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A Biblioteca de Raquel

Raquel Cozer

Perfil Raquel Cozer é jornalista especializada na cobertura de livros

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O parêntesis de Gutenberg

Por Raquel Cozer
13/06/13 13:08

“Me perguntaram quando vai ter livraria em Taperoá, cidade de 12 mil habitantes onde nasci. Respondi: ‘Nunca. Nem vai precisar.  Provavelmente nem de biblioteca vai precisar’.”

Interessante a escolha do paraibano Silvio Meira, pesquisador da engenharia de software, para a abertura do Congresso do Livro Digital, em São Paulo. Chutou uns baldes que desafiaram qualquer sonolência de editores no auditório da Fecomércio, hoje cedo.

Professor do Centro de Informação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e cientista-chefe do Centro de Estudos de Sistemas Avançados do Recife (Cesar), Meira foi porta-voz daquela opinião que editores menos apreciam sobre o futuro do livro em palestra sobre “como leremos em 2020”, aquela que defende que não propriamente “leremos” e que aquilo que chamamos de livro digital talvez nem livro seja.

“Um editor me perguntou se isso tudo o que digo vai acontecer antes de ele se aposentar. Perguntei: ‘Quando você se aposenta?’. Ele: ‘Daqui a dez anos’. Falei: ‘Tá lascado.”

 ***

Imagem do vídeo que apresenta “The Silent History”

“The Silent History”, um “novo tipo de romance”, foi um exemplo do que esse discurso quer dizer. É um aplicativo, à venda por US$ 1,99 na Appstore, assinado por Kevin Moffett, Matthew Derby, Russell Quinn e Eli Horowitz, mas na teoria não só deles. Trata de uma epidemia de silêncio iniciada em 2011, com crianças ao redor do mundo nascidas sem a capacidade de ou interesse em se comunicar, algo que adultos demorarão a entender do que se trata.

Um vídeo e um texto apresentam a história ao leitor, que pode acompanhá-la de duas maneiras: lendo depoimentos dos personagens, que contam a história dos silêncios desde sua descoberta até 2043. Cada depoimento tem 1.500 palavras e, quando forem concluídos, equivalerão a algo como um romance de 500 páginas, segundo a revista Wired.

E há a opção de acompanhar e expandir as histórias de locais onde ela acontece. Essa opção só está aberta para quem estiver a pelo menos dez metros do cenário segundo as coordenadas do GPS. Uma história de um avião que pousa em Chicago, por exemplo, só poderá ser desbloqueada no aeroporto de O’Hare. Hoje há 250 locais desses no mundo, e os autores incentivam os criadores a elaborarem seus próprios relatórios de campo.

Gastei meus U$ 1,99. Se valer a pena, eu conto.

***

“É autoria? Não necessariamente. Autores na nossa época era quem escrevia tudo para a gente ler. O que a gente vê em ‘The Silent History’ é uma combinação de autor com leitor muito mais dinâmica, de pessoas que participam de várias formas.”

O que não é exatamente novo, lembra Meira. Em 1961, Raumond Queneau escreveu sua série de dez sonetos recombinantes. Dez sonetos de 14 linhas em dez páginas, sendo cada linha uma tira recortada. Cada tira que o leitor vira cria um novo poema. A leitura de um soneto por minuto tomaria 190 milhões de anos do leitor. Achei melhor não checar.

E então chegaríamos ao modelo iPod shuffle literário, expressão que Meira toma de Adam Langer, do “The Boston Globe”, em relação às referências explicitadas ou não em “Manuscrito Encontrado em Accra”, mais recente obra de Paulo Coelho. “O mais interessante sobre a abordagem de Coelho não é o que ele afirma ou cita, mas o que ele sugere sobre como textos, inclusive bíblicos, devem ser lidos”, escreve Langer.

O conceito de autoria que se tornou possível com a imprensa criada por Gutenberg (1398-1468), diz Meira, é um parêntesis na história. Antes, era o recr[e,i]ativo, o coletivo, a performance, o instável. Com Gutenberg, veio o original, o individual, o estável, o canônico. Fechado o parêntesis, vêm variações do que tínhamos antes dele (mas agora, veja só, em inglês, sinais dos tempos): sampling, [re]mixing, borrowing, appropriating.

Meu exemplo preferido disso foi uma referência ao blog Bibliotecas do Brasil, no post “Vandalismo e destruição de livros universitários”, sobre alunos com “o péssimo hábito de pegar livros para estudar e marcar os exemplares utilizando-se de canetas marca-texto com a maior naturalidade, sem levar em conta que aquele livro pertence à biblioteca da faculdade”.

“Anotar é uma nova forma de ler”, concluiu Meira. “Provavelmente no futuro vamos descobrir que a única coisa que interessa neste livro da imagem é o que está marcado em cor de rosa e azul. O resto do texto é enchimento de linguiça para vender papel.”

***

Essa leitura interfere em tudo que o mercado editorial tem de mais sagrado, que é o conceito de autoria. Não por acaso a mesa seguinte tratava justamente do direito autoral em tempos de livro digital, com representantes de variações internacionais da ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos) e seus olhares mais conservadores e voltados à dinâmica de mercado.

Fui expulsa do Congresso do Livro Digital por uma apuração a concluir na Redação e pelo sotaque de Ranier Just, presidente da Internacional Federation of Reproduction Rights Organizations, num inglês talvez só não mais macarrônico que o meu.

Antes de sair, no entanto, não pude deixar de prestar atenção num argumento que, em tempos de Obama espionando o mundo, vale reflexão.

De Ranier Just: “As pessoas acham que a internet permite o anonimato. Não permite. O consumidor não é mais anônimo, e é sempre possível traçar a linha do produtor ao consumidor. Isso traz novas possibilidades, mas é preocupante quando você pensa em privacidade. Não é legal ter a noção de que outros sabem o que você lê quando vai para a cama.”

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Painel das Letras: São Paulo portenha

Por Dani Braga
08/06/13 08:53

Após um ano de negociações, são iniciados os trabalhos para a homenagem a São Paulo na próxima Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, em abril de 2014. Anteontem, a vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, e o secretário de Cultura, Juca Ferreira, fizeram a primeira reunião para debater a organização. O valor do investimento não está definido.“São Paulo é uma porta do Brasil, o que significa que não levaremos só artistas locais”, diz o secretário. Gabriela Adamo, organizadora da feira, vem ao país nos próximos dias para esclarecer o que se espera de um homenageado. A 23ª edição, terminada em maio, foi a primeira a celebrar uma cidade, Amsterdã. “São Paulo é mais próxima culturalmente de Buenos Aires, imaginamos repercussão maior”, ela diz.

Meu público cresceu

Se as polpudas compras de governo estimularam editoras a criar selos infantis nos últimos anos, um foco hoje são as vendas por livrarias e em público ligeiramente mais velho, o infantojuvenil. Sucessos como Rick Riordan, da Intrínseca (o mais recente, “A Marca de Atenas”, vendeu 59,4 mil cópias em um mês), animaram a Globo Livros.

A editora estreia no segmento neste ano, com “Lenny Círus, o Supervírus”, de Joe Schreiber, e “Encontre-me”, de Romily Bernard. ?Mas a maior aposta é um livro que, diz a Globo, inspirou o fenômeno “Jogos Vorazes” (Rocco), de Suzanne Collins.

Uma inspiração do fundo do baú: “Battle Royalle”, lançado em 1999 pelo japonês Koushun Takami, trata, assim como a série de Collins, de garotos que participam de jogos fatais transmitidos pela TV.

