmo tempo. Os pais são um exemplo, mas estão vivendo em outro mundo. Hoje, até um jogo de videogame pode capturar uma criança para a leitura.

É importante começar cedo, não esperar até a faculdade. E o governo tem que participar, treinar professores –porque eles são da minha idade, não estão acostumados com as novas mídias. Não há problema em se divertir lendo. Aliás, o mais importante é se divertir.

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Bolsas e prêmios literários: dúvidas nas inscrições, a recorrência de restrições morais e mais

Por Raquel Cozer
31/07/12 00:44

Está próximo o fim do prazo de inscrições para as Bolsas BN/Funarte de Criação e Circulação Literária (foi estendido para 10/8, data de postagem), e a caixa de comentários do meu post sobre o assunto não para de receber dúvidas. Uma delas eu mesma criei (ops): o prazo para elaboração do livro agraciado é de seis meses, não de um ano –que é o prazo de validade do edital.

Como nunca participei desses editais, mandei para a Biblioteca Nacional questões que os próprios leitores não ajudaram a responder. As dúvidas são deles; as respostas, da BN:

Se o autor é iniciante num gênero, mas já publicou em outro, há impedimento?
Podem ser inscrever para o edital de Criação Literária escritores com até dois livros publicados com ISBN. Se a pessoa não tem nenhum livro publicado, ela se encaixa perfeitamente no critério para proponente e pode apresentar projeto. Se a pessoa já tem livro de literatura com autoria principal publicado com ISBN, o número desses títulos não pode ultrapassar dois, independentemente do gênero das publicações.

Textos técnicos, acadêmicos e científicos não serão considerados no cômputo. Também não serão consideradas as obras nas quais o proponente não tem autoria principal.

O que significa “produto final da proposta a ser desenvolvida”?
Nessa parte, o proponente especifica o tipo de obra, o título e o gênero da mesma.

No item “vias encadernadas contendo texto de autoria do proponente, entre 15 e 20 páginas”, mando uma amostra do que pretendo escrever no livro?
O texto de autoria do proponente pode ser preenchido com um texto, vários textos ou partes deles, de qualquer gênero, de autoria do proponente, de acordo com seu interesse, desde que respeitando o limite de páginas. Podem ser textos publicados ou não. Não deve conter trechos da obra para a qual o proponente pede a bolsa, pois esta deverá ser criada durante os seis meses de bolsa. A obra tem que ser inédita. Os textos serão usados para avaliar a qualidade literária do texto do proponente.

Fui me informar sobre a documentação para quem for classificado. Mas a certidão a ser emitida pela Receita (Certidão Negativa de Débitos de Tributos e Contribuições Federais) não pode ser emitida, o site não permite. A única certidão possível para pessoas físicas é a Certidão Conjunta de Débitos Relativos a Tributos Federais e à Dívida Ativa da União.
Quanto à certidão, trata-se do mesmo documento, a saber, Certidão Negativa de Débitos Federais – Pessoa Física. A Certidão Conjunta de Débitos Relativos a Tributos Federais e à Dívida Ativa da União será emitida quando for verificada a regularidade fiscal do sujeito passivo quanto aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil – RFB e quanto à Dívida Ativa da União administrada pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional – PGFN .

A regularidade fiscal, no âmbito da RFB, caracteriza-se pela não existência de pendências cadastrais, de débitos em nome do sujeito passivo e, ainda, de não constar como omisso quanto à entrega: a) da Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (DIRPF); b) da Declaração do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (DITR), se estiver obrigada a sua apresentação; c) da Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF), se estiver obrigada à sua apresentação.” Para acessar a certidão, clique aqui.

 ***

Aqui, dicas de quem já esteve envolvido com os editais:

Fernanda de Aragão, que ganhou a bolsa em 2010 sem ter livros publicados antes –ela concorreu pelo Sudeste, concorrendo com mais de 1.500 candidatos para 30 bolsas.