Infantil A Melhoramentos lança neste ano “Dima, o Passarinho que Criou o Mundo”, com autores de todos os países em que se fala português, como Rogério Andrade Barbosa (Brasil) e Zetho Cunha Gonçalves (Angola)

Prêmios Devem ser definidos em julho regras e formato de duas premiações que a Fundação Biblioteca Nacional agregou em 2012, o Vivaleitura e as Bolsas de Circulação e Criação Literária. O tema agora está sob responsabilidade da estrutura direta do MinC, a cargo do Plano Nacional do Livro e Leitura.

Prêmios 2 As duas premiações tiveram edições conturbadas, com atrasos. A cerimônia de entrega do Vivaleitura chegou a ser marcada para 6 de abril, com passagem para os finalistas emitidas pelo governo, mas foi cancelada. O MinC informa que agora ela está prevista para as próximas semanas.

Militância Cid Benjamin, um dos líderes, no MR-8, da luta armada esquerdista nos anos 1960 e 1970, assinou contrato com a José Olympio para publicar, no próximo semestre, “Gracias a La Vida: Memórias de um Militante”. O jornalista detalha a vida na clandestinidade, as fugas cinematográficas, a tortura e o exílio. “Não queria fazer um relato, mas uma reflexão”, diz.

Militância 2 Já um dos maiores críticos da luta armada, Armênio Guedes, que passou nos anos 1980 de membro do PCB a “um comunista livre e sem partido”, será biografado por Sandro Vaia em “Sereno Guerreiro da Liberdade”. Sai em julho pela Barcarolla, com prefácio de Ferreira Gullar.

Menos é mais Abaixar o preço dos e-books é uma proposta do setor editorial espanhol para frear a queda nas vendas de livros impressos no país, quase 40% desde 2008. Petição dirigida a governo e leitores solicita ainda medidas de combate à pirataria e a conscientização sobre a importância dos direitos autorais.

Mais é menos De um leitor, sobre valor mínimo de R$ 100 para pagamento a autores publicados pela nova plataforma Publique-se, da Saraiva. “É uma forma de não pagar ninguém. Raríssimos autopublicados vendem isso. Ganhando 30% do valor de capa, se o autor ganhar R$ 0,60 por exemplar, precisará vender 166 cópias antes de ver o primeiro cheque.”

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Painel das Letras: A era dos autopublicados

Por Raquel Cozer
01/06/13 12:27

Em três dias, o Publique-se, plataforma de autopublicação da Saraiva, teve cadastros de quase 4.000 usuários, segundo a livraria. Há 500 livros em processo de inscrição, à espera dos contratos assinados pelos autores. Plataformas do gênero já existem no país, mas o CEO Marcílio Pousada destaca como diferencial os 3,4 milhões de clientes ativos da Saraiva on-line.

Já a Kobo, parceira da Livraria Cultura, estreia no segundo semestre a versão nacional de sua plafatorma Writing Life. Autores nacionais já podem vender por ela, mas o site está em inglês e o pagamento é feito via Kobo canadense.

A autoplicação ainda rende pouco no Brasil, mas tem seus frutos. “Mnemônica”, de Miguel Angel Peres Correa, bateu nesta semana os 4.000 exemplares vendidos desde dezembro pela Amazon.

O múltiplo Gatsby

Há tantas traduções de “O Grande Gatsby” no mercado, na esteira do filme homônimo, que duas diferentes foram feitas pela mesma pessoa, usando nomes distintos. A Geração Editorial até abril anunciava Clara Averbuck como tradutora da obra de F. Scott Fitzgerald, mas ela não pôde entregar, e a edição saiu dias atrás assinada por Humberto Guedes. Luis Humberto William Lagos Teixeira Guedes, tradutor conhecido como William Lagos, verteu também a edição da L&PM, de 2004. “A Geração me pediu para traduzir o livro de novo. Fiz uma nova, embora é claro que haja semelhanças, já que o original é o mesmo e há um limite para a escolha de sinônimos sem falsear o pensamento do autor.”

007 “Da Rússia, com Amor”, “Goldfinger” e “Viva e Deixe Morrer”, de Ian Fleming, saem em agosto pela Alfaguara, que em outubro participa do lançamento mundial de “Solo”, trama de 007 escrita por William Boyd

Vale on-line Marta Suplicy decidiu que o Vale-Cultura poderá ser usado para a compra de livros pela internet. Só não sabe se o valor do frete poderá ou não ser pago com o vale.

Ambulante A Incrível Máquina de Livros fez sucesso na Bienal de São Paulo trocando obras lidas por usuários por outras novas. Agora, a Infinito Cultural foi autorizada a captar R$ 1,07 milhão para levar o projeto a 20 cidades.

Ambulante 2 Fauze Jibran, presidente da produtora, diz que teve a ideia ao notar que só 1% dos projetos culturais incentivados pela Rouanet são literários. A própria Infinito Cultural recorre com alguma frequência à lei para projetos com entidades do livro.

Thriller “Gun Machine”, segundo romance do quadrinista Warren Ellis, será lançado pela Novo Século até o fim do ano.

Thriller 2 Na trama, um policial encontra um apartamento repleto de armas, cada uma delas relacionada a um crime. O romance teve os direitos comprados pela Fox, mas que ninguém espere um seriado como a famosa franquia de “C.S.I.”, que para o autor de ªGun Machineº são praticamente ªhistórias de ninarº.

Poesia A 7Letras prepara para este mês a antologia “O Andar ao Lado: Três Novos Poetas dos Estados Unidos”, com os contemporâneos Matthew Rohrer, Jon Woodward e Matthew Zapruder. Bilíngue, com seleção e tradução de Sylvio Fraga Neto.

Liberdade Zlata Filipovic, que ficou conhecida como a “Anne Frank de Sarajevo” ao relatar, na adolescência, os horrores da guerra em “O Diário de Zlata” (Companhia das Letras, 1994), fala sobre liberdade de expressão na Pauliceia Literária, em setembro. Hoje, aos 32, Zlata produz curtas.

 

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Desdobramentos digitais: a autopublicação na Saraiva e as 'fan fics' na Amazon americana

Por Raquel Cozer
28/05/13 20:09

Faz quase cem dias que “Mnemônica, Memorização e Aprendizado”, de Miguel Angel Perez Corrêa, oscila entre os mais vendidos da Amazon brasileira, tendo chegado ao topo da lista algumas vezes. O livro saiu pela plataforma de autopublicação Kindle Direct Publishing, que dá ao autor 35% do valor da venda da obra –ou 70%, se escolher vender só pela Amazon. “Mnemônica” sai por R$ 5,99. Títulos em primeiro lugar na Amazon vendiam até outro dia umas 60 cópias por dia; já o quarto ou quinto lugar, uns 30 por dia. Vocês façam suas contas.

Hoje foi a vez de a Saraiva entrar no segmento, como reparou o Revolução Ebook. A livraria estreou em sua loja de livros digitais a ferramenta publique-se, oferecendo ao autor o mesmo percentual de 35% sobre o valor de venda do livro –que ele mesmo pode definir.

O interessado se cadastra e recebe um contrato em minuta já registrada em cartório. Assim que a administração do site recebe de volta o documento assinado pelo autor, ele pode fazer upload dos PDFs de todos os seus livros, que são convertidos para ePub.  “Fazemos o contrato pelas leis brasileiras, o que preserva os direitos dos autores. Se houver alguma pendência, é no Brasil que será resolvido”, diz o diretor-presidente da Saraiva, Marcílio Pousada, ressaltando uma diferença em relação à Amazon e à Apple, que oferecem serviços similares.

***

A maior rede de livrarias nacional tem ainda cartas na manga para os próximos meses.

Uma delas vai aproveitar a experiência da empresa na edição de livros, já que a Saraiva tem seu braço editorial. É algo que o Clube dos Autores e algumas editoras que imprimem sob demanda já fazem: o interessado pode pagar à parte por serviços como correção ortográfica, preparação de texto, sinopse, capa mais elaborada que a padrão. Valores ainda não divulgados.

A outra aposta da Saraiva vai ser mais difícil Amazon, Apple, Clube dos Autores e outros sites baterem, e diz respeito àquela que já é a maior moeda de troca da rede nacional em negociações com editoras: as 105 lojas da livraria espalhadas por 17 Estados. Além de imprimir sob demanda, a Saraiva abrirá suas lojas para tardes de autógrafos dos independentes, tal como já faz com editoras. Serviço pago, com toda a estrutura dos lançamentos oficiais, incluindo o vinho branco. Coisa para os próximos três, quatro meses, segundo Pousada.

Somente hoje, sem o anúncio oficial, apenas com o link para a página do publique-se na loja virtual, 150 autores se cadastraram para receber o contrato. Trinta e cinco livros devem subir no ar entre amanhã e depois, segundo Pousada.

***

Outra novidade destes dias, sobre a qual comentei no Painel das Letras, foi uma sacada meio de gênio da Amazon americana, o Kindle Worlds. Agora que já fizeram parece até que demorou, mas ninguém tinha pensado em capitalizar as “fan fics”, histórias não autorizadas elaboradas por fãs a partir de universos e personagens criados por romancistas famosos.

O primeiro passo foi o que na teoria seria o mais difícil: conseguir autorização da versão em inglês de três títulos, todos pertencentes à Warner Bros, “Maldosas”, de Sara Shepard;  “Diários do Vampiro”, de L.J. Smith; e “Gossip Girl”, de Cecily von Ziegesar.

Com isso, a partir de junho, quando sair a ferramenta, fãs poderão não apenas criar histórias em cima dessas tramas –e de outras a serem autorizadas– como, mais importante, colocar para vender. O autor da trama paralela vai levar 35% do valor da venda. O detentor dos direitos da história original leva sua parte também, não divulgada. A Amazon, mesmo que as fan fics não vendam nada,  não tem nada a perder. A princípio, vai valer só nos EUA.

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Painel das Letras: Sylvia Plath nas livrarias

Por Dani Braga
25/05/13 02:37

Desenho da poeta Sylvia Plath que estará em livro da Globo

Uma enorme lacuna do mercado editorial brasileiro está prestes a ser preenchida. Quase nada editada no Brasil, Sylvia Plath (1932-1963), um dos maiores nomes da poesia americana, figurará em livrarias nacionais nos próximos meses. A Globo, única editora com um livro da poeta em catálogo hoje (“Os Diários de Sylvia Plath”), prepara para o próximo semestre o inédito “Sylvia Plath: Drawings”, com desenhos a tinta feitos pela poeta entre 1955 e 1957 (acima e abaixo), quando estudava em Cambridge, na Inglaterra. Sairá pelo selo Biblioteca Azul, que ainda prevê, para 2014, o romance autobiográfico “A Redoma de Vidro”, há anos fora de catálogo, e “The Collected Poems”. Já a Verus, da Record, promete reeditar o volume de poemas “Ariel”.

O poeta Ted Hughes por Sylvia Plath

Revirada literária
Fez sucesso nesta semana uma promoção no site da Walmart, com milhares de títulos a R$ 9,90. Começou à 0h de quarta e ainda oferecia, ontem, bons romances como “Terras Baixas” (Alfaguara), de Joseph O’Neill.

Muita gente concluiu que era queima de estoque da empresa —hoje parceira da Saraiva— para fechar o setor interno de e-commerce. O diretor Fabio Gabaldo diz que foi estratégia para atrair público. Com motivação inusitada: a Virada Cultural. “Teremos promoções sempre que pudermos encaixar num movimento cultural.”

Metade dos 20 mil títulos a R$ 9,90 já se esgotou. Ontem, a Livraria Cultura reagiu, com descontos de até 60%.

 

Educação Obras de Carla Caffé (acima) e Hildegard Rosenthal serão usadas em parceria inédita do Instituto Moreira Salles e da Cosac Naify para trabalho educativo sobre representações da cidade de São Paulo

Sai Vila, entra Travessa
A estreia da Travessa como livraria oficial da Flip, em julho, é um plano que Rui Campos adiou por uma década. Em 2004, a loja carioca concorreu com a Livraria da Vila, que bancou o projeto mais caro. “Resolvemos tentar de novo”, diz o livreiro, que prevê investir R$ 200 mil e não imagina lucrar com as vendas. “É um jogo para o empate.”

A decisão coincide com a expansão da Travessa, que em novembro estreia fora do Rio, com loja em Ribeirão Preto. Já a Livraria da Vila informou que desistiu justamente pelo trabalho envolvido na abertura de sua primeira loja fora de terras paulistas, em Curitiba. E porque o aumento no custo de serviços tornou a participação “inviável”.

Não, obrigado Menos pop neste ano, a Flip não se interessou pela sugestão da LeYa de trazer Chuck Palahniuk, autor de “Clube da Luta”.

Estreia Mabel Veloso, irmã de Maria Bethânia e Caetano, autora de vários livros publicados na Bahia, mas quase nada conhecida no Sudeste, tem antologia no forno pela Intermeios. “Poesia Mabel” sai em junho, com apresentação do irmão compositor.

Premiado A independente Valentina lança até agosto o vencedor do National Book Award “Passarinha”, de Kathryn Erskine.

Premiado 2 Narra a história de uma menina que sofre de síndrome de Asperger, um tipo de autismo, lidando com a morte do irmão.

Para surfistas A Zahar lança em agosto “Mavericks: A Onda Sinistra”, de Mark Kreidler, sobre um dos locais mais venerados por surfistas.

Tempos modernos A Amazon resolveu capitalizar as “fan fics”, criações não autorizada de fãs a partir de livros famosos. Fechou acordos com autores como L.J. Smith, de “Diários do Vampiro”, e estreia em junho o Kindle Worlds, pela qual fãs poderão publicar e vender.

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George R.R. Martin, o 'senhor dos Tronos', na primeira entrevista ao Brasil

Por Raquel Cozer
19/05/13 08:00

Seria apenas meia hora de conversa por telefone e o assunto não poderia fugir muito de “Wild Cards”, série  coletiva sobre super-heróis que George R.R. Martin edita e na qual escreve desde os anos 1980. Duas das condições com as quais chegou até mim, no mês passado, a possibilidade de entrevistar o autor de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, que nunca tinha falado a jornais do Brasil, país que está entre aqueles onde ele tem hoje mais leitores.

Confesso que bateu certo desconforto à medida que lia entrevistas com ele. GRRM é um bom entrevistado, mas a paixão que sua obra desperta e a atenção implacável de fãs fez com que já fosse questionado sobre todo assunto que se possa imaginar, e as respostas tendem a se repetir. No fim, até ajudou falar de um tema menos abordado, “Wild Cards”, cujo volume 1 a editora LeYa acaba de pôr nas lojas (o segundo e o terceiro saem em novembro). E, é claro, fui encaixando na conversa as “Crônicas” e “Game of Thrones”, a série da HBO baseada nos livros.