“Fiz um projeto completo, como se fosse de doutorado, trocando o pensamento de pesquisa para escrita. Meu projeto foi escrito com uma única temática, todos os contos seguindo uma mesma linha, para dar unidade. Em cima do tema norteei as justificativas. Ao final, inclui um conto longo e trechos. Passado um ano da entrega do original à Funarte, ainda estou às voltas com o livro para publicar um bom material. Não fui um dos cinco contemplados para publicação pela Funarte, outras pessoas tinham mais experiência em montar um livro de contos como unidade. O processo de publicação foi feito depois que todos os agraciados enviaram seus trabalhos finalizados, seis meses depois. Escolheram um livro de cada região do país.”

Carlos Henrique Schroeder, também agraciado em 2010:

“As respostas não precisam ser acadêmicas e formais, pode responder de maneira coloquial (só cuide com os erros de português). E use referências, tipo: o romance que estou desenvolvendo se assemelha na pesquisa ao que o Fulano da Antuérpia fez no século passado no romance tal… E cite autores bacanas também, isso é importante. Não confunda objetivo e justificativa: o primeiro é onde você quer chegar, e o segundo por que você acha que deve fazer isto.”

De um ex-membro da comissão julgadora:

“Os projetos, em sua maioria, resultam muito parecidos, impessoais e técnicos, com alguma ou outra coisa que desperta a atenção, o enredo, uma proposta linguística etc. Os avaliadores dão importância ao texto literário que os proponentes mandam como exemplo.”

O leitor Vitor da Silva e Souza deu o caminho das pedras das fichas de inscrições, que muita gente não encontrava, e de documentos sobre a composição dos projetos.

***

Dias depois do post sobre os editais BN/Funarte, repercuti questionamentos de leitores sobre um estranho moralismo decorrente de restrições temáticas. Diziam respeito ao item que informa que os projetos não podem caracterizar apologia ao tráfico de drogas, ao terrorismo, à discriminação e a outros temas non gratos.

Além de a tentativa de diferenciar a simples abordagem de uma apologia numa obra literária dar margem a enormes discussões, desde quando restrições morais fazem bem para a literatura? Desde quando a literatura que não é de autoajuda serve para indicar caminhos?

O escritor Eduardo Sterzi foi quem me fez atentar para outro caso recente do gênero. No regulamento do Prêmio Sesc de Poesia, o item 7 informa: “As poesias devem conter elementos que promovam o bem-estar e os valores morais”.

Como esclareceu a Biblioteca Nacional quando a questionei sobre as restrições, são apenas as regras para quem quer a bolsa, não para quem quer escrever em outras circunstâncias. O Sesc poderia argumentar o mesmo, é claro.

Mas desde quando, e desta vez não é uma pergunta retórica, é mesmo uma dúvida, desde quando critérios morais são eliminatórios para premiações ou bolsas literárias que não sejam, sei lá, de uma ONG em defesa das crianças? Não lembro casos anteriores. Sei que, nas bolsas BN/Funarte, esta foi a primeira vez que eles constaram dos editais.

Abaixo, nos comentários, o Rodrigo Domit, do Concursos Literários, responde à pergunta não retórica: “Os prêmios do Sesc-DF apresentam a restrição desde as primeiras edições. Mas nunca foi grande obstáculo para a abordagem de temas como o machismo, violência doméstica etc. Não cobram que a pessoa promova, num texto meio ‘lição de moral ao final do Capitão Planeta’ ou ‘discurso do He-Man sobre o que aprenderam no episódio’. Só querem evitar material que, com a logomarca e apoio do Sesc, não poderiam publicar”.

Via Renata Lins, cheguei a este post ótimo do O Palco e o Mundo, publicado também hoje, com exemplos de poemas com os quais Carlos Drummond de Andrade, patrono do prêmio, seria rejeitado.

Já o poeta André Vallias, gênio das tiradas poéticas no Twitter, preparou esse versinho.

poema para prêmio

o tema não é nada genial:
o metro de dez sílabas, contudo
atesta que foi feito com estudo
e atento aos bons valores da moral.