Em “Wild Cards”, como nas “Crônicas”, GRRM dá um tratamento mais adulto, por assim dizer, a temas que tendem a ser associados ao juvenil (super-heróis, fantasia), com violência, política e sexo como pano de fundo. A boa notícia para os fãs das “Crônicas” é que GRRM hoje quase não ocupa seu tempo escrevendo para “Wild Cards”, embora editar a obra seja, como ele diz, “o trabalho mais desafiador” nesse sentido.

“Wild Cards”, que sai aqui com tradução de Alexandre Martins, Edmundo Pedreira Barreiros e Peterso Rissatti, surgiu como RPG nos anos 1980. GRRM convidou vários amigos nerds a escrever contos a partir dessa premissa: um vírus alienígena que, em 1946, infectou terráqueos com sintomas imprevisíveis, matando muitos, dando superpoderes a uns e deixando outros deformados. Nisso, já foram 22 livros, histórias isoladas com personagens que se repetem e cujo fio narrativo é unificado. Cabe a GRRM reescrever muita coisa e fazer o conjunto funcionar, “conduzindo a sinfonia como se fosse uma big band”.

O resultado foi a capa da Ilustrada deste domingo, com os principais trechos da entrevista,  cuja íntegra você pode ler abaixo. Também questionei vários autores sobre a relevância de GRRM na literatura fantástica.

O escritor americano em foto da mulher, Paris McBride

*

Folha – O sr. se tornou escritor devido ao interesse por quadrinhos, como costuma dizer, e em “Wild Cards” o sr. leva os super-heróis dos quadrinhos para a literatura. Como é usar na literatura um tema tão característico das HQs?
George R.R. Martin –
 Bom, nós buscamos, nos livros, fazer uma abordagem mais realista. Para começar do básico: eu amo quadrinhos, cresci lendo quadrinhos, mas há muitas convenções no formato que não fazem sentido quando você pensa nelas. A noção de que alguém que consegue superpoderes vai imediatamente comprar uma roupa de spandex e combater o crime. Não acho que isso funcione. No mundo real, se você conseguisse superpoderes, se eu tivesse a habilidade de voar, bem, provavelmente eu ainda seria um escritor, com a diferença de que não andaria mais de aviões. Isso iria mudar minha vida, mas não como acontece nos quadrinhos.

Então essa foi a situação quando pensamos no básico. Partimos da premissa: ok, depois da Segunda Guerra, algumas pessoas conseguiram superpoderes. Poderes e habilidades que vão muito além daquelas dos simples mortais. E começamos a pensar como o mundo seria transformado, como a vida das pessoas atingidas seria transformada.

Outra diferença entre “Wild Cards” e outras histórias de heróis é que a série lida mais diretamente com a história real e, conforme ela passa, muda seus rumos.
Sim, o realismo nos fez colocar os super-heróis no tempo real, interagindo com o mundo real. Por exemplo, eu lembro, quando era garoto, que estava na escola e apareceu o Homem-Aranha. Ele estava no ensino médio, igual a mim. Houve uma identificação imediata, e pude entender problemas pelos quais ele estava passando. Então me formei no ensino médio e entrei na faculdade, e o Homem-Aranha terminou o ensino médio e entrou na faculdade, Peter Parker fez isso. Estávamos mudando.

Mas saí da faculdade em quatro anos, e o Homem-Aranha levou uns 20 anos para se formar. E, depois que saiu da faculdade, ficou preso naquela coisa de ser um cara de 20 e poucos anos que tinha acabado de sair da faculdade. E ficou um tempo casado, e depois não estava mais casado, disseram que o casamento nunca tinha acontecido. Você pega um livro do Homem-Aranha hoje e ele ainda tem lá seus 23 anos e saiu da faculdade poucos anos atrás. Lembro ter lido livros do Homem-Aranha em que ele estava envolvido em demonstrações dos anos 1960 conta a Guerra do Vietnã… Obviamente, o tempo dos quadrinhos não faz o menor sentido. Ele era da minha geração e agora é parte de uma geração muito mais jovem.

O Superman veio à Terra nos anos 1920, eu acho, e aterrissou pequeno e se tornou o Superman público no final dos anos 1930, mas, agora, se você lê os livros, ele veio à Terra em 1995 ou algo assim. Os criadores ficam revisando a história para mantê-los eternamente jovens, e essa é uma armadilha na qual decidimos não cair em “Wild Cards”. Queríamos fazer algo mais ligado ao tempo real. Heróis que conseguiram seus superpoderes em 1946, data do primeiro “Wild Cards”, e tivessem 20 anos naquela época, bem, agora eles estão aposentados, estiveram casados, têm filhos e casaram de novo e seus filhos cresceram. Eles tiveram todo tipo de problema que as pessoas têm ao longo da vida. Ser superforte ou lançar raios pelos dedos não eliminam os problemas que as pessoas têm na vida real.

E como surgem esses novos heróis com o tempo, à medida que os outros envelhecem?
Isso depende. A genética de “Wild Cards” é complicada. É uma mudança na estrutura genética e se torna uma… Se os dois pais têm o vírus do “Wild Cards”, então a criança seria um Carta Selvagem [na tradução da LeYa, embora o título do livro seja em inglês, os infectados recebem no texto o nome em português], mas poderia também morrer, porque 90% das pessoas que pegaram o vírus e tornaram Rainha Negra [gíria para morte usada nos livros], como dizemos, morrendo. E 10% viram Curingas [personagens que ficam deformados], só um em cem se torna Ases e acabam como super-heróis. O bebê infectado tem as mesmas chances de qualquer um, não é algo simplesmente herdado.

Os Curingas, nesse sentido realista, são importantes para tratar de questões como o preconceito, não?
Sim, sim. Muitas mutações não são boas. Queríamos dizer: ‘Sabe, se você sofresse uma mutação como essas dos quadrinhos, seria possível que isso não fosse tão bom, e isso é muito mais provável que uma mutação boa, inclusive’. Isso torna a história diferente de qualquer outra da Marvel, da DC Comics, Universal, a comunidade Coringa e a existência desse segundo time junto com os superpoderosos Ases, isso é algo que ninguém mais faz.

Acontece de um autor escrever para “Wild Cards” algo que o sr. acha que não vai caber na história como um todo e isso ser vetado? Como é escrever em equipe para um autor tão acostumado a escrever sozinho [como em “As Crônicas de Gelo e Fogo”]?
Isso acontece o tempo todo. Vem acontecendo há 20 anos, e por isso sou necessário como  editor. Os autores escrevem suas histórias e meu trabalho principal, além de também escrever as minhas, é juntá-las. E há um grande trabalho de reescrita envolvido, porque as histórias nunca ficam perfeitas juntas de primeira. Às vezes, tenho autores que escrevem duas cenas que se contradizem ou que se duplicam, e essencialmente eu conduzo a sinfonia aqui, como se fosse uma “big band”, com todos os instrumentos e personagens funcionando juntos.

É um trabalho difícil. Editei uma série de publicações ao longo dos anos, mas o trabalho envolvido em “Wild Cards” é certamente o mais desafiador tipo de edição, simplesmente  porque você tem que pensar em equipe e ao mesmo tempo conseguir boas histórias dos escritores. Criamos um mecanismo pelo qual o criador de cada personagem revisa o texto quando seu personagem é usado por outro escritor. Além de mim como editor, os escritores interagem. Então, se alguém vai usar um personagem meu, como o Tartaruga, posso dizer:  “Não, ele não diria isso dessa maneira”, ou “Ele nunca faria isso”. Muita reescrita. Mas, felizmente, a maior parte dos escritores faz o trabalho com muita vontade, adora escrever sobre esses personagens e esse universo.

Há algum personagem de outros autores que você gostaria de ter criado?
Provavelmente o Dorminhoco, que foi criado por Roger Zelazny, um amigo querido e um dos melhores escritores que a ficção científica já produziu. É muito original, parte do time original [personagens do primeiro livro]. O Dorminhoco é flexível, tem suas características,  mas pode caber em praticamente qualquer história dos outros autores, às vezes como herói, às vezes não. E ele é um homem do nosso tempo. Ele vive em 2013, era um garoto quando o vírus chegou à Terra, em 1946, então ele se lembra de um mundo diferente. Toda vez que ele vai dormir, não sabe como vai acordar [se com poderes de Ás ou deformidades de Coringas] ou se vai acordar. É um personagem incrível, provavelmente o mais icônico do “Wild Cards”.

Atualmente a série está saindo em vários países, mas a maior parte das histórias se passa nos Estados Unidos. Não pensam em torná-la mais global?
A maior parte das histórias se passa em Nova York. Mas, de tempos em tempos… O quarto livro da série, chamado “Aces Abroad”, é um livro no qual os personagens fazem uma turnê mundial, visitam várias cidades. Acho que eles passam pelo Brasil, embora não tenham uma história aí. Mas temos uma história no Peru. E temos histórias no Oriente Médio, na Europa Oriental e Ocidental, no Japão. Depois, muitos volumes depois, aparecem histórias que têm uma base mundial. A série que começa com “Inside Straight”, volumes 18, 19 e 20, começa em Los Angeles, passa para o Egito e o Oriente Médio, e lá e personagens se envolvem com a ONU. Tentamos dar um sabor mais global. Soube que no Brasil pediram por esses livros, gostaria de sediar histórias aí. Isso seria divertido.

Os direitos de adaptação foram comprados pela Universal para o cinema. Em que pé está isso? O sr. lida bem com a ideia de transformar a série em um único filme, algo que não quis aceitar para “As Crônicas de Gelo e Fogo”?
Bom, Wild Cards não é bem uma história, são centenas de histórias, é um mundo. Esperamos que o primeiro filme conte uma história de um grupo particular de personagens, e, se fizer sucesso, o segundo filme pode ser com um time completamente diferente de personagens. E pode ser no passado, no futuro. Temos centenas de personagens e histórias. É uma franquia incrível, que funciona para uma série de filmes, que é o que esperamos conseguir, ou para uma série de TV, o que pode vir a acontecer se os filmes fizerem sucesso. Mas agora estamos no estágio inicial, Melinda Snodgrass [uma das autoras da série e coprodutora, com GRRM, do fillme] está escrevendo o roteiro, está no segundo rascunho. Estamos esperando.

Os leitores no Brasil o conhecem mais como autor de fantasia que de ficção científica. É diferente criar uma e outra?
Não há grande diferença. Em ficção científica, você tem aliens e naves espaciais; em fantasia, tem dragões e cavaleiros, mas de toda forma está contando histórias, e o coração de toda história, no passado, no presente ou no futuro, seja ficção científica, seja mistério, seja romance, o coração de qualquer história são os personagens. Se você tem bons personagens, que os leitores achem interessantes e com os quais se preocupem, sua história vai funcionar. Não importa o gênero.

William Faulkner, o grande escritor americano, uma vez disse que o coração humano em conflito consigo mesmo é a única coisa sobre a qual vale a pena escrever, e acredito nisso. Não acho que o gênero importe tanto.

Se o gênero não importa tanto, e considerando que o sr. gosta de histórias muito realistas, envolvendo questões políticas, violência, sexo, nunca pensou em escrever abrindo mão da fantasia?
Gosto de violência, sexo e política, é verdade [risos]. Mas fantasia, bom, eu amo a fantasia, ela permite usar a imaginação. Quando eu era criança, vivia uma vida de imaginação. Éramos pobres, não tínhamos dinheiro, não íamos a  lugar nenhum. Vivíamos perto de um canal, e eu olhava a água, e eu via embarcações o tempo todo indo a Hong Kong ou Japão ou França ou Brasil, eu olhava para as bandeiras e imaginava quem estava naqueles navios. Daí começava a pensar também como seria estar em naves espaciais ou com aliens. É tudo imaginação. Amo ser levado a mundos fabulosos de maravilhas e cores.

O sr. ainda tem tempo para se dedicar a “Wild Cards”? Os leitores de “As Crônicas de Gelo e Fogo” permitem isso?
Bom, alguns ficam irritados. Mas, dito isso, hoje não escrevo muito para “Wild Cards”. Faço a edição, que é algo que demanda tempo, mas não tanto quanto escrever as histórias. Gostaria de escrever mais para “Wild Cards”, adoro esse mundo, adoro meus personagens nesse mundo, mas não posso até terminar as “Crônicas de Gelo e Fogo”. Essa é a minha prioridade, ainda tenho dois livros a terminar e isso vai me tomar alguns anos, e ainda tenho a série de TV vindo atrás de mim.

Como é a receptividade de “Wild Cards” entre os fãs? Eles não chegam a ser intensos como os das “Crônicas de Gelo e Fogo”, imagino.
Eles existem em menor número. “As Crônicas de Gelo e Fogo” são a coisa mais bem-sucedida que fiz, então tem mais leitores. Mas os fãs de “Wild Cards” também sabem ser intensos, formam relações com personagens diferentes. Odeiam alguns, amam outros, discutem quem venceria quem numa briga. É sempre interessante. No geral, adoro a intensidade dos fãs. Você quer que eles se importem, que discutam os livros e implorem por lançamentos. A pior coisa para um escritor é quando os leitores não se importam, o que é a triste verdade para a maior parte dos escritores.

Sobre a relação com fãs, o sr. já disse que prefere não ler o que eles escrevem, como as fanfics [histórias de fãs usando universos de um escritor], inclusive para não ser acusado de plagiá-los. Como lida com a ideia de que um dia deixará sua história de herança para outros, como aconteceu com Tolkien?
[pausa] Bem, algum dia, eu imagino, sim…

Digo, um dia num futuro distante, é claro.
Certo [risos]. Não me preocupo com o futuro distante. Acho que o presente me mantém ocupado o suficiente.

O sr. lida com muita pressão para terminar as “Crônicas”, há quem até tenha medo de que não consiga terminar o sétimo livro, dado que já se passaram mais de 20 anos desde que começou a escrever e ainda faltam dois títulos. O sr. costuma dizer que guarda na memória, mas não tem algo no computador, uma linha geral, algo que eventualmente sirva como base num futuro distante?
Tenho alguma coisa anotada, sei para onde está indo a história e estou seguindo isso. Não tenho todos os detalhes anotados, isso é algo que prefiro pensar à medida que escrevo.  Essa é a aventura de escrever, quando os personagens e a linha da história vão para lugares não imaginados, mas sei as principais coisas que vão acontecer. Sou um escritor lento, reescrevo tudo. Não imagino que isso vá mudar, então as pessoas que ficam aflitas com a chegada dos meus livros vão ter que se acalmar e lidar com isso. Não posso ir mais rápido só porque estão impacientes.

Quando o sr. começou a criar “Wild Cards”, não se usava a internet. Com o tempo se popularizaram não só a internet como ferramentas de pesquisa, como o Google, e de organização. Há escritores que usam Excell, que nem é uma ferramenta nova, para se organizarem. Como lida com essas tecnologias?
Elas foram bastante úteis para “Wild Cards”, preciso dizer. Quando começamos, e estamos falando do início do início dos anos 1980, com o primeiro livro saindo em 1987, não havia internet. Muitos dos escritores nem computadores tinham, era tudo na base da máquina de escrever. Tínhamos de redigitar as histórias, e então havia ligações telefônicas, enormes distâncias a superar… Mas isso mudou com o tempo.