De todo modo, dado o número de interessados com dúvidas, não me parece que restrições morais soem assim agressivas para quem busca ajuda para publicar um livro.

***

Por falar em prêmios, falei deles no Painel das Letras deste último sábado: nesta quinta-feira, às 15h, a Secretaria de Estado da Cultura divulga os 20 finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura, abrindo a temporada de grandes prêmios literários nacionais. Na semana passada, o inglês Man Booker Prize deu um exemplo interessante, ao deixar hors concours de fora e arriscar estreantes e autores de pequenas editoras. A bibliodiversidade agradece.

(Intervalo para propaganda: o Painel das Letras tem também a estreia de Hilda Hilst em livros nos EUA,  questionamentos de editores sobre a Bienal do Livro de São Paulo, a estreia do selo de poesia Musa Rara etc.)

Por falar em estreias e estreantes, até o fim de agosto estão abertas as inscrições para a primeira edição do Prêmio Paraná de Literatura, para obras inéditas.

E ainda, para finalizar: saiu ontem no “Diário Oficial da União” a lista de selecionados para o Programa Nacional do Livro Didático 2013. A informação chegou via Carolina Vigna-Maru, que entrou na lista com o infantil “Godô Dança” (Manole), de onde tirei a imagem do cãozinho acima. 

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Quem quer ler brasileiros em Portugal?

Por Raquel Cozer
04/07/12 14:00

Se Gonçalo M. Tavares, José Luis Peixoto, José Eduardo Agualusa, Inês Pedrosa e Mia Couto se tornaram conhecidos no Brasil, a responsabilidade é do Instituto Camões. Eles são alguns dos autores de países lusófonos que, nas últimas décadas, foram publicados no Brasil graças a incentivo da instituição portuguesa, que também os trouxe para divulgar seus livros.

Por isso é interessante um dos anúncios que a Fundação Biblioteca Nacional faz nesta Flip, um ano depois de divulgar a ampliação em seu programa de tradução de autores brasileiros no exterior. Esta é a ampliação da ampliação, digamos assim: além do apoio à tradução, agora a FBN oferecerá incentivo à publicação (e adaptação, em casos de livros de não ficção ou de quem quer que tenha coragem de adaptar ficção) em outros países de língua portuguesa.

O Camões beneficia autores de países lusófonos além de Portugal (caso do moçambicano Mia e do angolano Agualusa, por exemplo); a FBN focará brasileiros, já que não temos essa culpa histórica. A princípio, em fase experimental, serão 12 bolsas de até R$ 6.000. O edital deve sair no “Diário Oficial da União” nos próximos dias –quem se inscreve, é claro, é a editora lusófona que queira publicar algum livro brasileiro, não o autor interessado em ser publicado por lá.

***

Outros programas anunciados agora foram bolsas de tradução específicas por idioma ou gênero (técnico, científico etc.), bolsas de residência de tradutores estrangeiros no Brasil e patrocínio para viagens de brasileiros que queiram divulgar seus livros no exterior. Esses editais também estão praticamente prontos e devem sair nos próximos dias, segundo a FBN.

Antes que venham chorar as mágoas do dinheiro público para viagens de autores, já digo que sou a favor, se a coisa for feita da maneira certa –foi graças a isso, também, que nomes como Agualusa, Gonçalo e Peixoto vieram ao Brasil, o que certamente ampliou o impacto dos livros deles publicados aqui. E não critico o governo português por ter permitido que eu os conhecesse. Especialmente no que diz respeito a Gonçalo e Peixoto –este último, aliás, de volta à Flip neste ano, lançou um lindo livro pela Companhia das Letras há pouco, chamado “Livro”.

E ter a literatura brasileira publicada lá fora não é apenas capricho de autor, é uma forma reconhecida de divulgar a cultura, à qual recorrem países como a Alemanha, a França e Portugal.

O governo também investirá na presença do Brasil em feiras internacionais. Já foram acertadas, segundo o presidente da Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, homenagens nas feiras de Londres e Nova York e no Salão do Livro de Paris, mas as datas eles ainda não divulgam.