Na metade dos anos 90, vários de nós já estávamos na internet, e existia um serviço, que não existe mais, da General Electric, que tinha fóruns e mensageiros, nos quais você podia tratar assuntos privados. Criei diferentes tópicos sobre “Wild Cards”, e discutíamos ali, o que certamente era bem mais fácil que fazer ligações telefônicas e mandar pelo correio os manuscritos ao redor dos Estados Unidos. Agora, é claro, está tudo na internet, mandamos tudo por e-mail. Isso faz as coisas mais fáceis quando você trabalha em grupo.

Agora, com as “Crônicas de Gelo e Fogo” não uso nada disso. Sou só eu, sozinho, com meu computador, escrevendo histórias. Sim, quando termino posso mandar por e-mail ao meu editor, mas é algo muito básico para escrever. Não uso nenhum tipo alta tecnologia. Na verdade, faço a maior parte do meu trabalho num DOS [sistema operacional comum nos computadores até os anos 1990].

E também tenho algo que não chega a ser uma tecnologia nova, que é função de busca do computador, o que torna fácil encontrar detalhes como as cores dos olhos dos personagens.  Tenho um arquivo gigante que contém todos os cinco livros e posso pesquisar neles para evitar contradições.

O sr. trabalha como consultor de “Game of Thrones”, série de TV baseada nos livros, sem poder de veto, até onde entendo. Como lida com as mudanças feitas pelos roteiristas, que estão mais comuns nesta terceira temporada? Há alguma solução deles que o sr. chegou a achar melhor do que o que estava no livro?
Bom, adoro a série de TV, mas gosto mais dos livros. Foi de grande ajuda para mim, em relação a série, o fato de eu ter trabalhado em TV por dez anos, nos anos 1980 e 1990 [foi roteirista das séries “Além da Imaginação” e “A Bela e a Série”]. Não trabalhava na criação, adaptava material de outros escritores. Então sei o tipo de alterações que são necessárias, em geral por questões práticas, como ter só uma hora por episódio, ter que encaixar tudo num certo orçamento.

O orçamento de “Game of Thrones” é grande na comparação com outros do tipo, mas ainda é um orçamento. Você não tem todo o dinheiro de que precisa nem pode contratar todos os atores de que gostaria. Com isso, personagens têm de ser combinados, outros têm de ser modificados, situações também. Temos dez episódios por temporada. Sempre disse que o ideal seriam 12 episódios, o que permitiria aproveitar mais personagens e situações que infelizmente ficam de fora, mas seria caro. Dez episódios é o que temos, e acho que fazem um trabalho excelente com isso. De algumas das mudanças eu gosto, por outras não são sou tão apaixonado. Mas entendo a necessidade de todas elas.

Pode dar exemplos de mudanças de que goste ou não?
Acho que as novas cenas que estão inventando para o programa estão funcionando, muitas são perfeitas, algumas das melhores da série estão nesses episódios. Sinto falta de algumas das cenas com o Mance [Ryder] ou diálogos que foram cortados. Algumas mudanças eu não faria. Fiz os livros por razões que eram minhas e prefiro na maior parte dos casos elas tal como estão nos livros.

Impressiona a dimensão geográfica e genealógica que a história toda tomou. Ela chega a fugir do seu controle?
Isso é uma razão por que demoro tanto escrever. A história foge constantemente do meu controle. Reescrevo muito, vou seguindo os personagens e às vezes eles me levam pelo caminho errado, então tenho que voltar e entender o que deu errado. E então reescre, coloco numa ordem diferente, até entender como deve ser.

O sr. usa com muita frequência os chamados cliffhangers [estratégia para prender o leitor ao final de cada capítulo]. Diria que é uma forma de arte?
Sim, definitivamente. Esses dez anos em que fiz televisão me ensinaram muito sobre isso. Não sei como é no Brasil, mas, na TV americana, os programas têm muitos comerciais. E é preciso que a cada ato, considerando que um programa tem de quatro a cinco atos em uma hora, exista o chamado “act break”, que pode ser um cliffhanger, embora não precise ser. Algo como uma revelação, um personagem que descobre algo, alguma coisa que impeça que o espectador mude de canal no comercial e que o faça pensar no que vai acontecer.

Essa é uma técnica boa, que prende as pessoas na história. Em “Game of Thrones”, mesmo não tendo intervalos, eu queria que cada capítulo terminasse com um “act break”. Alguma coisa acontecendo do final de cada capítulo, por exemplo, da Arya, que fizesse você imediatamente querer saber o que acontecerá no capítulo seguinte. Mas você não pode saber isso imediatamente, porque agora tem que ler um capítulo do Tyrion ou do Jon Snow. E então você lê o capítulo do Tyrion e ali acontece algo que faz você querer ler o próximo capítulo dele. O ideal é que funcione com todos os personagens. Não é uma técnica fácil, mas acho que tem funcionado.

Qual o sr. diria que é o tema central das “Crônicas” e o que elas refletem da visão que o sr. tem de política ou das sociedades atuais?
Um tema central é certamente a  disputa de poder. As relações de políticas e de governos. Mas prefiro pensar menos em temas e mais em histórias individuais, o que nos leva de volta aos personagens, à questão do coração de que falou Faulkner. Estou mais interessado no que Jon ou Dany faria agora do que nas falhas das sociedades médias como um todo. Os personagens se tornaram muito verdadeiros para mim e espero que também para ao leitor.

O mundo é minha criação. Não estou interessado em criar uma alegoria ou fazer um comentário político ou social, mas inevitavelmente meus pontos de vista e minhas opiniões estão lá, porque eles fazem parte de mim.

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Painel das Letras: Inéditos malditos

Por Folha
18/05/13 03:00

A obra do poeta baiano Gregório de Matos (1636-1695), atualmente mais lembrado em  antologias ou livros didáticos, será editada pela Autêntica a partir deste ano. Estão previstos cinco volumes do Boca do Inferno, assim conhecido pelos poemas obscenos e pelas sátiras implacáveis, com versos fixados e anotados por Marcello Moreira e ensaio introdutório e glossário de João Adolfo Hansen, coautor das notas. A base é uma série de textos até agora inéditos guardados na biblioteca da UFRJ. Joaci Pereira Furtado, que fez o meio de campo com a Autêntica, será o editor.

“Viagem ao Mundo do Sexo”, de Lupin, página da HQ “Seres Urbanos”

HQ na berlinda
Os organizadores de “Seres Urbanos (1991-1998): Coletânea da HQ Underground Cearense” travam um embate com a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult). Aprovada em edital de incentivo às artes, decisão publicada no “Diário Oficial do Estado” em julho de 2012, a obra não recebeu os prometidos R$ 15 mil. Meses após abrir uma conta para receber o valor, sem notícias da Secult, os responsáveis souberam que nova análise julgara a HQ “imprópria para menores” por conter “cenas de sexo explícito e de violência”.

O artista Weaver Lima discute o fato de o projeto aprovado voltar a ser analisado e diz que o critério não consta do edital. A Secult afirma que pode fazer análises em qualquer fase e que parte dos livros se destina a bibliotecas, que atendem a menores.