***

Autores brasileiros contemporâneos são bem pouco conhecidos nos países lusófonos. Temos Rubem Fonseca, que esteve há pouco num festival literário em Póvoa de Varzim, Clarice, creio, talvez Bernardo Carvalho. Escrevi uma reportagem em 2010 sobre esse intercâmbio no Estadão e falei com escritores, estudiosos e funcionários dos governos a respeito, mas, confesso, já não lembro detalhes que não entraram no texto (pode linkar? Ups, linkei).

O que sei é que essa presença hoje é incipiente perto do que já foi. Houve um tempo em que todo mundo em Moçambique lia Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Hoje em dia, segundo me disseram moçambicanos, nem isso. Para estudiosos, esse esquecimento resultou justamente da falta de ações para divulgar a literatura brasileira naqueles países, embora os mais maldosos possam dizer que isso decorre do fato de não existir um Guimarães Rosa nos dias de hoje.

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Pode haver limites para a temática literária?

Por Raquel Cozer
24/06/12 19:59

Imagem do "Guia de Ruas sem Saída", de Joca Reiners Terron, que não ganhou bolsa da Funarte. Já explico por que a imagem aqui

Depois do último post, recebi mensagens questionando pontos dos editais das Bolsas BN/Funarte de Criação e Circulação Literária. Algumas criticavam a redução no número de bolsas; outras, a definição de que só pode participar quem tenha até dois livros publicados, regra inexistente nas edições anteriores. Mais importantes achei as críticas não relacionadas a interesses pessoais, e sim à literatura em si.

Essa última discussão surgiu do item dos editais que informa:

1.2. Os projetos concorrentes não sofrerão quaisquer restrições quanto à temática abordada, desde que não caracterizem:
a) promoção política de candidatos e/ou partidos; 
b) dano à honra, a moral e aos bons costumes de terceiros e da sociedade;
c) pornografia
d) pedofilia
e) discriminação de raças e/ou credos;
f) tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins;
g) terrorismo
h) tráfico de animais

Há uma variedade de detalhes do trecho que suscita discussão. O primeiro e mais óbvio é que a frase “não sofrerão quaisquer restrições quanto à temática abordada, desde que não caracterizem…” é uma contradição em termos, mas isso é que menos interessa aqui.

O item (a) considero mais do que justo. Um programa financiado pelo governo não tem nada que dar dinheiro a quem queira fazer promoção de algum partido ou candidato. Quem quiser que faça isso sem receber dinheiro público, obrigada.

O item (b) já fica meio em cima do muro: a restrição a obras que causem danos à honra e à moral de terceiros, lembrando mais uma vez que estamos falando de dinheiro público, é um critério que pode até ser considerado legítimo; a parte que fala dos bons costumes da sociedade é mais preocupante. Você extirparia o coração das grandes obras literárias da história se eliminasse aquelas que questionam os bons costumes da sociedade. Politicamente correto e literatura não combinam, definitivamente.

O item (c) me parece de um moralismo duvidoso. Lembro que dois anos atrás os jurados do Prêmio Portugal Telecom disseram a quem quisesse ouvir que “Pornopopeia”, de Reinaldo Moraes, tinha dividido o júri por ser “pesado demais”.  No ano passado, soube que “Nada a Dizer”, de Elvira Vigna, então um dos dez finalistas, não teve nem chance de ficar entre os três vencedores porque um dos jurados reprovou o uso de palavrões no romance. Triste saber que critérios assim entram na conta de gente que na teoria está mais do que habilitada a avaliar um romance.

***

Um erro na redação dos editais fez com que a partir do item (d) a coisa ficasse meio engraçada. Um livro que caracteriza pedofilia é como? Aborda menores com propostas indecentes? Um romance que caracteriza terrorismo deve explodir na página 36. Ou talvez seja só a definição para um romance muito, muito ruim. E o que seriam poemas que caracterizem tráfico de drogas? Feitos em folhas de coca? Não deixa de ter sua poesia.

A resposta a isso era imaginável, e, questionada, a Biblioteca Nacional confirmou a suspeita. A intenção era esclarecer que serão inabilitadas obras que façam apologia à pedofilia, à discriminação, ao tráfico de drogas e aos outros itens listados, e não que apenas abordem esses temas. Aí a discussão entra em outro nível, embora, como escrevi no Painel das Letras de ontem, diferenciar abordagem de apologia não seja tão fácil. “Cidade de Deus” fez a gente achar graça no Dadinho/Zé Pequeno  (esqueci o nome do personagem no livro. Miúdo?). Seria apologia ao tráfico?

Pois bem, pensando na apologia como apologia propriamente dita. Foi para não alimentar a discriminação que a Alemanha manteve fora de catálogo por décadas o “Minha Luta”, de Adolf Hitler. O que é uma forma de censura e, ao mesmo tempo, é uma decisão compreensível. Só agora, que o livro está prestes a cair em domínio público, foi que a Baviera decidiu publicar a obra, comentada, de forma a se tornar um objeto de análise, e não pura  munição na mão de neonazistas.

Questão parecida suscitou, no ano passado, debate acerca das comemorações em torno dos 50 anos da morte de Louis-Ferdinand Céline, um dos maiores e mais polêmicos escritores que a França já teve (abordei o assunto neste e neste post).

***

Ainda em resposta aos meus questionamentos, a Biblioteca Nacional informou: “Os editais das Bolsas de Circulação e Criação Literária são incentivos financeiros do Governo Federal a projetos que têm como objetivo fomentar a produção literária e difundir a leitura pelo Brasil. Uma vez que os projetos vencedores terão acesso a recursos públicos, fez-se necessário estabelecer regras quanto às temáticas apresentadas”.

Disse também que “todos os projetos inscritos serão analisados. Nada será descartado, a priori, sem uma avaliação crítica de especialistas em literatura”.

E concluiu: “A FBN e Funarte lembram ainda que a criação destas restrições estão em linha com a diretriz do Governo Federal, capitaneada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, para que todas as entidades trabalhem em bloco na valorização de direitos e combate a temas como pedofilia e discriminação de raças”.

O argumento poderia ser resumido assim: eles dão o dinheiro, eles estipulam as regras. Quem não gostar pode escrever sem pedir esse financiamento.

***

À imagem que abre este post, por fim. É de André Ducci e integra o livro “Guia de Ruas sem Saída”, com texto de Joca Reiners Terron. O livro resultou de uma bolsa do gênero que o Joca ganhou não da Funarte, mas da Petrobrás, em 2007, e que saiu no começo deste ano pela Edith, uma dessas editoras pequenas que conseguem espaço a fórceps num mercado dominado pelas grandes (me dá um abraço, Edith).

Algumas questões que têm a ver com a bolsa da Funarte cabem aqui. Uma delas é a temática: o centro do livro do Joca, financiado com dinheiro público, é o tráfico de órgãos. Seria considerado apologia? Não me parece, mas poderia parecer aos jurados. Posso dizer que não tive interesse em vender o fígado do meu marido depois de lê-lo, mas também acho que o fígado do meu marido não deve estar valendo tudo isso no mercado.

Falando com Joca para escrever sobre o livro para a “Ilustrada”, soube algo que pode interessar a quem quiser concorrer às bolsas da BN/Funarte. Ao inscrever o romance no edital da Petrobras, Joca imaginava chamá-lo “A Extinção da Infância”. Ao longo de quatro anos, ele mudou a história. Daí precisou enfrentar seis meses de burocracia do MinC para adequar o título ao romance tal como ficou. Ele até poderia correr o risco de perder a bolsa, imagino, já que o projeto aprovado não existia mais.