Atalho Caetano Galindo vem há oito meses contando no blog da Companhia das Letras sua saga para traduzir “Infinite Jest”, romance de mais de mil páginas de David Foster Wallace. Até esta semana, verteu 919 páginas. É um trabalhão: o livro não deve sair antes de 2014.

Atalho 2 Mas, desde o início de abril, a Livraria da Vila oferece a edição portuguesa, “A Piada Infinita” (Quetzal), na tradução de Salvato Telles de Menezes e Vasco Teles de Menezes. A venda é proibida, já que a Companhia tem os direitos de comercialização no Brasil.

Atalho 3 A Companhia afirma que, em geral, casos do gênero acontecem por falta de informação das transportadoras e das lojas. A Livraria da Vila diz que não tinha conhecimento da exclusividade, mas que pode interromper a comercialização.

Inédito A revista “Acéphale”, encabeçada por Georges Bataille de 1936 a 1939, terá seus quatro volumes lançados pela Cultura & Barbárie, isolados e, depois, numa caixa. A obra buscava resgatar as ideias de Nietzsche do uso indesejado por nazistas. A tradução é de Fernando Scheibe.

Zumbis Com a estreia da filme homônimo com Brad Pitt, no final de junho, o livro “Guerra Mundial Z”, de Max Brooks, lançado em 2010 pela Rocco, ganhará tratamento especial, incluindo cartazes em ônibus e “blitz” na estreia do filme, com promotores vestidos de mortos-vivos distribuindo trechos da obra.

Zumbis 2 O livro, assinado pelo filho do diretor Mel Brooks com a atriz Anne Bancroft, vendeu 20 mil cópias antes de esgotar. A nova edição será de 30 mil exemplares. Nos EUA, retornou à lista dos mais vendidos: figura há 40 semanas no ranking de ficção do “New York Times”

Fantasia “The Fall of Arthur”, enorme poema incompleto de J.R.R. Tolkien que será lançado nos EUA na próxima semana, ganha tradução só no fim do ano pela WMF Martins Fontes. Antes disso, os fãs terão acesso a nova edição de “Folha e Árvore”, que inclui o conto “Folha, de Migalha” e o ensaio “Sobre Contos de Fadas”, uma declaração do autor sobre seu gênero literário.

Fantasia 2 Lançada antes pela Conrad, “Folha e Árvore” terá a tradução totalmente revisada por Monica Stahel.

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Hilda Hilst: 'Não quero ser lida como distração'

Por Raquel Cozer
17/05/13 18:14

A atriz Carla Tausz como Jozú, em foto de Sabrina Sanfelice/Gato Amarelo Estúdio

Achei que tinha perdido o prazo, mas não. Ainda dá tempo de assistir ao monólogo “Jozú, o Encantador de Ratos”, com Carla Tausz, na Casa do Sol, onde Hilda Hilst morou e onde hoje fica o instituto que leva seu nome, em Campinas. Este é o último final de semana.

A montagem circulou bastante e foi premiada antes de inaugurar o teatro de arena da casa, instalado num terraço interno. Foi essa a versão que eu vi, um mês atrás. E só digo uma coisa: quando todas as luzes do cenário apagam e a Lua ilumina o palco-terraço… Caramba. É de arrepiar. Quem quiser aproveitar estes últimos dias tem de torcer para não chover. Dá para ver também quando chove, mas eles transferem a montagem para dentro da casa.

A programação do teatro está sendo fechada para os próximos meses, com textos de Hilda ou gente ligada a ela. De 5 a 9 de junho, a Carla Tausz, atriz do “Jozú”, dirige Glauce Guima no monólogo “O Cordeiro da Casa”, baseado em contos de Mora Fuentes (um deles é este aqui, curtinho). A partir de 17 de agosto, tem “A Obscena Senhora D”, com Suzan Damasceno sob direção de Rosi Campos e Donizetti Mazonas, hoje em cartaz no Teatro Eva Herz, em São Paulo.

***

Sala principal da Casa do Sol, do jeito como Hilda deixou, em foto de Karime Xavier/Folhapress

A reportagem sobre Hilda Hilst para a Ilustrada no mês passado deve ter sido a pauta mais encantada que já fiz. Nunca demorou tanto. Desde a ideia, em agosto do ano passado, data das fotos de Karime Xavier que ilustram este post, até a publicação foram oito meses.

Isso por uma conjunção de fatores, sendo os principais deles a espera pelo livro de entrevistas “Fico Besta Quando me Entendem” (Globo), que saiu por estes dias, lindíssimo, organizado por Cristiano Diniz, e pela estreia do teatro na Casa do Sol.

O cachorro Nenê é dos tempos de Hilda, que chegou a viver com mais de cem deles; atualmente são 11

Acabou que, na semana em que pudemos publicar a reportagem, estávamos também com um material sobre os 90 anos da Lygia Fagundes Telles, de quem Hilda foi amiga por toda a vida.

As taurinas nasceram com dois dias (e sete anos) de diferença, mas não poderiam ser mais diferentes, na estilo e na escrita, o que deu uma graça à solução encontrada: uma capa unindo ambas. O texto sobre Lygia foi do Paulo Werneck, editor da “Ilustríssima”.

Hilda e Lygia, em foto de arquivo da Casa do Sol

Sobrou muita história, quem sabe para posts futuros. Por ora, seguem frases do livro de entrevistas. E, já que Clarice teve direito à sua verve artística por aqui, encerro com um dos rabiscos de Hilda que ilustram a bela edição da editora Globo.

***

“Quero ser lida em profundidade e não como distração, porque não leio os outros para me distrair mas para compreender, para me comunicar. Não quero ser distraída. Penso que é a última coisa que se devia pedir a um escritor: novelinhas para ler no bonde, no carro, no avião.” (1975)

“Como eu vejo e sinto um ser político? Como de repente você pode ficar cristalizado dentro de sistemas, sejam eles quais forem? Como é que as pessoas são levadas a aderir a partidos, esquemões, todas essas estruturas rígidas e senescentes como o marxismo, o fascismo, o capitalismo, o fanatismo religioso?” (1981)

“As pessoas têm pânico em falar naturalmente de sexo. O que é que vocês imaginam que falam um homem e uma mulher na cama? Ele não vai falar aquela frase que eu sempre repito: ‘Deixa-me oscular a sua rósea orquídea’ [risos]. Então, se existe um texto que se usa na cama, onde se usam as palavras abaixo da cintura com seu nome normal, por que esse medo horroroso?”  (1991)

“A única coisa que eu pude fazer na vida foi escrever, porque é a única coisa que eu sei fazer mesmo. Dizem que eu sou megalômana. Sou. Meu texto de ficção é deslumbrante, é da pessoa ficar gozando o tempo todo.” (1998)

“Fui, junto com Mario Schenberg, dar uma aula inaugural na Unicamp. […] A certa altura, um físico meio gargalhante, que estava coçando o saco, perguntou: “Quer dizer então que a senhora acredita mesmo na imortalidade da alma?”. Respondi: “Acredito na imortalidade da minha alma. Mas o senhor, se continuar coçando o saco dessa forma, sequer constituirá uma alma!” (2001)

“- Como é ser poeta no Brasil de hoje?
– É uma merda.” (2003)

“Ai, que não sei quem sou!”

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Clarice: 'Eu pinto tão mal que dá gosto'

Por Raquel Cozer
14/05/13 13:18

“Retrato de Clarice” (Paris, 1947), de Alfredo Ceschiatti

Escrever sobre Clarice Lispector é sempre uma oportunidade de publicar fotografias de Clarice Lispector, autora de fotogenia incomum para o meio literário (digam o que quiserem sobre cadernos de literatura, mas nunca foi simples encontrar grandes fotos para ilustrar resenhas).

Neste post, nada de fotos da autora. Neste sentido, basta o retrato em nanquim acima, de Alfredo Ceschiatti, um dos cinco ou seis que a autora recebeu de artistas e manteve nas paredes de seu apartamento no Leme, no Rio. Um retrato para fazer jus ao tema do post, o volume “Clarice Lispector: Pinturas”, do angolano Carlos Mendes Sousa, que acaba de sair pela Rocco.

Mendes Sousa, professor de literatura brasileira na Universidade do Minho e um dos maiores especialistas do mundo em Clarice, fez um estudo de sua relação com as artes plásticas, seja como colecionadora, seja como jornalista, seja como, hm, bem, artista.

Clarice não pintava bem como escrevia, é verdade. Mas o que escrevia, diz Mendes Sousa, transparecia muito do que pensava sobre as artes plásticas.

“Pergunto-me também como é que vou cair de quatro em fatos e fatos. É que de repente o figurativo me fascinou: crio a ação humana e estremeço. Também quero o figurativo assim como um pintor que só pintasse cores abstratas quisesse mostrar que o que fazia por gosto, e não por não saber desenhar” (trecho de “A Hora da Estrela”)

Mais do que isso, argumenta o autor, “a atmosfera pictórica contamina a escrita de Clarice Lispector em aspectos mais ou menos visíveis, como os jogos de luz e sombra, os recortes formais, as descrições, a presença da cor etc., elementos observáveis especialmente nos planos narrativo ou estilístico-retórico”. Como nesse trecho de “Água Viva”:

“Vou te dizer uma coisa: não sei pintar nem melhor nem pior do que faço. Eu pinto um ‘isto’. E escrevo com ‘isto’ –é tudo o que posso. Inquieta. Os litros de sangue que circulam nas veias. Os músculos se contraindo e retraindo. A aura do corpo em plenúrio. Parambólica –o que quer que queira dizer essa palavra. Parambólica que sou. Não posso me resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. Eu sou uma cadeira e duas maçãs. E não me somo.”

***

“Pássaro da Liberdade” (1975, óleo sobre madeira), de Clarice Lispector

A segunda metade do livro é dedicada à parte que deve interessar a mais leitores, com duas dezenas de pinturas feitas pela autora –dezesseis delas foram tema de mostra do Instituto Moreira Salles no Rio, em 2009.

Mendes identifica dois movimentos que se impõem nas pinturas de Clarice, a fuga e a concentração, e desenvolve uma análise sobre representações, aproximando-as também do que ela escrevia. Mas usa as palavras da própria, em conferência na Universidade do Texas, em 1963, para resumir, de forma muito mais simples, por que ela pintava:

“Quanto ao fato  de escrever, digo –se interessar a alguém– que estou desiludida. É que escrever não trouxe o que eu queria, isto é, paz. Minha literatura, não sendo de forma alguma uma catarse que me faria bem, não me serve como meio de libertação. […] O que me ‘descontrai’, por incrível que pareça, é pintar, e não ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. Pinto tão mal que dá gosto e não mostro meus, entre aspas, ‘quadros’ a ninguém. É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas, sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço.”

O que ela pensaria de ver sua produção mais pessoal em um livro? Bem, vai saber. Mas essa acima é uma declaração de 12 anos antes da maior parte da criação dela como pintora, em 1975. Mais tarde, Clarice não só mostraria os quadros a amigos como presentaria alguns deles, como Nélida Piñon, Maria Bonomi e Autran Dourado, com as obras.

“Volumes” (1975, óleo e colagem de papel sobre tela), de Clarice Lispector

“Escuridão e Luz: Centro da Vida” (1975, óleo sobre madeira), de Clarice

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Painel das Letras: 50 anos mais cinco

Por Folha
11/05/13 03:00

Planejado para os 50 anos do Teatro Oficina, em 2008, “Do Pré-Tropicalismo aos Sertões: Conversas com Zé Celso”, de Miguel de Almeida, ficou pronto só agora, cinco anos depois. O empecilho foi o famigerado artigo 20 do Código Civil, que estipula a necessidade de autorização de retratados em obras com fins comerciais. No livro da Imprensa Oficial, mais de cem fotos intercalam a transcrição de 20 horas de conversas com o diretor. “Tive de procurar todos os atores. Daí um morreu, o outro sumiu, o outro não dá resposta. Estamos nas mãos de uma legislação estúpida”, diz Almeida. Uma nota na edição agradece informações sobre quem não foi identificado.

A proposta de dispensar a autorização prévia seguiria para o Senado em março, mas um recurso de última hora fez com que voltasse para análise dos deputados

Morcegos renovados
O recém-anunciado desaparecimento da arma que matou Paulo Cesar Farias e a namorada Suzana Marcolino, em 23 de junho de 1996, será só a cereja do bolo do posfácio que Lucas Figueiredo prepara para a nova edição de seu “Morcegos Negros”, previsto pela Record para junho.

O livro-reportagem sobre os bastidores do governo Collor, publicado em 2000, vendeu 35 mil cópias até 2003, quando saiu de catálogo.

O editor Carlos Andreazza diz que a Record quer relançar os cinco títulos do jornalista —nenhum vendeu menos de 10 mil exemplares.

E avisa: vem outra grande reportagem por aí.

Ilustração de Luani Guarnieri

Aplicativo A escritora Ana Maria Machado estreia nos tablets com game inspirado no livro “Uma, Duas, Três Princesas” (acima), que a Ática lança neste mês.

Time Habitué de debates no Brasil,o moçambicano  Mia Couto volta para a Bienal do Livro Rio, no fim de agosto, para divulgar “Cada Homem É uma Raça” (Companhia das Letras).

Com ele, já são 19 os autores internacionais divulgados pelo evento, entre best-sellers (Nicholas Sparks, Sylvia Day) e nomes elogiados pela crítica (César Aira, Francine Prose).

Preparação Dos R$ 18,9 milhões do orçamento previsto para a participação do Brasil na Feira de Frankfurt, R$ 2,42 milhões serão gastos com o estande das editoras. Na divisão, o governo fica com R$ 1,75 milhão. Os outros R$ 670 mil são pagos pelo Brazilian Publishers, parceria da Câmara Brasileira do Livro com a Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

Boletim Os seis autores que o Brazilian Publishers levará a Frankfurt serão selecionados conforme notas recebidas numa planilha com seis variáveis. Vai quem pontuar mais. As editoras signatárias do projeto farão as indicações e a seleção final.

Digital Chama-se Descaminhos a editora colaborativa que estreia na Amazon, no dia 21, com a obra completa de autores pouco lembrados, como Pagu, Jorge Andrade e Maria de Lourdes, e títulos de contemporâneos, como Menalton Braff e Heloisa Prieto.

Clássicos A Cosac Naify acertou com Maria Emilia Bender, ex-sócia da Companhia das Letras, uma colaboração continuada para a edição de clássicos estrangeiros, na série que já teve “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, e “Anna Kariênina”, de Tolstói.

Estreia Fernando Henrique Cardoso, que deve se tornar imortal em breve, terá seu primeiro livro como autor da Companhia das Letras em junho. “Pensadores que Inventaram o Brasil” reunirá ensaios sobre Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre e Antonio Candido, entre outros, e um inédito sobre Raymundo Faoro.

Cinema “Garota, Interrompida”, livro da americana Susanna Kaysen que inspirou o filme de 1999, será o primeiro título do selo de ficção Única, da editora Gente.

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