O que leva a uma última questão: é mesmo possível elaborar um projeto de obra literária? Admiro quem consiga, porque mal consigo pensar o esqueleto de reportagens…

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Saem, enfim, os editais das bolsas BN/Funarte de criação e circulação literária

Por Raquel Cozer
19/06/12 15:33

Saíram hoje no “Diário Oficial da União” os editais referentes às Bolsas de Criação e Circulação Literária, que no ano passado, no centro de uma interminável discussão entre Biblioteca Nacional e Funarte, não foram publicados –e que agora agregam as siglas das duas instituições no nome. O prazo para inscrições é de 45 dias a partir de hoje (até 2/8).

Para as Bolsas BN/Funarte de Criação Literária foram destinados R$ 450 mil. São 30 bolsas, no valor de R$ 15 mil cada uma, a princípio cinco para o Norte, sete para o Nordeste, cinco para o Sul, oito para o Sudeste e cinco para o Centro-Oeste. Podem concorrer brasileiros maiores de 18 anos natos ou naturalizados e estrangeiros no país há mais de três anos.

As bolsas são para iniciantes, considerados aí escritores com até dois títulos de autoria principal publicados com ISBN (ou seja, nome em antologia não elimina ninguém), interessados na produção inédita de poesia, romance, contos, crônicas e novelas. Os critérios são criatividade, contribuição artística e o mais comum para escritores (mentira): organização. A partir da divulgação do resultado, no segundo semestre, os selecionados terão um ano para entregar o livro, com possibilidade de prorrogação por mais um ano.

Já as Bolsas BN/Funarte de Circulação Literária, a serem usadas para a criação de oficinas, cursos, palestras e afins, ficaram com R$ 800 mil. São 20 bolsas, quatro por região, cada uma no valor de R$ 40 mil. As inscrições também ficam abertas pelos próximos 45 dias. Os critérios para habilitação são relevância cultural, impacto social e originalidade.

Aqui, o link para os editais.

***

Trago o assunto para cá porque foi abordado algumas vezes no Painel das Letras desde que assumi a coluna, em fevereiro. A discussão citada no primeiro parágrafo teve a ver com a recente transferência das políticas de livro, leitura e literatura do país para a Fundação Biblioteca Nacional. Oferecidas anualmente de 2007 a 2010 pela Funarte e apontadas em pesquisa do MinC como os mais importantes programas federais de fomento à criação literária, as bolsas não tiveram edital no ano passado porque não se chegava a um consenso.

Em fevereiro, o presidente da Funarte, Antonio Grassi, disse a dúvida era sobre que instituição cuidaria dos editais: a Funarte, que ainda cuida de outros editais de bolsas na área cultural, ou a FBN, por agregar as políticas de livro, leitura e literatura. Optou-se por um político meio-termo, embora, pelos editais, a Biblioteca Nacional pareça ficar com as rédeas da coisa toda.

O valor total, de cerca de R$ 1,5 milhão incluindo despesas administrativas, é bem menor que o de 2010, quando R$ 4 milhões foram destinados aos editais. Só as bolsas de criação, por exemplo, que eram 60, com R$ 30 mil para cada uma, caíram pela metade.

Soube de reclamações quando surgiram os primeiros comentários sobre redução nos valores (no Facebook, Ademir Assunção, membro do colegiado setorial da área de 2010 a 2011 e vencedor de uma bolsa de criação da Funarte em 2010, escreveu a respeito), mas não duvido que ela seja vista com bons olhos inclusive por gente da área, porque essa é uma questão que não alcança consenso. Há quem ache um absurdo o governo pagar pela “inspiração” de escritores, há quem ache um absurdo o governo não estimular a criação literária.

A entrada da FBN na história obviamente causou descontentamentos entre quem lidava com o modelo anterior, mas, muito antes disso, já existiam questionamentos quanto à forma como as bolsas eram distribuídas pela Funarte.  Sobre a participação da FBN não posso opinar antes de saber como ela se sairá, mas acho o formato de bolsas para criação literária, e especialmente o de formulação de eventos, importante, se bem realizado. Instituições públicas e privadas de países como França e EUA oferecem bolsas do gênero, inclusive para estrangeiros.

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